ANNABELLA— Você não pode passar o tempo todo com ela nos braços — digo ao meu marido e ele abre um sorriso presunçoso.— Não gosto de vê-la chorando — responde olhando para ela.— Você sabe que ela vai ficar ainda mais manhosa. Os bebês choram e Safira já está muito esperta para uma recém-nascida.— A princesa do papai só quer um pouco mais de atenção.— Se continuar desse jeito, ela fará tudo que bem entender quando estiver maiorzinha. Você vai deixá-la uma criança mimada demai...Eu nem terminei de falar e os gritos da sapeca da mamãe se fizeram presente. As feições do meu esposo logo mudaram, e pela sua expressão, eu percebi que terei uma longa jornada pela frente. Não bastava o pai, agora os dois serão aliados. Meus pensamentos foram interrompidos quando sua voz novamente se fez presente, porém, suas palavras não eram direcionados para mim.— Calma, o papai sabe que sua princesinha só quer ficar quietinha em seus braços — era incrível a ligação dos dois, o silêncio pairou no ambi
HENRICOAcordei às cinco da manhã. A minha suposta bagagem já estava pronta, aproveitei cada segundo livre que tive no dia anterior para ficar com a minha filha. Na parte da tarde, James chegou e ficamos em meu escritório repassando exatamente tudo que iríamos fazer. A vida da minha família estava em jogo e nada poderia dar errado, depois de analisarmos minuciosamente qual seria cada passo a seguir, ele deixou o castelo, enquanto eu tratei de ir ao encontro da minha esposa, quando cheguei ao ambiente, Safira estava deitada em nossa cama, enquanto a minha mulher estava trocando-a. Embora não quisesse reconhecer, Anna tem toda razão em dizer que a nossa princesa além de manhosa, é muito esperta. Quando me aproximei em passos cautelosos, o ambiente que até segundos atrás estava em silêncio, logo deu lugar aos gritos altos de uma manhosinha querendo chamar a atenção. Annabella por sua vez, ainda não tinha notado a minha presença e ficou atordoada ao ver a nossa filha gritando a todo vapor
ANNABELLA Assim que um estrondo terrível, causado por um trovão, se fez presente no espaço, fechei os meus olhos. Eu perdi a noção de quanto tempo se passou, os meus olhos ficaram fechados e todos os meus pensamentos se voltaram para o meu esposo, no entanto, o som de passos ecoando pelos corredores, deixou os meus sentidos voltados para aquele barulho. Meu coração começou a bater forte como se fosse sair do meu peito, minha boca ficou seca, minha respiração pesada, quando o barulho na maçaneta da porta ecoou a minha volta, mantive meus olhos fechados e em questão de segundos, a porta foi destravada e vários passos foram dados no cômodo, vindo em minha direção.Senti a aproximação de alguém bem próximo à cama, em seguida uma mão forte tapando a minha boca. Meus olhos se abriram de imediato assim que ouvi a voz do homem ecoando no ambiente.— Fique quieta ou terei todo prazer em jogar a pirralha pela sacada.Meus pulmões estavam em chamas, àquela mão poderosa estava me sufocando, mas
HENRICOEscutei passos se distanciando, enquanto a porta foi destrancada. As luzes foram acessas e a mulher adentrou o ambiente, isso indicava que uma corrida contra o tempo tinha acabado de ser iniciada. Meus batimentos aumentaram quando ela caminhou e parou próximo da parede, o que me levou a ter certeza que ela sabia que o meu cofre ficava naquele lugar. Assim que ela tirou o quadro que estava na parede, o silêncio se fez presente por alguns segundos e novamente, ela começou a se mover e foi em direção a estante de livros, minha cabeça ficou a mil.Não entendia como aquela desgraçada sabia... Antes que eu concluísse meus pensamentos, ela voltou novamente para perto do cofre e sua voz ecoou no ambiente.— O idiota nem se deu o trabalho de mudar o segredo do cofre. Tenho que agradecer a minha tia por ter comentado sobre o dia que viu o velho Gordon pegando o livro e como era muito curiosa, descobriu do que se tratava, pena que a idiota era muito honesta para pegar o que não era...Eu
ANNABELLAOs dias se passaram, as semanas se foram e hoje, após seis meses, eu não tenho palavras para descrever o misto de sensações que apoderou-se de todo o meu ser. De cada segundo, minuto e hora ao lado da minha família.Sorrio ao pensar na minha pequena joia preciosa, depois de passar meses carregando aquela manhosa em meu ventre, a minha princesa acabou por sair à cópia em miniatura do próprio pai. Safira Gordon, está cada dia mais esperta e manhosinha, sempre tendo toda atenção do pai voltada para ela, e, às vezes tenho a impressão que os gritos altos que dá, chorando quando estamos os três juntos, é por puro ciúme ao ver que a atenção do pai não está voltada para ela.Hoje me encontro completamente realizada, em meio a tantas reviravoltas em minha vida, ter encontrado o homem, que de início julguei ser um príncipe encantado, no entanto, descobri que às trevas estavam a sua volta, mas graças a força do amor, ele não se tornou o príncipe que sempre acreditei que existia ao ler o
HENRICOTrês anos depois...Jamais pude imaginar que um dia seria pai de alguém tão especial assim. Safira mudou minha forma de pensar, minha maneira de agir. Olho para minha filha, aquela que nasceu para me mostrar que não importa o sexo, um filho é uma dádiva de Deus. Safira Gordon, preencheu o meu coração de amor, me fez deixar de lado a ideia fixa em querer um primogênito. A minha princesa, a minha pedra preciosa, é o que tenho de mais especial em minha vida.Deixo os meus pensamentos de lado ao ouvir sua voz.— Vem papai!Um sorriso logo se faz presente em minha face, desde o dia que ela pronunciou a sua primeira palavra, que ao ouvi-la, ainda tenho a mesma sensação que se apoderou de mim na primeira vez. Minha esposa, mesmo tentando disfarçar, não gostou muito pela nossa manhosinha ter chamado papai, em vez de mamãe. Aproximo-me do banco em que ela estava e logo me sento ao seu lado.— O que foi, minha princesa?— O senhor vai me amar sempre?Não entendi o porquê da sua
Chester – InglaterraHENRICOA tempestade rapidamente se aproximava. Vinha por detrás das montanhas e avançava rumo à cidade, trazendo um barulho ensurdecedor, juntamente com um misto de raios, trovões e ventania, que revirava galhos de árvores, fazendo esvanecer o horizonte. Adiantava o passo da montaria que vinha num trote lento, na tentativa de não ser alcançado por ela, o que não surtiu nenhum efeito quando fui atingido por uma lufada de ar gelado, seguida dos primeiros respingos de chuva que logo se intensificou.Ao adentrar em casa, a escuridão era absurda. Só se via algo quando relampejava. Senti os pelos de minha nuca se arrepiar e atribuí ao incomodo que vinha sentindo no caminho.O silêncio no ambiente era estranho, meu instinto me incitou a redobrar a atenção. Deixei minha bagagem no chão de madeira e caminhei em direção à escada, a cada passo que eu dava, gemidos ecoavam pelo ar, pelo barulho da tempestade lá fora, não era possível distinguir bem. Ao chegar próximo ao me
Cinco dias antes do "Baile"HENRICOEnxugava a minha navalha quando um barulho chamou minha atenção e interrompeu meus movimentos. Escuto atento, com os nervos já tensionados. O barulho perceptível de uma carruagem se aproximando me fez deixar o objeto que usava sobre a pia, pego uma toalha e, enquanto enxugo o meu rosto, uma batida na porta ecoa pelo ar.Deixei a sala de banho, indo em direção à porta, assim que a mesma foi aberta meus olhos ficaram fixos em uma figura de estatura baixa, pele enrugada e com uma expressão grave, "Alfred".— Vossa Graça, acabou de chegar uma visita.— Seja quem for o infeliz, diga-lhe para voltar numa hora decente.— Meu senhor, é um mensageiro do Palácio de Buckingham.— Que inferno! — digo, mas estava plenamente consciente naquele momento de que ninguém seria enviado pela rainha para me informar de alguma futilidade.— O que devo dizer Vossa Graça?— Vou terminar o meu banho. Diga-lhe para esperar.Minutos depois, de banho tomado, caminhei at