Então, onde ela merecia piedade?!Era Lívia quem mais merecia piedade!Os olhos de Aurora estavam arregalados, em harmonia com a cicatriz em seu rosto, a fazendo parecer um fantasma à beira da morte, perdendo completamente qualquer traço de fragilidade que normalmente possuía.- Você merece piedade porque tudo o que você tem foi tirado de mim. - Afirmou Lívia com convicção. - Família, pais, homem não importa quão bons ou ruins eles sejam, não têm relação comigo. Eu os rejeitei primeiro.Antes dos dezoito anos, ela nutria ilusões sobre sua família.Depois dos dezoito, aprendeu a desistir.Agora, conhecendo todas as ações de João, não precisava mais aprender a desistir, porque desistir se tornou algo natural.Uma família assim não merecia seu respeito.E tinha Sílvio, também.Sim, ela foi uma substituta.Mas e daí?Existiam muitas coisas no destino que não podiam controlar, mas Lívia nunca agiu contra sua consciência e menos ainda amou alguém contra ela!- E você, nem sabe amar. - Aurora
Lívia não se mostrou nem um pouco afetada, sua calma era aterradora.Foi então que Aurora recordou que Lívia também havia sobrevivido em um ambiente extremamente hostil durante a infância.Ela foi abandonada ainda muito pequena e, em seguida...Isadora assassinou intencionalmente seus pais adotivos, deixando Lívia completamente desamparada.Mas, mesmo tendo que disputar comida com cachorros, Lívia sobreviveu.Essa mulher enfrentou dias difíceis.Ela não era uma santa, tampouco um anjo.Ela era alguém obcecada por vingança a qualquer custo!A razão pela qual não agiu contra Aurora antes não era por falta de desejo, mas porque ainda não era o momento certo.E o incidente no túmulo precipitou seus planos de vingança.Assim, diante de Aurora, Lívia a fazia parecer insignificante, como um papel em branco.Lívia nunca foi fácil de lidar.No entanto, jamais teve a intenção de prejudicar os outros como Aurora.Tanto que as pessoas frequentemente esqueciam que Lívia nunca foi uma flor protegida
Se ela realmente não pudesse suportar a presença de Aurora neste mundo, ele poderia intervir em seu lugar, mas nunca seria a pessoa a dar o golpe final.Através do olho mágico, a ansiedade do homem foi plenamente percebida pelos olhos de Lívia.Sempre que se tratava de Aurora, ele demonstrava essa ansiedade.Era de fato interessante.Esse homem, que sempre expressava gratidão por Aurora e amor por ela...A cada situação, se desdobrava ao máximo para proteger aquela que, em seu coração, era objeto de sua gratidão.E o amor? O que realmente significava?Não passava de palavras ao vento.Ela jamais deveria ter levado isso a sério.Lívia, com a cabeça baixa, deixou transparecer uma tristeza súbita em seus olhos.Mas, nesses breves segundos, Sílvio parecia não poder mais esperar. Ele mandou que Pedro buscasse o gerente do prédio para abrir a porta do apartamento de Lívia.Tão rapidamente que ela mal conseguiu reagir.- Aurora! - Assim que a porta foi aberta, ele entrou apressado.Ao ver qu
Sílvio suspirou, ciente de que o dia de Carlos e Ana chegaria, mas não imaginava que seria tão breve.Novamente, Sílvio suspirou:- Se realmente não deseja ficar noivo, posso te ajudar.- Síl, não seja ingênuo. Pode me ajudar agora, mas não eternamente. - Carlos falou com um sorriso amargo, resignado. - Sei exatamente do que sou capaz.Sem as habilidades de Sílvio, a melhor opção para ele era obedecer.- Isso é realmente uma pena.Afinal, era uma questão pessoal de Carlos, cuja família diferia da de Sílvio. Este, conhecendo as dificuldades e resignações daquele meio, não insistiu mais.- O que é uma pena?- Uma pena que acabei de alugar um apartamento para você, ao lado do meu, esperando que pudesses cuidar um pouco de Lívia, mas agora... - O homem se mostrava visivelmente desapontado.Carlos ficou tão exasperado que quase o agrediu.- Ainda se preocupa com esse insignificante aluguel em um momento desses? Deviria estar contente por eu estar pagando!Só pensava no seu amor!À medida q
Neste momento, quanto menos falasse, melhor. Fingir ignorância era a opção mais sensata.Sílvio suspirou, como se nunca nada na vida o tivesse desafiado tanto, mas agora Aurora e Lívia realmente o davam a sensação de estar em um beco sem saída.Desse beco, ele precisava encontrar uma saída.Caso contrário, os três ficariam presos ali eternamente.- Aurorinha - Sílvio se sentou ao lado da cama. - Sua ferida no rosto está doendo?- Está doendo - Respondeu ela, sentindo que a preocupação dele permitia que a tristeza reprimida em seu coração finalmente encontrasse uma válvula de escape. - Mas não culpo a irmã, sei que a questão dos bebês sempre foi um obstáculo em seu coração.Sílvio não comentou, apenas baixou os olhos e falou:- Eu também tinha prometido cuidar da sua garganta, mas recentemente não consegui me concentrar em encontrar um médico para você, por isso ainda não se recuperou.Ele reconhecia sua negligência.Pela primeira vez, Aurora sentiu uma dor profunda.Uma dor que o homem
Sílvio falava com palavras cortantes.Ele sempre foi assim, nunca poupando os sentimentos alheios em suas falas.Às vezes, mesmo se sentindo frágil por dentro, suas palavras podiam ser tão afiadas quanto espinhos.Agora, ele estava diante de Aurora.Ele tinha plena consciência de sua situação.A condição de Aurora não era suficiente para despertar sua piedade por uma mulher.A piedade, muitas vezes, criava uma ilusão de amor.Ele sabia que amava Lívia e, por isso, não daria a Aurora nenhuma chance de ilusão.- A última vez que poupei sua vida foi para retribuir o favor de você ter me salvo.Aurora olhava para Sílvio incrédula, com os olhos arregalados e a boca quase formando um círculo.Depois de conhecer Sílvio por tantos anos, parecia que ele estava cada vez mais lúcido em relação a ela.Ela já não via mais entre suas lágrimas.Aurora teve que admitir que sua posição no coração desse homem estava diminuindo cada vez mais.Ela começou a temer as consequências de suas próprias ações.M
A pessoa que ela tanto lutou para salvar, seria mesmo um homem que não se importava nem com sua própria família?Mas...Ela sorriu amargamente.Por que ela estava ali?Para ouvir Sílvio declarar seu amor por Aurora?Pessoas tendenciosas sempre seriam assim.Ela não tinha visto exemplos suficientes disso nos pais da família Lopes?Por que, por uma pequena dívida de gratidão, ela deveria tentar fazer Sílvio reconsiderar tudo entre os três?Seu estado de espírito era exatamente o mesmo de quando Ana a levou à varanda para ver Sílvio e Aurora.Igualmente terrível.Igualmente doloroso.Tão doloroso que ela não queria ver, pensar ou se comunicar.Felizmente, ela ainda não havia entrado.Se tivesse entrado e contado a Sílvio sobre a dívida de salvar sua vida, provavelmente teria recebido apenas humilhação.Todas as promessas que ele fez, todos os juramentos, eram apenas para o momento!Tudo deveria ser esquecido!Ela definitivamente não deveria ter esperanças!Caso contrário, ela estaria se p
- Qual é o problema? - Helena ainda olhava para ela com raiva.Parecia que elas nunca foram mãe e filha, mas sim inimigas mortais.Lívia se sentia ainda mais fria sob aquele olhar, mordeu o lábio, prestes a falar, mas viu um lampejo de pânico no rosto de João. Ele, subitamente, levantou a mão e deu um forte tapa em si mesmo, mais forte do que o que Lívia havia dado.Com o rosto marcado pela mão, ele olhou para Lívia:- Lili, papai está pedindo desculpas, é culpa do papai, eu não deveria...- Não deveria o quê? - Lívia interrompeu com uma pergunta incisiva.- Não deveria ter desenterrado o túmulo dos seus filhos...Ele não conseguiu terminar a frase e seu corpo já estava tremendo.Com um som estrondoso, ele subitamente se ajoelhou no chão, batendo a cabeça repetidamente diante de Lívia.- Por favor, eu imploro. - O homem, sempre preocupado com a própria imagem, agora estava prostrado aos pés da filha que menos respeitava. - Por favor, me perdoe, papai errou, papai errou!- Se levante!