Parte 5...
Victor
Lívia tinha ido ao banheiro. Sei que ela está com medo do que aconteceu, mas pelo menos me deu a chance de falar, mesmo depois que minha mãe andou revelando coisas demais. Eu só iria fazer isso depois, mais para a frente.
— Me ajuda a abrir?
Me virei e ela estava de pé, se apoiando na muleta para evitar colocar o peso do corpo na perna ferida. Segurava um frasco de comprimidos. Dei um pequeno sorriso e o tomei de sua mão, girando a tampinha.
— Obrigada! – ela pegou de volta e bateu na mão.
Colocou um comprimido rosa na boca e foi desajeitada até a geladeira. Passei rápido e abri, pegando uma jarra e um copo que estava em cima do escorredor de pratos e enchi para ela.
— Obrigada! – ela repetiu — Vamos sentar, Victor.
Ela deu um passo para sair da pequena cozinha e eu me antecipei, a pegando no colo e
Parte 6...VictorEu avisei minha mãe antes de levar Lívia para casa. Aproveitei que ela foi até o quarto trocar de roupa e separar algumas coisas para levar e liguei, avisando que ela ficaria com a gente por um tempo.— Por mim não há problema, Victor – minha mãe disse logo — E sei que seus irmãos até acham isso mais adequado. Não estamos em um momento de cometer erros. É melhor prevenir.— Obrigado, mama – suspirei aliviado — Também acho isso.— Vou mandar preparar um quarto para ela.— Não... Ela vai ficar comigo, no meu quarto – respondi logo.— Eu não sou puritana, Victor, mas você já acertou isso com ela?— Bem, eu disse que ela ficaria comigo, mas não mencionei no mesmo quarto.— Então avise a ela. De qualquer forma, vou mandar preparar um dos quartos de hóspede, caso ela prefira ter mais liberdade.— Está bem... Eu já estou saindo com ela, não me demoro.E nem poderia mesmo demorar. Tenho que deixar Lívia em casa e correr para o encontro que tenho marcado com Bartolo e os outr
Parte7...VictorEu nunca gostei desses confrontos. Não sou covarde, mas meu lado pacifista prefere evitar a todo custo um derramamento de sangue. Porém, em casos como o de hoje, tenho que concordar com meu irmão. É necessário fazermos uma guerra para que a paz possa reinar durante um tempo mais longo.Sei que a paz é algo que não é duradouro. O ser humano não sabe viver em tranquilidade, ele sempre busca o lado ruim da vida e depois tem que arcar com as consequências.Deixei Lívia em casa, ao lado de minha mãe e de Isabela. As duas estão preocupadas, mas elas não fazem ideia do que acontece aqui. Bem, minha mãe até que sabe, ela tem experiência nessa vida ao lado de meu pai. Mas sei que ela não vai falar nada que coloque Isabela em uma energia ruim.A luz do dia começava a ceder espaço para a escuridão no armazém abandonado, onde o cheiro de ferrugem e decadência preenchia o ar. Eu lidero meu grupo de homens com o apoio de Bartolo, assim como foi combinado em reunião, em uma defesa d
Parte 8...AlessandroA noite estava escura e um chuvisco recente deixava umidade nas ruas estreitas dessa parte da cidade, onde as luzes fracas dos postes iluminavam o caminho para mim e meus dois seguranças.O som dos nossos passos apressados ecoava pelas paredes de tijolos, misturando-se ao ruído distante da cidade agitada. Aqui já começa a ter mais movimento. O cheiro de tensão pairava no ar após o confronto sangrento entre nossos grupos e eu estou determinado a capturar o capanga que escapara. Ele não voltaria para casa para contar história.Ao virar a esquina, nós avistamos o fugitivo entrando apressado em uma pequena lanchonete. Isso é uma merda, envolver pessoas comuns. Mas esses covardes sempre fazem isso, para tentar escapar.As luzes fluorescentes piscavam, revelando o letreiro desgastado que dizia "Sabor da Noite". Eu acenei, indicando para os homens con
Parte 9...EnzoA piranha da Bianca conseguiu fugir. Eu queria pegá-la agora, mas tudo bem, haverá outra chance disso. Apesar de estarmos em vantagem, porque nosso grupo é mais organizado e muitos dos que vieram com ela são uns babacas covardes, ela conseguiu escapar pulando na água e sendo resgatada por uma lancha. Eu não conseguia ver direito com tanta fumaça, após eles terem jogado várias granadas contra nós.Olhei para trás, meu grupo estava relativamente bem. Poucos mortos e feridos, a maioria ainda de pé. Apertei minha arma com raiva. Pelo menos ela já sabe o que a espera e depois dessa, vai ter que se esconder não apenas de mim e de meus associados, mas do próprio avô, que vai ter que me entregar o comando de sua máfia calabresa.— Enzo... – Manollo veio correndo até mim — Precisamos voltar par
Parte 1...LíviaEu quase não dormi. Tanto de preocupação com Victor, como porque seus irmãos e a mãe vieram ao quarto mais de uma vez para ver como ele estava. Só depois, já madrugada, eles foram deitar e eu pude tirar um cochilo também.Deitei com cuidado. Ainda bem que a cama dele é grande. Tentei não me mexer muito para não o incomodar e nem acordar. E foi bom que estivesse sob o efeito de remédios, porque assim não me viu chorar.Meu Deus, quanta coisa acontece com essa família. Me dá medo, mas ao mesmo tempo, eu tenho mais medo ainda de me afastar de Victor. Eu nunca gostei tanto de alguém como eu gosto dele.A luz suave da manhã invadiu o quarto, criando uma atmosfera tranquila. Victor, pálido e com um olhar sonolento, estava deitado virado para meu lado. Eu acariciei seu rosto, sentindo a tempera
Parte 2...IsabelaÀs vezes eu saía com algumas colegas e as irmãs do convento para entregar roupas, comida e brinquedos em comunidades mais carentes e por duas vezes estive em orfanatos e gostei muito, embora tenha ficado um pouco triste em ver tantas crianças largadas no mundo.Eu sempre achei errado colocar filho nesse mundo e não ter a responsabilidade e o amor correto para dar. Tem tanta gente, homens e mulheres que jamais deveriam ser pais. Eles não sabem o que é amar de verdade e cuidar de outra vida. Para mim, o aborto é proibido devido minha religião e ao que aprendi no convento, mas não creio que para todas as pessoas deva ser igual.Cada um deve ser dono de si, em especial as mulheres, que são as que mais carregam o peso de ter uma vida sob sua responsabilidade. São tantos os homens que abandonam seus filhos pelos mais diversos motivos, que chega a
Parte 3...IsabelaEu até me assustei quando vi o Manollo vindo até nós, embaixo da copa da árvore, onde as crianças estavam se divertindo com os livros de colorir e os brinquedos que Yelena levou. Graças a Deus não era nada sério.— Mas aconteceu algo para que o Enzo o mandasse até aqui? – Yelena estranhou, assim como eu.— Não senhora... – ele mexeu os ombros — Nada além das negociações que continuam, com a máfia da Calábria, depois do que ocorreu nas docas.— Então eu posso ficar e a Isabela volta comigo – ela se virou.— Me desculpe, senhora Yelena.. Eu não posso fazer isso – ele disse até um pouco temeroso — Eu tenho que levar vocês de volta... E o Enzo disse que eu posso até arrastar as duas se for necessário.&m
Parte 4...EnzoEu meio que travei com o susto ao ouvir a declaração. Fiquei impactado realmente. A ideia do acordo de unir as máfias era esse, entre outros. Dar um herdeiro para nossa família e também para a família dela. O pai de Isabela já não esperava ter outro filho e ela lhe dando um neto, seus negócios estariam seguros, até porque, eu tomaria conta de tudo até que o menino pudesse ter idade para seguir sozinho.— Como pode você estar grávida? – foi uma pergunta boba, eu sei disso.— Bom... – ela piscou rápido e deu um sorriso lindo, ainda que machucada — No convento as freiras nos ensinaram nas aulas de biologia, sobre reprodução humana... – ergueu as mãos fazendo gestos — É assim... Um menino conhece uma menina – ela queria rir, a despeito da situaçã