Saí do banheiro enrolada na toalha, os cabelos ainda úmidos, pingando gotas quentes no chão de mármore. Meu corpo doía inteiro, e eu me sentia um balão prestes a estourar. Os pés estavam tão inchados que mal conseguiam tocar o chão sem arder, os seios latejando de tanto peso e sensibilidade. Grávida de sete meses… parecia que eu carregava o mundo. Me joguei sentada na beirada da cama, soltando um suspiro frustrado. Eu amava aquele bebê crescendo dentro de mim, mas às vezes meu corpo pedia socorro. A porta se abriu e Matteo entrou, ajeitando a camisa dentro da calça. Ele tinha acabado de colocar Isabella para dormir, e me lançou aquele olhar que só ele tinha. Um misto de preocupação, desejo e posse. — Está tudo bem? — perguntou, vindo até mim. — Tudo dói. — soltei, direta, encostando as costas na cabeceira. — Meus pés estão uma bola, meus peitos parecem que vão explodir… e minha cabeça está latejando desde o início da festa. Ele ajoelhou à minha frente sem dizer uma palavra. Tirou
Dois meses depois... Nove meses.Nove malditos meses. Eu estava explodindo. Literalmente. A barriga parecia que ia rasgar minha pele de dentro para fora, meus pés pareciam dois pães italianos inchados e doídos, meus seios estavam pesados como pedras, mas o pior… o pior era o tesão. Sim, isso mesmo. Eu estava à beira de enlouquecer. — Angeline, não pega essa garrafa! — Matteo apareceu na porta da cozinha como se eu estivesse prestes a me jogar do alto de um prédio. — É só água! — rebati com um olhar fulminante, mas não adiantava. — E a sua perna pode inchar ainda mais se você ficar de pé por mais de dez segundos. Volta pro sofá. Agora. Revirei os olhos e voltei, resmungando, sentindo a maldita contração de treinamento apertar minha barriga. De novo. Era a terceira vez naquele dia. — Não vai nascer agora. — murmurei sozinha, tentando me convencer. — Só falta um pouco… só um pouco… O problema era que, com tudo aquilo acontecendo no meu corpo, parecia que ele tinha resolvido qu
O silêncio na casa era raro. Mas naquela manhã, tudo parecia sagrado. Angeline dormia profundamente no quarto, exausta, com o pequeno Luca aninhado em seus braços. Eu fiquei ali por horas, só observando. Ela, tão pequena, tão forte. E ele… meu filho. Meu legado. O Don da Calábria agora era pai. Mas logo os sussurros começaram do lado de fora do quarto. O burburinho de vozes ansiosas, passos contidos, gente esperando permissão para entrar. Abri a porta devagar e encarei o grupo parado no corredor. Sofia foi a primeira a sorrir. — Posso ver ele? — ela perguntou, os olhos já marejados. Assenti com a cabeça. — Com cuidado. Ele e a mãe ainda estão frágeis. Sofia entrou com cuidado, levando Ivan pela mão. Minha avó veio logo atrás, caminhando devagar, com Verônica apoiando seu braço. Luigi estava mais afastado, como se não quisesse invadir. A cena que se seguiu arrancou até de mim um nó na garganta. Verônica foi a primeira a segurar Luca. Ela o recebeu nos braços com uma reverên
Um mês depois... Um mês se passou desde que Luca chegou ao mundo. Um mês intenso. Um mês em que tudo mudou dentro de mim. Hoje é o batizado do meu filho. Só de dizer isso em voz alta, meu coração aperta. Ainda me parece surreal. Eu, com apenas dezessete anos, mãe. Mas ao olhar para ele, tudo faz sentido. Tudo. A mansão está movimentada desde cedo. Costureiras, seguranças, arranjos, flores brancas. Matteo quis tudo impecável, como tudo que envolve o nome Fontana. Nada menos que perfeito para o herdeiro. Desço as escadas devagar, com Luca nos braços. Matteo está ao meu lado, sempre protetor, como se o menor passo em falso fosse me quebrar. E talvez quebrasse mesmo, se ele não estivesse comigo. Meu vestido é branco, longo, delicado como um sopro. Nos meus cabelos, uma tiara de pérolas. Me sinto frágil. Mas poderosa. Me sinto mãe. Me sinto dele. Luca dorme tranquilo. Como pode alguém tão pequeno carregar tanta importância? Tanta responsabilidade? — Ele vai ser um guerreiro. — Matte
A mansão está silenciosa agora. Os convidados já se foram, a música parou, e até as luzes mais fortes foram apagadas, deixando só o brilho suave dos lustres menores. Entro no quarto devagar, tirando os brincos e deixando os sapatos no canto. Meus pés doem, minha cintura parece que vai quebrar ao meio, e meu peito está sensível como sempre. Ainda assim, estou com um leve sorriso. Foi um bom dia, tirando o veneno da víbora da Martina. Ouço a porta se fechar atrás de mim. Matteo tranca, como sempre faz.Ele vem até mim em silêncio, até parar bem atrás. Sinto o calor dele antes do toque. — Fiquei te observando o tempo todo. — a voz dele vem baixa, rouca, arrastada. — Você sabe o que faz comigo quando fala daquele jeito, né? — Que jeito? — pergunto, já sabendo exatamente. Ele desliza os dedos pela minha cintura, me puxando de leve para trás, contra o corpo dele. — Quando se impõe. Quando lembra para todo mundo que é minha. — Matteo passa o nariz pela minha nuca. — Quando deixa claro
O sétimo dia estava se aproximando como uma sentença. E eu estava cada vez mais sufocada. Matteo, como sempre, parecia perceber que algo me incomodava, mas não fazia perguntas, talvez por respeito, ou porque confiava demais que eu contaria. Mas dessa vez, eu estava calada. Assustada. E protetora como nunca. Na manhã do sexto dia, o silêncio foi quebrado. Uma das empregadas bateu na porta do nosso quarto e entrou com um buquê de rosas brancas. Grandes, lindas, delicadas demais para carregar algo tão cruel. Meu estômago revirou antes mesmo que eu tocasse o cartão. Sofia, que estava comigo, apenas olhou. Ela sabia. Eu sabia. Minhas mãos abriram o pequeno envelope que acompanhava as flores. E o mundo pareceu parar quando li. Se quiser que Matteo viva, vá até Via del Mare, número 211, casa abandonada no final da trilha. Lá há uma caixa escondida sob o assoalho. Leve-a à polícia. Caso contrário, no oitavo dia, ele morre. Minha visão embaçou, mas não pelas lágrimas. Era raiva. Era medo
A sala estava cheia de vozes baixas e risos suaves. Era raro termos um momento de calmaria naquela casa, e eu tentava me forçar a aproveitar. Sofia acariciava a barriga redonda, Alessandra contava uma história da juventude, Isabella brincava com um dos brinquedos do irmão no tapete. Matteo ainda não tinha voltado da missão do dia, mas ele disse que era simples. Rápida. Rotina. Rotina. Até o grito. — MATTEOOOO! A voz de Verônica cortou o ar como uma navalha. Tensa, estrangulada, desesperada. O copo escorregou das minhas mãos e se espatifou no chão, estilhaçando o pouco da paz que ainda existia no meu peito. Meu coração parou. — Não… — murmurei, já correndo em direção ao som. E então ele entrou. Matteo apareceu na porta da sala, apoiado em Giovanni. O sangue escorria do braço esquerdo, manchando a camisa social branca, agora vermelha demais. O rosto estava tenso, os dentes cerrados, os olhos buscando os meus. Estava acordado. Consciente. Mas ferido. — Angeline! — ele me chamou,
Acordei com um silêncio estranho. A cama ainda estava quente do lado dela, o que me dizia que ela não tinha saído há muito tempo. Mas não estava ali. Levantei. O sol começava a cortar pelas frestas da cortina, o cheiro de café fresco já existia. Mas nenhum som de passos. Nenhum sinal de Angeline. Desci as escadas e encontrei a sala vazia. — Angeline? — chamei, mas só ouvi o eco da minha própria voz. Minha mente, já contaminada por tudo que aconteceu, se encheu de desconfiança. Ela nunca saía sem avisar. Estava subindo as escadas, tentando não pirar. Mas já estava com o celular na mão quando ouvi a porta da frente se abrir. Desci em dois segundos. Ela entrou devagar, parecendo querer passar despercebida. Quando me viu, travou. Olhos vermelhos. Corpo tenso. — Onde você estava? — perguntei direto, sem rodeios. — Estava no jardim. — respondeu rápido demais. Mentirosa. Cruzei os braços, encostei na parede e só a encarei. Ela subiu as escadas sem dizer mais nada. Fui atrás. Tinha