Lá estava ele, sentado atrás de sua imponente mesa, com aquele ar familiar de superioridade e poder. O olhar afiado de Enrico analisava cada detalhe da mulher diante dele, como um predador estudando sua presa. Com certeza era o Dark Enrico que estava ali, e Aurora agora se perguntava se alguma vez havia existido outro que não fosse esse.
— Boa noite, senhorita Vidal! — Sua voz soou tão segura quanto sempre. — Devo admitir que estou surpreso em encontrá-la compondo o meu quadro de funcionários!
Fora ele quem falou primeiro, pois ela ainda se encontrava muda, como se seu cérebro tivesse perdido a capacidade de processar informações e articular palavras devido ao choque de encontrá-lo ali, sentado diante dela como se fosse dono do destino de ambos. Mas tinha que se recuperar. T
— Já que entrou nesse mérito, você pelo visto não deve andar comendo como de costume. Está muito magra!Aurora o encarou, colocando as mãos na cintura.— Eu não estou muito magra, só devo ter perdido aqueles quilos a mais que sempre te incomodaram tanto! É sério que você me chamou aqui para falar sobre o meu peso? Porque se você não tem, eu tenho mais o que fazer. Aliás, quem é você para falar de mim? Olha para o seu tamanho, está tomando bomba por acaso?Dessa vez Enrico não conseguiu controlar um sorriso diante do comentário estapafúrdio dela.— E você continua um poço de disparates
Aurora sentiu o sangue gelar. Seus olhos fixaram-se nos de Enrico, buscando qualquer sinal de que ele estivesse apenas brincando, exagerando, tentando provocá-la. Mas o brilho frio e calculista em seu olhar dizia o contrário.Ela cerrou os punhos, obrigando-se a manter a compostura. Não podia demonstrar fraqueza, não diante dele.— Você está me chantageando? — sua voz saiu baixa, mas carregada de desafio.— Eu estou te dando uma opção — ele rebateu, cruzando os braços. — Fique e colabore com a investigação. Se for inocente, não há com o que se preocupar.Aurora soltou um riso sem humor, balançando a cabeça. Enrico recostou-se na cadeira de couro de seu escritório, massageando as têmporas enquanto Leonardo, seu irmão, o fitava com olhos faiscantes. Do outro lado da sala, Matteo, seu assessor, cruzava os braços, impaciente.— Então é isso? — Leonardo foi o primeiro a romper o silêncio. — Você simplesmente cancelou o show? O show, Enrico? A Sirena poderia ser a nossa galinha dos ovos de ouro!— Ah, sim — Matteo interveio, erguendo as sobrancelhas. — E ela parecia bem empolgada com isso. O que exatamente você disse para ela aceitar desistir?Enrico suspirou e ajeitou a gravata, tentando manter a compostura. Era como pisar em um campo minado. Ele precisava escolher bem as palavras.&mdCapítulo 53
Aurora caminhava pelo longo corredor do terceiro andar, seguindo o segurança que Enrico havia designado para escoltá-la. A cada passo, seu coração batia mais forte, misturando a irritação e a ansiedade pelo que estava por vir. Ela ainda não acreditava no absurdo daquela situação. Acusada injustamente de roubo, forçada a aceitar um emprego que nunca havia cogitado e agora hospedada em um hotel cinco estrelas contra sua vontade. Se Enrico achava que estava lhe fazendo um favor, estava muito enganado.O segurança parou diante de uma porta de madeira escura e bem trabalhada. Ele deslizou o cartão-chave no painel e a porta se abriu com um discreto clique. Sem cerimônias, ele lhe entregou o cartão e assentiu antes de se retirar. Aurora suspirou, empurrando a porta e entrando no quarto. Enrico entrou no quarto da cobertura do hotel, fechando a porta atrás de si com um suspiro cansado. O dia havia sido longo, desgastante, e ele estava exausto demais para voltar para casa. Não era raro que acabasse dormindo ali. Na verdade, aquele quarto já era praticamente uma extensão de sua residência, sempre abastecido com o necessário para suas estadias frequentes.Sem perder tempo, desabotoou a camisa e a jogou sobre a poltrona próxima. Passou as mãos pelos cabelos, tentando aliviar a tensão acumulada nos ombros, e seguiu direto para o banheiro. O banho quente ajudou a relaxar os músculos rígidos, dissipando parte do cansaço. Depois de se secar, vestiu apenas uma calça de pijama e se jogou na cama macia, fechando os olhos, esperando pelo sono restaurador que tanto precisava. Enrico se recostou na cadeira de couro escuro do escritório, iluminado apenas pela luz suave que vinha da janela, criando um ambiente sombrio, refletindo o clima da conversa. Seu olhar estava fixo nos papéis que Lucius havia colocado sobre a mesa, como se já estivesse antevendo a vingança se concretizando diante de seus olhos. Ele esfregou as mãos, uma sensação de prazer quase palpável nas pontas dos dedos.Lucius, por outro lado, parecia cada vez mais desconfortável, os óculos escorregando sobre o nariz enquanto ele tentava não demonstrar a crescente indignação. Sabia o quanto Enrico era capaz de fazer para atingir seus objetivos, mas aquilo ia além de qualquer coisa que ele já havia imaginado. O tom de voz de Enrico era calmo, mas havia um gelo nas palavras que deixava claro que a decisão estava tomada. No fundo, Lucius também sabia que seria tolo em tentar dissuadi-lo, mas o peso da ética ainda o incomodava.— Eu entendo que você esteja arrasado por tudo o que aconteceu, Enrico. MaCapítulo 55
capítulo 1
Enrico Mansini era, sem dúvida, uma das figuras mais enigmáticas e influentes do setor de hotelaria e entretenimento de luxo, e sua ascensão ao topo não foi obra do acaso. Nascido em uma família de imigrantes italianos que se estabeleceram nos Estados Unidos, ele cresceu em um ambiente onde negócios e lealdades familiares se entrelaçavam de forma indissociável. Seu pai, um homem reservado e estrategista, foi quem fundou os alicerces do império de hotéis e cassinos, sempre mantendo uma estreita ligação com o submundo do crime organizado. Enrico, desde jovem, percebeu a importância dessa relação, e, ao contrário de muitos herdeiros que se distanciaram do legado familiar, ele mergulhou de cabeça nas complexas dinâmicas da máfia italiana, transformando essa herança em uma das maiores fontes de poder e influência do seu tempo.Sua habilidade de negociar com figuras do submundo, ao mesmo tempo que mantinha uma fachada impecável de empresário sofisticado, foi a chave para seu sucesso. Enrico
Aurora Vidal é uma jovem enfermeira de espírito forte e um passado marcado por tragédias. Criada em um bordel pela mãe, que era prostituta, Aurora conheceu desde muito cedo o lado sombrio da vida. As dificuldades e a violência a moldaram, tornando-a uma mulher desconfiada, especialmente em relação aos homens e ao amor. No lugar onde cresceu, viu e ouviu muitas coisas, coisas essas que eram mais que traumatizantes para uma criança. Alguns clientes que esbarravam com ela nos corredores, acreditavam que ela também estava disponível, mesmo quando ainda era apenas uma menina, e não foram poucas as propostas que ela havia recebido. Alguns eram verdadeiramente insistentes, chegando até mesmo a se tornarem perigosos. Com todas essas dificuldades ,ela havia conseguido crescer sem maiores danos, mas verdadeiramente impactada com toda a tristeza e dor que via nas mulheres que trabalhavam com sua mãe. Quando a mãe faleceu, ela tinha quase dezoito anos, seguiu morando no bordel por algum tempo,