Ponto de vista de Scarlett– Você consegue me ver, Scarlett?Eu me virei e dei uma risadinha porque não conseguia. Hélder me havia mergulhado na escuridão com uma venda nos olhos e sua voz era a única coisa me levando até ele. – Venha, Scarlett.Essa voz havia mudado. Saí do sono com um sobressalto e observei o ambiente ao meu redor. O quarto estava escuro. Escuro como breu e iluminado apenas pelo brilho da lua que entrava pelas janelas. Este não era o meu quarto. Maia não estava aqui, mas eu reconheci esse ambiente. Este era o quarto do Alfa Romano. Ao mencionar seu nome, minhas lembranças começaram a fluir como um riacho. Pedi para ser eu a dirigir o carro. Nossa conversa sobre a Conferência de Alfa e como ele planejava usá-la para me libertar de Hélder me deixou animada. Era um plano genial. Simples, mas complexo, e uma dessas complicações era esconder minha identidade de Hélder pelos próximos dois meses até a Conferência de Alfa. O carro voltou para mim imediatamente. Se
Ponto de vista de FlávioEra hora do café da manhã na matilha Garra-Férrea e estávamos sentados em uma mesa. – Aqui na matilha Garra-Férrea, comemos carne mais do que qualquer outra coisa.Revirei os olhos com tanta força que achei que iam de suas órbitas. Isso era uma coisa tão típica de lobisomem, e a última coisa que eu esperava sobre essa matilha era que fosse típica. – Você está entediando minha mãe até a morte. Os olhares das outras mesas se voltaram para nós e meus olhos se arregalaram enquanto eu me esforcei para evitar que um sorriso apareça em meu rosto. Finji um suspiro. – Maia, meu Deus, isso é tão rude da sua parte. Maia má, garota má.A Maia revirou os olhos e eu quase perdi o controle. Deixei meu garfo cair no chão e me escondi embaixo da mesa para poder rir. Queria muito rir. Infelizmente, estávamos em uma sala de lobisomens e esta era outra matilha. Observar antes de agir, essa era a minha tática. E de onde a Maia estava tirando toda essa insolência? – Você est
Ponto de vista de Scarlett– Acho que estou gostando desta nova escola.Pisquei os olhos e soltei o fôlego que não sabia que estava segurando. – Sem brincadeira.A escola era enorme. – Devemos entrar, senhora?O motorista, obviamente insatisfeito por ter recebido a tarefa de nos levar, falava em um tom irritado e cortado. Maia estava olhando pela janela enquanto o carro parava em frente aos portões da escola, e podia dizer que ela também estava impressionada. Os vidros do carro não eram escurecidos, ao invés, eram claros como cristal para que pudéssemos ver exatamente como era a escola preparatória da Garra-Férrea. As cercas não eram normais. Observei quando uma criança, um menino pequeno que não devia ser muito mais velho do que Maia, começou a correr e bateu na cerca com um salto. Suas mãos e pés encontram reféns nas fendas construídas na cerca e, quase como se isso tivesse se tornado rotina, ele escalou a cerca, desaparecendo do outro lado. Ele não era o único a fazer isso.
Ponto de vista de Romano.– O que elas estão fazendo agora?Flávio estava do outro lado do telefone e bufava. – Você está tão preocupado quanto uma mãe galinha neste momento. Acalme-se.– Você está dizendo ao seu Alfa para se acalmar?Havia um silêncio do outro lado da linha que durou um tempo antes de Flávio dar uma risadinha e cantarolar bem-humorado. Um raro sorriso brotou em meu rosto quando ouvi essa risada. Flávio se encontrou no mesmo mundo desespero em que eu estive nos últimos cinco anos. Ele perdeu sua companheira e sua filha e, desde então, não sorriu mais, apenas quando chegou a hora da violência e do derramamento de sangue, mas agora algo tinha mudado. Não precisei perguntar a ele antes que se oferecesse para chefiar a equipe que acompanhava Scarlett e sua filha. Eu agi como um completo idiota com ela quando ela acordou, dando ordens como um maníaco e passando a impressão errada. Planejei conhecê-la melhor esta manhã, nada muito íntimo, apenas as coisas básicas. Cois
– O que você quer dizer?Marta se sentou no sofá na minha frente e ficou um bom minuto olhando para suas unhas. Para uma senhora idosa, ela tinha consciência de sua aparência, e isso era uma das coisas que eu gostava dela. Uma mulher perigosa cuidava para que parecesse perigosa, e era por isso que, quando ela olhava para mim, esperava que ela avaliasse sua situação atual antes de falar. – Vou dizer algo que vai te irritar, Alfa Romano. Posso continuar?Ela era uma senhora idosa e sábia, mas também a melhor amiga da minha mãe:– Eu não machucaria um membro da minha matilha, ainda mais um membro do meu conselho. Você pode falar à vontade.– Você está sendo enganado.As palavras me impediam de tomar fôlego e eu arqueei uma sobrancelha de uma só vez:– O quê?– Você está sendo enganado, Alfa Romano. Todos nós estamos. Algo maior está acontecendo em segundo plano e não há nada que você ou eu possamos fazer a respeito por enquanto.Marta desviou o olhar e eu vi como ela cerrava a mandíbula
Ponto de vista de Scarlett– Ela ainda tem que fazer um teste de aptidão depois de você a fazer escalar uma parede?A raiva em meu tom era mais do que evidente e não era para ser assim. Eu deveria ser agradável e complacente, mas tudo isto me irritava. Colocar minha filha em perigo fazia isso comigo às vezes. Maia parecia ter se tornado mais corajosa agora que escalou o muro. Achava que ela queria fazer isso desde o momento em que a viu, mas, ao mesmo tempo, não podia deixar que eles a obrigassem a fazer isso. Meu coração não aguentava isso. Minha filha era tudo o que tinha, se ela se machucasse, não sabia o que faria comigo mesma. – Não precisa chorar, mamãe.Maia apertou minha mão e eu limpei as lágrimas que caíam dos meus olhos. Eu estava morrendo de medo quando ela escalou aquele parede. Eu não conseguia subir nela, mal conseguisse enfiar meus dedos nos pequenos buracos, e meus pés também não. Quando ela desapareceu do outro lado...– Acho que você está exagerando um pouco, S
Ponto de vista de RomanoEu endireitei meus ombros e respirei fundo antes de me acomodar em meu assento. – A usina de energia ajudará nossas duas comunidades a prosperar, Sr. Bruno. Não há motivo para não investir e, dessa forma, posso garantir a segurança de qualquer outro empreendimento que você decida estabelecer perto de nós mais tarde. A matilha Garra-Férrea sempre foi profissional em suas relações com os outros, somos leais e não voltaremos atrás em nossa palavra.O homem à minha frente acenou com a cabeça e deu um de seus sorrisos bem-humorados. – Não duvido disso, Alfa Romano. Só estou hesitante porque outro de meus associados me procurou para falar sobre esse projeto. Uma usina de energia fornecerá um bem básico para o dia a dia dos habitantes da cidade e garantirá nossa posição lá, e eu sou totalmente a favor disso. Só não acredito que esses meus associados ficarão muito felizes se eu recuar de repente.Os outros membros do conselho de investidores murmuravam, trocando op
Ponto de vista de ScarlettO que tinha o Alfa da matilha Garra-Férrea rosnando o tempo todo?O telefone continuava em meus ouvidos e senti que hoje poderia ser o dia mais longo da minha vida, mas isso era necessário. Tudo isso era necessário. Eu tinha pensado em várias maneiras de conseguir o dinheiro para as taxas da Maia, mas nenhuma delas era viável no futuro. Precisava fazer o pagamento hoje, e tinha de fazê-lo porque Maia gostava muito daqui e estava finalmente saindo de sua concha. Limpei a lágrima perdida que caiu dos meus olhos e enguli o nó na garganta. Não podia deixar que ele me ouvisse chorar. – Está bem.A palavra soou irreal para mim, então pisquei os olhos e disse a única coisa que me veio à mente. – O quê?– Eu disse ok. Eu lhe emprestarei o dinheiro que você precisa e pagarei as contas da escola da Maia enquanto ela ficar conosco, mas você terá que manter sua promessa. Estava bem?Algo quente e potente fervilhava em meu peito com o tom caloroso com o qual estava f