Cap 4

Enrico

Foi como se eu tivesse visto a Patrízia naquela mulher, não sei explicar porquê, mas foi exatamente isso que senti

Ela era frágil, estava assustada, com um casamento que nunca lhe tinha passado pela cabeça e, no entanto, tinha a coragem de enfrentar o mundo simplesmente para seguir o seu coração

Sim . . . Como acontecia quando eu estava com a minha Patrizia, como senti naquela noite, vendo a mulher que viria a ser minha esposa, ser torturada pelo meu pior inimigo, com o olho inchado, roxo de tanto levar pancada, ser humilhada, à mercê daquele desgraçado. Assim como me transformei num monstro e arranquei a traqueia dele com as minhas próprias mãos, fui atrás do covarde que se atreveu a olhar para aquela mulher como se fosse a sua presa.

Ordenei ao Guilhermo que a levasse para o meu carro, o que ela fez contra a sua vontade, afinal, não nos conhecíamos, mas o medo fez com que ela concordasse quase que de imediato, depois eu me encontrei novamente com ela, depois de ter dado o meu aviso

Não, não acabei com a vida daquele desgraçado, mas devia, eu sei que devia, apenas o segurei pela garganta, apertei o pescoço e avisei para não se aproximar mais, porque a partir daquele momento, a mulher que ele chamava de presa, estaria sob a minha proteção

- * *

Giulia

"Meu Deus, o Victorio vai matá-lo"

Era a única coisa que me passava pela cabeça. Não conhecia aquele homem, não fazia ideia do seu poder, talvez se o conhecesse não teria tanto medo, mas o Victorio eu conhecia, e conhecia bem

O melhor amigo do meu pai, não se poupava esforços para cobrar a sua dívida, neste caso eu. A minha família tinha passado por momentos desesperados no passado e ele, como um lobo em pele de cordeiro, estendeu a mão, mas impôs uma condição: que se casasse comigo

Fugi, com medo, e pensei que já tinha ido longe demais, mas não. Ele me encontrou e me deixou com ainda mais medo, simplesmente por reconhecer um sentimento que parecia me perseguir, eu via o ódio nos olhos do homem que acabara de conhecer

Passados alguns minutos, o condutor abre a porta do passageiro e ele entra, como se nada tivesse acontecido, imponente como à primeira vista, assustador de fato

Giulia - Está tudo bem?

Ele limitou a olhar para mim, como se não tivesse obrigação de me dar uma explicação. E não tinha, eu só queria saber. Aquele olhar me queimou até a morte, o que me fez mudar de direção

Enrico - Pelos visto, não tem onde ficar. Hoje, ofereço um dos meus quartos e amanhã, você decide se quer ou não seguir as minhas regras

É claro que eu queria questionar e, de fato, naquele momento, queria sair do carro e seguir o meu caminho, mas pensei melhor, uma noite de sono tranquila me faria bem

...

Acordei com a casa extremamente silenciosa, e foi aí que me apercebi de como o lugar era bonito. Na noite anterior, não tive tempo para pensar nos pormenores, estava apenas grata pelo lugar e por não ter de tirar nada das minhas poupanças

Obras de arte, uma mais bonita que a outra, mais imponente, enorme, dispostas em praticamente todas as divisões. Estava ainda presa a uma, de uma mulher de costas, a olhar para o horizonte, quando ouvi a sua voz

Enrico - Dormiu bem?

Levantei ligeiramente o ombro do susto e acenei com a cabeça, mas foi só isso que fiz

Enrico – Bom... vou direto ao ponto. Eu preciso de uma secretária e você precisas de dinheiro. Podemos fazer um acordo, você trabalha para mim e em troca, te ofereço um excelente emprego. A minha única exigência é que cuide muito bem do meu filho, ele é a minha vida

O dia anterior tinha sido realmente apagado da minha mente, não me lembrava de ter visto aquela expressão de cuidado e preocupação antes. Me virei para olhar nos seus olhos, estavam tristes, vazios, senti ... pena

Ele rapidamente desviou o olhar, saindo da minha presença sem se importar com a resposta, ou, ele já sabia que eu responderia sim. Alguns passos e eu gritei

Giulia - Aceito, aceito ser tua secretária, mas por favor, me promete uma coisa

Ele parou no lugar e olhou por cima do ombro, à espera de que eu dissesse qual era a situação

Giulia – Por favor, só me promete que não vai se apaixonar por mim

...

Enrico

Saí sem responder, a menina estava sob a minha proteção, mas isso não significava que fosse livre para dizer merdas

Nunca me apaixonaria por aquela menina mulher, nunca, eu ainda estava destroçado, o meu coração estava endurecido, na minha cabeça só havia lugar para a Patrízia e mais ninguém

Andei na direção do meu escritório, com a cabeça já pesada, o cérebro querendo explodir os ossos do crânio, decidi esquecer a audácia da menina, considerando que ela não sabia mesmo com quem estava se metendo

Guilhermo - Tenho novidades

Não consegui ficar nem cinco minutos sentado na cadeira, com a cabeça apoiada para trás e os olhos fechados. Guilhermo veio logo me trazer notícias do homem que eu lhe tinha mandado vigiar

Guilhermo - Família respeitável, rico, mas completamente arrogante, julga-se dono do mundo. Ela está mesmo prometida ao tal Victorio, mas ele aproveitou-se de uma polêmica na família dela para dar o golpe, tem os pais da menina nas mãos e, sobretudo, como não aceita um "não" como resposta, já está a mover o céu e a terra para conseguir o que pensa que lhe pertence

Ouvi a informação toda e isso me alegrou imensamente. Gosto muito quando as pessoas pensam que são mais do que são. Há aqueles que nasceram para ser e outros que nasceram apenas para querer. Eu SOU, e ele? Ele é apenas um homem que, se ficar no meu caminho, vai se arrepender de ter nascido

Olhei bem para o Guilhermo, da forma como ele já me conhecia, e ele acenou com a cabeça para confirmar a ordem que eu estava a dar em silêncio

"Se ele quer mesmo me mostrar quem é, então que venha, eu já estou esperando, com a minha adaga na mão e dessa vez, não terei misericórdia”

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