Vitória: Me conta de quem eram essas roupas, Laís.Laís: Da esposa do senhor Davi.Vitória: Ele é casado? Laís: Senhor Davi é viúvo. Vitória: Tão novo e já é viúvo! Por isso ele diz que perdeu as pessoas mais importantes da vida dele: uma delas é a esposa e a outra, quem é Laís? Laís: Desculpa, menina, mas não posso falar mais nada. Vitória: Desculpe, eu entendo. Só fiquei curiosa e queria entender por que ele tem tanta raiva de Deus. Laís: Você lembra muito a dona Samantha. Ela também era temente a Deus e ia todos os domingos à igreja. O senhor Davi, antes, não tinha nada contra, mas depois da tragédia, ele culpou Deus, achando que Ele é culpado de tudo. Desde então, ele é assim: não demonstra agrado para ninguém e só vive no próprio mundo. Vitória: É uma pena ele ser assim. Ele não sabe o que Deus pode fazer na vida dele. Laís: Ele precisa de uma pessoa como você para mostrar que Deus existe e que, se tudo aconteceu, foi por permissão dele. Vitória: Eu sinto que ele é um bom
Davi: O que você descobriu sobre ela? Laís: Ela não quis me contar muita coisa. Só sei que ela está sozinha no mundo e me disse que jamais vai querer que algum homem a toque. Isso me fez entender que ela já foi abusada por alguém. Davi: Agora resta saber quem é o maldito. Vou atrás do desgraçado que fez isso, algo que jamais vou admitir e estuprador seja com quem for. Ele vai ver como é bom ser estrupado. DAVI Depois que a Laís me contou que ela sente nojo dos homens, tive ainda mais certeza de que essa garota foi abusada. Agora, só me resta saber quem foi o desgraçado que fez isso com ela. Uma coisa que jamais irei admitir é mulher sendo abusada. Na minha favela, uma vez aconteceu isso e o cara implorou para morrer. Depois disso, dei um alerta para o morro de que o próximo a fazer isso mataria ele e a família juntos. Depois que Laís saiu, fiquei na minha sala pensando em como vou descobrir mais sobre a vida dessa garota. Lembrei-me da tal igreja onde a encontramos. Passei um rád
VITÓRIA Quando vi que a porta estava sendo destrancada. Achei estranho, porque a Laís já tinha vindo aqui trazer a refeição da noite. Continuei onde estava, mas quando percebi que não era a Laís nem o senhor Davi, me levantei correndo. Me assustei com a presença daquele homem. O olhar dele no meu corpo me deixou apavorada.Vitória: Quem é você e o que faz aqui?- Que isso, gatinha, eu vim te fazer companhia. Imaginei que você poderia estar sozinha. O Davi te jogou aqui como se fosse um bicho e não deixa você sair. Podemos fazer um trato, o que acha?Vitória: Eu não sei do que você está falando e não quero fazer trato com ninguém. Sei que o senhor Davi vai me tirar daqui, ele mesmo me disse isso. - Deixa eu me apresentar: me chamo Júnior, sou vapor do Davi e sei que ele não vai te soltar daqui. Menina você é tão linda para ficar presa num quartinho desse.Vitória: Se estou aqui é porque Deus quis, e devo confiar Nele. Então, só saio quando o senhor Davi me soltar. Agora, por favor,
AVISO DE GATILHOS: cena de violência nesse capítulo.DAVIEstava a caminho do quartinho onde estava a garota, mais parei no topo do morro para ver o movimento, depois da morte da minha esposa, e da minha filha eu praticamente larguei o morro nas mãos dos vapores, não havia ninguém nessas horas na rua, todos já estavam em suas casas.Fiquei tão distante após a morte delas; abandonei tudo, preocupado em encontrar o desgraçado que as matou.Isso me distanciou dos moradores aqui do morro. Não sou mais um dono presente em nada, mas sei que a Samantha não iria querer isso.Tenho que voltar ajudar o pessoal do morro; era isso que ela ia gostar que eu fizesse.Peguei minha moto e desci para o quartinho. Assim que encostei a moto, ouvi gritos da garota pedindo socorro.Corri até o quarto e, na hora em que ia pegar a chave para abrir a porta, escutei a voz de um homem lá dentro. 'Que inferno. Chutei a porta com força e vi o desgraçado do Junior tentando abusar da garota.Davi: 'Você acabou de
DAVI Fui direto para minha casa, entrei no meu quarto, tirei a roupa e coloquei no saco para jogar fora. Fui tomar um banho para tirar o sangue e, na hora em que saí do banho, vi que o machucado do meu braço havia piorado. Na hora em que ia fazer o curativo, escutei os gritos da garota. Sai correndo para o quarto onde ela estava e, ao chegar lá, encontrei-a desesperada, se debatendo e tendo pesadelos. Fui até ela e comecei a chamá-la, mas nada adiantava.Vitória: Não, por favor, não faz isso! Me larga, eu não quero, eu não quero! Por favor, não! Não! Não! Eu imploro, não me toca.Davi: Acorda, Vitória!Começo a gritar, mas nada. A garota estava presa nesse pesadelo. Vou até ela, puxo-a da cama e a abraço, mas ela continua se debatendo, pedindo para não abusar dela.Davi: Vitória, sou eu, Davi. Eu não vou deixar ninguém te machucar. Acorda, isso é só um pesadelo.Eu a abraço apertado e, aos poucos, ela vai parando de se debater e começa a abrir os olhos. Assim que ela me vê, me abr
VITÓRIA Assim que o Davi me disse que eu estava livre e podia ir embora, não fiquei feliz. No primeiro dia que cheguei aqui, implorei para ir, mas hoje sinto que ele precisa de mim.Davi: Você não ouviu, garota. Está livre, pode ir embora.Vitória: Me deixa ficar. Eu posso ajudar o senhor aqui na sua casa como agradecimento por ter me salvado ontem.DaviMandei a garota ir embora; não tinha por que segurá-la aqui, mas, para minha surpresa, ela negou. Davi: Garota, você tem sua casa, sua vida. Não era isso que você queria desde que chegou aqui?Vitória: Davi, sua mão está sangrando. Deixe eu fazer um curativo.Quando olhei para minha mão, vi sangue escorrendo.Vitória: Onde fica o kit para fazer um curativo?Davi: Pode deixar, garota, eu mesmo faço. Fui até o canto da sala onde ficava o kit de socorro e a garota veio atrás. Peguei o kit e fui sentar no sofá. Na hora em que ia começar a fazer o curativo, a garota tomou minha mão. Vitória: Eu faço.Ela se agachou na minha frente e com
VITÓRIA Eu o abracei da mesma forma que Lavinia fazia comigo, e percebo que um abraço pode transmitir muitos sentimentos. Desde que cheguei aqui no morro, não o tinha visto tão vulnerável. Ele me abraçou de volta e ficamos ali, debaixo daquela chuva, até que ele se acalmou. DAVIJá não aguentava mais a dor que sentia pela falta das minhas meninas. Foi então que recebi um abraço apertado e, ao olhar, vi que era a garota. O abraço dela me fez sentir vivo novamente, e eu a abracei de volta, sentindo uma paz imensa. Depois de me acalmar, me afastei um pouco e percebi que ela estava tremendo de frio e toda molhada. Peguei suas mãos e a conduzi para dentro de casa. A deixei sentada no sofá e fui buscar uma toalha e uma coberta para que ela pudesse se aquecer. Vitória: Você não vai se trocar? Assim vai acabar pegando um resfriado.Davi: Garota, eu já estou acostumado. Por que foi até lá fora debaixo daquela chuva me abraçar?Vitória: Eu senti que você precisava de um abraço.Davi: Não que
VITÓRIA Estava determinada a não ir embora, mesmo com a resistência do Davi em relação à minha decisão. Quero mostrar a ele que Deus não tem culpa por nada. Quando ele se aproximou e olhou nos meus olhos, fiquei nervosa, mas não desviei o olhar. Após o que ocorreu, eu nunca desejei ter contato com outro homem; só de imaginar estar perto deles, sentia medo. No entanto, com Davi foi diferente; não senti medo, pois sei que ele nunca me faria mal. A maneira como ele me tratou, cuidando de mim após termos entrado molhados, fez com que eu tivesse mais certeza de que, embora ele possa parecer uma pessoa difícil com os outros, eu sei que ele é um bom homem. Vou me empenhar para que ele volte a ser como antes e perceba que Deus não tem culpa de nada. Quando eu o enfrentei e disse que não iria embora, ele virou as costas e me deixou sozinha na sala. Eu me levantei e fui para o meu quarto. Antes do meu sequestro, eu me sentia bastante solitária. Somente quando ia à igreja encontrava conforto