No meio de seus devaneios notou que as mulheres começaram a comentar sobre a noite anterior, Aurora se juntou à conversa, tentando parecer à vontade.— A festa de ontem foi bem interessante, mas eu achei o Enrico bem incomodado a maior parte do tempo— comentou Marisa, com um sorriso maroto. — Na verdade, ele agia como se estivesse a ponto de ter um surto a qualquer momento. Eu acho que ele mandou Ricardo embora por ciúmes.Aurora sentiu seu estômago revirar novamente. A ideia de que Enrico poderia ser tão possessivo era ridículo, mas elas não sabiam sobre o contrato, então era óbvio que pensassem assim, visto que para todos os efeitos os dois estavam tendo algum tipo de envolvimento. Ela precisaria agir com naturalidade para não levantar suspeitas.— Eu não notei nada tão diferente do comportamento habitual dele! — disse Aurora, tentando manter a voz tranquila. — Afinal, ele está meio que sempre com aquela cara de quem comeu e não gostou…sabem…com aquele ar de “Eu sou perigoso Bell
As mulheres ainda estavam rindo das provocações e comentários sobre Enrico quando Clara, sempre curiosa e sem medo de tocar em assuntos delicados, lançou outra pergunta no ar:— Aurora, você já se perguntou o que foi que ele viu em você? Quero dizer, você é linda e encantadora, mas ele... ele é o tipo de homem que parece inatingível. Como se ninguém fosse bom o suficiente.Aurora sorriu, mas o desconforto voltou a pesar em seus ombros. A verdade, que envolvia o contrato e o acordo friamente calculado, não era algo que ela pudesse compartilhar. Então, fez o possível para transformar a pergunta em algo trivial, com um toque de humor para desviar as atenções:— Talvez ele só tenha cansado de viver no pedestal e queria algo mais realista.As outras gargalharam, mas Clara não pareceu satisfeita com a resposta. Ela inclinou a cabeça, com os olhos estreitados, como se tentasse desvendar algum segredo oculto em Aurora.— Realista? Você é tudo, menos comum, Aurora. Acho que ele encontrou em vo
O grupo de amigos a princípio iria embora logo após o almoço, mas resolveram ficar até o outro dia, para aproveitar o domingo de sol. Eles aproveitaram a tarde na praia e planejaram que as mulheres fariam o jantar na mansão. Ao entardecer, antes do jantar o grupo se reuniu para um drink no jardim. Aurora estava sentada em um banco, longe do alvoroço dos outros. Durante a tarde teve que ouvir diversas insinuações sobre ela e Enrico, estava um pouco cansada daquilo. Enrico a observava de onde estava, sentado próximo ao falante grupo, bebendo uma dose de whisky. As vozes deles se tornaram leves ruídos ao longe, enquanto ele observava que a luz dourada do entardecer iluminava seu rosto enquanto ela folheava distraidamente um livro de capa gasta, rindo baixinho de alguma passagem divertida. Enrico não podia negar que a minúscula falha que ela tinha entre os dentes da frente, deixava ainda mais charmoso aquele sorriso. Aurora estava totalmente entregue às sensações da leitura, pois não havi
O jantar foi servido na sala de jantar da mansão, onde as luzes amareladas criavam uma atmosfera íntima e acolhedora. As mulheres cumpriram a promessa de preparar a refeição, mas, como Aurora previra, o menu foi um desfile de pratos leves e saladas elaboradas. Sentada à mesa entre Clara e Enrico, seu humor oscilava entre o divertimento e a exasperação enquanto as conversas à sua volta iam dos eventos da tarde aos planos para a viagem de volta do dia seguinte.Enrico, por sua vez, estava menos envolvido no bate-papo animado e mais interessado em Aurora. Ele percebeu que ela estava inquieta, mexendo na comida sem muito apetite, enquanto ocasionalmente trocava farpas leves com Clara. Quando ela finalmente colocou o garfo sobre o prato, ele aproveitou a oportunidade para puxar assunto.— E o livro? — perguntou, casualmente, inclinando-se ligeiramente na direção dela.Aurora olhou para ele, surpresa com a pergunta, antes de responder com um sorriso leve.— Qual deles?— O que você estava l
Aurora foi para o próprio quarto, tomou uma ducha rápida e vestiu um pijama confortável. Já ia retomar sua leitura na cama, mas se deu conta que sua garrafa estava vazia. Resolveu ir buscar mais antes de começar a ler outra vez. Desde a cena no jardim em que Enrico recolheu uma mecha de seu cabelo, ela estava se sentindo um tanto acalorada. Na verdade estava assim desde a fatídica noite anterior. Devia haver algum problema com seus hormônios, ou talvez fosse a longa abstinência sexual.Estava seriamente querendo, desejando…querendo muito mesmo, sentir as mãos dele novamente seu corpo. Queria provar outra vez os beijos daquela boca generosa de onde só saíam maluquices, insultos e ofensas.Queria sentir o calor que transmitia aquele olhar penetrante. O queria entre as suas pernas outra vez, queria ir além do que já haviam feito, seja lá o que isso significasse. Enquanto caminhava pelo corredor de volta ou seu quarto, Aurora ponderou que talvez a maluca fosse ela. Como assim ela queria
Aurora desceu a trilha até a praia com passos firmes, o cardigan apertado contra o corpo para se proteger do vento. Mas, na verdade, não era o vento que a fazia tremer — era a mistura de raiva e confusão que Enrico havia provocado nela.Ao ver a silhueta dele ao longe, sentiu o coração apertar. Claro que ele estaria lá, no meio da noite, parecendo um modelo em uma campanha de fragrância masculina: a camisa branca entreaberta, os cabelos bagunçados pelo vento.Ela respirou fundo, ajustando a postura antes de marchar até ele. Enrico pareceu notar sua presença antes mesmo de ela chegar, mas não se virou. Continuou sentado na areia, as pernas dobradas, os cotovelos apoiados sobre os joelhos, encarando o mar como se estivesse em um universo à parte.— Ah, claro, você tinha que estar aqui — começou Aurora, a voz carregada de sarcasmo.— Meditando sobre suas péssimas escolhas de palavras, talvez?Enrico ergueu o olhar para ela, os olhos brilhando na penumbra como se estivesse se divertindo.—
Enrico ficou parado na praia, observando Aurora se afastar com passos firmes. As palavras dela ainda reverberavam em sua mente, cada uma como um golpe certeiro. Pela primeira vez em muito tempo, ele não tinha uma resposta na ponta da língua, algo que o deixava inquieto.Ele passou as mãos pelos cabelos, frustrado, e se sentou novamente na areia. Enrico sabia que era impulsivo, sabia que às vezes deixava a língua correr mais rápido que o cérebro, mas aquilo tinha sido um erro monumental. Ele queria provocá-la, talvez até empurrá-la para fora de sua zona de conforto, mas ao invés disso, só conseguiu afundá-los ainda mais em um abismo de ressentimento.Aurora. Ela era uma força da natureza, tão determinada a esconder suas vulnerabilidades quanto ele estava em desvendá-las. Mas o olhar dela antes de virar as costas... aquilo foi como um soco. Não era apenas raiva, era dor. E ele tinha sido o responsável por isso.“Droga”, murmurou, jogando a cabeça para trás e olhando para o céu estrelad
Aurora passou o resto da noite acordada, alternando entre a raiva, a confusão e uma ponta de curiosidade sobre as intenções de Enrico. Por mais que quisesse ignorar o incidente na praia, as palavras dele ficaram gravadas em sua mente. Mas, mais do que isso, a sinceridade inesperada de seu pedido de desculpas parecia ecoar em um canto vulnerável do coração dela — um canto que ela preferia manter trancado.Na manhã seguinte, o som das ondas a despertou do sono inquieto que finalmente a havia vencido. Levantou-se lentamente, os raios de sol entrando pela janela e iluminando a pequena sala. Tentou se concentrar na rotina: preparar um café, lavar o rosto, organizar as ideias. Os amigos de Enrico haviam partido cedo pela manhã, o que de certa forma foi um grande alívio. Ter que interagir com mais pessoas no meio de toda aquela confusão tornava tudo ainda mais estressante.Decidiu sair, pois uma caminhada pela praia, talvez, ajudaria a limpar sua mente. Mas ao chegar à areia, percebeu que nã