Para evitar que Aurora gritasse, Enzo também havia selado a boca dela com fita adesiva.Se podia dizer que Aurora estava como um peixe sobre a tábua de cortar de Lívia, completamente à sua mercê.Quando Aurora viu Lívia pela primeira vez, suas pupilas se dilataram de terror.Ela se debatia, como se tivesse algo a dizer.Lívia, por sua vez, não demonstrava pressa.Após agradecer a Enzo e mandar ele para o elevador, ela voltou.Em suas mãos, trazia um colar.Era o dispositivo de segurança que Enzo a deu antes de partir.A condição dele para trazer Aurora era que Lívia garantisse a própria segurança, mas parte dessa segurança também era uma contribuição dele.Ele havia pensado em tudo para ela.No mundo, ainda existiam muitas pessoas que se importavam com Lívia.Um calor se espalhou pelo coração de Lívia ao se lembrar da expressão séria de Enzo e ela cuidadosamente guardou o colar no bolso.Então, repentinamente, ela arrancou a fita da boca de Aurora.Com dor, Aurora franziu o rosto e gri
Se a água caísse sobre as feridas, a dor seria visível a olho nu.E essa dor não era nem uma fração do que os bebês sofreram.- O que você nunca deveria ter feito era mexer no túmulo dos bebês!Não bastasse mexer no túmulo, ela ainda perturbou as cinzas dos bebês.Toda vez que Lívia pensava nisso, desejava que Aurora fosse queimada até virar cinzas e espalhada na chuva.Mas agora, ela não podia a transformar em cinzas, mas podia fazer chover em seu rosto.Aurora percebeu o que Lívia estava prestes a fazer.Seu rosto empalideceu e seus lábios tremiam incontrolavelmente. - Irmã. - Aurora mudou o tom. - Irmã, você não pode fazer isso comigo. Nós temos o mesmo pai! Nós somos irmãs de sangue, irmã...Ela se contorcia tentando se libertar da cadeira onde Lívia a prendeu, mas quanto mais se movia, mais apertadas ficavam as cordas.Lívia, por outro lado, permanecia indiferente a tudo.Aurora gritou de repente.Os olhos de Lívia finalmente se moveram um pouco.Vendo uma mudança em Lívia, Auror
Pela primeira vez, ela sentiu profundamente o favoritismo dos pais, uma realidade que jamais poderia ser corrigida.Ela sempre soube que não deveria competir com Aurora pelo amor dos pais.Muito menos tentar desestabilizar a relação entre a família Lopes e Aurora.Essas pessoas desprezíveis deveriam apodrecer juntas naquela família!Ela, Lívia, não queria tais parentes!Também não desejava, por meio de João e Helena, punir Aurora!Ela pretendia mostrar a Aurora, de maneira direta, bruta e simples, que quem erra devia enfrentar as consequências!Se os pais não a educaram, ela mesma o faria!Lívia pegou a bandeja e despejou o conteúdo diretamente no rosto de Aurora, que gritou de dor:- Lívia! Você é irracional!Ela já havia entregue João, por que essa desgraçada ainda focava nela?- Irracional? - Lívia riu ao ouvir essa palavra. - Vocês foram racionais comigo? Desde que me perderam na infância, até desenterrar o túmulo e dispersar as cinzas dos bebês. Quem de vocês agiu racionalmente co
Então, onde ela merecia piedade?!Era Lívia quem mais merecia piedade!Os olhos de Aurora estavam arregalados, em harmonia com a cicatriz em seu rosto, a fazendo parecer um fantasma à beira da morte, perdendo completamente qualquer traço de fragilidade que normalmente possuía.- Você merece piedade porque tudo o que você tem foi tirado de mim. - Afirmou Lívia com convicção. - Família, pais, homem não importa quão bons ou ruins eles sejam, não têm relação comigo. Eu os rejeitei primeiro.Antes dos dezoito anos, ela nutria ilusões sobre sua família.Depois dos dezoito, aprendeu a desistir.Agora, conhecendo todas as ações de João, não precisava mais aprender a desistir, porque desistir se tornou algo natural.Uma família assim não merecia seu respeito.E tinha Sílvio, também.Sim, ela foi uma substituta.Mas e daí?Existiam muitas coisas no destino que não podiam controlar, mas Lívia nunca agiu contra sua consciência e menos ainda amou alguém contra ela!- E você, nem sabe amar. - Aurora
Lívia não se mostrou nem um pouco afetada, sua calma era aterradora.Foi então que Aurora recordou que Lívia também havia sobrevivido em um ambiente extremamente hostil durante a infância.Ela foi abandonada ainda muito pequena e, em seguida...Isadora assassinou intencionalmente seus pais adotivos, deixando Lívia completamente desamparada.Mas, mesmo tendo que disputar comida com cachorros, Lívia sobreviveu.Essa mulher enfrentou dias difíceis.Ela não era uma santa, tampouco um anjo.Ela era alguém obcecada por vingança a qualquer custo!A razão pela qual não agiu contra Aurora antes não era por falta de desejo, mas porque ainda não era o momento certo.E o incidente no túmulo precipitou seus planos de vingança.Assim, diante de Aurora, Lívia a fazia parecer insignificante, como um papel em branco.Lívia nunca foi fácil de lidar.No entanto, jamais teve a intenção de prejudicar os outros como Aurora.Tanto que as pessoas frequentemente esqueciam que Lívia nunca foi uma flor protegida
Se ela realmente não pudesse suportar a presença de Aurora neste mundo, ele poderia intervir em seu lugar, mas nunca seria a pessoa a dar o golpe final.Através do olho mágico, a ansiedade do homem foi plenamente percebida pelos olhos de Lívia.Sempre que se tratava de Aurora, ele demonstrava essa ansiedade.Era de fato interessante.Esse homem, que sempre expressava gratidão por Aurora e amor por ela...A cada situação, se desdobrava ao máximo para proteger aquela que, em seu coração, era objeto de sua gratidão.E o amor? O que realmente significava?Não passava de palavras ao vento.Ela jamais deveria ter levado isso a sério.Lívia, com a cabeça baixa, deixou transparecer uma tristeza súbita em seus olhos.Mas, nesses breves segundos, Sílvio parecia não poder mais esperar. Ele mandou que Pedro buscasse o gerente do prédio para abrir a porta do apartamento de Lívia.Tão rapidamente que ela mal conseguiu reagir.- Aurora! - Assim que a porta foi aberta, ele entrou apressado.Ao ver qu
Sílvio suspirou, ciente de que o dia de Carlos e Ana chegaria, mas não imaginava que seria tão breve.Novamente, Sílvio suspirou:- Se realmente não deseja ficar noivo, posso te ajudar.- Síl, não seja ingênuo. Pode me ajudar agora, mas não eternamente. - Carlos falou com um sorriso amargo, resignado. - Sei exatamente do que sou capaz.Sem as habilidades de Sílvio, a melhor opção para ele era obedecer.- Isso é realmente uma pena.Afinal, era uma questão pessoal de Carlos, cuja família diferia da de Sílvio. Este, conhecendo as dificuldades e resignações daquele meio, não insistiu mais.- O que é uma pena?- Uma pena que acabei de alugar um apartamento para você, ao lado do meu, esperando que pudesses cuidar um pouco de Lívia, mas agora... - O homem se mostrava visivelmente desapontado.Carlos ficou tão exasperado que quase o agrediu.- Ainda se preocupa com esse insignificante aluguel em um momento desses? Deviria estar contente por eu estar pagando!Só pensava no seu amor!À medida q
Neste momento, quanto menos falasse, melhor. Fingir ignorância era a opção mais sensata.Sílvio suspirou, como se nunca nada na vida o tivesse desafiado tanto, mas agora Aurora e Lívia realmente o davam a sensação de estar em um beco sem saída.Desse beco, ele precisava encontrar uma saída.Caso contrário, os três ficariam presos ali eternamente.- Aurorinha - Sílvio se sentou ao lado da cama. - Sua ferida no rosto está doendo?- Está doendo - Respondeu ela, sentindo que a preocupação dele permitia que a tristeza reprimida em seu coração finalmente encontrasse uma válvula de escape. - Mas não culpo a irmã, sei que a questão dos bebês sempre foi um obstáculo em seu coração.Sílvio não comentou, apenas baixou os olhos e falou:- Eu também tinha prometido cuidar da sua garganta, mas recentemente não consegui me concentrar em encontrar um médico para você, por isso ainda não se recuperou.Ele reconhecia sua negligência.Pela primeira vez, Aurora sentiu uma dor profunda.Uma dor que o homem