POV: KEENAN
A escuridão me envolvia, mas eu não estava sozinho. A visão era clara e perturbadora: Yulli estava de pé, perto de uma fenda sombria que parecia se abrir no próprio chão. Sua postura era firme, mas havia tristeza em seus olhos enquanto me olhava por cima do ombro.
— Eu te amo, Keenan. — Sua voz era um sussurro, carregada de uma dor que eu não compreendia.
— Yulli, não! — Gritei, tentando correr até ela, mas meus pés não se moviam. Era como se o chão me prendesse.
Ela virou lentamente, agarrando Drevan pela gola. Ele sorria com arrogância, mas Yulli não hesitou. Com um último olhar, ela saltou com ele para dentro da fenda, desaparecendo.
Um sussurro gelado invadiu meus ouvidos.
— Salve-as.
Acordei com um sobre
POV: YULLIAcordei com a sensação de algo me puxando para a realidade. Minhas pálpebras estavam pesadas, e cada músculo parecia ter sido esmagado por pedras. O cheiro de ervas queimadas e umidade chegou até mim antes mesmo de abrir os olhos. Tossi, tentando limpar a garganta seca, e quando finalmente abri os olhos, vi um teto de madeira escura, marcado por símbolos antigos. Meus pensamentos ainda estavam confusos, e precisei de um momento para me lembrar onde estava.— Finalmente, ela acorda. — A voz de uma mulher mais velha ecoou, trazendo-me de volta. Ela estava sentada ao lado da cama, com olhos profundos que pareciam ver além da superfície.Tentei me sentar, mas um peso invisível parecia me prender. A mulher se aproximou e colocou uma mão firme em meu ombro, impedindo meu movimento.— Não se esforce ainda. Você
POV: YULLIO vento cortava meu rosto enquanto eu corria pela floresta, o som de galhos quebrando sob meus pés ecoava ao redor. Cada passo me aproximava da cidade central do clã das bruxas, onde o caos aguardava. O céu relampejava em tons de roxo, como se a magia estivesse rasgando a própria atmosfera. Sentia a pressão da energia densa em cada respiração, um aviso claro de que o confronto final estava próximo.Quando cheguei aos portões, vi o exército das bruxas enfileirado, rostos rígidos e olhos determinados. Elas estavam preparadas para o inevitável. Reconheci algumas das líderes, mulheres que haviam perdido tudo para os lobos e agora ansiavam por vingança. Mas minha luta não era com elas, e sim com o homem – ou melhor, a entidade – que manipulava essa guerra.As portas do templo se abriram lentamente enquanto eu subia os degraus, Drevan estava no centro, sua figura imponente contrastando com a penumbra do local. Ele me observava com um sorriso frio, como se já soubesse que eu viria
POV: KEENANMeus sentidos estavam em alerta máximo enquanto atravessava a floresta. Cada passo era guiado pelo cheiro sutil de Yulli, misturado ao aroma de sangue seco e magia que impregnava o ar. O coração batia forte no peito, e Olson, minha fera interior, rosnava impaciente, ecoando minha própria ansiedade. Cheguei à cabana escondida entre a densa vegetação, apenas para encontrar silêncio. O lugar estava vazio, mas o cheiro de Yulli era recente. Ela tinha estado aqui.— Onde ela está? — Questionei com urgência, entrando na cabana. Duas bruxas reclusas me observavam, suas expressões sérias, quase tranquilas, mas carregadas de mistério.— A sacerdotisa partiu. — Disse uma delas, sua voz calma irritando meus nervos. — Ela foi cumprir o destino que escolheu.— Escolheu? — Rosnei, minhas garras rasgando o ar em frustração. — Ela não escolheu nada! Drevan está manipulando tudo! Onde ela foi?As duas se entreolharam, como se decidindo o quanto deveriam compartilhar.— Você precisa compree
POV: KEENANO ar ao meu redor parecia pesar enquanto encarava Drevan. Sua expressão era de puro desprezo, seu olhar carregava uma arrogância que me fazia querer arrancar cada pedaço de sua existência. Yulli estava atrás de mim, sua respiração ofegante e os olhos brilhando com a determinação que sempre admirei. Mas o colar em seu pescoço e a maneira como ela se segurava, tentando disfarçar a dor, denunciavam que ela estava no limite. Eu precisava agir rápido.— Está pronto para morrer, Alfa do Norte? — Drevan provocou, girando a adaga em sua mão como se estivesse entediado. — Ou será que prefere assistir enquanto destruo tudo o que você ama?— É por isto que todos que você ama foram destruídos há muito tempo, Drevan. — Respondi, deixando meu sarcasmo transbordar. — Sua mente é fraca e sucumbi facilmente as trevas.Ele avançou sem aviso, sua agilidade sendo uma surpresa. Desviei por pouco, senti o vento cortante da lâmina próxima ao meu rosto. Meu corpo reagiu instintivamente, minhas ga
POV: YULLIMinha mente escureceu por um instante, como se o mundo tivesse congelado. Tudo o que eu ouvia era minha própria respiração pesada, o som das garras de Olson raspando o chão e as batidas frenéticas do meu coração ecoando em meu íntimo. O peso da realidade era esmagador.Então, algo mudou. Quando a garra do lobo estava prestes a descer sobre mim e sobre minhas filhas, ela parou. O golpe não veio. A pata, em vez disso, tocou minha barriga de forma inesperada, leve, quase como um toque protetor. Minha respiração falhou por um momento, e meu corpo estremeceu de alívio misturado ao terror que ainda me consumia. Olson inclinou a cabeça, seus olhos ferozes suavizaram, e ele farejou suavemente o lugar onde meus filhotes estavam.A fera abaixou o corpo, seus músculos ainda tensos, como se ele travasse uma batalha interna contra su
POV: KEENANO ar no altar parecia vivo, pulsante, como se todo o caos ao redor estivesse convergindo para aquele momento. A luz do colar que Yulli usava era intensa, iluminando cada canto, mas o esforço dela era evidente. Seus lábios murmuravam a magia que eu não compreendia, o corpo tremendo, os olhos fixos na fenda que começava a consumir Drevan.Eu sabia que precisava mantê-la protegida, mas Drevan, mesmo enfraquecido, não recuava. Ele soltava gargalhadas sombrias enquanto seus olhos negros brilhavam de malícia. Aquele desgraçado sabia como manipular palavras, e foi exatamente o que tentou fazer quando notou o desgaste de Yulli.— Feiticeira, você se ilude achando que este sacrifício salvará algo. — Ele ergueu a cabeça, a respiração pesada, as sombras que o cercavam oscilando. — Seus filhos nunca terão paz. A gue
POV: YULLIMeu corpo parecia suspenso em um vazio. Eu sentia a exaustão em cada célula, mas ao mesmo tempo, minha mente estava desperta demais para ignorar o que se passava ao meu redor. Subitamente, uma luz começou a iluminar minha visão. Quando meus olhos se ajustaram, percebi que estava em um campo florido. O ar era denso, mas suave. O aroma das flores preenchia meu peito, embora a calma que ele deveria trazer fosse sufocada pela sensação de que algo estava fora de lugar.Então, ao longe, vi três figuras que fizeram meu coração parar. Eu conhecia aquelas formas, aqueles rostos. Minhas pernas fraquejaram, mas mesmo assim, eu me obriguei a dar um passo. Depois outro. E outro.— Mamãe... Papai... Minha irmã... — Minha voz saiu fraca, quase sem som.Quanto mais eu caminhava em direção a eles, mais parecia que eles se afas
POV: KEENANEra como se o tempo tivesse decidido me torturar. Um segundo arrastava-se como uma eternidade enquanto eu observava o corpo inerte de Yulli. Ela estava ali, viva — pelo menos de acordo com os malditos aparelhos médicos, mas a ausência dela era uma faca cravada no meu peito. Uma semana desde a batalha, e ela não tinha dado nenhum sinal de vida. Sete dias sem ouvir sua voz teimosa ou sentir seu olhar irritado me encarando como se eu fosse o maior idiota do mundo.E talvez eu fosse.Meus olhos fixavam as telas do monitor como se, de alguma forma, pudessem dar uma resposta que ninguém mais conseguia. Não havia lógica naquilo. Callie, com seus sonhos e poderes, tinha tentado buscar a alma de Yulli, mas tudo o que conseguiu dizer foi:— Ela está ausente, não há sinais de sua alma.Ausente. Como se isso fosse uma ex