Acordar com uma terrível dor de cabeça e buscar saber o que ocorreu na noite anterior foi um desafio para mim. Lembro-me do sabor do líquido que bebi. Ele desceu quente em minha garganta. Forcei um pouco a mente e acabei me lembrando do flagra, quando escutei os gemidos dos beijos da minha querida ex amiga Anne e Richard.
Balancei a cabeça querendo esquecer. Assim que coloquei um pé fora da cama, eu pude sentir o meu ventre se acontecer. Foi somente nesse momento que me recordei da loucura que fiz ao perder minha virgindade para um homem desconhecido.
— Kira... O que você fez? Sussurrei com angústia.
Os dias foram passando e eu só queria me esquecer daquele dia fatídico, incluindo as besteiras que cometi. Anne e Richard não queriam me deixar esquecer, e inúmeras vezes batiam em minha porta ou me ligavam querendo que eu os retornasse.
A traição duplamente me feriu de uma maneira descomunal. Eu gostaria de tentar passar por cima disso, até agora a minha loba estava magoada pelo sentimento ruim da rejeição.
"Vai ficar tudo bem." Eu disse para ela.
O café da manhã foi servido. Imediatamente senti o cheiro de biscoitos frescos. Eram os cookies de gotas de chocolate, que eu amava e somente Carlota sabia fazer. Lhe presenteei com um beijo estalado na bochecha enquanto eu rodeava a sua cintura a abraçando forte.
— Ande menina, coma antes que o café esfrie.
— Sim senhora. A obedeci, fazendo continência como se ela fosse uma soldada.
Carlota é minha segunda mãe. A minha mãe biológica morreu em meu parto. Eu quase não tenho fotos com ela estando grávida. Por isso, suspeito que o meu pai não goste de mim.
Ele sempre me tratou de uma maneira fria, como se eu fosse um dos lobos que ele comanda, como se eu fosse uma subordinada. Nunca senti que eu era amada de verdade. Se não fosse a nossa empregada, jamais saberia o que é o sentido da palavra amor.
— Nossa. Digo elevando um biscoito aos lábios. — Esses cookies estão uma delícia, com as bordas torradas, do jeito que eu gosto.
—Não coma tão depressa menina. Você pode ter uma indigestão.
— Fique tranquila, lobos não tem isso.
Assim que levei mais um biscoito aos lábios, a sensação de enjoo me acometeu. Correndo, eu saltei da cadeira e fui direto ao banheiro. Me ajoelhei e deixei o vômito fluir. Meu estômago se contorcia a cada sequência que eu expelia ao vaso. Parecia que eu havia comido algo estragado ou algo do tipo.
— O que houve com você menina?
— Esses cookies, estavam estragados? Perguntei limpando os lábios.
— Claro que não, eles foram feitos agora.
— O que está acontecendo aqui? Ouvi a voz do meu pai. O medo me abateu. Eu levantei rapidamente e abaixei a cabeça. — Você vomitou?
—Sim. Acredito que seja algo que comi, Senhor.
Ele ficou mudo por um tempo.
— Você está sentindo mais algum sintoma?
— Um pouco de dores na cabeça, enjoo, e senti que engordei um pouco. Respondi ainda sem olhar em seus olhos.
— Muito bem. Os mesmos sintomas de sua mãe. Eu sei o que está acontecendo. Você está grávida, menina!
Assustada, levantei a cabeça com espanto. Não, eu não poderia estar grávida. Coloquei as mãos na boca ao lembrar da noite em que fiz sexo sem proteção com o desconhecido. Tempo suficiente para mostrar os erros de uma inconsequência.
— Papai.
— Eu não admito essa gravidez. Eu senti que ele me olhava com severidade. A minha carne se tremeu, com o espanto ao ouvir a sua voz cortante. — Você está expulsa da minha alcateia!
— Como?
Andei alguns passos para trás até que meu corpo bateu no encosto da pia fazendo com que alguns objetos caíssem ao chão.
— Você é surda ou só possui essa m*****a cegueira? Pare de me trazer prejuízos. Ande! Vá para o seu quarto, arrume as suas malas e vai embora da minha alcateia. Você não é mais do meu sangue.
Meus olhos se encheram de lágrimas. Eu não acreditei que o meu próprio pai, estava falando aquelas duras palavras. Eu ouvi quando Carlota soluçou, aposto que ela está chorando como eu.
Desesperada, eu corri seguindo os passos do alfa. Me atirei aos seus pés. Como uma menina indefesa, eu agarrei as suas pernas e implorei pelo seu perdão. Eu sabia que ele estava com furioso e com vergonha de mim.
— Por favor papai, por favor. Me perdoe. Eu não fiz por mal.
Ele balançou as pernas tentando me afastar. Quando ele percebeu que eu não o soltaria, ele chutou a minha barriga me forçando cair de bunda ao chão. Automaticamente eu abracei o meu ventre.
— Nunca mais me chame de pai. Não admitirei que os lobos insultem o meu nome fazendo chacota por eu permitir essa vergonha. Fique satisfeita de eu não jogar as suas roupas ao lado de fora, a fim de te humilhar como deveria.
— Eu sei que o senhor não faria isso. Aos soluços tentei argumentar. — Eu sou a sua filha, o senhor deve me perdoar e me aceitar mesmo estando grávida.
Eu ouvi o seu sorriso irônico.
— Eu não tenho uma filha vagabunda como você.
Sentada ao chão, senti quando ele se distanciou. Chorando, eu abracei o meu corpo com a nítida certeza que eu estava sozinha no mundo. Novamente eu abracei a minha barriga, pedindo a Deusa lua que protegesse o meu filho.
— Menina. Senti o perfume de manteiga e chocolate, advindas do cheiro de Carlota. Ela me abraçou. O seu corpo estava tenso evidenciando a sua tristeza. — Por que você deixou que isso acontecesse? Sabe como seu pai é. Ele lhe culpa pela morte de sua mãe.
— Mas é o meu filho. O neto dele. Ele não deveria ter me tratado como uma loba qualquer, como uma cachorra vira-lata.
— Eu sei querida. Mas é melhor você fazer o que ele mandou. O seu pai é impiedoso, e se você continuar aqui, ele pode fazer mal para essa criança.
— E o que você quer que eu faça? Eu não tenho para onde ir.
— More por um tempo na alcateia de sua tia Esmeralda. Eu tenho certeza que ela cuidará de você e da sua criança.
— E o que vai será de mim, Carlota? O que eu farei com esse bebê?
— Você vai cuidar dele como a sua mãe cuidaria de você se não houvesse morrido. Eu sorri triste. — Preste atenção, Kira. Na vida acontecem coisas boas e ruins, saiba que sempre depois de uma fase ruim, vem a fase boa.
— Não há nada de bom para mim nessa vida.
— Eu sinto que algo extraordinário vai acontecer, sim. Você merece ser feliz e vai ser. Confie na Deusa Luna, ela tem o melhor para você!
Pov TysonEla era a mulher mais linda que meus olhos avistaram, nem mesmo na alcateia Lycans era possível ver uma fêmea tão formosa. O cheiro do pomar de morangos frescos, me lembravam a alguém. Aquele cheiro continua impregnado em minha pele. O meu corpo vibrou ao recordar o atrito de nossa união, fundida ao calor dos corpos suados. Suas unhas arranhando descontroladas procurando seu pouso, deixaram marcas vermelhas em mim. Oh, pequena mulher. Onde você está?Naquele momento, eu me esqueci de Aurora, minha companheira falecida. Era impossível pensar em algo enquanto aquela jovem sugava os meus lábios, com ardor, como se eu fosse a última gota de água ao deserto. Mesmo naquele local impróprio e sujo, eu a tomei em meus braços e a fiz minha. Eu soube no mesmo momento que eu era o seu primeiro homem, e com isso eu tive a certeza que ela era a minha companheira.— Como assim não a encontraram? Aos dentes rangendo, perguntei ao meu beta William que permaneceu de cabeça baixa. — São lobos
KiraRefazer a minha vida com meu pequeno Logan, não era fácil. Ele ama interagir com as outras crianças, mas eu tenho medo que algo de ruim possa acontecer com ele. Eu não sei se é besteira de mãe. Desde que ele nasceu eu senti que eu precisava protegê-lo dos inimigos ocultos provenientes do misterioso Vale de Wanderson.Jogo a bola de golfe para que ele segure. Ouvindo as suas passadas ligeiras, eu sinto o barulho do vento e o som que as folhas fazem. É impressionante a sua agilidade e destreza. Posso dizer que o meu filho é um dos lobos mais rápidos que eu conheço, senão o maior.— Eu consegui, mãe!Quando percebi que ele se aproximou, abaixei o meu corpo e abri os braços para abraçá-lo. Eu amava o cheiro do gel refrescante que ele insiste em colocar em seu cabelo. Tão pequeno e tão vaidoso.— Muito bem, meu amor. Chega de brincar por hoje. Você já concluiu o seu dever de casa? Sabe que dona Lurdes detesta quando vocês não cumprem a tarefa.— Sim, mãe. Eu coloco as mãos na cintura.
Companheira. Quando ele disse essa palavra, minha loba se contorceu agitada. Ela estava feliz em finalmente poder encontrar a sua outra metade. Ao contrário de mim, que olhada apavorada para aquele homem. Ainda sentia a sua respiração contra a ponta do meu nariz. Ele estava perto demais.— Minha companheira. Ele sorriu sem vontade. —Eu acreditei que a Deusa Luna não iria me presentear com uma companheira de segunda chance. Agora eu percebo que eu não sou tão ruim como eu imaginava.— Você destruiu o vilarejo... Você... É um monstro!Imediatamente eu me afastei. Eu estava assustada, e muito apreensiva com aquele homem. Ainda sentia o cheiro da fumaça das casas queimadas. Não era apenas madeiras em cinzas, também haviam portas retratos que guardavam sonhos de pessoas felizes. Ele queimava a história de todo um povo.— Afaste-se de mim forasteiro. Eu jamais poderia ser a companheira de um lobo destruidor.Não demorou muito para que eu sentisse o meu corpo ser imprensado contra a parede.
TysonEu sorri quando recordei da reação dela, quando disse aquelas palavras. Kira está sobre meus cuidados, eu cuidarei dela, e não deixarei faltar nada, como um verdadeiro companheiro deve fazer. Comida, roupa, moradia, ela terá enquanto eu for seu protetor.O que me irrita é a minha péssima mania de visualizar o futuro. Leona está viajando, desfilando em uma coleção de moda em Paris. Eu sei que quando voltar, Kira terá uma surpresa não grata e eu não sei como ela corresponderá a isso.Até lá, eu tentarei fazer de tudo para que minha companheira sinta-se à vontade ao meu lado. Espero que ela perceba que não há porque fugir, pois comigo ela terá um abrigo, além de um peito quente para se encostar nas noites frias da alcateia Lycans.— Você não vai comer, meu bichinho de estimação? Perguntei enquanto encarava aqueles olhos assustados. - Você precisa comer, está fraca. Eu não quero ninguém desmaiando e me acusando de maus tratos.— Não se preocupe. Se eu não comer, enfraqueço de uma vez
KiraEu ainda não acredito na vergonha que ele me fez passar ao me apresentar para os membros da alcateia. Mesmo que eu não pudesse enxergá-los, eu percebia a ironia em suas falas pela minha condição. Eu era motivo de chacota aos seus olhos. Isso me fez perceber que jamais iriam aceitar que o alfa possuísse uma companheira cega.Quando voltei, soube que o alfa havia sido rude com meu filho. Cheguei a questioná-lo, mas o homem me respondeu com um simples olhar frio, demonstrando que ele não me devia satisfações. Dias se passaram, e eu pude respirar em paz quando o monstro viajou com alguns dos seus lobos. O que eu não imaginava era que na alcateia possuía outra pessoa monstruosa, senão pior do que o alfa Tyson. Sua mãe Elizabeth.Eu estava preparando o café da manhã de Logan, quando ela apareceu. Deixei a jarra de leite em cima da bancada e me afastei.— Eu ainda não entendo como meu filho teve a coragem de trazê-la para minha casa. Uma cega, sem utilidade nenhuma. Temos que ser delicad
Eu era uma loba sem rumo de casa, desamparada, perdida, e que caminhava ao solo frio da floresta densa. Eu não podia voltar para casa de meu pai, havia sido expulsa por ele, rejeitada da alcateia de meu companheiro e ainda fiquei sem o meu filho amado. Me sentia uma inútil, uma loba cega em meio aquele covil de cobras que permeava a alcateia de Tyson. Não sei se a ordem de me expulsar foi derivada do Alfa, isso pouco me importava. O meu coração ansiava para reencontrar meu filho. Poucas horas haviam se passado e a falta do meu Logan consumia-me como um fogo ardente desmoronando tudo que estivesse pela frente.Apesar de ser uma loba, tendo como a pele quente, era inegável o frio daquela floresta. Os meus pelos se arrepiavam conforme o vento refletia nas folhas e zumbiam ao ouvido. Eu poderia ser filha do Alfa, mas o medo caminhava comigo desde nascença. Após sofrer o ataque ainda quando criança, eu senti que a vida virou as costas para mim, permitindo-me ser uma loba frágil e insegura.
TysonEu não aguentava mais resolver problemas. Além de comandar uma alcateia, eu ainda tinha negócios com alguns empresários no norte da cidade. Poderia não aparentar, mas eu sempre fui um lobo de negócios. Estar liderando o povo era o que me movia a ter a minha identidade, mas eu não consegui me limitar somente a um eixo específico. A minha essência se refletia em querer mais e conquistar mais. Eu iria além de tudo que eu me proponho.Naquela viagem, infelizmente, eu encontrei Leona. Não queria vê-la nesse momento, estando principalmente com a minha companheira em casa, pronta para me receber. Eu ainda não tinha me casado, oficializando nosso matrimônio. Eu sabia que o dia estava próximo e Kira não iria gostar quando descobrisse.Não era certo esconder a verdade, mas eu precisava. Para meu azar, ela está a me conhecer antes de saber as condições reais. Somente quero mais tempo para minha companheira gostar de mim, e não tentar ir embora quando descobrir o casamento. E mesmo se ela qu
— TysonEla chorou e automaticamente eu olhei para os seus olhos vermelhos e amedrontados. Deixei aquele corpo caído ao chão e segui em direção a ela. Eu temia que o infeliz houvesse conseguido lhe fazer mal, mas felizmente parecia que ele não teve tempo de finalizar a sua intenção.— Tyson.Eu agachei a sua altura e permiti que ela abraçasse o meu corpo. Poderia ser uma loba, contudo o seu corpo estava como um de vampiro, sólido, amedrontado. Suas mãos tremiam, juntamente com toda a sua extensão. Eu podia ouvir os barulhos dos seus batimentos cardíacos, o que me causou arrepios. Precisava cuidar dela.A peguei por baixo, e levantei o seu corpo, deixando sobre o meu colo. Agora eu não poderia retornar para casa, pois o meu sangue ainda estava fervendo e mataria possivelmente a primeira pessoa que visse em minha frente. Decidi continuar caminhando até entrar em uma casa abandonada ao meio do campo. Era de um casal de lobos que se mudaram recentemente assim que a mulher descobriu que est