O jantar à beira-mar havia sido um prelúdio perfeito para o que viria a seguir. Entre olhares prolongados e toques sutis, a tensão que pairava entre eles explodiu assim que atravessaram a porta do quarto.
Enrico não hesitou. Assim que Aurora se virou para ele, encontrou-se presa entre seu corpo e a parede. Os lábios dele capturaram os seus com intensidade, o sabor do vinho ainda presente em sua boca. Suas mãos exploraram cada centímetro de pele exposta, arrancando arrepios e suspiros baixos.
— Você é perigosa, sabia? — ele murmurou contra sua pele, deslizando os lábios até seu pescoço.
Aurora soltou um riso ofegante, sentindo o calor crescer entre eles.
— Sim, e você
A viagem de volta a Las Vegas foi um trajeto silencioso e sufocante. O jatinho particular de Enrico, que antes exalava luxo e exclusividade, agora parecia uma prisão voadora onde ambos estavam presos a um abismo de ressentimento e dor. Aurora manteve-se afastada, sentada junto à janela, os olhos perdidos no horizonte. Não havia mais espaço para palavras entre eles. Qualquer tentativa de Enrico de se aproximar era recebida com um olhar gélido e impenetrável.Ele não insistiu. Sabia que nada que dissesse mudaria o que Aurora sentia naquele momento. Sabia que qualquer palavra sua soaria vazia diante da devastação dela. Então, respeitou o silêncio e apenas observou. Quando aterrissaram, o motorista já os aguardava. O caminho até o hospital foi igualmente pesado. Aurora respirava fundo, como se tentasse se preparar para o
O escritorio estava mergulhado em uma penumbra silenciosa. Enrico permanecia imóvel, os olhos fixos na parede à sua frente, mas sua mente estava distante, ainda presa à última cena no hospital. O olhar de Aurora, tomado por uma fúria que beirava o desespero, ainda queimava em sua memória. Ela o expulsou. Sem hesitação, sem uma última palavra além da acusação cortante que agora ecoava em sua mente: "Foi por sua causa!"Ele deveria ter previsto isso. Sempre soube que aquele contrato teria consequências, mas não esperava que essa fosse a mais devastadora delas. O pai dela se foi. E Aurora não estava lá porque ele a impediu. O peso dessa constatação cravava-se nele de uma forma que o irritava profundamente. Não porque se arrependia — ele não era o tipo de homem que se
O dia amanheceu cinzento, como se o próprio céu estivesse de luto. Aurora vestiu-se de preto, o tecido pesado cobrindo seus ombros enquanto ela encarava o espelho. O rosto pálido refletido ali parecia pertencer a outra pessoa. Os olhos fundos, a expressão vazia, os lábios apertados para conter tudo o que insistia em transbordar. Ainda não parecia real, ainda não fazia sentido. Os procedimentos para o sepultamento foram rápidos. Ela não teve tempo de pensar, apenas seguiu o protocolo, assinou os papéis necessários, lidou com as formalidades como se estivesse no automático. O hospital, a funerária, o cemitério. Tudo aconteceu como uma sequência de eventos sem controle, e antes que pudesse processar, ali estava ela, diante do túmulo aberto, segurando uma rosa branca entre os dedos gelados. Poucas pessoas compareceram. Apenas algumas amigas, que a abraçaram e tentaram oferecer conforto, mas ninguém poderia preencher o vazio que crescia dentro dela. Seu pai não era um homem de muitos la
Seis meses depois... O Hotel Cassino Mancini vinha mantendo um público absurdo em sua casa de shows e boate integrada. O lugar era colossal, um verdadeiro monumento ao luxo e à extravagância. Contava com um hotel cinco estrelas, o cassino mais prestigiado da cidade e uma boate badaladíssima, onde sempre aconteciam apresentações grandiosas. Os melhores DJs, bandas e artistas do cenário noturno faziam questão de se apresentar ali. Mas, ultimamente, havia algo diferente. As noites de sexta-feira vinham atraindo uma quantidade extraordinária de clientes. Desde que a casa passou a contar com um espetáculo único e hipnotizante, as sextas tornaram-se as noites mais concorridas da semana, tudo isso por causa dela. Sirena. Era esse o nome pelo qual todos a conheciam. Uma dançarina espetacular, um verdadeiro enigma envolto em mistério e sedução. Seu show era um espetáculo de tirar o fôlego. Dominava a arte da dança sensual como ninguém, misturando pole dance, dança do ventre e outros est
Seis meses haviam se passado, e Aurora encontrara um caminho para recomeçar. Não tendo conseguido nenhum emprego em sua área, a enfermagem, acabara preenchendo uma vaga de camareira em um dos maiores hotéis da cidade, o Hotel Cassino Mancini. Qualquer um que conhecesse sua história diria que era loucura, depois de tudo que havia acontecido entre ela e Enrico. Mas a questão era que ninguém sabia de nada, e ela tinha convicção de que jamais o encontraria pelos corredores do hotel. Enrico pertencia à alta cúpula de empresários, administrava diversas empresas e não tinha tempo para estar presente em todos os seus empreendimentos, muito menos desfilando pelos corredores de um hotel.Para todos os efeitos, ela era apenas uma camareira. Batia seu ponto, fazia seu serviço e ia embora. Se dava bem com alguns colegas de
A noite de sexta-feira estava no auge no Hotel Cassino Mancini. O salão principal pulsava com a energia de uma multidão ansiosa, embalada pelo tilintar dos copos de cristal, pelo barulho dos dados rolando sobre as mesas e pelo brilho das luzes que banhavam o palco. Era o horário nobre da casa, e Sirena era a atração mais aguardada.Atrás da cortina de veludo vermelho, Aurora ajustava sua máscara com mãos firmes, tentando ignorar o leve tremor nos dedos. Era uma mistura de adrenalina e inquietação. O show daquela noite precisava ser impecável, como sempre. Ela tinha consciência do magnetismo que exercia sobre a plateia, do poder que conquistara nos últimos meses. A Sirena não era apenas uma dançarina, mas um enigma.A música começou. Uma batida e
Seis meses haviam se passado desde que Aurora saíra de sua vida. Se é que poderia chamar de saída, afinal, Enrico nunca a considerara parte de sua realidade. O que tiveram foi um erro, uma colisão acidental de mundos que nunca deveriam ter se cruzado. Ele havia seguido em frente.Mergulhou ainda mais nos negócios, afundando-se em reuniões, negociações e novos investimentos que expandiam sua influência. Quanto mais trabalhava, menos tempo sobrava para pensar no passado. E era exatamente isso que queria. Os números, os contratos, as fusões... Tudo isso era sólido, previsível. Diferente de sentimentos, diferente dela.A rotina era exaustiva, mas era disso que ele precisava. Acordava cedo, revisava relatórios antes mesmo do café da manhã, participava de re
Os rumores sobre a nova atração da boate haviam se tornado onipresentes, sussurrados em festas, mencionados em reuniões e exaltados entre os entusiastas da vida noturna. Enrico não dera muita atenção no começo. Afinal, novidades vinham e iam sem causar grandes impactos em sua rotina. No entanto, quando percebeu que até Leonardo, seu irmão, e Matteo, um de seus assessores mais próximos, falavam sobre ela com um entusiasmo incomum, resolveu escutar.— Estou te dizendo, Enrico, essa mulher é um fenômeno. Nunca vi nada parecido — disse Matteo, gesticulando como se tentasse descrever algo indescritível. — Ela tem uma presença de palco absurda. Não é só dança, é um espetáculo.— Exatamente! — Leonardo