Capítulo 65No dia seguinte, após o nascer do sol, Augusto e Rafael deixaram a mansão juntos, mais cedo do que o habitual. A movimentação na casa ficou mais silenciosa com a ausência dos dois, e Patrícia, embora tentasse manter a serenidade, sentia um aperto desconfortável no peito.A ideia de ficar sozinha enquanto o marido viajava para outro estado não a deixava tranquila, especialmente agora que carregava uma vida em seu ventre.Após o café da manhã, tentando afastar os pensamentos negativos, ela subiu as escadas com passos lentos. Ao entrar no quarto, foi até o banheiro, olhou para a banheira de mármore branco e decidiu se permitir um momento de paz.- Um banho quente, um bom audiolivro... acho que é disso que eu preciso - disse a si mesma, sorrindo levemente.Pegou sua toalha preferida, escolheu um dos seus romances favoritos para ouvir no celular e, com delicadeza, preparou a banheira com sais aromáticos e espuma. Enquanto a água quente preenchia o espaço, ela prendeu os cabelos
Capítulo 66A porta da mansão Avelar se abriu com força quando os policiais entraram apressados, guiados pelas instruções precisas do mordomo, que os esperava logo na entrada.— É no andar de cima, no banheiro da suíte principal — disse ele, com a voz ainda trêmula. — A mulher está lá.Augusto, ainda com Patrícia nos braços, mal conseguia falar. Apenas fez um leve gesto com a cabeça e viu os homens subirem às pressas. Patrícia estava consciente, mas assustada, agarrada ao pescoço do marido com força.Momentos depois, os policiais desceram com Cleuza algemada. Ela chorava compulsivamente, a cabeça baixa, os ombros sacudindo em soluços descontrolados. Augusto, tomado por uma mistura de raiva, incredulidade e tristeza, se aproximou.— Por que você fez isso, Cleuza? — perguntou, com a voz baixa, tentando manter o controle.Ela o encarou com os olhos vermelhos, a maquiagem borrada, a respiração entrecortada.— Ela me ameaçou de morte… disse que acabaria com os meus filhos e depois comigo.
Capítulo 67Enquanto isso, em Roma, Estela caminhava de um lado para o outro em seu quarto abafado e sem graça. O tique-taque do relógio na parede era a única coisa que quebrava o silêncio sufocante. Ela já havia contado as horas tantas vezes que até os ponteiros pareciam zombar dela.— Se eu soubesse que iam me internar, teria fingido estar bem… teria me controlado — murmurou, os olhos cheios de raiva.Realmente tinha tido um surto, mas não imaginava que o preço seria tão alto. O lugar era um hospício nojento, com cheiro de desinfetante velho e olhares vazios por todos os lados. A tratavam como se fosse imprestável, e ela não suportava aquilo.Sentou-se na cama estreita e encarou a porta trancada com amargura. Estava contando os dias, os minutos... Logo sairia dali. E quando saísse, todos pagariam. Um a um.— Preciso saber se aquela imprestável da Cleuza fez o que pedi… — murmurou Estela, cruzando os braços e olhando para o teto descascado com um brilho sombrio nos olhos. — Se ela c
Capítulo 68Aqueles dois dias pareciam ter durado uma eternidade. Para Augusto, o tempo no Rio Grande do Sul corria de forma estranha, como se cada hora se arrastasse com o peso de uma década. No último dia na cidade, ficou até tarde na empresa, já passava das oito da noite quando finalmente desligou o computador e saiu do escritório. O cansaço era evidente. Desde que saíra do coma, sentia que seu corpo ainda não havia recuperado o ritmo. Cada passo parecia exigir mais energia do que antes. Mesmo assim, mantinha-se firme, focado, caminhando um dia de cada vez.O elevador desceu devagar, levando apenas ele até o subsolo. Sabia que o motorista estava o esperando havia pelo menos três horas, mas Augusto havia lhe pedido para sair e jantar, pois sabia que se demoraria mais que o previsto.Quando as portas do elevador se abriram, ele andou pelo estacionamento, que estava quase vazio. A empresa dispunha de três andares para os carros dos funcionários, e àquela hora o subsolo era um deserto
Capítulo 69Duas horas haviam se passado desde o sequestro. A noite avançava silenciosa e fria quando um carro de vidros escuros parou diante da entrada lateral de um bordel decadente, escondido nas sombras de um beco mal iluminado.A porta traseira se abriu com brutalidade. Dois homens desceram e, sem qualquer delicadeza, arrastaram Augusto Avelar até a calçada, jogando-o no chão como se fosse um saco de lixo. Um dos capangas abriu uma garrafa de uísque barato e derramou o líquido sobre suas roupas, cabelos e rosto.— Isso deve completar o teatrinho — murmurou um deles, antes de voltarem para o carro e desaparecerem na escuridão.Minutos depois, dois jovens surgiram do outro lado da rua. Um deles era magro, com o rosto coberto de fuligem; o outro usava uma touca rasgada e tinha os olhos arregalados de euforia.— Caraca... olha esse terno! — disse o primeiro, se ajoelhando ao lado de Augusto. — O cara tá apagado... tá cheirando a álcool. Bêbado ou drogado, sei lá...— Olha esse celula
Capítulo 70O táxi parou em frente a um dos hotéis mais luxuosos da cidade. As luzes da entrada brilhavam, refletindo na lataria do carro e nos olhos cansados de Augusto, que parecia renascer aos poucos.Ele olhou para o taxista com firmeza, apesar do cansaço evidente.- Espere aqui. Eu volto em cinco minutos.O motorista assentiu, ainda desconfiado, mas algo no tom de Augusto lhe dizia que deveria confiar.Augusto desceu do carro com passos mais firmes agora, entrou no saguão do hotel e foi imediatamente reconhecido pelo recepcionista, que correu para atendê-lo. Em poucos minutos, subiu até seu quarto, foi até o cofre embutido no armário, pegou uma pequena pilha de dinheiro e desceu novamente.Ao chegar no táxi, estendeu a mão e entregou ao motorista um maço de notas.- Aqui tem cinco mil reais.O homem arregalou os olhos, surpreso.- Cinco... cinco mil?- É só o começo. - Augusto entregou em seguida um cartão com o logotipo da empresa estampado em alto relevo. - Esse é o número da m
Capítulo 1O silêncio no quarto era quase opressor, quebrado apenas pelo som ritmado dos aparelhos e da respiração profunda do homem deitado na cama. Rafael entrou devagar no aposento, como se temesse perturbar a paz que envolvia o ambiente. A penumbra da manhã filtrava-se pelas cortinas entreabertas, projetando sombras suaves sobre o rosto de seu pai.Com passos lentos, aproximou-se da cama e sentou-se ao lado dele. Seus olhos, sempre firmes diante do mundo, agora brilhavam com a ameaça de lágrimas. Ele estendeu a mão, entrelaçando seus dedos aos do pai, sentindo o calor ainda presente ali, a única prova de que ele estava vivo.— Acorda, pai… — murmurou, a voz embargada. — Você faz tanta falta pra mim...Por um instante, ficou ali, observando cada detalhe do rosto do pai: as olheiras profundas, o cabelo que já passava do comprimento habitual, a barba crescida que não tinha nada haver com a imagem impecável do CEO poderoso que todos conheciam. Rafael fazia questão de chamar um barbeir
Capítulo 2Após aceitar o serviço, Rafael pediu ao mordomo que mostrasse seus aposentos.Sempre discreto e eficiente, o mordomo guiou Patrícia pelos amplos corredores da mansão até um quarto confortável, localizado ao lado do Senhor Avelar.- Este será o seu quarto, senhorita Patrícia. Se precisar de algo, estarei à disposição. - Ele abriu a porta, revelando um espaço aconchegante, com móveis elegantes.Ela agradeceu com um leve aceno e entrou para se trocar. Vestindo o uniforme branco impecável, sentindo a responsabilidade se instalar de vez. Respirou fundo e saiu do quarto.Ao retornar ao quarto do paciente, analisou cada detalhe com atenção. Abriu o prontuário médico ao lado da cama e começou a revisar as medicações, os horários de administração, os cuidados diários e as rotinas. Tudo precisava ser seguido à risca.Enquanto lia as anotações anteriores, seu olhar voltou-se para o homem desacordado na cama. Senhor Avelar. Mesmo em repouso, ele exalava imponência. Sua presença era qua