Mathieu— Debra? — eu estava em choque, para dizer o mínimo. Coloquei as mãos no rosto na tentativa de acordar de um pesadelo, porque aquilo não era sonho, tampouco parecia realidade. — Mat... eu voltei. — disse ela. — Voltou da onde? Do inferno? Porque do céu me parece pouco provável. — soltei um riso abafado, totalmente incrédulo e desnorteado, comecei andar de um lado ao outro na sala, já sentindo a ansiedade aumentar e as mãos começarem a tremer.Ela estava morta! — Mat... — Louise se aproximou e tocou o meu braço, mas não respondi por mim. — Não me toque! — gritei quase a empurrando e ela me olhou assustada.— Mat… precisa se acalmar…— Louise insistiu com cautela e olhou para o fantasma na sala. — Vá embora Debra ou seja lá qual for seu nome, acredite em mim, você não quer ver o Mathieu furioso, depois vocês conversam. Ela veio até nós colocando a bolsa sobre o ombro e antes de sair, parou de frente para mim, deixando claro que aquilo não era um sonho.— Posso entender que e
MathieuNão era surpresa para mim que meu pai pudesse estar envolvido nessa história, mas isso me deixou com ainda mais ódio daquele homem, por tudo que ele fez minha família passar e a bagunça que fez em nossas vidas, restava a mim e meus irmãos consertar os erros dele e seguir em frente. Tudo seria mais fácil se não fosse por ele. Eu precisava ser cauteloso com Debra e descobrir alguma maneira de vencê-la num possível tribunal, seria minha palavra contra a dela então no mínimo eu precisava de tempo. Não podia arriscar, ela tinha em mãos a chance de me colocar na cadeia, então eu teria que seguir o jogo dela, apenas até encontrar algo contra ela ou uma prova de que ela abandonou a filha comigo. O único problema é que fazer a vontade de Debra significava afastar a Louise. Pela manhã levantei um pouco mais tarde, para não ter companhia no café da manhã. Eu não estava pronto para abrir mão de nenhuma das duas, era uma decisão difícil, mas perder minha filha estava fora de cogitação e
LouiseQuando Mat me disse o que Debra queria, eu sabia que ela não desistiria facilmente. Se ela decidiu voltar após tanto tempo, não seria um simples "não" que a faria parar. Ela não ia desistir até ter o que queria e para isso ela jogou sujo. Sarah não estava na escola quando fui buscá-la. Imediatamente liguei para o Mathieu enquanto me dirigia até a sala da diretora para ver as câmeras. — Sarah Bresson sumiu. — falei assim que entrei na sala. — Preciso ver as câmeras para descobrir quem pode ter levado ela e para onde. A mulher que meses atrás me mandou embora alegando má conduta se levantou rapidamente e cruzou os braços. — Louise Santos, não esperava te ver novamente na minha sala. — respondeu apenas isso. — Ouviu o que eu falei? Uma de suas alunas sumiu! Eu deixei ela aqui hoje cedo e quando voltei para buscá-la, ela não estava e ninguém a viu saindo. — eu já estava com os nervos à flor da pele, preocupada com Sarah e ansiosa com toda a situação em que estávamos. — Já pens
MathieuEu havia ligado para a polícia para notificar o desaparecimento da minha filha, mas quando Louise me ligou dizendo que estava indo embora, eu sabia que Debra havia ganhado a primeira batalha. Eu não iria desistir, mas eu precisava aceitar que o melhor a se fazer era deixar a poeira abaixar. Quando cheguei no shopping, encontrei Debra tomando um sorvete tranquilamente enquanto Sarah cabisbaixa nem mesmo havia tocado no sorvete em cima da mesa. Assim que me viu ela correu até mim, a peguei no colo e ela começou a chorar afirmando que Louise tinha ido embora. Não sabia o que dizer, acho que eu também precisava ser consolado. Estive sendo rude com ela e sequer disse que a amava antes que ela partisse. Debra se aproximou e tocou nas costas da Sarah, sorriu e passou por mim. Eu não podia acreditar na frieza daquela mulher, usou a própria filha para chegar onde queria, isso era uma clara prova de que ela não a amava. Mas talvez aquilo fosse algo que eu pudesse usar contra ela.Volt
LouiseO sítio da minha avó continuava como eu me lembrava, mas eu já não era a mesma mulher que o visitou cerca de um ano atrás e os motivos que me trouxeram não eram nada parecidos. Eu não sabia por quanto tempo ficaria, mas sabia que era necessário. Nova Iorque não me trouxe nada além de tristezas e traumas e eu não pretendia voltar. Minha avó Luzia me recebeu com um abraço apertado, ela era bem mais baixa que eu e precisei me abaixar, ainda assim era o melhor abraço do mundo. Como apareci de surpresa, só estava ela e minha prima Marcely em casa. Eu e Marcely tínhamos a mesma idade e nos vimos poucas vezes, mas sempre me lembrava do quanto ela era bonita com seus cabelos pretos e lisos e olhos azuis como os da nossa avó. — Vó, vim para ficar por um tempo, até eu decidir para onde vou. — avisei, ao entrar na casa de alvenaria com assoalho de madeira. Na sala, fotos dos netos, das filhas e seus maridos estavam por toda parte. As minhas preferidas eram da minha mãe, é claro, fazia t
LouiseEm pouco tempo eu me adaptei a vida na roça, aprendi palavras novas, a montar em cavalo e que um bom cochilo depois do almoço é essencial. Meu guarda roupa mudou, acabei guardando as roupas que trouxe de Nova Iorque nas malas, para dar espaço ao jeans e camiseta básica, que eram muito mais práticas no dia a dia. Além, é claro, das botas e chapéu. Descobri que os tênis rasgam e encardem facilmente, por isso as botas de couro eram preferíveis e os chapéus faziam uma ótima sombra ao se trabalhar no sol. Antes eu achava que o estilo era por moda, mas apenas o cinto era. O fim de ano foi pura festa, para quem bebia ainda mais. Vieram pessoas de vários lugares passar a virada do ano conosco. A cozinha era um amontoado de mulheres conversando enquanto vovó e dona Zeni faziam os pratos principais, visto que cada uma trouxe algo de casa. Vovô e os outros homens assavam as carnes, começaram cedo porque minha avó queria costela ao fogo de chão. Tiveram que matar um dos bois para esse chu
MathieuPassar os dias sob o mesmo teto que Debra foi insuportável. Eu passava os dias trancado no escritório trabalhando junto com a Sarah, que preferia ficar comigo sabendo que ela sempre tinha algum comentário desagradável para fazer. Ela reclamava da comida, das roupas, do apartamento, de mim, do governo… tudo era motivo para reclamar. Ela mudou os móveis de lugar e todos os dias chegavam coisas inúteis que ela comprou pela internet. Os meses foram se passando e embora gradativamente os comércios iam abrindo, Debra vivia constantemente estressada, ninguém a suportava mais, nem mesmo Mandy a empregada que morava conosco e no início gostava dela. Todos os dias ela arrumava algum motivo para discutir com alguém e estava sendo um verdadeiro teste de autocontrole para mim. Para me dar um certo alívio, conheci Clara Bars, que morava no andar de baixo. Certo dia, a loira de um 1,60m, precisou de um pouco de açúcar para terminar um bolo e bateu na nossa porta. Eu atendi e lhe dei o açúc
Louise Mais de um ano se passou desde que pisei os pés no Brasil. Eu não imaginava que ficaria tanto tempo, nem que eu mudaria tanto ou que uma pandemia aconteceria. Num belo dia no outono brasileiro, que basicamente era apenas um pouco menos quente, Pedro me chamou para um piquenique, preparei algumas comidas e fomos cavalgando até uma árvore, quase nos limites entre nós e os vizinhos. Pedro estendeu uma toalha na grama macia e coloquei a mochila com as frutas e lanches que levei. — Você gosta daqui, Lou? Do sítio? — ele perguntou. — Sim, mas sinceramente, consigo entender porque minha mãe sonhava em ir para outro lugar. — afirmei, pensando na história que quando pequena eu amava ouvir. — Então você voltaria para os Estados Unidos? — aquela era uma pergunta difícil, eu gostava da vida simples no sítio, mas sentia falta da cidade, das festas e ser modelo. Sentia falta do Mathieu e da Sarah.— Eu não sei… tenho vontade de voltar algum dia, não sei se para ficar, mas sinto saudades.