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Capítulo 02 — Destino Traiçoeiro – Parte 02

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— Por Dieu, mana! — quem falava era Bressane, irmão de Annabel, numa embarcação escondida, dentro de uma das cavernas de Rocher. — Esse tal de Hendrick está perto de descobrir nosso plano de ataque!

— Então, só existe um meio de pará-lo, mano! — Annabel disse, com seus olhos faiscando. — Vamos sequestrá-lo e trazê-lo para nossa embarcação! Temos que invadir o navio desse homem, mesmo sendo muito arriscado!

— De total acordo, mana! — Bressane concordou. — Com esse homem em nossas mãos, como é extremamente importante para a Inglaterra, pensarão duas vezes antes de enfrentar-nos de novo!

Assim, naquela mesma noite, Hendrick estava comendo normalmente, sem saber que destino estava prestes a enfrentar...

Sem saber de nada, seus homens foram dopados com láudano pelos cozinheiros, além de Hendrick, que adormeceu pouco depois de tomar vinho tinto. Assim, com todos os homens dormindo, um pequeno bote apareceu e sem dificuldade nenhuma, seus homens entraram na embarcação de Hendrick, que estava muito sonolento e seus oficiais também, pegaram Hendrick e foram embora, levando-o adormecido completamente.

Na manhã seguinte, Hendrick acordou com uma baita dor de cabeça e aos poucos, percebeu o que estava acontecendo... Se encontrava amarrado numa cama e olhando para os lados, não reconheceu em que lugar estava. Tentou se soltar, mas estava firmemente enlaçado.

Começou a gritar, pedindo socorro, porque não sabia o que estava acontecendo, afinal de contas. Pelos seus cálculos e pelo sol que entrava por uma janela, era de dia.

Foi quando uma porta se abriu e Hendrick ficou cego momentaneamente, sem identificar quem estava na sua frente.

— Bon jour, Monsieur Hendrick... — uma voz macia tomou conta do ambiente. — Como se sente essa manhã?

Hendrick engoliu em seco... Sabia reconhecer aquela voz... Não podia ser, não podia ser verdade, o que estava fazendo ali? Só podia estar num pesadelo!

— Apenas vim dar-lhe alguns avisos... — a voz de Annabel era macia e aveludada. — Nosso casamento vai se realizar dentro de meia hora, espero que esteja apresentável até lá, seu valete virá trocá-lo para nossa cerimônia...

— O que você está falando, mulher demoníaca? Como eu vim parar aqui? — Hendrick estava horrorizado. — Como pretende se casar comigo? Está louca?

— Não, mon cher, não estou louca! — Annabel deu um meio sorriso, com seu rosto sendo escondido pela infalível máscara que usava com seu irmão Bressane. — Vou me casar contigo e depois que invadirmos a Inglaterra, matarei você, sua mãe, seus filhos e ficarei com tudo o que é seu completamente! É olho por olho, dente por dente, querido! Você matou meu marido, agora eu mato você e seus familiares!

Hendrick percebeu que Annabel usava calças justas e uma blusa branca, com mangas passando um pouco seus antebraços. Na cintura, carregava uma espada e um revólver.

— Você não vai conseguir isso! — Hendrick cuspia as palavras. — Você é maluca! Você e seu irmão Bressane! Dois bastardos!

— Tomo isso como um elogio, mon coeur. — Annabel terminou. — Agora, se prepare para o nosso casamento, que será celebrado daqui há alguns minutos.

Dizendo isso, Annabel saiu fechando a porta com força, deixando Hendrick espumando de raiva. Como foi se meter numa situação daquelas? Como foi parar naquele navio?

Depois de alguns minutos, apareceu seu próprio valete, todo assustado, para prepará-lo para a cerimônia de casamento, acompanhados de mais dois Marinheiros, preparados para soltá-lo e reagirem se tentasse fazer algo.

— Até você sequestraram, Randall? — disse Hendrick, totalmente espantado diante da situação precária em que estavam. — E agora?

— Os cozinheiros, Vossa Alteza, estavam mancomunados com os irmãos corsários... Colocaram láudano na bebida e a maioria bebeu... — Randall respondeu, triste. — Eu não comi naquela noite, mas escutei um barulho vindo de seu quarto... Quando entrei, estavam carregando seu corpo... Tentei impedir, mas eram em maior número e logo me imobilizaram, me trazendo junto...

— Esses cães vão pagar caro por isso, não vão conseguir invadir a Inglaterra, isso eu juro! — Hendrick vociferou. — E quanto a Ebonnie? O que aconteceu?

— Não está nessa embarcação, Vossa Alteza... — Randall comentou. — Não sei o que aconteceu com Lady Ebonnie, deve ter ficado no outro barco, desacordada...

Assim, depois de escutar seu valete dizer o que estava acontecendo, um dos homens soltou suas amarras e deixou que Randall cuidasse de Hendrick como deveria.

A cerimônia não demorou muito, um pastor que escolheu a vida de Marinheiro, realizou o ritual e mesmo querendo dizer não, quando ouviu a ameaça que poderiam fazer algum mal para Ebonnie, que havia ficado no outro barco, Hendrick respondeu positivamente.

E assim, Hendrick se testemunhou preso a um casamento sem amor, apenas para salvar as pessoas que amava de um final terrível.

Depois da cerimônia realizada, Hendrick se viu preso de novo na cama, amarrado pelos dois braços, bem firmes. Annabel voltou para olhá-lo e zombá-lo, perguntando como se sentia.

Quando Annabel chegou perto, Hendrick deu-lhe um cuspe na cara. Annabel limpou com as mãos cheia de ódio nos olhos verdes, deu um tapa no rosto de Hendrick, dizendo que ia aprender a respeitá-la.

Os dias seguintes seriam de puro terror para Hendrick, infelizmente. Negaram-lhe comida no horário correto, sua "esposa" Annabel queimou-lhe o rosto com cera quente de vela, dizendo que aprenderia a obedecê-la enquanto vivesse, o que parecia não ser muito tempo. Foi amordaçado, amarrado e recebeu chicotadas de Annabel, durante dois dias. Quase sem banho ficou também, até que seu valete implorou que pelo menos, pudesse cuidar de seu amo.

Numa tarde, Annabel veio visitá-lo, dando um meio sorriso com a boca, toda cínica, perguntando como estava sua sendo sua estadia no navio.

— Se você pensa, vadia, que a Inglaterra vai deixar esse porco que vocês idolatram chamado Napoleão Bonaparte, invadir nosso país, estão enganados! — Hendrick soltou as palavras da boca, fumaçando. — Lutaremos até o final!

— Quantas palavras bonitas, vindas de um cão Inglês! — Annabel disse, com rancor. — Vocês conseguiram impedir que a França invadisse a Inglaterra em 1805, mas agora não existe nada que impeça isso acontecer de novo! Nelson está morto e você, como seu sobrinho, está bem preso e amarrado aqui, sem poder executar ordens, todos os navios estão perdidos sem seu mestre, vamos pegar a todos, um por um, trucidá-los e matá-los!

— Tente e verá a luz do sol pela última vez em sua vida, sua bastarda! — Hendrick disse, com raiva. — Vocês não conseguirão, mesmo eu estando aqui, meus homens saberão reagir!

Annabel deu um meio sorriso cínico e ficou olhando para Hendrick, analisando-o de modo profundo.

— Se lembra disso, Vossa Alteza? — Annabel mostrou a parte do ombro direito, onde Hendrick perfurou-a. — Essa foi a lembrancinha que você me deu da última vez em que vimo-nos, quando matou meu marido Vernell... Lembro de sua pessoa todas as vezes que me olho no espelho e vejo essa cicatriz, sei que consegui devolver-lhe o presente, porém...

— Se eu pudesse, teria matado você e Bressane! — Hendrick comentou, espumando de raiva. — Quero ver vocês mortos!

O rosto bonito de Annabel se contorceu de ódio antes de retirar sua espada da cintura, levantá-la e empunhá-la diante dos olhos de Hendrick.

— Se continuar me provocando mais, farei questão de deixá-lo com outra marca no lado direito, para que se lembre de mim duas vezes mais no futuro! — Annabel complementou. — Não me provoque mais!

— Meus homens vão impedi-la de invadir a Inglaterra! — Hendrick respondeu-lhe. — Escute bem isso!

— Isso é o que veremos, mon cher, é o que veremos, seus navios estão dispersos como baratas, sem Comandante... — terminou Annabel, indo embora e deixando Hendrick, pipocando de fúria. — Será fácil pegá-los e depois invadir a Inglaterra...

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