A água quente escorria pelo meu corpo como se pudesse lavar não só o cansaço, mas o peso dos últimos dias. Quando saí do banho, enrolei a toalha no corpo e me encarei no espelho. Meus olhos estavam cansados, mas havia um alívio escondido ali. Luigi estava bem. Meu irmão estava vivo. Isso era tudo o que importava agora. Suspirei fundo, caminhando até o quarto, o vapor ainda subindo dos fios do meu cabelo molhado. De repente, senti o estômago revirar. O enjoo veio sem aviso, me fazendo parar no meio do quarto e fechar os olhos, tentando respirar fundo. — Merda... — sussurrei, segurando a beirada da cômoda para me equilibrar. Era o bebê. Já começava a se manifestar. Ou talvez fosse só o estresse. Ou os dois juntos. Me deitei na cama de toalha e tudo, sentindo o frescor dos lençóis na pele quente. Matteo estava em outro cômodo, resolvendo algo com Giovanni. Eu sabia que assim que entrasse por aquela porta, o olhar dele ia buscar o meu, como sempre fazia. E ia me lembrar, com aquela pr
Eu estava sozinha na varanda, sentada na espreguiçadeira, sentindo o vento leve bater contra meu rosto. A barriga ainda nem aparecia, mas dentro de mim o peso da maternidade já crescia. Não só pelo bebê que Matteo e eu esperávamos… mas por tudo que vinha junto disso. Isabella entrou na varanda com passos firmes demais para seus cinco anos. Segurava um dos brinquedos preferidos e me olhava de longe. — Quer vir aqui, Isa? — chamei com um sorriso suave, tentando manter a proximidade que sempre busquei com ela. Ela hesitou. Depois veio, mas com o rostinho sério, franzido. — Por que tem outro bebê? — ela perguntou, num tom quase agressivo para uma criança. — Eu já sou filha do meu pai. — E sempre vai ser, Isabella… — tentei alcançá-la com a mão, mas ela se afastou. — Esse bebê não muda nada do que seu pai sente por você. — Muda sim! — ela gritou, e antes que eu pudesse reagir, empurrou minha perna com força. Quase me desequilibrei na cadeira. Fiquei em choque. Não pela força, ela er
Os dias estavam cada vez mais longos. Os enjoos vinham como ondas violentas, e a cada manhã eu acordava sentindo como se estivesse sendo punida por algo. Nada ficava no estômago. A cabeça latejava. O corpo pesava. A alma também. E Matteo...Ele estava ausente. Sempre saía cedo. Voltava tarde. Evitava longas conversas. Estava resolvendo “coisas da família”, como ele dizia. Coisas que eu sabia que envolviam sangue, lealdade e decisões frias. Mas o que mais doía era perceber o quanto ele estava se afastando justo agora, quando eu mais precisava. Isabella mal olhava na minha cara.Quando falava, era com sarcasmo ou raiva. Às vezes, me dava medo. Outras, apenas uma tristeza profunda.Eu sabia que não podia forçar amor, mas o silêncio dela me destruía por dentro. Estava no quarto, deitada de lado, uma das mãos sobre o ventre, tentando imaginar como seria esse bebê.Será que seria como Matteo? Será que viria com o mesmo temperamento, a mesma intensidade? Ou será que teria os olhos fech
O ar da madrugada estava pesado, como se até o vento soubesse que algo ruim estava prestes a acontecer. O depósito em chamas. Dois homens feridos. Mercadoria destruída. Mas o que me tirou do eixo foi o recado deixado. Um papel, simples.Dobrado com precisão. "Isso é só o começo. — F." Filippo. Filho da puta. Ele tinha ousadia. Tinha coragem. Mas agora... tinha assinado a própria sentença. — Giovanni. — rosnei, andando até ele com os olhos em brasa. — Acabou o tempo do jogo. Quero ele. Hoje. — Matteo... — Giovanni tentou argumentar, mas meu olhar o calou. — Não. Chega. Esse merda já passou dos limites. Destruir um depósito? Ferir nossos homens? Querer me provocar? Não. Não dessa vez. Quero ele aqui. Amarrado. Sangrando. E se algum dos nossos tiver dúvida sobre o que fazer... que vá com ele. — Entendido. — E se ele estiver protegido? — perguntou Francesco, tenso. — A gente derruba quem estiver por perto. Não me importa. Ele cruzou a linha. Mexeu com meu território, com minha
Eles sempre acham que o monstro é quem puxa o gatilho. Tolice. O verdadeiro monstro é quem dá a ordem. Quem observa o caos de longe, em silêncio, com um copo de whisky na mão e um leve sorriso nos lábios. Filippo era útil. Um cão raivoso solto no território dos Fontana. Eu o alimentei com sede de vingança, com promessas que ele, tolo, acreditou. Eu sabia que Matteo reagiria como um animal encurralado. Sabia que o Don protegeria sua cadela grávida como se fosse a última mulher na Terra. E ele fez exatamente o que eu previ: sujou as mãos. Torturou, matou, se afundou no sangue como um bom mafioso italiano faria. Agora, ele pensa que acabou. Que eliminou a ameaça. Mas a verdadeira ameaça... ainda respira. Ainda observa. Ainda comanda. O problema de homens como Matteo Fontana é que amam demais. Isso os enfraquece. Angeline é sua ruína disfarçada de salvação. E quando um homem constrói um império em cima do amor, eu só preciso soprar o castelo de cartas. O jogo começou, Matteo. E Fili
Meses depois... Os meses haviam se passado e minha barriga já estava consideravelmente grande. Eu sentia o bebê se mexer de vez em quando, e isso sempre me trazia um conforto inesperado. Apesar dos desafios que a gravidez trouxe, principalmente com Isabella e a pressão constante ao meu redor, havia uma sensação de alívio. Finalmente, parecia que minha família começava a aceitar a ideia. Isabella, que no início foi agressiva e distante, agora começava a mostrar sinais de aceitação. Talvez, com o tempo, ela entendesse que nada iria mudar, que Matteo continuaria sendo o pai dela, e eu só seria a mãe do nosso filho. Estava na sala, sozinha por alguns momentos, sentindo os raios suaves do sol tocar a minha pele. Matteo estava no escritório, lidando com os inúmeros negócios, como sempre, mas eu sabia que logo ele viria. Eu não gostava de ficar tanto tempo sem vê-lo, mas também entendia que ele tinha responsabilidades. Isabella entrou na sala, seus passos eram cautelosos, como se ainda nã
— A gente podia comprar aquele body azul com o desenho de terno. — Sofia sugeriu, sorrindo ao erguer a peça minúscula. — Ele vai parecer um mini-Matteo. — comentei rindo, com a mão sobre minha barriga já bem aparente. — Eu quero escolher o próximo! — Isabella disse empolgada, puxando meu braço. — Ele vai gostar de dinossauro? Sorri para ela, aliviada. Aquela mudança, mesmo que pequena, me enchia de esperança. Isabella ainda tinha seus momentos difíceis, mas nos últimos dias parecia mais curiosa do que ciumenta. E agora, dentro da loja, estava empolgada como nunca. — Dinossauro é perfeito. — respondi, vendo seus olhos brilharem ao correr até uma arara de roupinhas. Sofia me lançou um olhar cúmplice. — Você venceu, hein? — ela sussurrou. — A menina está pronta para redecorar o quarto inteiro se deixar. — E olha que ainda nem nasceu. Isabella voltou com duas peças nas mãos, um macacão com estampas de dinossauros e outro com aviõezinhos. — Esse é para ele usar quando for brincar c
Ela saiu do quarto como se eu fosse o monstro da porra do filme. E talvez eu fosse mesmo, mas ver Angeline me olhando daquele jeito... como se eu tivesse traído a alma dela, porra, isso me destruiu. Fechei a porta com força, o estalo ecoando pela casa. Meu sangue fervia. A respiração pesada. Eu precisava entender como caralho essa informação tinha chegado até ela. Aquilo era confidencial. Pessoal. Apenas um grupo de pessoas sabiam, Giovanni, Ivan e os capos. E todos estavam do meu lado. Desci as escadas decidido, com os punhos cerrados. Vi Sofia com Isabella na sala, lendo um livro infantil como se o mundo não estivesse desabando lá fora. — Isabella, vai pro quarto, princesa. — minha voz saiu seca, controlada. — Papai já sobe. Ela assentiu e subiu com o livrinho nas mãos. Quando ficou só eu e Sofia, deixei a raiva transbordar. — Foi você, né? — O quê? — ela piscou, surpresa. — Foi você que contou para Angeline sobre a merda da decisão de engravidar ela por causa da porra de um