Não podia negar, estava muito ansiosa para chegar logo em casa e sentar na frente do computador para iniciar a pesquisa necessária que me faria encontrar a mulher da foto.
Após o enterro de Zeto, mamãe resolveu leva a prima Danúbia em casa, pois ela além de não ter carro e não saber dirigir, precisaria pegar um ônibus e atravessar a cidade até chegar em sua residência.
No entanto, não só levamos a prima Danúbia em casa, mas quando chegamos, fomos convidadas para comer um bolo de fubá e tomar café.
Evidentemente mamãe, aceitou enquanto eu não conseguia parar de pensar no que havia acontecido na exumação.
Quando adentramos na casa, nos deparamos com uma casa imensa.
Uma sala três vezes maior que o meu quarto.
Dois quartos e uma cozinha que dava para o quintal.
As casas no subúrbio sempre foram desse jeito.
As ruas calmas e tranquilas, onde na calçada pessoas se sentam em cadeiras de praia perdem a noção do tempo, conversando até o sol se por.
Não há barulho de carro ou gente correndo para trabalhar, apenas a calmaria e os armazéns nas esquinas.
Com certeza, se não fosse longe do que estava acostumada, convenceria mamãe a nos mudar para lugar como esse.
- Prima Danúbia, você não se sente muito sozinha aqui ? - Perguntei, enquanto ela nos mostrava um aposento de cada vez.
- Ah Eliza, já acostumei. Antigamente meus sobrinhos vinham para cá nos finais de semana, mas isso acabou.
Os sobrinhos a quem Danúbia se referia eram Cristiano e Lorena, pessoas que procuraria entender melhor quem eram.
Eu até pensei em perguntar sobre Carlos e Tadeu, mas fiquei com medo de parecer muito curiosa e mamãe me questionar na frente da prima.
Não tinha jeito, teria que esperar e tirar do único lugar as informações que precisava, ou seja, na maravilhosa e acessível internet.
...
A noite vinha caindo.
O dia passara tão depressa, que mal percebemos.
Mamãe e a prima, conversavam como se não houvesse amanhã e não insisti para ir embora.
Deixei que as duas interagissem, relembrando momentos do passado e trazendo à tona pessoas que já se foram.
Se era essa a maneira das duas se confortarem, não atrapalharia.
De vez enquando, fingia prestar atenção e sorria concordando com o que elas diziam, porém com os pensamentos longe... Muito longe.
Quando por fim, mamãe terminou de comer mais um pedaço de bolo de fubá e tomar o café preto na caneca de alumínio, resolveu que estava na hora de voltarmos para casa, afinal mesmo que o bairro da prima Danúbia fosse tranquilo, estávamos no subúbio da cidade e o caminho de volta podia ter alguns imprevistos.
Nos despedimos amorosamente, prometendo voltar para passar o dia e mesmo que eu soubesse que isso não aconteceria, ainda sim, saímos de lá com vontade de retornar.
Entramos no carro, acenamos uma última vez e seguimos nosso caminho.
Eu queria bombardear a minha mãe com perguntas sobre Carlos e Tadeu, mas não queria falar absolutamente nada do que tinha acontecido comigo no cemitério.
Eu precisava ligar os pontos da história que estava apenas começando.
.....
Na garagem de nosso prédio, saltei do veículo tão rápido quanto podia.
Mamãe ficou para trás, já que seus passos eram lentos e vagarosos.
- Eliza... Que pressa é essa?
- Preciso ir ao banheiro, mãe. Vou abrindo a porta. - Menti.
Não ouvi qualquer intervenção de mãmãe e assim que adentrei em casa, liguei meu notebook e coloquei meu celular para carregar.
- Eliza! - Mamãe chamou de novo.
- O que? - Respondi fixada na tela do computador, enquanto ele ligava.
- Você acabou de chegar do cemitério. Vá tomar um banho, menina.
Eu estava tão ansiosa, que realmente não pensei no banho.
Pela lógica, um banho era obrigatório, afinal toda a sujeira adquirida no cemitério, não precisava ficar empregnada nas roupas e nas coisas que tocava dentro de casa.
Arfei meio contrariada, mesmo sabendo que ela tinha razão e corri para debaixo do chuveiro.
Talvez, tenha sido o banho mais rápido da minha vida.
Liguei a água morna, me ensaboei, tirei o sabão e pronto.
Tinha acabado.
Menos de quinze minutos, estava pronta.
Quando saí do banho, mamãe me olhou espantada.
- O que foi? - Perguntei enrolada na toalha.
- Nada. Você levou menos que quinze minutos no banho. Está tudo bem?
Olhei para minha mãe e sorri, tentando disfarçar minha ansiedade.
- Claro que está. Foi um dia longo. Vou descansar. Você precisa de alguma coisa?
- Não. Pode deixar que tomo meu remédio quando for dormir.
- Ok...
Dei-lhe um beijo na testa e ia me retirando quando mais uma vez, mamãe me chamou.
- Eliza...
- Oi, mãe.
- Você foi muito corajosa hoje em fazer o que precisava fazer. Te agradeço.
Olhei para aquela mulher carregada de dores emocionais por ter enterrado tantos entes queridos ao longo da vida e me dei conta de que faria qualquer coisa por ela.
- Por favor... Só não morra, ok?
Ela sorriu e foi tomar um banho, afinal precisava de descanso tanto quanto eu.
.....
Tranquei a porta do quarto, pois não queria ser interrompida de jeito nenhum.
Meu celular estava em vinte e sete por cento de bateria e continuava carregando ao lado da escrivaninha.
Meu computador estava na tela principal e coloquei minha senha abrindo o windowns com todos os meus arquivos e pastas expostas.
Rapidamente acessei minha conta do f******k. Qual melhor lugar para encontrar alguém?
Acessei as fotos no celular.
Precisava ver os nomes que estavam escritos, pois como deduzi, não lembrava de nenhum deles.
Pensei no quanto, tomar a decisão de tirar fotos da foto, foi a melhor coisa que fiz.
Tinha em mãos tudo o que precisava e agora, agiria cautelosamente.
Passei as fotos para o computador e toda vez que visualizava a mulher, ficava impressionada com nossa semelhança. Como pode?
Anotei os nomes em uma folha de papel e pela primeira vez os li atentamente, tentando imaginar os motivos de estarem entre cruzes.
. Heitor alburquerque
. Samuel Feitosa
. Vicente Cardoso
. Dorotéia Ares
. Eva Junqueira
Eram essas pessoas que provavelmente estavam com suas vidas amarradas em algum trabalho espiritual, e minha única intenção era avisá-los.
Como haviam três nomes masculinos e dois femininos, estava convicta de que um desses pertecia a mulher da foto e era exatamente ela quem procuraria, portanto quando a página inicial do meu feed abriu, digitei na lupinha o nome Dorotéia Ares.
Não é todo mundo que se chama Dorotéia e também não é um nome comum, por isso acreditava que seria fácil achá-la.
No entanto, estava errada.
Haviam milhares de Dorotéias e comecei a olhar uma por uma, procurando semelhanças com a mulher da fotografia epara minha surpresa, não havia um só resquício de que Dorotéia fosse a pessoa procurada.
Tentei novamente, e dessa vez coloquei Eva Junqueira e Pimba !!!
A primeira pessoa que apareceu, tinha os traços, a mesma cor de cabelo, pele e corpo da mulher da foto.
Sem pensar duas vezes, cliquei em seu perfil que para a minha sorte a página estava aberta.
Comecei a olhar foto por foto, para ter certeza do que via.
Eu sabia que não podia errar e não tinha a menor ideia de como lhe abordaria, caso fosse quem procurava.
Quando certifiquei-me que Eva era a pessoa da foto, uma dor no estômago me atingiu em cheio.
Era muita emoção para um único dia, mas precisava seguir adiante de qualquer jeito, principalmente agora.
.....
Levantei da cadeira aflita, pensando em como abordar Eva.
Milhões de perguntas latejavam em minha cabeça.
Como chamaria a sua atenção para que ela aceitasse conversar comigo?
Será que acreditaria na minha história ou simplesmente me bloquearia, chamando-me de mentirosa?
E se fosse comigo, será que gostaria que entrassem em contato?
E se ela for da igreja e me desejar um passeio aos quintos dos Infernos?
E se ela não quisesse saber?
Por que isso foi acontecer logo comigo?
O que a foto de Eva fazia dentro do jazigo da minha família?
Será que ela conhecia as outras pessoas, cujos nomes estavam escritos junto com o dela?
O que estava acontecendo?
Que tipo de trabalho era esse?
...
Após andar em cícrulo no quarto pensando no que fazer, estava pronta para falar com Eva.
Eu precisava lhe dizer o que estava acontecendo e ela precisava saber que estava possivelmente correndo algum tipo de perigo.
Eu estava pronta para deixar que Eva falasse tudo o que precisava ser dito.Quase não conseguia conter a ansiedade para juntar as peças do quebra-cabeça....19:27h - Tudo começou quando comecei a trabalhar para um homem conhecido como Caolho. Fui o braço direito dessa pessoa por três anos, levando para dentro da empresa muito dinheiro. Mas em determinado momento, a família de Caolho começou a se meter nos negócios.Eu lia atentamente cada mensagem que ela enviava sem querer perder nenhum detalhe.19:27h - Vou resumir para você, ok?19:27h - Claro!19:29h - Quando a família começou a se meter nos negócios, resolvi fazer um curso e a intromissão do pai, da mãe e da irmã na empresa, era para obrigar Caolho a decretar falência, pois na época todos estavam endividados até o pescoço......&nb
Mamãe há muitos anos, havia montado uma loja de artigos religiosos e o negócio deu tão certo que acabou expandindo para mais dois estabelecimentos em bairros vizinhos.- Vai à faculdade hoje, Eliza?- Sim... E devo demorar para voltar. - Disse lembrando-me do encontro com Eva.- Por quê?- Preciso fazer uns trabalho para entregar semana que vem. - Menti.- Tá bom, mas volte antes das cinco.Beijei amorosamente mamãe e saí de casa rumo a minha aula.A manhã inteira fiquei pensando em Eva e como seria encontrá-la.Na verdade, estava ansiosa para finalizar o nosso assunto pendente e esperava não precisar vê-la mais.Quando deu onze e meia, saí correndo da sala de aula e peguei um táxi para o lugar indicado do encontro.Ao chegar na hora combinada, uma mulher com a mesma altura que a minha, porém acima d
Abraçada aquela pessoa que fisicamente não tinha nada a ver comigo e que por alguma razão nos víamos mutualmente nas fotografias, deixei que minha armadura fosse desmontada, percebendo a importância da situação que nos cercava.Tudo o que sabia por enquanto, era que Eva tinha sido amante de Caolho, a quem ainda desconhecia e por vários motivos, a esposa se propOs a fazer trabalhos espirituais, resultando em um grande esbarrão de minha vida no caminho de todos os envolvidos.Eu precisava de mais respostas, mas não era o momento e entendi perfeitamente que a espera exigida era necessária e não a exigências de respostas que ninguém tinha.- Eliza.. - Eva se afastou de mim, enxugando suas lágrimas. - Você sabe que é uma grande médium? Ou já desconfiou de sua sensitividade?Eu não sabia exatamente onde Eva queria chegar, mas
Na semana seguinte por volta das treze horas de segunda-feira, retornei ao centro de Eva e Martim, a quem não tinha sido apresentada oficialmente.No portão azul, uma fila quilométrica se extendia até a esquina na rua e deduzi que fosse para o tratamento de Reiki.Passando na frente de todo mundo, toquei a campanhia e vi que algumas pessoas me olharam de cima abaixo, reprovando minha ação proditória de passar na frente.Tão logo o portão se abriu e Eva me recebeu com um largo sorriso no rosto.Seu semblante descansado combinava perfeitamente com o lindo uniforme branco da casa, que levava o emblema próximo ao ombro esquerdo.- Olá, Eliza! Entre por favor. - Fui cumprimentada amigavelmente e de forma entusiasmada.Quando a porta atrás de mim foi fechada, mal contive minha ansiedade.- As pessoas que estão ali fora, são para o R
Não demorou para que me enturmasse com os médiuns da casa e tão logo conhecer um por um.O meu trabalho no Reiki que englobava preencher e ouvir histórias de pessoas de todos os tipos, exalava dentro de mim uma sensibilidade em entender mais e melhor as doenças e os tipos de ajudas que os assistentes necessitavam.Às vezes, apenas o meu bom ouvido já resolvia o problema, no entanto, outras vezes isso acabava não sendo o suficiente.Passei a perceber que o centro como um todo, me fazia muito bem. Dormia melhor e ficava menos ansiosa.Na faculdade, não me sentia tão sobrecarregada e estava mais animada para eventos sociais.Porém, alguma coisa dentro de mim insistia para que levasse mamãe até o tratamento de Reiki ministrado por Eva e seus "filhos".Queria que ela conhecesse o meu recente trabalho voluntário que surtia efeito substanci
Mamãe e eu chegamos com uma hora de antecedência para o Reiki por motivos óbvios, pois precisava me organizar para começar a distribuir e preencher as fichas dos assistentes.Quando Eva e Martim nos viram, vieram logo nos cumprimentar animadamente e parecia que mamãe era uma velha amiga, já que a sintonia que exalavam na primeira vez que se viam indicava um reencontro.Mamãe ficou atenta a cada detalhe do lugar e principalmente aos médiuns que transitavam para lá e para cá.- Vá Eliza! Leve sua mãe para cima e a acomode. O portão abre daqui a pouco.- Sim Eva, obrigada. - Obedeci guiando mamãe para o segundo andar.Subimos em silêncio e a música Reikiana que envolvia o ambiente trazia ainda mais tranquilidade.- Mãe senta aqui, por favor. Vou arrumar as coisas para começar a receber os assistentes. Você vai ser a
Foram três meses de aprendizado teórico no Reiki.A professora e médium Patrícia que ministrava o curso dentro do próprio centro, tinha semanalmente uma demanda de dez a quinze alunos por aula e como as aulas aconteciam toda quinta-feira, o estudo se dava ao dia inteiro.A procura pelo curso entre os próprios médiuns da casa, aumetava gradativamente.A conclusão dos primeiros três meses de aula teórica nos proporcionava uma passagem para o início do conhecimento prático.Porém, era exigido que continuássemos a assistir as aulas que consequentemente se intercalariam com o treinamento prático no dia do Reiki.Apostilas, cadernos, canetas e muitos livros foram usados por mim constantemente, já que meu comprometimento com a atividade me envolvia cada vez mais.Começava a aprender a usar minha energia de forma adequada.A en
Diferente de Eva, Martim residia dentro do Centro. No fundo do terreno, havia uma casinha semelhante a de um caseiro, onde um quarto, sala cozinha e banheiro acomodavam o comodante.Os comentários eram que ninguém tinha permissão para entrar no seu lar sem ser convidado, a não ser Eva, a única que podia transitar livremente em qualquer lugar do terreiro.No entanto, assim que toquei a campanhia, a porta logo se abriu, pois Martim me aguardava chegar. Seu andar lento e seu semblante preocupado parecia saber que suplicava por ajuda.- Entre minha filha. Eva me ligou e em breve estará aqui.Entrei aflita e com o coração acelerado. Estava tão aterrorizada querendo tantas respostas que era difícil saber por onde começaríamos.Martim pediu que fosse até o escritório, pois ele subiria em seguida.- E Eva? - Perguntei ansiosa, parada no meio da es