Aron Aquele momento inusitado em uma ceia que parecia tranquila, após um dia de grandes avanços a caminho de acordos para impedirmos a guerra, tinha caído como água fria sobre mim, e com certeza em Vitória também. O olhar que ela me lançou quando tentei me aproximar, ao ouvir a declaração de Gerald, fez entender que deveria afastar-me e esperar o momento certo para conversarmos. Minha mãe chegou no momento exato, me dando um apoio a mais para impedir-me de cometer uma grande bobagem. — Aron, meu filho, venha comigo. Preciso falar com você agora! — sua voz era forte e doce, como sempre fazia ao me dar um conselho ou me advertir de algo que estava errado, era assim que ela agia comigo, desde menino. Caminhou de braços dados comigo para fora do salão e me levou até os meus aposentos, após entrarmos, abordou o assunto com toda delicadeza possível, isso sempre me encantou naquela mulher que parecia frágil, mas era forte como uma rocha. — Esse filho que Vitória está esperando é seu, Ar
— Foi isso que me deixou muito preocupado e sem saber como agir. Quando ele começou o brinde fiquei sem palavras. Ao ver todos cumprimentando os dois, tive o impulso de fingir e fazer o mesmo, com o propósito de chegar mais perto de Vitória para conversar com ela, porém, o olhar que ela me dirigiu foi tão intenso que me fez entender para não continuar, e logo em seguida, a senhora me puxou pelo braço e me tirou dali. Quase fiz uma grande besteira! — Foi por isso que lhe tirei do salão. Há dias estava desconfiada do romance entre vocês, e quando Gerald fez o anúncio e reparei na surpresa de vocês dois, na forma como se olharam, tive a certeza do que estava acontecendo e que precisava, com urgência, tirar você dali. — Obrigada, minha mãe. Quisera eu ter essa sua sabedoria para agir sempre da forma correta. Agora não sei o que fazer, e o que mais desejo é poder falar com Vitória, no entanto, como posso procurá-la tendo a certeza de que Gerald sabe sobre nós? Eu posso com isso piorar m
ARON — Que bom ter aberto a porta sem demora, Aron. — Ela entrava em meus aposentos trazendo a luz de que necessitava naquele momento. — Serena, que bom vê-la! — nos abraçamos e aquele gesto de amizade que não se repetia desde que éramos crianças, foi mais um consolo para minha aflição. — Vim correndo assim que pude e consegui me desvencilhar dos guardas para que não percebessem o meu destino, preciso ser rápida, pois se descobrirem os meus planos, talvez você e Vitória não tenham outra chance de se encontrarem. — Você a viu, estava com ela? Como ela está? Estou confuso com tudo o que houve, em saber qual atitude tomar. A minha vontade era ir até ela, tomá-la em meus braços e fugir daqui e de todos para que seja possível nós três ficarmos juntos. — Calma, Aron. Precisamos ter muita calma. Vou lhe contar toda a minha conversa com ela e tudo o que descobri. Tenho um plano para vocês dois também, vou lhe explicar o que penso em fazer. Serena contou-me tudo o que descobriu em sua c
Vitória Com a ajuda de Serena, consegui encontrar Aron. Repetimos a aventura daquela noite em que minha amiga ajudou-me trocando de lugar comigo para que conseguisse ver meu amor, e novamente conseguimos. Serena ficou em meus aposentos, fingindo dormir em minha cama para que eu fosse ao encontro dele, no entanto, dessa vez, fui a seus aposentos. — Minha querida, nem acredito que conseguimos outra vez um encontro às escondidas. Devemos tomar muito cuidado, agora corremos muito mais riscos do que antes — disse Aron após abraçar-me forte e beijar-me com carinho. — Corremos risco sim, no entanto, isso jamais nos afastará. Nada será capaz de nos manter longe. Farei o impossível para reverter essa situação e tomar as rédeas novamente. Isso tudo é temporário, meu amor. Vim até você para lhe pedir que aguente firme e continue seguindo o seu caminho, sem que os outros percebam o quanto essa situação lhe abala também. Até Gerald, que sabe de tudo, deve se surpreender com sua frieza. Você con
Gerald, que permanecia ao meu lado, em frente aos tronos reais, ajoelhou-se, e foi assim que levantei sua coroa e a depositei em sua cabeça. Foi incrível como a coroa dourada, cravada com pedras verdes se encaixou perfeitamente e combinou com seus cabelos lisos e louros. Ele estava vestido com uma bela túnica musgo, rendada com fortes enfeites dourados, segurei também o manto vermelho e o envolvi, dando um laço em seu pescoço e fazendo sinal para que ele se levantasse. Assim que ele o fez, entreguei enfim o cedro que ele segurou como se fosse um troféu, sorrindo e fazendo um gesto a mim, fingindo gratidão e complacência, mas eu sabia o quanto aquelas intenções eram falsas. — Transfiro meu trono ao meu esposo, Gerald Lowell o tornando assim, Rei Consorte, lhe dando total e absoluto poder para governar os reinos. Deus salve o Rei! — Deus salve o Rei! — todos repetiram em uníssono e foi nesse momento que percebi em muitas faces a decepção que aquela atitude minha os causava. Doía muit
Em meio a toda aquela confusão que havia se estabelecido em nossas vidas, imaginamos que as perseguições à Serena e seus rituais haviam sido esquecidas, mas estávamos completamente enganados. Novas acusações surgiram de camponeses que afirmavam ter visto as “bruxas da lua”, praticando seus feitiços e entregaram exatamente o local, dia e horário em que faziam essas reuniões. Arthur me procurou diretamente, para que pudesse interferir e ajudar minha amiga, pois ele temia que nada a parasse, assim como sua mãe e irmã também. Temia pela segurança das mulheres de sua vida. — Elas são teimosas, Majestade. Já falei tanto para elas interromperem por um tempo os rituais, no entanto, não tive sucesso. Não me ouvem e garantem não poder parar agora, se pararem quebrarão uma forte energia. Não entendo muito bem o que querem dizer, sempre que tento as impedir é isso que me dizem. — Fez muito bem em me procurar, Arthur. Serena me contou alguns detalhes importantes desses rituais e entendo o po
O que não queria acreditar que aconteceria, estava com os dias contatos para começar. Mais do que nunca a guerra estava iminente e batia à nossa porta sem piedade. A confusão entre os clãs esquentava a cada dia e o combate já estava oficialmente marcado. Em dois dias, eles se encontrariam no alto da colina, na divisa entre os dois reinos, onde era possível avistar toda a extensão onde os dois clãs viviam, antes, em harmonia. Tentei conversar com Gerald, em um dos momentos que ele parecia satisfeito e permanecia de bom humor durante uma de nossas ceias. Evitava falar com ele, apenas respondia o que me perguntava e só conversava se ele me procurasse, entretanto, aquele assunto estava engasgado e não podia deixar passar a oportunidade de falar o que eu pensava, pelo menos deveria tentar persuadi-lo de alguma forma. — Você já esteve em uma batalha, meu esposo? Pelo que me lembro a resposta é não! — tinha que tirá-lo de sua zona de conforto. — Se já sabes a resposta, então porque pergun
— Não sei porque ainda me surpreendo com seus absurdos. Acredito que seja porque eles são inúmeros e um é sempre mais surpreendente do que o outro, mas desta vez você se superou! — tentei manter a calma para que ele não desconfiasse de tudo o que eu sabia e pareceu acreditar em mim. — Percebo o quanto parece absurdo por você não saber nada sobre esses fatos. Fico imaginando se sua melhor amiga é realmente sua confidente ou lhe esconde algumas coisas temendo ser punida no futuro, ou será que você sabe muita coisa e esconde de todos, tentando agora nesse momento enganar-me? — Somos amigas sim, e não temos nada a esconder uma da outra, por isso tenho certeza de sua sinceridade e de que não participa de nenhuma atividade ilícita. Ela é uma das melhores pessoas que já conheci nessa vida. — Pode ser! Mas se tem algo que tenho certeza é o fato de Serena saber sobre seu deslize com seu primo e imagino que tenha lhe ajudado com sua traição. Somente por isso já poderia puni-la. Não havia pe