SERAFIM Muitas coisas em nossas vidas acontecem de uma forma que, na maioria das vezes, não sabemos explicar, como por exemplo minha trajetória de vida até aquele momento e como havia me tornado Rei. Nasci dentro do castelo e por meus pais serem amigos da Rainha fui batizado por ela. Perdi meu pai em um campo de batalha, em uma guerra sangrenta pela luta do domínio das terras. Meu pai, um dos maiores guerreiros do reino, morreu quando eu tinha quatro anos, defendendo a vida de nossa Rainha. Ela cumpriu a promessa feita no momento de sua morte, cuidou de mim e me treinou para ser um guerreiro como ele e meu avô, e aliás, como ela também, a mulher mais guerreira que já conheci em toda a minha vida. Minha admiração por ela era imensa e acho até que minha mãe percebia e sentia certo ciúmes, apesar de apoiar meus sentimentos por ela. Fui condecorado soldado do exército de Minsk aos dezesseis anos e coroado Rei aos dezoito. Ao mesmo tempo, houve meu casamento com Amélie, mi
Estava naquela manhã perdido em meus pensamentos e, mesmo com a mesa repleta para o desjejum, não conseguia conversar com ninguém. Não conseguia concentrar-me em nada do que diziam, escutava, mas não participava e nem respondia nada a ninguém, até que Felícia, conhecendo-me muito bem, percebeu e me tirou de meus devaneios. — Meu caro primo, o que está acontecendo contigo nessa manhã? Não me pareces muito bem! Alguma preocupação? — Bom dia, Felícia! Obrigada por perguntar, estou bem, apenas alguns problemas relacionados com o reino, nada muito preocupante. — Que bom! Pois precisava muito conversar contigo hoje, será que consegues reservar um tempo para sua querida prima? — Claro que sim! — Ri do semblante infantil que ela fazia, sempre que queria algo de mim, uma mania de infância. Nós dois sempre fomos muito mais do que primos, crescemos juntos e cuidei dela como um irmão mais velho, protegia Felícia como podia, nas brincadeiras com outras crianças do reino, a
FELÍCIA Fiquei feliz por enfim conversar com meu primo. Precisava saber dele o que já havia ouvido sobre Anthony; só me causou surpresa ele não ter sequer uma informação sobre meu amado. Isso me deixou um tanto intrigada e curiosa para encontrá-lo na manhã seguinte e questioná-lo. No caminho para o campo de flores, percebi que estava sendo seguida, disfarcei para que não soubessem, mas consegui virar-me a ponto de ver um dos soldados de Serafim. Decerto ele havia ficado preocupado e quis investigar meu encontro. Não fiquei aborrecida, apenas um pouco incomodada com a situação, era bem constrangedor ser seguida e observada, contudo também demonstrava a preocupação e o cuidado de meu primo, que eu sabia muito bem só querer a minha felicidade. Avistei ao longe no campo um cavalo pastando e logo atrás estava Anthony. Quando percebeu minha presença, sorriu. — Bom dia, nobre cavaleiro! — Bom dia, nobre dama! — Devo parabenizá-lo pela pontualidade hoje, superou
As coisas no castelo pareciam bem calmas. Espalhei as flores pelos vasos, como sempre fazia e segui com minha rotina diária. Não queria que ninguém percebesse a minha ansiedade, mas era inevitável não pensar no dia seguinte. Nem iria colher flores para esperar por Anthony, desejava estar presente quando ele chegasse para conversar com Serafim. Foi um longo dia e uma longa noite. Mal acreditei quando amanheceu novamente e após algumas horas ele chegou. Foi anunciado por um dos guardas e entrou na sala real, onde meu primo o aguardava, sentado em seu trono. — Vossa Majestade Rei Serafim! Anthony, à sua disposição. — Apresentou-se com uma reverência; sorri para ele, mas pude perceber seu semblante preocupado. — Anthony. A que devo a honra de vossa visita? — A honra é toda minha, Majestade! Creio já estar ciente sobre o assunto que me traz até aqui, o meu interesse por vossa prima Felícia aqui presente. — Olhou-me sério, mas enfim sorriu para mim. — Já estou
ANTHONYDIAS ANTES... — Minha amada avó, não sei o que realmente quer dizer com isso, porém entendo que seja com a melhor das intenções! — É claro que sim, meu neto. Tenho a certeza que você entende perfeitamente o que digo. Não podes mais ficar perambulando por aí, sem estar na companhia de nossos guardas, muito menos cavalgar pelo reino vizinho, você sabe muito bem que somos amigos por total conveniência, jamais esqueceremos o que fizeram ao seu tio, meu querido filho Estevam, que Deus o preserve em bom lugar. — Sim, minha avó. Entendo tudo o que aconteceu e sei dessa história com todos os seus detalhes que foram contados a mim pela senhora e por meu pai. Até minha mãe, que não presenciou nada, me contou várias vezes. Isso não significa que eu tenha sido imprudente, como a senhora acabou de me acusar. Não vejo ameaça nenhuma no reino vizinho a ponto de andar sempre acompanhado por guardas em todas as minhas saídas. Aprecio poder ter um pouco de liberdade! — Entendo
Nos encontros seguintes, descobri quem era realmente Felícia. Apesar de perceber que meu coração batia mais forte por ela, aquela descoberta havia me causado certo torpor inesperado. Minha família jamais aceitaria que tivesse qualquer relacionamento com ela, tinha certeza disso. Infelizmente, nossas famílias não eram mais amigas como outrora e mesmo sem que a família dela soubesse, a minha guardava um ódio quase mortal pelo resultado da guerra ocorrida entre nossos reinos. Apesar de minha avó, Rainha Eugênia, na época ter proclamado a paz, após a batalha, derrota e morte de meu tio, Rei Estevam, reinava o rancor em nossa família. Desde que nasci e cresci, ouço falar sobre a guerra, sobre esse rancor e um desejo de vingança foi fincado em meu coração, assim como nos deles também. No entanto agora, tudo parecia estar mudando para mim e um sentimento muito intenso estava nascendo, não conseguia lutar contra ele, era maior que tudo e dissipava qualquer coisa negativa que já
Após minha última conversa com Felícia, havia feito a promessa de que iria a Minsk conversar com seu primo, o Rei Serafim, e com sua família. Pediria a autorização para fazer-lhe a corte. Não conseguia conter minha ansiedade, queria ser sincero e contar toda a verdade sobre quem sou a eles, mesmo sem o apoio de meu pai e minha família. Saí do castelo com dois guardas como escolta. Porém, quando chegamos ao outro reino, pedi para que me esperassem do lado de fora, não queria causar alarde sobre quem sou, antes de me apresentar formalmente. Ao ser anunciado, senti a ansiedade apertar, lá estava ela, linda e tão ansiosa quanto eu, ao lado do Rei, aguardando pela minha chegada. Consegui conversar a sós com o Rei Serafim, que ficou em silêncio ouvindo minha história. Contei toda a verdade sobre minha vida, omiti apenas a parte da vingança, pois não cabia ali naquele momento e minha esperança era que minha família desistisse daquilo tudo que antes também me importava, mas
— Não entendo... Por que não me contou tudo antes, Anthony? Felícia não se conformava ao ouvir tudo sobre mim e com o fato de ter omitido o mais importante a ela, sobre quem eu realmente sou. — Minha querida, agora posso chamar-lhe assim, já que estamos prometidos. Desculpe-me por omitir coisas de tamanha importância sobre mim. Sinto muito por isso, mas a princípio, como lhe disse, foi por cautela e depois por querer colocar tudo às claras com vossa família para não parecer que minhas intenções não eram boas. Desejo de coração que entenda meus motivos e me perdoe por isso, pois foi com a melhor das intenções. — Entendo, porém isso não me tira o direito de estar chateada com vossa pessoa! — Com certeza não, minha amada, mas espero que essa chateação passe logo, farei de tudo para dissipar o que lhe causar qualquer mal. Só quero o seu bem, o nosso bem, só quero estar junto de ti para todo o sempre! — Creio que posso ficar chateada só mais um pouquinho, i