Meu nome é Koverdall Thavidzon. Eu fui um ayehdomann, eu fui um bardo e acabei me tornando um bom lutador. Eu cavalguei com as lendas e vi de perto os maiores guerreiros de todos os tempos travarem batalhas inimagináveis, tão grandiosas quanto a batalha travada por Heinnthal e suas tropas divinas contra os devannyr, frente aos portões de Walshavalla.
Vim narrar, para vocês, a história que nunca foi contada. A verdadeira história dos heróis que mudaram o destino de Sekhairiann. Porque eu estava entre eles. Eu abandonei minha guitarra e empunhei uma espada para fazer parte de uma orquestra incomparável. Ouvi e ajudei a executar a sinfonia do clamor de espadas, escudos e todas as armas. Ajudei a compor a canção mais bela da história de nosso mundo. A canção que ficará imortalizada e que comoverá todos os deuses no dia em que Emann resolver iniciar o ju
Menamamunn assim foi batizada por causa de seus vastos campos de grama verde e cheirosa. A terra das incontáveis manadas de mamunnene. Um território composto por centenas de fazendas e alguns raros e pequenos vilarejos. Uma terra estritamente rural, na qual os diaphanesianos (nativos de Diaphanes, território que abriga o reino de Sellenia) buscavam a tranquilidade da vida em contato com a natureza, dedicando-se à criação de mamunnene, equinodonne, capriorniuse, suinnene, rhitujine, as aves ovíparas ulhodrine e outros mais. Terra em que, mesmo durante Kurishay, a estação mais fria do ano, ainda assim mantinha um clima que permanecia sempre agradável.Era o mês de Paliknny, do ano de 1016. Udrer Zondrakk e seus dois filhos, Gwydionn e Twyrann, cavalgavam por Ywrrynnlünd, nome com o qual fora batizada a fazenda da família
Gehtarynn, 1018.“Meu nome é Annahk Thennoryah, zon iid Sannyria, jon iid Kazenarad, filha sagrada de Kirasynn, a deusa da luz sagrada. Destinada a ser uma ptherynn...”– Ahh! Isso não está nada bom... – Reclamei, amassando a folha recém-escrita e jogando-a em um canto, juntamente com outras dezenas de bolinhas de papel. – Como é que eu vou fazer essa redação? Tudo me parece tão fútil e tão sem finalidade...Batidas na porta do quarto me alertaram, assustando-me ao espantar todas as minhas divagações.– Annahk, filha. Você já terminou sua lição? – Perguntou uma voz incisiva do outro lado da porta.– Estou quase lá, bazer!Olhei para o montante de bolinhas pelo chão e tratei de recolhê-las e colocá-las na cestinha de lixo, a
Estava ela lá. Dadar...Sentada na varandinha de seu casebre, com o sol batendo apenas em suas pernas. Como sempre, tentando perfurar com seus olhos vazios o véu para outros mundos que ninguém mais via. A eldrenn sempre fora quase muda, além de cega. Muda, muda exatamente não... Fora quase muda para a maioria do povoado desde que se lembrassem dela.Quase não sorria. Tinha uma expressão sempre perdida em devaneios, talvez meio distante de Midharenn, vagando em mundos secretos e invisíveis. Não era como os outros cegos que pareciam esforçarem-se para enxergarem aquilo que nunca conseguiriam, tateando o ar com o nariz. Os músculos de seu rosto estavam sempre em paz com o ambiente, sem precisarem enfrentá-lo na busca desesperada de algo. Ela parecia cega antes mesmo de nascer, como se não tivesse nunca imaginado que os outros pudessem enxergar.Na verdade talvez nem
Thalitynn, 1017.O céu vermelho em Hadennor estrondava. Ameaçando, provocando, conclamando as tropas à que desfiassem seu terreno mortal e hostil. A tempestade castigava os invasores. Lavava suas feridas, encharcava suas armaduras, embotava sua visão deixando o solo pastoso e impossível para que equinodonne (a espécie equina de Sekhairiann), qyeratotherione (animal semelhante ao rinoceronte), loxodontene (um tipo de gigantesco mamute encouraçado com três trombas), struthiotyne (ave bastante parecida com o avestruz) e demais tipos de montarias pudessem prosseguir em sua marcha.Kaetann Vallais, o bardo, entoava uma canção monótona e irritante, na qual fazia trocadilhos insossos, cacarejando ao narrar a grande aventura das tropas que resolveram fazer uma empreitada independente contra Balluth.Do alto de seu equinodonn ele (o suposto líde
Dhornnith, 1018. Sem esperar, ejunn Gannemar, o theores ayehdomann, fora acordado no meio da noite. Sequer teve tempo para que completasse, decentemente, sua higiene própria. A guarda sacerdotal de Sellenia, os hagor kirathenn, praticamente puseram sua porta abaixo. Algo de muito importante deveria estar acontecendo. Mal abriu a porta, o kiptchonn (capitão) da guarda, Awderann Zolanbuhr, quase o atropelou.– Nom kyhonn ejunn Gannemar! Nirynn deevann eej thivann iid Emann (Vida eterna na glória de Emann)! Desculpe o jeito rude. Contudo, a bazer kirathenn exige sua presença imediatamente.– Humm... Emann law-sinn-bah ho siseh thivann mijl (Emann foi-será sua própria glória)! Sem problemas com o seu jeito rude, kiptchonn Awderann. – Emitiu uma risadinha aguda e curta. – Às vezes ate gosto. Tenho
Dhornnith, 1018.Ywrrynnlünd, a fazenda da família Zondrakk em Menamamunn anoitecia serena. Udrer sorria docemente ao perceber que Gwydionn e Twyrann ainda estavam em êxtase por causa da visita de seus primos e amigos, que tinham vindo dois dias atrás, para a ocasião do aniversário de Gwydionn.A última caravana, a de seu irmão Alder Zondrakk, retirou-se quase ao cair da noite. Os pupinne passaram a tarde inteira, entretidos em passeios à cachoeira, cavalgadas e jogos de adivinhação propostos por Annzschor.Daurann, Annahk, Haylah, Liryath e Lussidith também estavam entre os pupinne, que emprestavam vigor e alegria à fazenda. Enquanto eles se divertiam, os kiranne Alder de Hemporia e Ethannor de Sellenia, o Dux Gladium Other, O primeiro general de Munnobohria Arganthus Muk’rinn e seu filho Anmdall (que na época já era um macho ad
– Parece preocupado, querido.– Não é nada.Sim, era algo. Ela costumava reconhecer as expressões que seu marido assumia quando estava para atravessar alguma tempestade. Sua bela fronte tornava-se pesada. O semblante gentil que, na maior parte do tempo, emoldurava-lhe o rosto, transformava-se em cautela, reflexão profunda e angústia. Concentrado por uma enorme preocupação com todos aqueles a quem amava e que depositavam nele suas esperanças, alegrias... Vidas. Sua esposa e suas filhas, seus soldados, seus amigos e aliados e seu povo. Após tantos anos juntos, Sannyria saberia. E tinha praticamente certeza que a razão de tudo, teria sido a conversa que seu marido e seu grupo seleto de amigos tiveram, a portas fechadas, em Ywrrynnlünd.Uma tormenta aproximava-se, e ela sabia. Sua filha mais velha acordava à noite aos gritos, como se fosse desperta pelo lamento dos mortos,
Athonnor, 1020.Fazia dois anos que Gwydionn e Twyrann haviam chegado a Hydrynn. Desde esse tempo, habituaram-se a chamar o gigantesco castelo de lar, embora tenham estranhado muito o lugar no primeiro dia em que ultrapassaram os enormes portões de metal maciço e transpuseram o fosso profundo e escuro que protegia a morada de Grayinn.Localizada em uma rochosa faixa de terra, que desafiava o oceano, no território de Britangel, Hydrynn era praticamente uma ilha, suspensa por pelo menos sessenta metros acima do nível do mar. Para alcançá-la seria preciso percorrer uma estrada ladeada por enormes muralhas construídas ao redor da estreita faixa que ligava o castelo ao litoral. E não era uma distância tão curta, pois cerca de meia hora ao menos (em marcha de equinodonn) seria gasta para essa travessia, totalizando cinco potheoth. Isso se não fossem parados constantemente.Os