Isabela deixou escapar um riso sarcástico vindo da garganta.— Eu nunca pensei em voltar com você. Mas já imaginei mil formas de me vingar. Ontem mesmo eu sonhei com isso. Sonhei que você tinha morrido, e você estava tão horrível, os membros desfeitos, as vísceras espalhadas... Ri tanto e acordei. Você sabe o quanto eu fiquei desapontada por ser só um sonho?A expressão de Sandro mudou de forma a cada palavra, alternava entre pálido e avermelhado.Os cantos dos lábios tremiam.— Se me xingar te faz sentir melhor, vai em frente, eu aceito. — Sandro ainda não parecia entender a realidade.Ele ainda achava que, se fosse sincero e pedisse desculpas, poderia haver algum tipo de reconciliação.Isabela riu, mas de raiva.— Você está rindo do quê? Eu não acredito que, depois do nosso divórcio, você não tenha ficado triste, não tenha ficado abalada ou não tenha chorado. Não venha negar, eu vi com meus próprios olhos. Então, vamos parar de nos torturar, né? — Sandro falou com um tom firme.Isabe
Sandro não aguentou mais. Ver os dois tão íntimos era insuportável.— Dr. Jorge, você é uma figura respeitada... Não acha que falar esse tipo de besteira é se rebaixar demais?Depois disso, ele olhou diretamente para Isabela.— Isa, volte para mim.Ele tentava desesperadamente despertar o amor que ela um dia sentiu por ele.Isabela apenas ergueu os olhos com frieza.Quando ele encarou aquele olhar gélido, sentiu o peito apertar.— Me desculpa... — As palavras escaparam sem pensar. Lá no fundo, ele sabia que estava errado.Isabela desviou o olhar, impassível. Levantou a mão e segurou o braço de Jorge, se apoiando nele com doçura. Olhou para ele com os olhos úmidos, cheios de emoção.Antes, ela já tinha fingido um relacionamento com Jorge só para se livrar de Sandro.Mas naquele momento não havia mais fingimento algum em seu olhar.Com sinceridade, ela disse:— Amor, obrigada por ter aparecido na minha vida.Foi Jorge quem a ajudou a se tornar uma verdadeira advogada. Sempre a apoiando e
Antes que Jorge pudesse responder, ela continuou:— Eu sou filha única, não tenho irmãos. Como você viu, minha família é bem simples, meus pais são pessoas humildes, e nossos parentes também são pessoas comuns.— Minha família é boa, tenho uma irmã, e meus pais estão vivos... — A resposta de Jorge foi bem direta.Isabela já tinha uma ideia inicial sobre isso.De repente, um barulho forte veio de fora, parecia que a polícia tinha chegado.Isabela estava indo abrir a porta quando Jorge a segurou pelo braço.— Fique aqui dentro.Ele foi até a porta e a abriu.Os policiais perguntaram quem tinha feito a denúncia.Jorge respondeu:— Foi minha namorada quem ligou. Ele está nos assediando e batendo na porta com força, tentando invadir a casa. O comportamento dele está afetando muito a vida normal da minha namorada.Sandro, ouvindo Jorge se referir a Isabela como "namorada", sentiu a cabeça zumbir de raiva.Ele deu uma risada fria, com uma expressão de raiva no rosto.— Sua namorada? Ela é min
Os braços dele eram fortes, o corpo largo e firme.Quando a abraçava, parecia que ele a envolvia por completo.O tempo estava ficando cada vez mais quente.As roupas estavam ficando cada vez mais leves.Isabela podia sentir claramente o calor do homem atrás dela. Parecia que a temperatura dele ia atravessar o tecido, queimando ela.Ela olhou para baixo, movendo um pouco o corpo.— Pare com isso.Jorge se inclinou, seus lábios perto de seu ouvido.— No que você está pensando?— Não estou pensando em nada. — Isabela respondeu.Depois de dizer aquilo, parecia que ela tinha entendido o que ele queria dizer.Ao virar a cabeça, seus lábios passaram pelos dele. Seu rosto ficou um pouco quente, mas ela tentou se manter calma e disse:— Você quer saber se ainda penso nele, né? Será que a minha atitude de agora não foi o suficiente para você ver que não?Jorge observou seu rosto irritado e perguntou:— Está brava?— Não gosto de ser testada. Você sabe da minha situação. Se sabe, tem que estar pr
Jorge olhou para a palma da mão e disse:— Já está tudo certo.Isabela colocou comida no prato e disse:— Não pode vacilar.A ferida era bem profunda, e ainda era melhor dar uma conferida para Isabela ficar tranquila.Depois que terminaram de comer, Isabela guardou as louças, lavou tudo e deixou tudo arrumado, e então os dois saíram juntos.Eles foram até o hospital.O médico olhou para a ferida na mão de Jorge, que já estava cicatrizada. Ele retirou os pontos e receitou um remédio para tirar a cicatriz.Com o uso constante, pela manhã e à noite, em pouco tempo ficaria bom, e como a cicatriz era recente, o processo de recuperação seria mais rápido.Quando saíram do hospital, o celular de Jorge tocou. Era Clara ligando. Jorge se afastou um pouco para atender.— Oi, mano, quando é que você vai trazer sua namorada para casa? Já ouvi a mãe falando, vocês estão morando juntos, não adianta me enganar.Jorge olhou para Isabela por um momento e respondeu:— Você tem esse tempo todo, por que nã
Isabela prendeu o cinto de segurança e disse:— Esqueci de pegar o remédio, quando estava voltando, encontrei meu ex-sogro e troquei algumas palavras com ele.Jorge ficou sem palavras.Ele estava prestes a comentar sobre como o mundo era pequeno, sendo incomodado pelo ex-marido e encontrando o ex-sogro no minuto seguinte.— Ele estava com a amante dele indo para fazer pré-natal. Pelo visto, meu ex-marido vai ter um irmão ou uma irmã em breve. — Isabela já havia ajustado o cinto.Jorge ficou completamente sem palavras.— Será que a traição é hereditária? — Ele perguntou.Isabela ficou sem palavras por um momento, mas logo deu uma risadinha.— Talvez.Jorge começou a dirigir o carro.Ele olhou para a frente, com um olhar repleto de sarcasmo.Isabela inclinou a cabeça e o observou.— Você não parece muito feliz.Jorge permaneceu em silêncio.Um casamento com uma família como a família Marques... Dava para imaginar os problemas que enfrentariam no futuro.A família Neves sempre foi discret
— Ela disse que foi desde pequena. Como era muito nova, não lembrava direito, mas se lembrava de alguém tocando nela, pressionando ela, coisas assim.— Você só ficou sabendo disso agora? — Isabela perguntou.A garota respondeu:— Sim, depois que meu pai e minha mãe se separaram, eu fiquei com minha mãe. Eu fui morar no exterior bem cedo, mas voltei por causa disso, por causa do meu pai.Isabela acenou com a cabeça e perguntou:— Eles moravam na mesma casa?— Sim. Minha irmã tinha o quarto dela. Meu pai entrava quando a mãe dela não estava. Ele era padrasto dela, e... Fazia essas coisas. — Ela engoliu seco. — Minha irmã sempre foi muito quieta, e a mãe dela tinha pavio curto. Por isso ela cresceu com medo da família. Na carta, ela contou que os abusos começaram na infância e continuaram até o primeiro ano do ensino médio. Foi quando ele realmente abusou dela pela primeira vez. Tipo, quando ela já entendia o que estava acontecendo.— Ela tinha essas memórias de infância, mas sem muita ce
Isabela pensou consigo mesma: "Uma criança criada em uma família assim, com certeza, deve ser mais introvertida, provavelmente por influência do ambiente."Ela então perguntou:— No dia ou no dia anterior à tentativa de suicídio, ela recebeu algum tipo de estímulo direto? Quando foi que ela escreveu a carta de despedida?— A carta de despedida ela já tinha escrito faz tempo, mas foi apagando e reescrevendo várias vezes. Eu vi no documento que a polícia nos enviou, a última alteração foi no dia 25 do mês passado.— É versão eletrônica?— Sim, foi num aplicativo de notas, e ela também escreveu uma versão à mão, mas era bem mais simples.Isabela perguntou novamente:— Ela teve algum tipo de estímulo direto antes de se suicidar, tipo no dia anterior ou dois dias antes?— Eu não sei direito, acabei de chegar.— Em que estágio está a investigação?— Está no início da investigação ainda.— Já faz quanto tempo que começou?— Deve fazer uma semana.— Já consultaram um advogado? — Isabela pergun