Ainda é cedo e quero resolver tudo em questão de horas, porque nesse momento ninguém sabe o que de fato falar comigo, embora eu não queira que falem mesmo, sigo quieta descendo o morro, a caminho da delegacia. — Isadora, por favor… a gente precisa conversar! — Ana Carla implora, sentada no banco de trás e ao seu lado Nem. Leonardo dirige com os olhos atentos na pista, enquanto eu não suporto ouvir sua voz implorando para eu não a levar para a delegacia — eu posso te explicar! — É mais fácil fazer um trato com o diabo, quando não é você quem vai pagar o preço. Por que eu paguei, Luiz Henrique pagou. E você? — me viro em sua direção e ela me encara — como foi sua vida durante todos esses anos? Andando livremente pelo Rio de Janeiro, sem um pingo de remorso em ter deixado uma filha para trás, e um homem apodrecer na cadeia sem ter feito absolutamente nada. — Eu estava sendo ameaçada, precisava ter feito isso para te manter em segurança. — Ameaçada por quem? Deixa eu pensar… Conrado?
PiresSaindo pela porta da frente, como todo homem honesto deveria ser tratado. Se eu cair ali dentro, sei que pagarei pelos crimes que cometi ao longo da vida, mas nenhum homem deveria passar tanto tempo preso sem ter um crime nas costas. Isadora sorri ao ver o pai atravessar a rua, hoje é meu aniversário, mas quem ganhou a porra do presente fui eu, com mais uma vitória dela. Tô orgulhoso pra caralho dessa mulher, por tudo que ela passou e passa e se mantém de pé, pela garra e determinação em ser ágil em tudo, inteligente, honesta, boa até demais e gostosa na mesma intensidade.— Eu disse que tiraria você daqui. — Isadora fala quando Luiz Henrique se aproxima — agora é um homem livre, sei que perdeu muito tempo aí dentro, mas nada se compara a liberdade, tem o direito de recomeçar a vida agora. — Eu queria poder recomeçar de onde parei. Ver você crescer e se formar, eu perdi tanta coisa. — o homem abaixa a cabeça com um semblante triste, e Isadora coloca a mão em seu ombro. — Acre
IsadoraContenho as lágrimas para não desabar na frente dele. O tanto que a felicidade exala em seu ser, daria uma obra de arte digna de exposição, o sorri desse homem. Ele já beijou minha barriga incontáveis vezes desde que deitei ao seu lado, esperando dar a hora de buscar Frida na escola. Penso que dessa vez dará certo, tomarei todo e qualquer devido cuidado, eu não esperava um filho tão cedo, pensei que fosse demorar tanto, que nem fiquei na esperança. Ele alisa meu ventre, deitado em minha perna enquanto me olha, como se eu fosse a coisa mais linda que ele teve o prazer de conhecer. — Quando descobriu? — ele me pergunta, com o olhar todo bobinho. — Alguns dias atrás. Quis esperar seu aniversário para te contar. — eu tombo a cabeça encarando seus olhos, Leonardo nunca mudou o jeito que me olha, desde que nos vimos pela primeira vez — os enjoos não eram ansiedade, era um neném. — Tô feliz pra caralho, amor. Porra, melhor presente de aniversário que eu já recebi. Vou sempre me
Observando Frida brincar na areia da praia, enquanto penso no bebê que cresce em meu ventre. O meu bebê arco-íris. Ela corre em minha direção, com o corpinho e o cabelo molhada da água. — Mamãe, eu tô com sede! — ela fala, com a respiração ofegante, tentando limpar o suor que desce em sua testa. — Seu pai foi comprar água de coco pra você. Tá bom? — ela afirma com a cabeça, com as duas mãozinhas na cintura ela fica parada na minha frente — senta aqui perto da mamãe. O sol tá quente demais, daqui a pouco você brinca mais. — Quando o neném sai daí? Da sua barriga? — Ah, filha… — aliso seu cabelo longo e ela sorri para mim, com o rosto vermelhinho pelo sol — ainda vai demorar um pouquinho. — É um neném homem? — ela pergunta curiosa. — Neném homem? — gargalho com a inocência em sua pergunta — ainda não sabemos, daqui algumas semanas vamos descobrir. Ok?— Tá bom! — ela afirma. Antunes, Maceió. Foi onde eu e Leonardo decidimos que viríamos depois de pesquisar muito. Eles tem hotel
Estou tremendo, da cabeça aos pés. Pois já não basta a mãe bosta que eu tenho, não posso acreditar que talvez, eu seja filha de um homem que tentou me estuprar também. Leonardo percebe minha tensão, mesmo de longe, então ele sai da água e vem correndo em minha direção. — O que foi? — ele abaixa pegando a toalha e secando o rosto — tava falando com quem no celular?— Rayanne pegou o teste de DNA pra mim, pedi pra ela ler…— O que deu?— Ele não é meu pai… — ele para o movimento que fazia com a toalha pelo corpo e me encara surpreso — eu não sei como, se foi algum erro, sei lá. Mas ele não é meu pai. — Quem poderia ser?— Eu não sei, amor. — sinto como se uma bola de golfe formasse em minha garganta, dificultando a passagem da saliva — Conrado?— Impossível! — ele responde. — Como pode ter tanta certeza?— Eu saberia. — ele revira minha bolsa a procura de algo, até tirar a mão de dentro com um celular — Vou falar com uma pessoa. — Quem?— Nem. Ele conhecia Ana Carla bem até demais,
Pires— Ela está grávida, Leonardo. Não pode ficar se locomovendo desse jeito. — minha coroa avisa, sentada no banco de trás com Frida, enquanto Isadora caiu em sono profundo no banco da frente. — Vai ser a última vez que fazemos isso. — afirmo — vamos resolver tudo que tiver pra resolver. E a senhora vem com a gente. — Gosto do meu cantinho. Vivi a vida toda ali e não tenho pretenção de ir embora um dia. — Eu não posso ir embora e deixar a senhora pra trás. — olho pelo retrovisor, ela negando com a cabeça. — Então fica. Não há necessidade de você ir embora. — Eu entreguei o comando, vó. Tenho inimigos, querendo ou não, não vou deixar que meus filhos cresçam dentro daquela comunidade correndo risco de vida. — Em qualquer lugar do Brasil seria perigoso para você, Leonardo. — suspiro fundo, sabendo que tudo que ela diz é verdade — não faz sentido. Pela primeira vez eu vou falar algo que eu nunca gostaria de dizer, mas você precisa ficar no comando se quer manter sua esposa e filho
IsadoraEu já passei por por muitas situações difíceis. Mas não tão complicado como explicar para o homem que achava que era meu pai, que ele não é. O teste de DNA saiu já tem 2 meses, e eu só tive coragem de falar com ele hoje, depois de mantermos contato um com outro desde o dia em que ele foi para casa de sua família. Ele é tão vítima nesse caso quanto eu, porque eu consegui sentir a dor dele somente pela ligação, eu nem tive coragem em olhar em seu rosto com essa notícia. Fomos dois fantoches que Ana Carla adorou brincar, e achou que a conta nunca chegaria, ingênua. Condenada a 30 anos de prisão, em regime fechado e sem possibilidade de ser aberto, mesmo que ela tenha um bom comportamento lá dentro. É o que ela merece, e eu ainda acho pouco, depois de ter brincado com a vida das pessoas desse jeito. Luiz ainda quer manter contato comigo, pois disse que em seu coração eu ainda sou sua filha. Eu perco coisas para que possa ganhar outras, porque nesse momento fui presenteada com
Eu estou atordoada em meio aos meus pensamentos, mas o bebê nasce em alguns dias e eu não tenho nada, inclusive barriga. Como pode uma criança de quase 3 quilos está aqui dentro?Minhas mãos soam, estou apreensiva não de uma maneira ruim, mas sim pelo fato de eu achar que estaria no início de uma gestação e já estou no final dela, e nunca sequer percebi. — Eu estou em choque! — falo, enquanto Leonardo dirige pra casa da Rayanne pra buscar Frida — amor, daqui uns dias só, e nós não compramos nada. — Mas podemos comprar, po. Não seja por isso, não precisa se desesperar. — Eu já estou desesperada. Achei que teria mais tempo para fazer as coisas. — Tipo? — ele me pergunta. — Sei lá. Chá de bebê? Eu não tive isso na gravidez de Frida, queria muito ter feito nesse. — estalo a língua no céu da boca, não vou ter tempo de quase nada dessa vez — a gente nem pensou no nome. Leonardo freia o carro e eu me assusto, olha para ele que me encara, esperando eu falar algo. — O que foi? — pergunt