Eventos ocorridos poucas semanas antes do dia 10 de agosto de 2019.
Os preparativos estavam adiantados, grupos de W******p com nomes como Dia D, e Dia do Fogo, passavam instruções a seus membros a respeito de materiais e horarios para os atentados terroristas. Seus organizadores eram membros de uma elite agrária conhecida na região, se auto intitulavam “cidadãos de bem”, em sua maioria religiosos e com muito orgulho de um passado de destruição dos povos originários, desde a chegada de seus antepassados por essas terras.
Se organizavam como uma sociedade paralela ao Estado e a constituição, pois acreditavam, realmente, que pertenciam a uma casta que poderia decidir o futuro de todos, e neste caso específico, com seus planos, poderiam mesmo interferir no futuro de toda a humanidade, inclusive de seus descendentes. Pareciam não entender a gravidade do que fariam, inconsequentes, como se o mundo fosse seu parque de diversões particular, com recursos ilimitados para sua satisfação pessoal. Em breve descobririam, a vida não pode funcionar como imaginavam.
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A Senhora soube de tudo quando uma das suas primeiras filhas, que normalmente não ficavam próximas a ela, apareceu em sua morada e informou das atrocidades planejadas. Ela não se desesperou, nunca perdia a calma, era mais antiga que o próprio mundo, e tinha poderes para acabar com o que quer que eles planejassem contra o que era seu, e de seu povo.
-A Senhora vai avisar suas guardiãs? - A menina bonita com cabelos longos e o corpo pintado, a olhou inquisidora.
-Ainda não, é melhor deixá-las apenas com suas obrigações atuais, esse trabalho não é para elas. Nós devemos lidar com isso, de nosso jeito.
-E Ele? - A menina olhou o veado branco de olhos vermelhos ao lado da Senhora e apontou com o queixo.
-Apenas no momento certo, por enquanto apenas eu e vocês. - Encarou a jovem e sorriu. - O que foi? Está com medo?
-Que destruam nosso lar? É claro que estou Mãe!
-Não se preocupe. Eles não vão conseguir, em outro mundo, outra realidade em que não existíssemos, talvez eles conseguissem, mas aqui, aqui somos a lei, somos o que salva e acolhe. Avise nossas irmãs do Amazonas, depois reúna suas meninas e venha me encontrar, precisamos iniciar nosso ataque antes que eles fiquem fortes demais.
-Vamos matar todos? Invadir as casas durante a noite? É arriscado, mas eu gosto. - O sorriso pareceria ingênuo, não fosse os dentes grandes e ameaçadores que apareceram completamente.
-Faremos de uma forma que ninguém saberá como aconteceu. Apenas vá e faça o que mandei, quando retornar iniciaremos.
A menina saiu apressada, e a Senhora encarou o lindo animal a seu lado, se aproximando dele e passando uma mão carinhosa em seu pelo branco reluzente.
-A loucura dependerá de você meu amigo, apenas você sabe como fazer isso.
O veado branco de olhos cor de fogo pareceu acenar com sua bonita cabeça, os grandes chifres indo para frente e para trás em concordância. Para a Senhora, pareceu que um sorriso se revelava na expressão do animal encantador.
Ele havia aparecido em sua morada de quartzo há pouco tempo, chegou em silêncio, se acomodou na entrada da caverna iluminada, não usou sua forma humana, e não disse nada, apenas a acompanhava por onde andava. Era raro que ele viesse até ela, normalmente resolvia seus assuntos sem que ninguém mais interferisse, cada um deles com suas funções, sem interação.
Mas ultimamente nada mais poderia ser feito dessa forma, sua terra estava ardendo com os ódios dos brancos, mais do que o normal. Estavam todos seguros para demonstrar todo o seu desprezo e preconceito, para destruir o que não lhes pertencia, atacar ainda mais, os verdadeiros proprietários daquelas terras. Era preciso união de todos os seres poderosos, de diversas crenças e identidades. Juntos eles possuíam uma chance, separados poderiam ser destruídos definitivamente
A Senhora tinha consciência que toda ajuda seria necessária, por isso mandou avisar as guerreiras do Amazonas, elas teriam sua própria jornada. Quanto a ela própria, estava preparada, desde que os brancos chegaram ao seu mundo, ela lutou e auxiliou nas lutas de seu povo. Era uma guerra antiga, essa seria apenas mais uma batalha.
Eram três, muito arredios, aterrorizados como os outros que encontrara. Manuela suspirou, já era o quinto caso em menos de dois meses. Sempre 3 cães grandes utilizados para caça ou guarda nas fazendas, marcados com aqueles quatro buracos profundos, pouco sangue e muita agressividade. Os primeiros três grupos encontrados em semanas distintas já haviam morrido, completamente fracos, mas ainda assim agressivos. Não havia nada de mais nos exames. Apenas a perda excessiva de sangue. E aquela outra substância que ninguém conhecia bem, aquele veneno esquisito que não aparecia em nenhum estudo de veterinária e, agora que os casos se avolumavam, de medicina, que ela tenha encontrado.-Dona Manuela, que que nóis vamo fazê? O povo tá querendo sai pra caça esse bicho, tá dizendo que deve ser alguma coisa do cape
Hellen foi chamada no escritório da Professora Aline pela manhã, pensou que era algo a respeito de sua bolsa, ou orientações sobre seu projeto de doutorado, em fase final, com as graças de todas as deusas.Mas não era sobre nada disso, Aline a recebeu com um sorriso franco e pediu que sentasse diante dela nas poltronas simples do escritório.-Preciso pedir um favor para você. E para ser totalmente honesta, não será nada muito agradável para alguém que está terminando seu doutorado. Apesar de servir muito para seu campo de pesquisa. - Hellen franziu a testa e ela ergueu a mão para se explicar. - Entenda que você não está sendo obrigada a nada, é um favor pessoal. Eu a conheço a pouco, mas acredito que você é
Os três homens estavam armados com espingardas e facas, andavam pela mata, o pouco que ainda existia na região, como se estivessem fazendo um grande serviço para a humanidade.Era um pouco de crendice, muito de preconceito, medo do que não conheciam. Lembravam das histórias contadas sobre os monstros indígenas, seus ataques aos "pobres homens brancos”. Então sentiam, realmente, que a importância do que faziam deveria ser reconhecida. Se imaginavam carregando o monstro sanguinário, fosse ele real ou sobrenatural, até a cidade, e mostrando a todos o poder do homem branco sobre as feras da natureza.Viram quando a indígena que cuidava dos animais passou com seu carro. Ela os irritava um pouco, uma indígena dona de terras, herdeira de fazenda e ainda por cima com forma&cce
Maria estacionou na frente da delegacia da pequena cidade, distante algumas horas de sua própria cidade, e palco de uma das histórias sobre ataques semelhantes aos que investigava. Não tinha muitas esperanças, os casos ocorreram em um período distante e obscuro do país, em que informações eram ocultadas do conhecimento público. Havendo sempre a possibilidade, quando se tentava investigar algum crime da época, de que tudo fosse invenção para encobrir o terrorismo de Estado cometido com liberdade por 21 anos.Registros eram forjados, escondidos e incinerados, assim como os assassinatos e desaparecimentos da época. Mas tinha esperanças de ao menos conversar com algum policial, mesmo que aposentado, que lhe desse alguma informação.Entrou na delegacia e f
Hellen agradeceu Luiz pela carona e entrou em casa rápido, ainda tinha medo das onças, não confiava muito nessa história de “acordo” de Manuela, achava onças lindas, quase mágicas, mas as preferia longe dela.Sentou na bancada da cozinha esperando o café terminar de passar na cafeteira, e ligou para o namorado.-Que bom que você lembrou de mim! - A voz dele era um pouco agressiva, irritada.-Você está bem?-Como se você se importasse Hellen! - Um silêncio irritado.-Qual o problema Edu?-O problema é que você desaparece, não me ouve quando digo que essa história r
O churrasco foi marcado para a noite que antecederia o “dia D.” Cerca de 10 proprietários de terras, somados a alguns comerciantes influentes na pequena cidade, compareceram. Eram os membros mais importantes, aqueles que organizaram os ataques naquela localidade, participando dos grupos que uniam seus iguais, de todo o país.Arlindo sentou com seu copo de uísque e beliscou um pedaço de carne, estava satisfeito com os planos a serem realizados. Finalmente tomariam uma atitude decente para expandir seus negócios, e de quebra acabariam com a empafia daquela “india” que se achava importante.-Tudo pronto? - Otavio parecia nervoso, era o mais jovem deles, havia herdado os negócios do pai, rico criador de gado, há pouco tempo.-Se acalme, menin
No dia seguinte ao jantar, Manuela acordou cedo, pouco depois de o sol nascer, e entrou na floresta, uma das meninas da senhora a aguardava logo na entrada.-Diga a mãe que eu vou entrar com a delegada, ao meio dia de hoje. Vocês não fiquem rondando onde estivermos, deixem a pedra de sacrifícios limpa e se escondam. - Uyara a olhou muito séria, não a conhecia, mas já tinha ouvido falar nas meninas morcego, primeiras filhas da Senhora.A menina acenou e sorriu com seus dentes grandes, dois caninos de cada lado. Abraçou Manuela e desapareceu atrás das árvores. Foi ao encontro da Senhora, que descansava sobre um altar em sua morada de quartzo.-Sua guardiã disse que vai entrar com uma delegada.-Eu
Tiros na cabeça e no peito derrubaram não somente os jagunços que estavam aguardando a incursão na mata, mas também mais da metade dos fazendeiros da cidade, que se juntaram, por alguma razão, aos seus empregados na vigília.Os policiais da cidade foram localizados no meio da confusão, quando viram a delegada correram para ela, ainda com os rostos brancos e as mãos trêmulas.-Doutora! Uma desgraça, obra do diabo ou sei lá o que! – Um dos policiais falava com a voz falhada, gaguejando.-Do que você está falando? – Maria o encarou séria. – Se acalme, se recomponha e me explique o que afinal aconteceu aqui!-Eles estavam todos aqui doutora, em paz e