Enrico
Foi como se eu tivesse visto a Patrízia naquela mulher, não sei explicar porquê, mas foi exatamente isso que sentiEla era frágil, estava assustada, com um casamento que nunca lhe tinha passado pela cabeça e, no entanto, tinha a coragem de enfrentar o mundo simplesmente para seguir o seu coraçãoSim . . . Como acontecia quando eu estava com a minha Patrizia, como senti naquela noite, vendo a mulher que viria a ser minha esposa, ser torturada pelo meu pior inimigo, com o olho inchado, roxo de tanto levar pancada, ser humilhada, à mercê daquele desgraçado. Assim como me transformei num monstro e arranquei a traqueia dele com as minhas próprias mãos, fui atrás do covarde que se atreveu a olhar para aquela mulher como se fosse a sua presa.Ordenei ao Guilhermo que a levasse para o meu carro, o que ela fez contra a sua vontade, afinal, não nos conhecíamos, mas o medo fez com que ela concordasse quase que de imediato, depois eu me encontrei novamente com ela, depois de ter dado o meu avisoNão, não acabei com a vida daquele desgraçado, mas devia, eu sei que devia, apenas o segurei pela garganta, apertei o pescoço e avisei para não se aproximar mais, porque a partir daquele momento, a mulher que ele chamava de presa, estaria sob a minha proteção- * *Giulia"Meu Deus, o Victorio vai matá-lo"Era a única coisa que me passava pela cabeça. Não conhecia aquele homem, não fazia ideia do seu poder, talvez se o conhecesse não teria tanto medo, mas o Victorio eu conhecia, e conhecia bemO melhor amigo do meu pai, não se poupava esforços para cobrar a sua dívida, neste caso eu. A minha família tinha passado por momentos desesperados no passado e ele, como um lobo em pele de cordeiro, estendeu a mão, mas impôs uma condição: que se casasse comigoFugi, com medo, e pensei que já tinha ido longe demais, mas não. Ele me encontrou e me deixou com ainda mais medo, simplesmente por reconhecer um sentimento que parecia me perseguir, eu via o ódio nos olhos do homem que acabara de conhecerPassados alguns minutos, o condutor abre a porta do passageiro e ele entra, como se nada tivesse acontecido, imponente como à primeira vista, assustador de fatoGiulia - Está tudo bem?Ele limitou a olhar para mim, como se não tivesse obrigação de me dar uma explicação. E não tinha, eu só queria saber. Aquele olhar me queimou até a morte, o que me fez mudar de direçãoEnrico - Pelos visto, não tem onde ficar. Hoje, ofereço um dos meus quartos e amanhã, você decide se quer ou não seguir as minhas regrasÉ claro que eu queria questionar e, de fato, naquele momento, queria sair do carro e seguir o meu caminho, mas pensei melhor, uma noite de sono tranquila me faria bem...Acordei com a casa extremamente silenciosa, e foi aí que me apercebi de como o lugar era bonito. Na noite anterior, não tive tempo para pensar nos pormenores, estava apenas grata pelo lugar e por não ter de tirar nada das minhas poupançasObras de arte, uma mais bonita que a outra, mais imponente, enorme, dispostas em praticamente todas as divisões. Estava ainda presa a uma, de uma mulher de costas, a olhar para o horizonte, quando ouvi a sua vozEnrico - Dormiu bem?Levantei ligeiramente o ombro do susto e acenei com a cabeça, mas foi só isso que fizEnrico – Bom... vou direto ao ponto. Eu preciso de uma secretária e você precisas de dinheiro. Podemos fazer um acordo, você trabalha para mim e em troca, te ofereço um excelente emprego. A minha única exigência é que cuide muito bem do meu filho, ele é a minha vidaO dia anterior tinha sido realmente apagado da minha mente, não me lembrava de ter visto aquela expressão de cuidado e preocupação antes. Me virei para olhar nos seus olhos, estavam tristes, vazios, senti ... penaEle rapidamente desviou o olhar, saindo da minha presença sem se importar com a resposta, ou, ele já sabia que eu responderia sim. Alguns passos e eu griteiGiulia - Aceito, aceito ser tua secretária, mas por favor, me promete uma coisaEle parou no lugar e olhou por cima do ombro, à espera de que eu dissesse qual era a situaçãoGiulia – Por favor, só me promete que não vai se apaixonar por mim...EnricoSaí sem responder, a menina estava sob a minha proteção, mas isso não significava que fosse livre para dizer merdasNunca me apaixonaria por aquela menina mulher, nunca, eu ainda estava destroçado, o meu coração estava endurecido, na minha cabeça só havia lugar para a Patrízia e mais ninguémAndei na direção do meu escritório, com a cabeça já pesada, o cérebro querendo explodir os ossos do crânio, decidi esquecer a audácia da menina, considerando que ela não sabia mesmo com quem estava se metendoGuilhermo - Tenho novidadesNão consegui ficar nem cinco minutos sentado na cadeira, com a cabeça apoiada para trás e os olhos fechados. Guilhermo veio logo me trazer notícias do homem que eu lhe tinha mandado vigiarGuilhermo - Família respeitável, rico, mas completamente arrogante, julga-se dono do mundo. Ela está mesmo prometida ao tal Victorio, mas ele aproveitou-se de uma polêmica na família dela para dar o golpe, tem os pais da menina nas mãos e, sobretudo, como não aceita um "não" como resposta, já está a mover o céu e a terra para conseguir o que pensa que lhe pertenceOuvi a informação toda e isso me alegrou imensamente. Gosto muito quando as pessoas pensam que são mais do que são. Há aqueles que nasceram para ser e outros que nasceram apenas para querer. Eu SOU, e ele? Ele é apenas um homem que, se ficar no meu caminho, vai se arrepender de ter nascidoOlhei bem para o Guilhermo, da forma como ele já me conhecia, e ele acenou com a cabeça para confirmar a ordem que eu estava a dar em silêncio"Se ele quer mesmo me mostrar quem é, então que venha, eu já estou esperando, com a minha adaga na mão e dessa vez, não terei misericórdia”Guilhermo Não posso negar a minha história com o Enrico, mas admito que tudo o que passamos juntos serviu para que a gente pudesse se tornar mais forte, para que o nosso elo fosse inquebrávelEu cresci com ele, nossas mães tiveram parto praticamente na mesma época e a minha, foi ama de leite do EnricoMeu nome é Guilhermo e sou filho do Conselheiro da Camorra. Meu pai era o braço direito do chefe da Máfia Siciliana e digo era porque morreu em um dos embates com nossos inimigos Quando eu era criança, morria de inveja do Enrico, achava que ele tinha a vida que na verdade, eu merecia e não ele. Sempre tendo a atenção de todos, protegido por todos, as melhores coisas simplesmente caiam sobre as suas mãos, na minha mente, ele simplesmente não merecia a vida que tinhaAté completar os seus treze anos e ter que fazer aquela viagem misteriosa. Ele podia levar apenas uma pessoa, no caso, eu, seu amigo com também treze anos. Lógico, eu sempre soube nossas origens e para onde os nossos caminho
VictorioEu estava com os nervos a flor da pele, aquele maldito ousou tocar em mim, ousou se achar melhor do que eu, quem ele pensava que era?Ninguém pode me julgar por eu ter usado as circunstâncias ao meu favor, porque é isso que o ser humano é, não é mesmo? Conveniente... eu só fiz aquilo que todo mundo, se tivesse a oportunidade também faria O Francesco era um amigo de infância, aliás, eu não posso bem falar assim, ele era um conhecido, isso sim. A sua família tinha muito contato com a minha, era de prestigio, pelo menos na época que a gente se conheceuA Família Biancchi sempre se colocou no topo da pirâmide da sociedade, se faziam acreditar como empresários bem sucedidos, mas nós, os mais íntimos, sabíamos que, pelo menos o Francesco, estava envolvido até o pescoço com a Máfia e não, não de uma forma boaNinguém tinha coragem de chegar perto dele e questionar o motivo de ele bater no peito e dizer que era influente nessas reuniões tão distintas, mas que na verdade, sempre era
GiuliaEu me sentia completamente grata por ter sido salva por aquele homem, mas não conseguia parar de me sentir deslocada também, quando caminhava por aquela casa toda. Eu não conseguia apenas parar, viver, simplesmente não conseguia, a única coisa que me distraía era o GiacomoQuem era ele? Simplesmente a pessoinha mais maravilhosa que Deus colocou na face da Terra, o filho do Enrico, o homem que me ajudou. Na primeira vez que o vi, ele parecia um cachorrinho amuado, estava atras da parede, com a mãozinha segurando a quina sabe, só me observandoDemorou para eu perceber que há via alguém ali e até mês assustei quando me virei e dei de cara com ele, aliás, como metade do seu corpo, porque a outra metade, estava escondidaGiulia – Hei, quem é você?Ele tentou se esconder ainda mais, olhou para trás, para confirmar se realmente não havia ninguém que pudesse tirá-lo daquela situação. Lógico que eu compreendi, ele nunca tinha me visto na vida e eu estava lá, com a mão estendida, chamand
EnricoFoi a primeira vez que vi meu filho sorrindo daquele jeito para uma pessoa diferente da mãe. Ele já tinha passado por tanto em tão pouco tempo… no início achei que, pelo menos para ele, não faria diferença, afinal, tudo aconteceu rápido demais, a Patrízia foi-nos tirada rápido demaisGuilhermo – Eu realmente estou vendo o que acho que estou vendo?Enrico – Sim… estáO Guilhermo sabia das minhas lutas e dificuldades de aceitar qualquer pessoa do lado do Giácomo, tanto que, deixava qualquer pessoa, não impostava quem fosse, falando sozinha, para atender qualquer pedido que o meu filho pudesse fazer, ele já tinha perdido a mãe, não era justo eu como pai, negligenciar os seus sentimentos, aquele negócio de “A Máfia acima de qualquer coisa” não existia entre meu filho e euGuilhermo – Agora eu entendo o motivo de você querer essa desconhecida por pertoEnrico – Não, não entende, porque nem mesmo eu entendo, eu não sabia sobre o poder que ela tem na vida do meu filho, porque esse so
Francesco Eu estava completamente frustrado com a atitude da Giulia e de saco cheio com o que o Victorio estava fazendo. Claro que ele me contou sobre o homem misterioso que, aparentemente, sem conhecer a minha filha a ajudou e não deixou ele chegar a centímetros dela e o faro dele ter aparecido na minha frente com o olho roxo me dizia sim que o homem era de coragem Victorio – Eu cumpri a minha parte no acordo, aliás, fiz isso e muito mais, não precisava sair igual a um doido atrás da Giulia, ela é quem deveria seguir os meus passos, se rastejar a mim. Onde já se viu eu ter que ensinar aquela menina mimada a como ser um Damasceno Ele estava furioso e queria descontar tudo em cima de mim, não estava nem mais se importando com o que minha esposa iria pensar. Eu nunca fui inocente sobre o que o Victorio um dia já sentiu pela minha esposa e, na verdade, eu não me importava, a Valerie merecia ser uma Biancchi e apenas isso, umas das mulheres mais bonitas da alta sociedade não poderia ser
CarloEu sou o responsável por manter essa família, eu e apenas eu, se não fosse assim, quando a minha esposa foi embora, todo o nosso mundo também teria ido embora com elaEu entendo perfeitamente os motivos do meu menino ter escolhido a Patrizia, mas o que ele não entendia era que essa mesma escolha iria leva-lo para a ruína, eu sei porque também aconteceu comigo A minha amada esposa também foi escolhida a dedo, mas diferente disso outros chefes, que. A escolheu foi o meu coração e não os membros do alto escalão. Linda, com uma beleza rara, cabelos negros como a escuridão da noite, olhos grandes e igualmente negros, como uma jabuticaba, mas seu olhar continha a doçura e a elegância caminhando unidasA minha Luna foi a mulher mais ordeira que caminhou na face dessa terra e a mais perfeita dentro da Máfia, tão perfeita que eu tinha que até mesmo, escondê-la dos meus companheiros que não escondiam sua admiração pela minha mulherEu nunca ousei trai-la, nunca, nem mesmo em pensamento,
GiuliaEu ainda estava me sentindo perdia, realmente, aquela minha capacidade de me socializar, de distribuir sorrisos para onde quer que eu fosse, deixei que, com o tempo, fosse se escondendo dentro do meu coração. Penso que o fato de eu estar ali, tentando uma nova vida, não me fazia parar de pensar no que o futuro me aguardavaEu conhecia o Victorio, na verdade, eu ouvi falar muito dele. Aquele homem frequentava a minha casa, eu o considerava da família, meu pai sempre quis assim, sempre fez questão que eu o atendesse com cortesia e, sério, fazia isso com prazer, nunca imaginei que teria segundas intenções naquelas visitas, mesmo porque, o Victório era muito mais velho do que eu, uns trinta anos mais velhoSim, eu já sonhei com o meu momento de princesa, momento em que encontraria o meu príncipe encantado, que viria montado em um cavalo branco, para me salvar da torre mais alta do castelo, sonhei que construiríamos nossos sonhos juntos, nossos próprios castelos e viveríamos felizes
EnricoEu estava exausto, mas não de cansaço de corpo e sim, daquela história toda. Eu sempre soube que meu pai tinha se utilizado da história dos inimigos nos atacando para me tirar a Patrizia, eu sempre soube que o sobrenome por trás da minha desgraça era Grecco, mas nunca quis falar isso em voz altaAcontece que, meu pai já tinha passado dos limites, nada justificava a sua atitude, aquela história de que tudo aconteceu para o meu bem só era compreensível dentro da sua mente insana. O Guilhermo queria falar comigo, fechar alguns pontos do novo carregamento, pelo o que ele me disse, meio que por alto, a casa Nostra estava reivindicando território que não eram deles, tentando colocar a soberania do nome acima de tudoNão, as coisas não aconteciam dessa forma, a Camorra conquistou aqueles territórios, conquistou aqueles portos e pontos de distribuição, o fato de estarmos tendo sucesso em tudo que a nossa mão tocava, não tinha nada a ver com a decadência dos negócios da outra casaMas c