VITÓRIA Quando vi que a porta estava sendo destrancada. Achei estranho, porque a Laís já tinha vindo aqui trazer a refeição da noite. Continuei onde estava, mas quando percebi que não era a Laís nem o senhor Davi, me levantei correndo. Me assustei com a presença daquele homem. O olhar dele no meu corpo me deixou apavorada.Vitória: Quem é você e o que faz aqui?- Que isso, gatinha, eu vim te fazer companhia. Imaginei que você poderia estar sozinha. O Davi te jogou aqui como se fosse um bicho e não deixa você sair. Podemos fazer um trato, o que acha?Vitória: Eu não sei do que você está falando e não quero fazer trato com ninguém. Sei que o senhor Davi vai me tirar daqui, ele mesmo me disse isso. - Deixa eu me apresentar: me chamo Júnior, sou vapor do Davi e sei que ele não vai te soltar daqui. Menina você é tão linda para ficar presa num quartinho desse.Vitória: Se estou aqui é porque Deus quis, e devo confiar Nele. Então, só saio quando o senhor Davi me soltar. Agora, por favor,
AVISO DE GATILHOS: cena de violência nesse capítulo.DAVIEstava a caminho do quartinho onde estava a garota, mais parei no topo do morro para ver o movimento, depois da morte da minha esposa, e da minha filha eu praticamente larguei o morro nas mãos dos vapores, não havia ninguém nessas horas na rua, todos já estavam em suas casas.Fiquei tão distante após a morte delas; abandonei tudo, preocupado em encontrar o desgraçado que as matou.Isso me distanciou dos moradores aqui do morro. Não sou mais um dono presente em nada, mas sei que a Samantha não iria querer isso.Tenho que voltar ajudar o pessoal do morro; era isso que ela ia gostar que eu fizesse.Peguei minha moto e desci para o quartinho. Assim que encostei a moto, ouvi gritos da garota pedindo socorro.Corri até o quarto e, na hora em que ia pegar a chave para abrir a porta, escutei a voz de um homem lá dentro. 'Que inferno. Chutei a porta com força e vi o desgraçado do Junior tentando abusar da garota.Davi: 'Você acabou de
DAVI Fui direto para minha casa, entrei no meu quarto, tirei a roupa e coloquei no saco para jogar fora. Fui tomar um banho para tirar o sangue e, na hora em que saí do banho, vi que o machucado do meu braço havia piorado. Na hora em que ia fazer o curativo, escutei os gritos da garota. Sai correndo para o quarto onde ela estava e, ao chegar lá, encontrei-a desesperada, se debatendo e tendo pesadelos. Fui até ela e comecei a chamá-la, mas nada adiantava.Vitória: Não, por favor, não faz isso! Me larga, eu não quero, eu não quero! Por favor, não! Não! Não! Eu imploro, não me toca.Davi: Acorda, Vitória!Começo a gritar, mas nada. A garota estava presa nesse pesadelo. Vou até ela, puxo-a da cama e a abraço, mas ela continua se debatendo, pedindo para não abusar dela.Davi: Vitória, sou eu, Davi. Eu não vou deixar ninguém te machucar. Acorda, isso é só um pesadelo.Eu a abraço apertado e, aos poucos, ela vai parando de se debater e começa a abrir os olhos. Assim que ela me vê, me abr
VITÓRIA Assim que o Davi me disse que eu estava livre e podia ir embora, não fiquei feliz. No primeiro dia que cheguei aqui, implorei para ir, mas hoje sinto que ele precisa de mim.Davi: Você não ouviu, garota. Está livre, pode ir embora.Vitória: Me deixa ficar. Eu posso ajudar o senhor aqui na sua casa como agradecimento por ter me salvado ontem.DaviMandei a garota ir embora; não tinha por que segurá-la aqui, mas, para minha surpresa, ela negou. Davi: Garota, você tem sua casa, sua vida. Não era isso que você queria desde que chegou aqui?Vitória: Davi, sua mão está sangrando. Deixe eu fazer um curativo.Quando olhei para minha mão, vi sangue escorrendo.Vitória: Onde fica o kit para fazer um curativo?Davi: Pode deixar, garota, eu mesmo faço. Fui até o canto da sala onde ficava o kit de socorro e a garota veio atrás. Peguei o kit e fui sentar no sofá. Na hora em que ia começar a fazer o curativo, a garota tomou minha mão. Vitória: Eu faço.Ela se agachou na minha frente e com
VITÓRIA Eu o abracei da mesma forma que Lavinia fazia comigo, e percebo que um abraço pode transmitir muitos sentimentos. Desde que cheguei aqui no morro, não o tinha visto tão vulnerável. Ele me abraçou de volta e ficamos ali, debaixo daquela chuva, até que ele se acalmou. DAVIJá não aguentava mais a dor que sentia pela falta das minhas meninas. Foi então que recebi um abraço apertado e, ao olhar, vi que era a garota. O abraço dela me fez sentir vivo novamente, e eu a abracei de volta, sentindo uma paz imensa. Depois de me acalmar, me afastei um pouco e percebi que ela estava tremendo de frio e toda molhada. Peguei suas mãos e a conduzi para dentro de casa. A deixei sentada no sofá e fui buscar uma toalha e uma coberta para que ela pudesse se aquecer. Vitória: Você não vai se trocar? Assim vai acabar pegando um resfriado.Davi: Garota, eu já estou acostumado. Por que foi até lá fora debaixo daquela chuva me abraçar?Vitória: Eu senti que você precisava de um abraço.Davi: Não que
VITÓRIA Estava determinada a não ir embora, mesmo com a resistência do Davi em relação à minha decisão. Quero mostrar a ele que Deus não tem culpa por nada. Quando ele se aproximou e olhou nos meus olhos, fiquei nervosa, mas não desviei o olhar. Após o que ocorreu, eu nunca desejei ter contato com outro homem; só de imaginar estar perto deles, sentia medo. No entanto, com Davi foi diferente; não senti medo, pois sei que ele nunca me faria mal. A maneira como ele me tratou, cuidando de mim após termos entrado molhados, fez com que eu tivesse mais certeza de que, embora ele possa parecer uma pessoa difícil com os outros, eu sei que ele é um bom homem. Vou me empenhar para que ele volte a ser como antes e perceba que Deus não tem culpa de nada. Quando eu o enfrentei e disse que não iria embora, ele virou as costas e me deixou sozinha na sala. Eu me levantei e fui para o meu quarto. Antes do meu sequestro, eu me sentia bastante solitária. Somente quando ia à igreja encontrava conforto
DAVIDepois de muitos anos, consegui finalmente dormir algumas horas. Levantei-me, fiz minha higiene e desci para tomar um café forte. Assim que cheguei à cozinha, encontrei a mesa toda arrumada, algo que não via desde que minha esposa faleceu. Olhei ao redor e não vi ninguém; pensei que poderia ser a empregada que sempre vem aqui para limpar a casa. Sentei-me e servi apenas o café, levei um susto ao ouvir a voz da garota atrás de mim.Vitória: Bom dia, Davi. Davi: Quer me matar de susto, garota! Achei que você já tinha ido embora.Vitória: Eu já disse que não vou embora, vou ficar aqui com você na sua casa.Davi: Quando eu te trouxe para cá, você não era tão desaforada assim.Vitória: Eu só sou assim com as pessoas que eu gosto, e você é especial para mim.Davi: Olha, menina, eu não sou o homem que você pensa que sou. Não adianta achar que eu vou me render ao seu Deus, porque isso não vai acontecer. Eu sou um caso perdido, garota. Vitória: Eu sempre busco enxergar o lado positivo d
VITÓRIA Depois do café da manhã, Davi não retornou para casa. Preparei o almoço e fiz uma boa limpeza na casa. Após a faxina, fui ao meu quarto, me ajoelhei e iniciei uma conversa com Deus.VITÓRIA: Senhor, peço que me ajude a transformar a vida do Davi. Ele o culpa pelas suas perdas e sei que isso lhe causa muito sofrimento. Enquanto ele mantiver essa mágoa guardada, nunca conseguirá se libertar. Ajude-me a mostrar a ele que você está sempre nos protegendo. Termino minha oração e ouço batidas na porta. Desço correndo a escada, abro e é a Laís. Abraço-a apertado.Laís: Oi, menina! Como você está?Vitória: Estou bem, Laís, e você? Entre!Laís: Estou bem. O senhor Davi disse que você ainda não quis ir embora.Vitória: Eu não vou. Quero ficar aqui com ele.Laís: Menina, você está gostando dele! Vitória: Sinto algo especial por ele; talvez seja gratidão, mas não sei se é amor. Acredito que não, pois nunca amei ninguém. Laís, eu nunca quis ter contato com nenhum homem, mas quando ele es