Borboletas no estômago

Chegando em casa, vou direito tomar banho. Tiro meus sapatos, minha roupa, e encho a banheira, preciso muito me relaxar, foi um dia longo e cheio de emoções. Ponho as canções mais tristes que existe neste mundo, fecho os olhos e tento imaginar uma vida em que tudo fosse diferente, em que eu fosse diferente. Imagino Phil, um homem muito interessante que eu nunca vou ter pra mim, penso em Luccas, e o porquê de ele querer falar comigo depois de tudo e de todo esse tempo. Durmo.

 Acordo com meu celular tocando. Candace grita do outro lado da linha, arregalo os olhos e percebo que esqueci completamente de ir a casa dela. Digo a ela que já estou a caminho. Escolho uma roupa confortável, amarro o cabelo num coque, abro a geladeira e procuro nachos, pela graça de deus encontro, pego e vou correndo para a garagem; Abro o carro, coloco a comida no banco de trás, olho ao redor para me certificar que não esqueço de mais nada, tudo certo, ligo o carro e acelero até a casa de Candace.

 Chegando lá, me deparo com um senhor na porta da Candy, vejo pela vestimenta que é um mendigo, faminto por sinal, paro o carro e estaciono, pego os nachos e vou direto até o senhor que ali estava.

- Boa noite, o senhor precisa de alguma coisa? – falo sem pestanejar 

- Não minha doce garota, não preciso de nada, obrigada por perguntar. – Ele diz com a cara triste, e percebo que ele precisa de algo, qualquer coisa.

Insisto. 

- Bom, aqui está cem pratas, se o senhor precisar de alimento ou abrigo, sei que não é muito, mas pode ajudá-lo. – Entrego a ele a nota que não irá me fazer falta.

Ele olha para mim, seus olhos estão lacrimejando, então ele diz: - Você é uma moça muito bondosa, se fossem outras pessoas nem ligariam para mim, mas para você não sou invisível e ainda me oferece uma nota de grande valor, que sei que fará falta. Muito obrigada mesmo, não sei se devo aceitar. 

Olho pra ele e insisto que fique com o dinheiro. 

- Por favor, fique com o dinheiro, não me fará falta alguma, sei que precisa mais que eu.

Ele então pega e beija minha mão, sinto um amor imenso e vejo que fiz o certo. 

Toco a campainha. Candy abre a porta, ela aparenta estar nervosa, mas logo depois dá um grande sorriso e diz para eu entrar. 

Entro e vejo Julianne sentada no sofá bebendo igual uma condenada.

- Tudo bem Julie? Abraço e a beijo nas bochechas.

- Estou bem Lya, que saudades estava de conversar com você e Candy. 

- Vamos nos ajeitar então, peguem pipocas, nachos e vamos ver um filme juntinhas. – Diz Candace muito alegre.

 Escolhemos um filme de terror, tenho muito medo e sonho com eles como se fosse uma criancinha, mas como estou com minhas colegas, então tudo bem.

 O filme então acaba, depois de gritos e chutes não intencionais de todas nós. Levantamos e fomos ajeitar a bagunça. 

- Então meninas, vocês souberam que aquele homem lindo do 10º andar, acho que se chama Phil, vai para a filial em Amsterdã? – comenta Candy.

- Não sabia não. Não acredito, queria tanto pegar aquele homem, lindo e inteligente. – Comenta Julie.

 Eu fico surpresa, mas não aparento em frente á elas. 

Não acredito que ele vai embora e não me disse nada. Ficamos tão sem assunto no almoço de hoje, ele poderia ter me contado isso, não que eu me importe. Eu não me importo.

- E você ficou sabendo Lya? – Diz as duas em coro.

Fico com as bochechas vermelhas. 

 - Não, não, claro que não sabia. Aliás, nem sabia que esse tal de Phil existia. – Tento ficar surpresa.

- Como não? -Diz Candy. – Ele trabalha em frente ao seu escritório, não é possível que não tenha notado aquele ser divino na sua frente. 

Fico impaciente sem saber mais o que dizer, o que mentir. Bom, não estou mentindo em partes, não conhecia ele “pessoalmente” até hoje mais cedo. Então devido as circunstâncias, vou fingir que o almoço de hoje não existiu, e que ele nunca trocou uma palavra comigo.

- Ah garotas, vamos parar de falar nele, vamos tocar pra outro assunto. – Digo.

- Ok. Sabe de uma coisa, vamos jogar o jogo das meninas, contar segredos, o que acham?

- Vamos sim Julie, boa ideia. – Diz Candy

- Claro, vamos sim.

 Nesse momento não sabia no que estava me metendo.

- Bom garotas, vou começar a brincadeira, primeiro quero que a Lya responda primeiro. Tudo bem? - Julie começa.

- Tudo ok. – Digo.

- Vou começar por coisas bem antigas, quero conhecer você. Quando e como foi sua primeira vez? 

 Arregalo meus olhos, como vou responder isso, sei que é algo simples, mas não para mim. Nunca tive uma primeira vez, apesar de já ter tido um relacionamento, nunca fiz sexo, ainda não encontrei alguém. O que respondo para ela. 

 Começo a tremer. Tento de todas as maneiras mentir de uma forma verdadeira. Então prossigo, gaguejando:

- Bom... bem... eu... eu... tive minha primeira vez, há bem... hã... um tempo atrás, é... muito tempo atrás, sabe... nem me lembro muito...

 As duas me interrompem.

- Que foi meninas, ainda nem terminei de contar, vocês não queriam saber, não?

 Elas me olham muito estranho, olho para as duas alternadamente, sem entender nada.

- Não acreditoooooo, Lya do céu, não acredito, você tem vinte e quatro anos, e você nunca fez “Aquilo”? – Interroga candy.

Fico sem palavras. Apenas gaguejo sílabas. Fico mais vermelha que pimentão, desejando virar uma mosca e sair voando sem rumo por aí. Porque diabos não fiquei em casa, me deliciando na banheira, dormindo e sonhando com cabritos voadores?

- Não vai dizer nada? Não estamos te julgando, é que isso é algo muito raro hoje em dia, eu e a candy estamos surpresas, porque não nos disse antes, poderíamos te ajudar?

- Me ajudar com o que?

- Bem, ajudar com palavras amigas, ou dando dicas de quando sua primeira vez for acontecer, sei lá. – Diz Julie, enquanto Candace, fica olhando para mim com dó. 

 - Sou virgem por opção – digo, quase engasgando, continuo: - Já tive muitas chances de mudar isso, mas nunca me senti confortável, nunca achei a pessoa certa, apenas canalhas que se aproveitavam da situação para me iludir e depois cair fora, então resolvi nunca contar sobre isso, até porque é muito pessoal, e me deixa muito envergonhada. – Balanço as pernas incansavelmente.

 Ao final daquela noite nos despedimos e Julie e eu fomos embora.

 Chegando em casa vou direto tomar banho. Ponho uma musiquinha para relaxa. Enquanto tomo banho, muitos pensamentos passam por minha cabeça, Phil é um deles. Tento de toda maneira parar de pensar nele, mas não consigo. 

Coloco meu pijama infantil, me deito e dou uma olhada no celular, vejo que tenho um novo seguidor no I*******m, é Phil, também sigo ele, e claro olhei seu perfil. Haviam muitas fotos dele em praias, bares e com amigos, enquanto no meu só tinha uma foto, de uma paisagem que nem sei mais de onde é.

 Tento dormir, mas não consigo, levanto e faço um chá para tentar dormir. Ligo a TV e coloco em algo que dê sono, sem sucesso. Vou pra cama e finalmente consigo dormir depois de diversas tentativas em vão.

 - Bom dia pessoal! – Digo a todos no escritório.

 Entro na minha sala e vejo os trabalhos que terei no dia. O dia será longo, há muitos papéis para assinar, livros para corrigir, novos pedidos para ver, bem, o dia vai ser cheio.

Alguém b**e na porta. Phil.

 - Bom dia senhorita. – Com um olhar penetrante Phil me cumprimenta.

 - Bom dia Phil, como está? – Falo me ajeitando na cadeira para não demonstrar minha surpresa.

 - Então... eu gostaria que você fosse à minha casa hoje a noite, poderíamos jantar, sei lá, creio que vamos conversar bastante, quero ser seu amigo, então preciso saber mais de você, ser mais intimo de você. Gostei da sua companha, mesmo que calada, o que acha? – Phil ri. 

 Olho para ele com os olhos arregalados sem entender porque ele iria querer a companhia de alguém como eu. Imagino o desastre que seria, eu morrendo de vergonha, pedindo pra ir embora, vermelha, sem reações, não quero que isso aconteça, mas mesmo assim aceito o convite. Eu realmente quero fazer amizades, e ele está me dando essa oportunidade.

- Ah sim, porquê não? 

- Que legal, vou gostar muito da sua companhia e prometo não te constranger, e prometo que será apenas um jantar, não farei nada que você não queira. Você quer que eu passe em sua casa, ou você vai querer ir por si só? Te passo o endereço.

- Eu posso ir, me passa o endereço certinho, que eu irei com certeza. Você tem meu número? 

- Tenho sim, te enviarei uma mensagem com meu endereço. Beijos Lya.

 Minha cabeça está um nó, fico imaginando se ele quer mesmo isso, ou se está de brincadeirinha, se fez aposta com algum amigo. Pegar a garota careta do escritório ao lado.

Afasto o pensamento, volto ao meu trabalho.

                               Oi, sou eu o Phil, aqui está meu endereço. Lakeland St, 2889. Bem próximo do  

                              Trabalho. Beijos, vou te esperar.

 Saio do trabalho, muito cansada, mas animada pela noite de hoje, quero muito que seja especial. Ligo o carro e vou para meu apartamento, quando chego tento achar alguma roupa que seja “vestível”, mas não encontro uma que me agrade. Apesar do Phil não dizer o horário que eu poderia ir, quero ir o quanto antes. Vou a lavanderia e escolho uma roupa bonita. 

 Termino de me arrumar, me olho no espelho e vejo uma mulher horrível, mas ao mesmo tempo acho as roupas lindas, mas não em mim, queria ser linda como as garotas que vejo na rua, na TV, no trabalho. Meus olhos lacrimejam, imagino como minha vida seria se fosse bonita, será que eu seria menos tímida? Será que eu teria um namorado? Será que alguém me amaria? Esses pensamentos são um peso na minha consciência, por mais que eu tente, eles não vou embora, desde que me conheço por gente penso assim, nunca gostei de mim, eram raras as vezes que eu me amava.

 Pego as chaves do carro e vou assim mesmo, seco as lágrimas, espero que ele não perceba. 

 Chego no apartamento do Phil, minhas mãos estão geladas, meu estomago está se revirando, decoro o que vou falar pra ele: “Oi”, “Olá”, “Hey”, “Como está”, “Estou melhor agora”, “Que apartamento lindo”.

 Bato na porta. Depois de alguns segundos Phil abre a porta, em seus braços um gato está deitado, presumo ser o Tobby. 

 - Oi Lya, que bom que veio, pensei que não viria, sei que meu convite foi inesperado. – Phil fala enquanto faz um gesto para que eu entre.

- Por que eu não viria? – Digo enquanto sento no sofá.

- Gostei muito que veio, de verdade.

 - Estou preparando o jantar, já vai ficar pronto. Fiz uma massa com molho branco, camarões empanados, e comprei o melhor vinho da adega, espero que goste. – Phil dá um riso de canto, enquanto põe os pratos na mesa.

 - Com toda certeza vou gostar. 

 Enquanto Phil está na cozinha, fico observando o apartamento dele. É super organizado, tons de preto e branco se contrastam, a luz do pôr do sol invade a sala, deixando o lugar mais lindo ainda. Fico extasiada com o lugar, muito lindo.

Phil volta à sala com os pratos, e começamos a jantar. O clima está agradável, e a conversa flui de forma leve. Phil conta algumas histórias engraçadas sobre seu trabalho na Worldwide, e eu compartilho algumas experiências minhas como ghostwriter. O gato Tobby circula pelo apartamento, e Phil comenta o quanto ele é companheiro.

Enquanto saboreamos a comida deliciosa, percebo que estou me sentindo à vontade na presença de Phil. Sua personalidade descontraída e simpática contribui para isso. Aos poucos, a tensão inicial vai se dissipando, e começamos a nos conhecer melhor.

Depois do jantar, Phil sugere assistirmos a um filme no sofá. Concordo, e ele escolhe um filme de comédia romântica. Durante o filme, trocamos algumas risadas e comentários sobre a trama. A atmosfera amigável e descontraída prevalece, e sinto que estou aproveitando a noite.

No final do filme, Phil me acompanha até a porta, agradeço pelo jantar maravilhoso e pela noite agradável. Antes de sair, ele me convida para um café no fim de semana, e eu aceito com entusiasmo. Despeço-me com um sorriso no rosto, agradecida pela surpreendente reviravolta do dia.

Ao voltar para casa, reflito sobre a noite. Surpreendentemente, Phil não parece ter segundas intenções, e a noite foi genuinamente agradável. Sinto-me grata por ter dado uma chance a essa amizade inesperada.

Os dias seguintes passam tranquilamente, e o café no fim de semana com Phil se torna uma rotina agradável. Aos poucos, desenvolvemos uma amizade sincera, compartilhando risadas, histórias e experiências de vida. A presença de Phil começa a preencher um vazio que eu nem sabia que existia.

Enquanto isso, as mensagens de Luccas continuam a chegar, despertando sentimentos do passado. A decisão de confrontar o passado ou seguir em frente fica cada vez mais presente em minha mente. No entanto, a amizade com Phil me mostra que novas oportunidades podem surgir quando menos esperamos.

Assim, entre risos, cafés e reflexões, a vida continua, cheia de surpresas e possibilidades inexploradas.

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