Dhornnith, 1018. Sem esperar, ejunn Gannemar, o theores ayehdomann, fora acordado no meio da noite. Sequer teve tempo para que completasse, decentemente, sua higiene própria. A guarda sacerdotal de Sellenia, os hagor kirathenn, praticamente puseram sua porta abaixo. Algo de muito importante deveria estar acontecendo. Mal abriu a porta, o kiptchonn (capitão) da guarda, Awderann Zolanbuhr, quase o atropelou.
– Nom kyhonn ejunn Gannemar! Nirynn deevann eej thivann iid Emann (Vida eterna na glória de Emann)! Desculpe o jeito rude. Contudo, a bazer kirathenn exige sua presença imediatamente.
– Humm... Emann law-sinn-bah ho siseh thivann mijl (Emann foi-será sua própria glória)! Sem problemas com o seu jeito rude, kiptchonn Awderann. – Emitiu uma risadinha aguda e curta. – Às vezes ate gosto. Tenho
Dhornnith, 1018.Ywrrynnlünd, a fazenda da família Zondrakk em Menamamunn anoitecia serena. Udrer sorria docemente ao perceber que Gwydionn e Twyrann ainda estavam em êxtase por causa da visita de seus primos e amigos, que tinham vindo dois dias atrás, para a ocasião do aniversário de Gwydionn.A última caravana, a de seu irmão Alder Zondrakk, retirou-se quase ao cair da noite. Os pupinne passaram a tarde inteira, entretidos em passeios à cachoeira, cavalgadas e jogos de adivinhação propostos por Annzschor.Daurann, Annahk, Haylah, Liryath e Lussidith também estavam entre os pupinne, que emprestavam vigor e alegria à fazenda. Enquanto eles se divertiam, os kiranne Alder de Hemporia e Ethannor de Sellenia, o Dux Gladium Other, O primeiro general de Munnobohria Arganthus Muk’rinn e seu filho Anmdall (que na época já era um macho ad
– Parece preocupado, querido.– Não é nada.Sim, era algo. Ela costumava reconhecer as expressões que seu marido assumia quando estava para atravessar alguma tempestade. Sua bela fronte tornava-se pesada. O semblante gentil que, na maior parte do tempo, emoldurava-lhe o rosto, transformava-se em cautela, reflexão profunda e angústia. Concentrado por uma enorme preocupação com todos aqueles a quem amava e que depositavam nele suas esperanças, alegrias... Vidas. Sua esposa e suas filhas, seus soldados, seus amigos e aliados e seu povo. Após tantos anos juntos, Sannyria saberia. E tinha praticamente certeza que a razão de tudo, teria sido a conversa que seu marido e seu grupo seleto de amigos tiveram, a portas fechadas, em Ywrrynnlünd.Uma tormenta aproximava-se, e ela sabia. Sua filha mais velha acordava à noite aos gritos, como se fosse desperta pelo lamento dos mortos,
Athonnor, 1020.Fazia dois anos que Gwydionn e Twyrann haviam chegado a Hydrynn. Desde esse tempo, habituaram-se a chamar o gigantesco castelo de lar, embora tenham estranhado muito o lugar no primeiro dia em que ultrapassaram os enormes portões de metal maciço e transpuseram o fosso profundo e escuro que protegia a morada de Grayinn.Localizada em uma rochosa faixa de terra, que desafiava o oceano, no território de Britangel, Hydrynn era praticamente uma ilha, suspensa por pelo menos sessenta metros acima do nível do mar. Para alcançá-la seria preciso percorrer uma estrada ladeada por enormes muralhas construídas ao redor da estreita faixa que ligava o castelo ao litoral. E não era uma distância tão curta, pois cerca de meia hora ao menos (em marcha de equinodonn) seria gasta para essa travessia, totalizando cinco potheoth. Isso se não fossem parados constantemente.Os
Pegamos um navio em Shideshi, porto principal dentro do território de Harau. Estávamos nos findos de Aeshennay, ano de 1018. A brisa marítima que soprava e assanhava meus cabelos era algo que eu nunca havia sentido antes. Via a vela ruflando com o vento. Até o barulho que ela fazia era fantástico. Nunca antes viajara de navio. Com as mãos sobre a amurada da embarcação eu observava a costa. Embora estivesse completamente extasiada pelas sensações despertadas sucessivamente, tudo parecia tão distante, tão irreal, como um pesadelo, ou talvez um sonho enigmático. Contudo, se assim fosse, meus pais estariam me esperando no porto de destino. Eu tristemente sabia que isso não aconteceria.Já havíamos passado pela cidade portuária de Neeje’bor, já que nossa nau teve que desviar-se levemente de seu caminho para descarregar mercadorias lá e recarreg
Gehtarynn, 1022.Quatro anos em Hydrynn não efetuaram uma mudança profunda no temperamento do jovem Gwydionn, porém, com certeza, ajudaram a moderar um pouco os ímpetos do lodwann. Já não desobedecia Grayinn com tanta frequência, a não ser por suas visitas constantes a Tamarin, o castelo de Zaehr. Tinha a nítida impressão de que a ladwynn que habitava a torre também o percebia. Seu nome era ejissann Mylandra, pelo que ouvira muitas vezes chamarem-na, ou a ela se referirem. Contudo, Gwydionn não alimentava nenhum tipo de sonhos ou esperanças. Para ele, ela apenas se tornara uma espécie de amiga silenciosa. Parecia que a misteriosa ladwynn compartilhava com ele a mesma solidão e falta de perspectivas.Gwydionn sonhava constantemente com Annahk. Via-a em seus sonhos, como se também tivesse crescido e se tornado uma bela lad
Gehtarynn, 1022.Acordei com batidas fortes na porta.– Mylandra! Mylandra! – Gritava Yaartide.Só então me dei conta do quão tarde era, pois o sol já iluminava meu quarto. Saltei da cama e corri até a porta.– Desculpe, perdi a hora!– Não temos tempo para isso! Visitantes ilustres, amigos de longa data do ejunn, chegaram ao castelo. Apronte-se rápido e me ajude com a recepção.– Sim!Mal tive tempo de lavar o rosto e me trocar. Segui direto para o salão de refeições para preparar a mesa enquanto Yaartide acelerava a cozinha. Ejunn Zaehr ainda estava no varchamber hexagonal com seus visitantes. Segui para a cozinha e aquele lugar estava um alvoroço. As duas cozinheiras contratadas pelo ejunn estavam a todo vapor. Seria uma refeição muito requintada para um desjejum.
Dhornnith, 1022.Após cavalgar durante quatro longos dias e noites, quase sem parar para descansar, Hyponnor, o equinodonn que Grayinn lhe dera, começava já a demonstrar imenso cansaço. Os poucos conhecimentos de Gwydionn sobre sekhonngenozenn de seu mundo restringiam-se às aulas que tivera (das quais nunca gostou) quando ainda jovem nas cortes de Hemporia e Sellenia, além de umas poucas informações que captara aqui e acolá por intermédio do próprio Grayinn e de outros viajantes que encontrara no caminho. Contudo, pouco importava. Hemporia estava fora de cogitação, Sellenia era um lugar muito dispendioso para as parcas moedas que o jovem dispunha, além de que ainda lhe trazia dolorosas recordações. Gwydionn não sabia para onde ir ou por onde começar, ou ao menos se deveria começar algo, que nem ele sabia exatamente o que seria.
Sentara-se diante da negra esfera. Com um gesto dispensou todos os criados. Estava em seus aposentos. Os aposentos do Füq Maweth.Acendeu as tochas já preparadas com o óleo de mandrilacta. Precisava de memórias. Apenas as que fossem úteis.Passou um dedo ao redor da esfera. Deveria dar um nome a essa coisa...Uma espécie de névoa negra começou a se mexer, revelando camadas de outras névoas em inúmeras e diferentes cores. Conforme abria as nuvens com as mãos revelava imagens de seu passado. Voltou ao dia em que os dragões caíram. Na fatídica noite da morte de Udrer, Ethannor, Alder e suas respectivas famílias, as caravanas de Syerzsche Maledikth, Other Zondrakk e Soleimann Vanderthel seguiram juntas, protegidas por Arganthus Muk’rinn, seu filho Anmdall e seus guerreiros, rumando para o norte de Diaphanes. O trajeto estipulado era que segu