Kira
Refazer a minha vida com meu pequeno Logan, não era fácil. Ele ama interagir com as outras crianças, mas eu tenho medo que algo de ruim possa acontecer com ele. Eu não sei se é besteira de mãe. Desde que ele nasceu eu senti que eu precisava protegê-lo dos inimigos ocultos provenientes do misterioso Vale de Wanderson.
Jogo a bola de golfe para que ele segure. Ouvindo as suas passadas ligeiras, eu sinto o barulho do vento e o som que as folhas fazem. É impressionante a sua agilidade e destreza. Posso dizer que o meu filho é um dos lobos mais rápidos que eu conheço, senão o maior.
— Eu consegui, mãe!
Quando percebi que ele se aproximou, abaixei o meu corpo e abri os braços para abraçá-lo. Eu amava o cheiro do gel refrescante que ele insiste em colocar em seu cabelo. Tão pequeno e tão vaidoso.
— Muito bem, meu amor. Chega de brincar por hoje. Você já concluiu o seu dever de casa? Sabe que dona Lurdes detesta quando vocês não cumprem a tarefa.
— Sim, mãe. Eu coloco as mãos na cintura. Pelo seu tom de voz, eu sei que ele não concluiu. — Tudo bem, eu vou terminar.
Enquanto ele caminha ao interior da casa, eu me despeço das outras crianças. Mesmo não enxergando, ao longo dos anos, os meus sentidos se apuraram. Muito do que eu não não conseguia fazer, como cozinhar sozinha, já consigo.
Aliás, somente eu que cozinho na casa da minha tia Esmeralda. Ela é uma mulher solteira, sem filhos. Posso dizer que ela tem Logan como o seu maior presente, mas não me trata com o mesmo carinho que oferece a ele.
Aparentemente, ela possuía algum conflito com minha mãe. Eu ainda não descobri o porquê. Parece que todos tentam esconder quem de fato era Aurora. Se era boa ou má? Eu não sei. Eu só queria que ela estivesse nesse momento para cuidar de mim.
— Ande, menina! A comida não se faz sozinha.
Com cuidado peguei os utensílios que eu precisava para preparar o cordeiro com espinafre. Cozinhar era um dos meus melhores dons. Eu acreditava que era um dom, pois fora isso, eu não possuía nenhuma magia.
Talvez o meu jeito de me sentir inferior seja por isso. Sou uma filha rejeitada do Alfa que não possuía dons surreais, força ou agilidade incomum. Mesmo assim, continuei acreditando que a deusa Luna tem o melhor para minha vida.
— O sabor não está tão ruim. Da próxima vez coloca um pouco mais de sal. Eu preciso sentir o gosto dos alimentos.
Eu coloquei a comida do meu filho, e enquanto apreciava o almoço, eu me questionava se era certo continuar a viver na alcateia, vou procurar um novo rumo para minha vida. Eu acabei me acomodando, e acostumando em ser a criada de minha tia.
Em minha vida monótona, nada surreal acontece. Posso dizer que minha última loucura, foi entregar o meu corpo para aquele desconhecido, tendo o caso de uma noite ocasionando a gravidez de Logan.
Balanço a cabeça tentando esquecer os problemas. Preciso encarar a realidade. Irei nada de novo acontecerá e eu morrerei nesse local. Assim é melhor. Meu filho crescerá tendo bons estudos, pois o ensino aqui é de qualidade. Eu não me importo comigo, ele sendo feliz, eu sou feliz.
Assim que eu coloquei o prato em cima da pia, ouvi um barulho ensurdecedor.
— O que é isso? Perguntei enquanto procurava meu filho. Nos abaixamos embaixo da bancada. — O que está acontecendo, tia?
— Estamos sendo atacados. Não está vendo? Ah deixa pra lá.
Ouvi quando minha tia saiu para averiguar o que estava acontecendo.
Me encolhi quando os barulhos se intensificaram. Parecia uma guerra fora de horário. Desde que eu cheguei a esse local, Jamais ouvi ou presenciei um ataque. Justamente por ser uma alcateia pacífica aliada com Luna Negra.— Pela Deusa Luna! Está um caos ao lado de fora. Estão destruindo a nossa alcateia. Há um monstro colocando nas tendas e matando pessoas inocentes!
— Por favor, tia. Desça as escadas e esconda o meu filho no porão.
— Vem comigo mamãe. Meu filho suplicou.
Eu queria fugir com ele, mas sabia que não seria possível que Esmeralda pudesse me guiar e levá-lo ao mesmo tempo. Os barulhos das explosões aumentavam. Parecia que estava mais perto da minha casa.
Procurei algo pontiagudo para que eu pudesse me defender. Eu sabia que não iria adiantar de alguma coisa. Era um dos lobos destruidores, mas eu precisava me defender de alguma forma. Com a faca pontiaguda em mãos eu apontei para o ponto em minha frente.
Escutei um barulho forte o qual fez a porta central bater contra a parede. No mesmo momento, senti um cheiro refrescante, o qual fez as minhas pernas tremerem e meu coração palpitar mais rápido.
Sabendo que eu parecia uma tola, apontei para todos os lados em busca de me defender e machucar o lobo assassino. Sons de risada ecoaram. Isso me deixou irritada.
— Parem de rir de mim!
Eu não conseguia compreender o que estava acontecendo, mas alguém pediu silêncio, e automaticamente as risadas cessaram. Minhas mãos começaram a tremer, evidenciando o medo que irradiava o meu corpo. Nesse momento eu me senti uma grande idiota.
Ouvi quando o chiado do som de botas caminhavam. Em cada passo que o lobo dava em minha direção, meu coração aumentava uma batida. O que mais me preocupava era o meu filho, e como ele ficaria sem mãe e nem pai. Em um ato derivado ao medo, eu deixei a faca cair ao chão e ajoelhei.
— Por favor, por favor. Não faça nada de ruim comigo. Eu tenho um filho para cuidar e ele não pode ficar sozinho. Por favor, senhor. Tenha piedade.
O homem agachou a minha altura. Automaticamente eu senti o cheiro de madeira e pinho. Era uma dor familiar, contudo eu não consegui identificar a sua origem.
— Não me mate. Eu imploro.
Aquele cheiro se tornava mais presente. Senti quando seus dedos ásperos tocaram em minha bochecha, me fazendo afastar o rosto em resposta. Senti quando ele puxou a minha face fazendo-me ser obrigada a sentir o seu toque.
Suavemente ele acariciou o meu maxilar. Eu engoli a seco, não sentindo mais medo, mas sim uma sensação de conforto e prazer. Isso era estranho.
— Eu jamais faria mal a minha companheira.
Companheira. Quando ele disse essa palavra, minha loba se contorceu agitada. Ela estava feliz em finalmente poder encontrar a sua outra metade. Ao contrário de mim, que olhada apavorada para aquele homem. Ainda sentia a sua respiração contra a ponta do meu nariz. Ele estava perto demais.— Minha companheira. Ele sorriu sem vontade. —Eu acreditei que a Deusa Luna não iria me presentear com uma companheira de segunda chance. Agora eu percebo que eu não sou tão ruim como eu imaginava.— Você destruiu o vilarejo... Você... É um monstro!Imediatamente eu me afastei. Eu estava assustada, e muito apreensiva com aquele homem. Ainda sentia o cheiro da fumaça das casas queimadas. Não era apenas madeiras em cinzas, também haviam portas retratos que guardavam sonhos de pessoas felizes. Ele queimava a história de todo um povo.— Afaste-se de mim forasteiro. Eu jamais poderia ser a companheira de um lobo destruidor.Não demorou muito para que eu sentisse o meu corpo ser imprensado contra a parede.
TysonEu sorri quando recordei da reação dela, quando disse aquelas palavras. Kira está sobre meus cuidados, eu cuidarei dela, e não deixarei faltar nada, como um verdadeiro companheiro deve fazer. Comida, roupa, moradia, ela terá enquanto eu for seu protetor.O que me irrita é a minha péssima mania de visualizar o futuro. Leona está viajando, desfilando em uma coleção de moda em Paris. Eu sei que quando voltar, Kira terá uma surpresa não grata e eu não sei como ela corresponderá a isso.Até lá, eu tentarei fazer de tudo para que minha companheira sinta-se à vontade ao meu lado. Espero que ela perceba que não há porque fugir, pois comigo ela terá um abrigo, além de um peito quente para se encostar nas noites frias da alcateia Lycans.— Você não vai comer, meu bichinho de estimação? Perguntei enquanto encarava aqueles olhos assustados. - Você precisa comer, está fraca. Eu não quero ninguém desmaiando e me acusando de maus tratos.— Não se preocupe. Se eu não comer, enfraqueço de uma vez
KiraEu ainda não acredito na vergonha que ele me fez passar ao me apresentar para os membros da alcateia. Mesmo que eu não pudesse enxergá-los, eu percebia a ironia em suas falas pela minha condição. Eu era motivo de chacota aos seus olhos. Isso me fez perceber que jamais iriam aceitar que o alfa possuísse uma companheira cega.Quando voltei, soube que o alfa havia sido rude com meu filho. Cheguei a questioná-lo, mas o homem me respondeu com um simples olhar frio, demonstrando que ele não me devia satisfações. Dias se passaram, e eu pude respirar em paz quando o monstro viajou com alguns dos seus lobos. O que eu não imaginava era que na alcateia possuía outra pessoa monstruosa, senão pior do que o alfa Tyson. Sua mãe Elizabeth.Eu estava preparando o café da manhã de Logan, quando ela apareceu. Deixei a jarra de leite em cima da bancada e me afastei.— Eu ainda não entendo como meu filho teve a coragem de trazê-la para minha casa. Uma cega, sem utilidade nenhuma. Temos que ser delicad
Eu era uma loba sem rumo de casa, desamparada, perdida, e que caminhava ao solo frio da floresta densa. Eu não podia voltar para casa de meu pai, havia sido expulsa por ele, rejeitada da alcateia de meu companheiro e ainda fiquei sem o meu filho amado. Me sentia uma inútil, uma loba cega em meio aquele covil de cobras que permeava a alcateia de Tyson. Não sei se a ordem de me expulsar foi derivada do Alfa, isso pouco me importava. O meu coração ansiava para reencontrar meu filho. Poucas horas haviam se passado e a falta do meu Logan consumia-me como um fogo ardente desmoronando tudo que estivesse pela frente.Apesar de ser uma loba, tendo como a pele quente, era inegável o frio daquela floresta. Os meus pelos se arrepiavam conforme o vento refletia nas folhas e zumbiam ao ouvido. Eu poderia ser filha do Alfa, mas o medo caminhava comigo desde nascença. Após sofrer o ataque ainda quando criança, eu senti que a vida virou as costas para mim, permitindo-me ser uma loba frágil e insegura.
TysonEu não aguentava mais resolver problemas. Além de comandar uma alcateia, eu ainda tinha negócios com alguns empresários no norte da cidade. Poderia não aparentar, mas eu sempre fui um lobo de negócios. Estar liderando o povo era o que me movia a ter a minha identidade, mas eu não consegui me limitar somente a um eixo específico. A minha essência se refletia em querer mais e conquistar mais. Eu iria além de tudo que eu me proponho.Naquela viagem, infelizmente, eu encontrei Leona. Não queria vê-la nesse momento, estando principalmente com a minha companheira em casa, pronta para me receber. Eu ainda não tinha me casado, oficializando nosso matrimônio. Eu sabia que o dia estava próximo e Kira não iria gostar quando descobrisse.Não era certo esconder a verdade, mas eu precisava. Para meu azar, ela está a me conhecer antes de saber as condições reais. Somente quero mais tempo para minha companheira gostar de mim, e não tentar ir embora quando descobrir o casamento. E mesmo se ela qu
— TysonEla chorou e automaticamente eu olhei para os seus olhos vermelhos e amedrontados. Deixei aquele corpo caído ao chão e segui em direção a ela. Eu temia que o infeliz houvesse conseguido lhe fazer mal, mas felizmente parecia que ele não teve tempo de finalizar a sua intenção.— Tyson.Eu agachei a sua altura e permiti que ela abraçasse o meu corpo. Poderia ser uma loba, contudo o seu corpo estava como um de vampiro, sólido, amedrontado. Suas mãos tremiam, juntamente com toda a sua extensão. Eu podia ouvir os barulhos dos seus batimentos cardíacos, o que me causou arrepios. Precisava cuidar dela.A peguei por baixo, e levantei o seu corpo, deixando sobre o meu colo. Agora eu não poderia retornar para casa, pois o meu sangue ainda estava fervendo e mataria possivelmente a primeira pessoa que visse em minha frente. Decidi continuar caminhando até entrar em uma casa abandonada ao meio do campo. Era de um casal de lobos que se mudaram recentemente assim que a mulher descobriu que est
KiraLeona. Aquele nome repetiu em minha cabeça diversas vezes. Eu queria saber quem era essa mulher que tanto os outros admiravam. Elizabeth disse com orgulho. Ela poderia ser uma antiga amiga, uma confidente, uma loba guerreira? Essas eram as insinuações que minha mente fazia.— Quem é Leona?Essa era a segunda vez que eu perguntava, e novamente não obtive respostas. De repente, eu senti que a sala ficou vazia, todos se esvaíram, restando apenas o alfa e eu. Ouvi o seu suspiro pesado, e o sutil deslocar de pernas. Era impressão minha, ou ele estava demorando para falar?— Ela é uma amiga de antigamente, ninguém importante para que você precise se preocupar.— Bom, pela forma que sua mãe falou, dando ênfase, como se estivesse ressignificando o seu nome, não me parecia alguém sem valor.— O seu problema, pequena loba, é que pensa demais. Eu ouvi quando os seus passos se aproximaram. Ergui a minha face, ao sentir o seu toque. — O que você acha de voltarmos para a cabana, e aproveitarmo
Posso dizer que o meu corpo tremeu novamente em sua presença. Era uma espécie de adrenalina injetada em meu sangue sempre quando ele me tocava. Eu não sabia o que fazer, senão, deslocar o peso de uma perna para outra. Aquele homem me causava loucura, e eu não sabia o porquê.— Confesso que por muitas noites eu sonhava com a minha companheira. Tentava decifrar como seria o seu rosto. Jamais acreditei que seria como um anjo caído do céu.A rouquidão da sua voz era convidativa, arrepiava os meus poucos pelos. Por um momento me senti inebriada por uma rede de sedução. Ele era um lobo mais velho, mais experiente, e com certeza sabe usar todas as suas habilidades. Para sair daquele círculo viciante, eu falei a primeira coisa que apareceu em minha mente.— Eu acho melhor você jantar. Se demorar mais um pouco, a comida esfriará.A minha voz saiu vacilante.— Ao contrário. A minha refeição está bem aqui na minha frente, e eu tenho certeza que ela vai me esquentar.No mesmo momento, ele juntou o