Capítulo 4

Não podia negar, estava muito ansiosa para chegar logo em casa e sentar na frente do computador para iniciar a pesquisa necessária que me faria encontrar a mulher da foto.

Após o enterro de Zeto, mamãe resolveu leva a prima Danúbia em casa, pois ela além de não ter carro e não saber dirigir, precisaria pegar um ônibus e atravessar a cidade até chegar em sua residência.

No entanto, não só levamos a prima Danúbia em casa, mas quando chegamos, fomos convidadas para comer um bolo de fubá e tomar café.

Evidentemente mamãe, aceitou enquanto eu não conseguia parar de pensar no que havia acontecido na exumação.

Quando adentramos na casa, nos deparamos com uma casa imensa.

Uma sala três vezes maior que o meu quarto.

Dois quartos e uma cozinha que dava para o quintal.

As casas no subúrbio sempre foram desse jeito.

As ruas calmas e tranquilas, onde na calçada pessoas se sentam em cadeiras de praia perdem a noção do tempo, conversando até o sol se por. 

Não há barulho de carro ou gente correndo para trabalhar, apenas a calmaria e os armazéns nas esquinas.

Com certeza, se não fosse longe do que estava acostumada, convenceria mamãe a nos mudar  para lugar como esse.

- Prima Danúbia, você não se sente muito sozinha aqui ? - Perguntei, enquanto ela nos mostrava um aposento de cada vez.

- Ah Eliza, já acostumei. Antigamente meus sobrinhos vinham para cá nos finais de semana, mas isso acabou.

Os sobrinhos a quem Danúbia se referia eram Cristiano e Lorena, pessoas que procuraria entender melhor quem eram.

Eu até pensei em perguntar sobre Carlos e Tadeu, mas fiquei com medo de parecer muito curiosa e mamãe me questionar na frente da prima.

Não tinha jeito, teria que esperar e tirar do único lugar as informações que precisava, ou seja, na maravilhosa e acessível internet.

...

A noite vinha caindo.

O dia passara tão depressa, que mal percebemos.

Mamãe e a prima, conversavam como se não houvesse amanhã e não insisti para ir embora.

Deixei que as duas interagissem, relembrando momentos do passado e trazendo à tona pessoas que já se foram.

Se era essa a maneira das duas se confortarem, não atrapalharia.

De vez enquando, fingia prestar atenção e sorria concordando com o que elas diziam, porém com os pensamentos longe... Muito longe.

Quando por fim, mamãe terminou de comer mais um pedaço de bolo de fubá e tomar o café preto na caneca de alumínio, resolveu que estava na hora de voltarmos para casa, afinal mesmo que o bairro da prima Danúbia fosse tranquilo, estávamos no subúbio da cidade e o caminho de volta podia ter alguns imprevistos.

Nos despedimos amorosamente, prometendo voltar para passar o dia e mesmo que eu soubesse que isso não aconteceria, ainda sim, saímos de lá com vontade de retornar.

Entramos no carro, acenamos uma última vez e seguimos nosso caminho.

Eu queria bombardear a minha mãe com perguntas sobre Carlos e Tadeu, mas não queria falar absolutamente nada do que tinha acontecido comigo no cemitério.

Eu precisava ligar os pontos da história que estava apenas começando.

.....

Na garagem de nosso prédio, saltei do veículo tão rápido quanto podia.

Mamãe ficou para trás, já que seus passos eram lentos e vagarosos.

- Eliza... Que pressa é essa?

- Preciso ir ao banheiro, mãe. Vou abrindo a porta. - Menti.

Não ouvi qualquer intervenção de mãmãe e assim que adentrei em casa, liguei meu notebook e coloquei meu celular para carregar.

- Eliza! - Mamãe chamou de novo.

- O que? - Respondi fixada na tela do computador, enquanto ele ligava.

- Você acabou de chegar do cemitério. Vá tomar um banho, menina.

Eu estava tão ansiosa, que realmente não pensei no banho.

Pela lógica, um banho era obrigatório, afinal toda a sujeira adquirida no cemitério, não precisava ficar empregnada nas roupas e nas coisas que tocava dentro de casa.

Arfei meio contrariada, mesmo sabendo que ela tinha razão e corri para debaixo do chuveiro.

Talvez, tenha sido o banho mais rápido da minha vida.

Liguei a água morna, me ensaboei, tirei o sabão e pronto.

Tinha acabado.

Menos de quinze minutos, estava pronta.

Quando saí do banho, mamãe me olhou espantada.

- O que foi? - Perguntei enrolada na toalha.

- Nada. Você levou menos que quinze minutos no banho. Está tudo bem?

Olhei para minha mãe e sorri, tentando disfarçar minha ansiedade.

- Claro que está. Foi um dia longo. Vou descansar. Você precisa de alguma coisa?

- Não. Pode deixar que tomo meu remédio quando for dormir.

- Ok...

Dei-lhe um beijo na testa e ia me retirando quando mais uma vez, mamãe me chamou.

- Eliza...

- Oi, mãe.

- Você foi muito corajosa hoje em fazer o que precisava fazer. Te agradeço.

Olhei para aquela mulher carregada de dores emocionais por ter enterrado tantos entes queridos ao longo da vida e me dei conta de que faria qualquer coisa por ela.

- Por favor... Só não morra, ok?

Ela sorriu e foi tomar um banho, afinal precisava de descanso tanto quanto eu.

.....

Tranquei a porta do quarto, pois não queria ser interrompida de jeito nenhum.

Meu celular estava em vinte e sete por cento de bateria e continuava carregando ao lado da escrivaninha.

Meu computador estava na tela principal e coloquei minha senha abrindo o windowns com todos os meus arquivos e pastas expostas.

Rapidamente acessei minha conta do f******k. Qual melhor lugar para encontrar alguém?

Acessei as fotos no celular.

Precisava ver os nomes que estavam escritos, pois como deduzi, não lembrava de nenhum deles. 

Pensei no quanto, tomar a decisão de tirar fotos da foto, foi a melhor coisa que fiz.

Tinha em mãos tudo o que precisava e agora, agiria cautelosamente.

Passei as fotos para o computador e toda vez que visualizava a mulher, ficava impressionada com nossa semelhança. Como pode?

Anotei os nomes em uma folha de papel e pela primeira vez os li atentamente, tentando imaginar os motivos de estarem entre cruzes.

. Heitor alburquerque

. Samuel Feitosa

. Vicente Cardoso

. Dorotéia Ares

. Eva Junqueira

Eram essas pessoas que provavelmente estavam com suas vidas amarradas em algum trabalho espiritual, e minha única intenção era avisá-los.

Como haviam três nomes masculinos e dois femininos, estava convicta de que um desses pertecia a mulher da foto e era exatamente ela quem procuraria, portanto quando a página inicial do meu feed abriu, digitei na lupinha o nome Dorotéia Ares.

Não é todo mundo que se chama Dorotéia e também não é um nome comum, por isso acreditava que seria fácil achá-la. 

No entanto, estava errada. 

Haviam milhares de Dorotéias e comecei a olhar uma por uma, procurando semelhanças com a mulher da fotografia epara minha surpresa, não havia um só resquício de que Dorotéia fosse a pessoa procurada.

Tentei novamente, e dessa vez coloquei Eva Junqueira e Pimba !!!

A primeira pessoa que apareceu, tinha os traços, a mesma cor de cabelo, pele e corpo da mulher da foto.

Sem pensar duas vezes, cliquei em seu perfil que para a minha sorte a página estava aberta.

Comecei a olhar foto por foto, para ter certeza do que via.

Eu sabia que não podia errar e não tinha a menor ideia de como lhe abordaria, caso fosse quem procurava.

Quando certifiquei-me que Eva era a pessoa da foto, uma dor no estômago me atingiu em cheio.

Era muita emoção para um único dia, mas precisava seguir adiante de qualquer jeito, principalmente agora.

.....

Levantei da cadeira aflita, pensando em como abordar Eva.

Milhões de perguntas latejavam em minha cabeça.

Como chamaria a sua atenção para que ela aceitasse conversar comigo?

Será que acreditaria na minha história ou simplesmente me bloquearia, chamando-me de mentirosa?

E se fosse comigo, será que gostaria que entrassem em contato?

E se ela for da igreja e me desejar um passeio aos quintos dos Infernos?

E se ela não quisesse saber?

Por que isso foi acontecer logo comigo?

O que a foto de Eva fazia dentro do jazigo da minha família?

Será que ela conhecia as outras pessoas, cujos nomes estavam escritos junto com o dela?

O que estava acontecendo?

Que tipo de trabalho era esse?

...

Após andar em cícrulo no quarto pensando no que fazer, estava pronta para falar com Eva.

Eu precisava lhe dizer o que estava acontecendo e ela precisava saber que estava possivelmente correndo algum tipo de perigo.

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