Capítulo 4

Me deu um fora. Como se eu fosse tão desprezível ao ponto de uma mulher querer me dar um fora, preciso entender Amélia . Por um lado, talvez esses poderes malucos podem me ajudar a descobrir o que se passa naquela cabeça rosa.

Até que não é uma má ideia ouvir os pensamentos das pessoas. Quer saber? vou aproveitar isso.

Bufei entediado mudando os canais da TV, não se passa nada que presta no sábado? Enfiei a mão no balde de pipoca mastigando aquela coisa sem gosto com descrença.

— Com licença. — Alana tomou o controle de minhas mãos com toda sua delicadeza e se jogou no sofá ao lado mudando de canal.

— Educação mandou lembrança. — revirei os olhos.

— Fala pra ela que eu não fui educada. — me deu um sorriso irônico.

O que ela quis dizer com isso?

— Vou fingir que não ouvi isso.

"idiota"

Será que essa menina só sabe me xingar em pensamentos? eu sou tão ruim assim? 

A observei tentando entender o que foi que eu fiz pra essa menina me desrespeitar tanto, eu dou de tudo para ela e sou o melhor pai do mundo. O que Alana pode querer mais? vai entender a cabeça do sexo feminino, eu já mencionei que preferia um filho homem? aposto que ele não estaria me xingando em pensamentos agora.

Bufei voltando minha atenção para a televisão e estreitei os olhos vendo dois brutamontes sem camisa brigando. Olhei para minha filha e seus olhos brilhavam até saia baba da boca.

O que minha filha anda assistindo? que pouca vergonha.

— Alana, acho que você não tem idade para assistir esse tipo de coisa, o que acha de assistir algo educacional para a sua idade? — disse fazendo meu papel de bom pai.

— Não. — respondeu desinteressada.

Me levantei e segui até ela tomar o controle de suas mãos, ela resmungou e eu mudei de canal.

— Pois eu acho que você não deve assistir essas porcarias, olha aí assisti peppa pig isso sim é educacional para sua idade. — deixei no canal do desenho animado e Alana olhou para os porquinhos cor de rosa na tv fazendo uma careta.

— Pai vai dormir e me deixa assistir em paz. — ela bufou tentando tomar o controle de minhas mãos e eu neguei levantando o braço.

— Nada de assistir essas coisas que não te dará nenhum futuro, pode ir para o quarto estudar.

— Você é um saco. 

Alana rosnou se levantando e foi para o quarto pisando duro. 

Balancei a cabeça e mudei de canal deixando no jogo de vôlei de mulheres de biquíni.

— Isso sim que é educativo. — voltei a me jogar no sofá e a comer aquela pipoca sem gosto.

— CADÊ O POVO DESSA CASA? — ouvi o grito de Noah e revirei os olhos.

— Noah, será que você pode falar sem gritar?

— Não enche Lucas.

— OLHA LÁ ELE, SÓ NA FOLGA, LEVANTA ESSA BUNDA DO SOFÁ.

Bufei vendo as criaturas que eu chamo de amigos parados em minha frente, será que eles sabem que estão na frente da TV e que não são transparentes? não se tem sossego nem na própria casa. 

Vou descontar 20% do salário da Samara por ela ter deixado a porta aberta.

— Cadê a Alana? Alana ADVINHA QUEM TEM INGRESSOS PARA A LUTA DE HOJE À NOITE? — Noah gritou tomando minha pipoca.

Ouvi passos pesados no andar de cima e Alana desceu as escadas correndo e  gritando.

— AAAA VOCÊ É O MELHOR Noah. — minha filha pulou no colo do loiro sacudindo que nem louca os ingressos que ele tinha tirado do bolso.

— EU SEI EU SOU O MELHOR.

Idiota. 

— São os da área vip. — Lucas murmurou com sua cara de paisagem de sempre e Alana gritou mais alto.

— Vamos parando de algazarra que aqui não é puteiro, que ingressos são esses aí? — coloquei um fim naquela gritaria e todos me olharam com gotas na cabeça.

— Você é surdo? não ouviu eu falando que é a da luta de hoje a noite? — Noah finalmente falou sem gritar colocando Alana no chão.

Ela saltitava cantando.

— E quem disse que você vai levar minha filha para uma luta? —  cruzei os braços erguendo uma sobrancelha.

— A não pai, não começa. — Alana resmungou parando de saltar.

— Não vai ser eu, vamos todos nós. —  ele riu apontando para todo mundo.

— E quem disse que eu vou para essa porcaria? — retruquei.

— Ah você vai sim. — Noah cantarolou.

— Não vou mesmo.

— Claro que vai.

—  Vai se fuder Noah, eu disse que não vou e ponto final, Alana também não vai ela é uma criança e vai passar a noite assistindo Dora Aventureira.

" Por que eu tinha que ter um pai tão chato? "

Olhei feio para Alana que tinha um bico maior que o mundo.

— Estraga prazeres. — ela bufou.

— Não se preocupe Alana, o seu pai vai.

— Noah você é surdo ou é a velhice chegando? eu já disse que não vou, o que te faz achar que eu vou mudar de ideia? —  revirei os olhos e o loiro riu tirando o celular do bolso.

— Isso. — ergueu o celular em minha direção com um sorriso maligno.

Arregalei os olhos me preparando para matar aquele projeto de esperma defeituoso. Como aquele infeliz conseguiu aquela foto?

— Noah SEU FILHO DA PUTA.

(...)

           Bufei tentando passar no meio daquela multidão barulhenta, o que essas pessoas têm na cabeça para virem em um lugar desses? e essas mulheres estão todas no cio? elas só sabem pensar em sexo? ai minha cabeça. Ainda mato o Noah. 

" Morri e fui pro céu "

" Olha pra mim seu gostoso "

" É hoje que eu me acabo "

" Aqui é o paraíso dos homens delícias "

— AHA É AQUI. — Noah gritou encontrando nossas cadeiras na arquibancada.

Ele se jogou na cadeira e Lucas se sentou ao seu lado esquerdo enquanto Alana se sentava ao seu lado direito. 

— Senta logo essa bunda aí Dante.

— Vá a merda.

Me sentei ao lado de Alana que comia salgadinhos animada, estávamos  em frente ao ringue e eu acho bom não voar sangue na minha roupa ou cabeças vão rolar.

— Isso vai ser demais. — Alana comemorou.

Qual o problema dessa garota? por que ela não vai brincar de boneca?

" Isso gato aperta com força "

" Que homem gostoso, multiplica senhor. "

É sério isso? vou ter que ficar ouvindo pornografia agora? que pouca vergonha ninguém mais se dá o respeito.

— OLHA LÁ VAI COMEÇAR. —  Noah gritou apontando para o ringue.

As pessoas em volta gritaram e um homem apareceu dando boas vindas a todos. Peguei meu celular colocando no joguinho da cobrinha, era bem mais interessante. 

"Finalmente, cheguei a tempo"

Ergui a cabeça ao ouvir uma voz conhecida e vi minha secretária atrapalhada se sentar ao meu lado com os braços cheios de besteira. Sorri não acreditando nisso, aquilo só podia ser obra do destino.

" Acho que perdi o meu troco de novo, saco meu bolso só pode estar furado "

— Não sabia que gostava de lutas. — murmurei atraindo sua atenção.

Amélia  pulou em sua cadeira quase derrubando sua lata de refrigerante.

— Senhor Lawrence ? — olhou para mim surpresa.

— Em carne e osso.

" Deus, por que esse homem está brotando em todos os lugares que eu vou? "

Acho que é o contrário.

— O que o Senhor faz aqui? — perguntou abrindo uma lata de refrigerante.

— O mesmo que você. — retruquei ouvindo os lutadores sendo anunciados.

Ela sorriu balançando a cabeça voltando sua atenção para o ringue. Apertei os olhos observando sua expressão relaxada enquanto olhava a luta que havia acabado de começar. Me senti incomodado e com uma vontade imensa de fazê-la me notar, talvez roubando suas pipocas ou derramando refrigerante em sua cabeça para fazê-la pagar pelo fora que me deu hoje de manhã.

Nem uma desculpa decente ela me deu, sim eu estava com o orgulho ferido e estava me segurando para não dar umas boas lições de moral para aquela mulher petulante.

Se bem que ela é minha secretária e eu sou seu chefe, tecnicamente eu mando nela e posso pensar em alguma vingança. Mas acho que isso só a afastaria mais e eu preciso atraí-la e descobrir qual era a dela.

            Os brutamontes começaram a se socar e a plateia a gritar.  Noah  parecia uma gazela gritando e estava prestes a entrar dentro do ringue.

Bocejei fingindo me espreguiçar esticando os braços para usar minha técnica infalível, mas quando iria tocar em seus ombros Amélia  da um pulo na cadeira se afastando e começou a gritar e a torcer por um idiota que estava apanhando.

Juntei as mãos em meu colo ouvindo o riso de um gorducho que estava sentado atrás de mim.

— Tenta outra colega. — debochou da minha cara.

Ergui uma sobrancelha me segurando para não mandá-lo para aquele lugar. Bando de gente enxerida.

Voltei minha atenção para Amélia  que voltou a ficar quieta na cadeira e eu voltei a esticar o braço, quando estava prestes a tocá-la a mesma se vira para mim com as sobrancelhas erguidas. 

Puxei o braço de volta sorrindo .

" O que ele está fazendo? Será que tem uma abelha no meu cabelo?

— Algum problema, senhor Lawrence ?

— Tinha uma abelha no seu cabelo. — respondi e ela arregalou os olhos levando as mãos aos cabelos os bagunçando.

"Ai meu deus"

— Ela já voo. — me apressei a dizer.

— Ufa, não gosto muito de abelhas. — riu sem graça e eu assenti.

Ela voltou sua atenção para a luta e eu fiz o mesmo vendo sangue voando do nariz de um dos brutamontes. Cruzei os braços olhando as horas no celular impaciente,  aquilo era um saco.        

— É ISSO AÍ. — Alana se levantou gritando.

Aquela gritaria só fazia minha cabeça doer mais ainda.

— Alana não grita. — resmunguei e ela nem deu bola.

— É a sua filha? — Amélia  finalmente me deu atenção.

— É, minha amada filhinha. — murmurei a vendo sorrir.

" Que linda, deve ser uma menina adorável"

Iludida.

— Se parece muito com você.

— Eu sou mais bonito. — respondi e ela começou a gargalhar.

— É ISSO AI METE UM CHUTE NOS OVOS DELE. — Alana  gritou e Amélia  voltou a atenção para a luta começando a gritar também.

— NÃO, NÃO, SOCA A CARA DELE.

— DE ESQUERDA.

— DÁ UMA COTOVELADA NOS RINS.

— CHUTA A BUNDA DELE.

" Vai sanguessuga você precisa ganhar seu lindo"

" A não, vai acabar desfigurando seu rostinho lindo"

Olhei para as duas que gritavam feito doidas e bufei me sentindo excluído. Como se aqueles homens horrorosos fossem bonitos, eles deveriam depilar aquela mata atlântica do suvaco.

E Alana estava muito saidinha pro meu gosto. Preciso ter uma conversa bem séria com essa menina. Quem ela pensa que é pra achar lutadores bonitos? uma criança.

— Vai Senhor Lawrence  torça também. — Amélia  balançou os braços exasperada em minha direção.

— Uuuu mata ele. — fingi falsa animação.

" Deprimente, tadinho devia beber um energético tá parecendo um velhinho "

Agora ela pegou pesado.

— Quem é velho aqui? VAI LÁ PROJETO DE OGRO QUEBRA A CABEÇA DELE. — me levantei começando a gritar.

— MAIS PRA DIREITA.

— MATA ELE, MATA.

— AAA CUIDADO.

— ISSO SOCA MAIS, SOCA MAIS, JÁ TO VENDO O FÍGADO SAINDO PELA BOCA.

— Pai o Senhor está exagerando.

— Cala a boca menina, ISSO ARRANCA O OLHO DELE.

— AAA ELE GANHOU, ELE GANHOU. — Amélia  gritou pulando feito doida e Alana a acompanhou chamando o nome do cara que estava se achando o rei do pedaço.

Ele ganhou, esperei, pra quem eu tava torcendo mesmo?

— UUUU É ISSO MOSTRA QUEM MANDA. GANHAMOS. — Noah começou a pular e a me abraçar feito doido.

— Sai. — o empurrei para longe lhe dando um soco no braço.

Jamanta loira.

— ESSA LUTA FOI FODA ADMITA.

— Foi uma bosta.

Um fato sobre minha pessoa, eu nunca minto.

— Seu sem cultura.

— EU QUERO UM AUTÓGRAFO. — Alana gritou correndo pela multidão.

— Alana SUA DEMONIA VOLTA JÁ AQUI MENINA LEVADA.

— Eu TAMBÉM QUERO. — Noah foi atrás dela.

— Eu também vou porque crianças sozinhas sempre dão merda. — Lucas revirou os olhos os seguindo.

Não sei quem é mais criança Alana ou Noah.

— Seus amigos são bem divertidos. — A voz de Amélia  atraiu minha atenção.

— São idiotas. O Lucas é o mais normal depois de mim.

— Você é engraçado. — ela riu pegando suas coisas no banco.

Engraçado? fala sério, eu não tenho nada de engraçado. Como se eu fosse igual aqueles idiotas que ficam fazendo idiotices pra chamar atenção das mulheres, Noah era um desses mas eu não.

Eu não preciso disso.

— Bom, eu tenho que ir agora, até segunda Senhor Lawrence.

" Ai que calor, o que eu faço? "

Uma loira gostosa passou se abanando e piscou em minha direção.

— Se joga em um rio a água deve estar bem gelada a uma hora desses. — revirei os olhos e a mulher me olhou estranho antes de sumir no meio da multidão.

Olhei para minha secretária e ela também me olhava estranho.

— O que o Senhor disse?

— Nada não estava falando sozinho.

— Hum, tudo bem então, boa noite. — sorriu e me deu as costas.

— Eu posso te levar se quiser. — a segui lhe dando meu sorriso mais galante.

Elas nunca resistem.

— Precisa não vou de coletivo.

Essa doeu lá no fígado. Como ela prefere um ônibus cheio de pessoas fedorentas ao invés da minha humilde e linda companhia?

— Eu insisto.

— O Senhor é muito gentil mas não precisa.

— Vai rejeitar uma carona do seu chefe? vou ficar magoado.

Ela não escapa.

— Não quero magoar o Senhor mas... — murmurou nervosa gesticulando as mãos rapidamente.

" O que eu faço? por que ele está sendo tão gentil? "

— Então você aceita, boa escolha. Vamos. — toquei em sua cintura fina a empurrando pela multidão.

— Mas..

— Vamos Smith .

— Mas e sua filha e seus amigos? 

— Eles vão ficar bem, Noah esta de carro.

— Tudo bem. — ela se rendeu.

" Tomara que eu não me arrependa disso "

— Não vai. — sorri torto.

— O que disse? — me olhou confusa.

— Nada.

Saímos daquela muvuca e eu guiei minha secretária em direção ao estacionamento, mas infelizmente uma criatura que eu esperava não ver tão cedo apareceu em nossa frente.

" Olha o que temos aqui, filho da puta gostoso. "

April. Minha antiga secretária.

Ela ergueu o dedo em nossa direção começando a rir igual uma rã com gastrite.

— O mundo é pequeno demais pra nós  dois não é Senhor Lawrence ? — debochou começando a  pular e a rir ao mesmo tempo.

Mereço.

— April.

Ela parou de rir e se aproximou de mim, dei um passo para trás e a maldita se abaixou vomitando em meus pés. 

Puta que pariu.

— Qual o seu problema, sua maluca? — rosnei e a ruiva continuou a rir limpando a boca suja.

— Ela está bem? — Amélia  a olhou preocupada.

— Vamos logo. 

Tentei passar por aquela idiota mas ela me parou empurrando meu peito para trás com as mãos.

— Já está iludindo outra? — olhou para a Smith  com pena. 

— Não eu sou apenas a secretária dele. — Amélia  disse rapidamente.

— Todas são a secretária dele. Fuja enquanto é tempo antes que ele te foda gostoso e depois te mande embora. Esse vadio, cachorro, sem vergonha. — ela começou a chorar e a me bater ao mesmo tempo.

Eu estou pensando seriamente em matá-la agora.

Olhei para Amélia  que me encarava séria e constrangida.

— Para com esse Show April.

— Você quer Show é? eu vou te dar um Show. VOCÊ FOI O CULPADO DESSE AMOR SE ACABAR...VOCÊ QUE DESTRUIU A MINHA VIDA....

Ela começou a berrar enrolando a língua. Onde tem um buraco pra mim enfiar a cabeça?

— ESTOU INDO EMBORA AGORA...A MALA JÁ ESTA LA FORA...POR QUE MULHER NÃO CHORA. — berrou morrendo de chorar.

— Moça se acalma. — Amélia  tentou fazer a maluca se acalmar.

" Céus que situação constrangedora, tadinha dessa mulher "

Ela pegou uma pedra tentando acertar em mim, mas não era boa de mira e acertou um carro do outro lado da rua disparando seu alarme.

Que demência. 

— SENHOR Lawrence  FAÇA ALGUMA COISA. — Amélia  gritou apontando para April que abraçava um porte o beijando.

— Ela ta bêbada, quer que eu faça o quê? — cruzei os braços soltando uma lufada de ar.

Eu não mereço isso.

Por que todo bêbado acha que é cantor?

— Acho que você deveria levá-la para casa, ela esta assim por sua culpa afinal. — Amélia  murmurou.

Ela estava me acusando? 

— Vou chamar um táxi.

— Faça o que achar melhor só não a deixei sozinha nesse estado algo ruim pode acontecer, eu estou indo embora, já deu por hoje mas obrigada pelo convite da carona.

" Pelo visto Samy estava mesmo certa, pensei que ele fosse uma pessoa legal "

Ela soltou um suspiro e acenou me dando as costas. Abri a boca vendo se afastar para longe, isso não foi nada legal. Machucou o coração que eu não tenho.

Eu sou uma pessoa legal e maravilhosa. 

— Espera. — chamei em vão pois ela não parou.

Que bosta.

— ACREDITEI QUE ERA PRA VALER A LUA ME TRAIU..... — April cantava dançando no poste sacudindo os cabelos. — CALYPSO PAMPARAM RARARARA FIQUEI SOZINHA E LOUCA POR VOCÊ AAAAAA NÃO CONSIGO TE ESQUECER.

É nessas horas que você pensa seriamente em se jogar de uma ponte.

— Pai.

Olhei para trás desanimado e vi Alana se aproximando com Noah e Lucas.

— Ela tá doida? — Alana apontou para April que beijava o poste chorando.

— Ei aquela não é sua antiga secretária? — Noah apertou os olhos olhando para a ruiva doida.

— Infelizmente. — respondi com descrença. 

— AHA ATÉ QUE CANTA BEM...TÔ SOFRENDO, TÔ SOFRENDO TENTANDO TE ENCONTRAR NA MADRUGADA...A LUA ME TRAIUUUU... — o idiota começou a cantar junto com a ruiva.

Era  só o que faltava. 

— Vamos embora antes que eu mate alguém. Será que você pode colocar aquela maluca em um táxi Lucas? — puxei Alana e olhei para Lucas piscando os olhos não acreditando no que estava vendo.

Ele estava dançando Calypso, mas sua postura ficou séria assim que notou meu olhar em si. Eu achei que Lucas fosse normal mas pelo visto estou cercado de noiados malucos. 

— Claro. — ele assentiu sorrindo falso.

— Valeu.

Peguei Alana e a puxei o mais rápido possível antes que me contaminasse também.

— FIQUEI SOZINHA LOUCA POR VOCÊ...A LUA ME TRAIU...NÃO CONSIGO TE ESQUECER...APAIXONADA POR VOCÊ...

Entrei no carro vendo Noah abraçado a April chorando junto com ela. Ignorei aquela demência e liguei o carro dirigindo para longe dali.

Esse povo precisa urgentemente de um psiquiatra.

— Pai. — Alana me chamou e eu a olhei de lado.

— Hum?

—  Olha é aquela mulher de cabelos rosas que estava com a gente na luta, ela está sendo assaltada por um anão. — ela apontou para o ponto de ônibus do outro lado da rua e eu freei o carro.

Merda. 

Desci do carro olhando para o ponto de ônibus vendo minha secretária brigando com um anão.

— PASSA A BOLSA MOÇA. — ele gritou puxando a alça da bolsa rosa, mas Amélia  não soltava.

Estava parecendo um cabo de guerra.

— Seu anãozinho mal criado, não é assim que se trata uma dama. — ela brigou olhando feio para aquele pedaço de gente.

— Que dama moça? isso aqui não é xadrez é um assalto, passa logo a bolsa que eu preciso ir fazer ponto na esquina ainda hoje.

— Que horror, além de ladrão é um homem da vida? o que sua mãe diz sobre isso? — Amélia  o olhou horrorizada. 

— Ela manda eu fazer o serviço direito e cobrar mais caro e não me olha assim, a crise tá feia pra todos, agora passa logo a bolsa ou eu vou ter que tomar medidas drásticas.

A crise não ta boa pra ninguém.

— Pai faz alguma coisa, não fica aí parado. — Alana brigou.

Estufei o peito e marchei em direção a eles, essa é uma boa oportunidade para ser o herói e salva-la de um assalto, ela vai ficar maravilhada e vai me agradecer pelo resto da vida.

— Ei seu tampinha, deixa a moça em paz. — cheguei colocando moral na bagaça.

Eu sou foda. 

— Senhor Lawrence ? — Amélia  me olhou surpresa.

— Não atrapalha velhote. — o anão resmungou. 

Meu olho começou a tremer em um tique nervoso. Por que caralhos todo mundo resolveu me chamar de velho? EU NÃO SOU VELHO PORRA.

— EU NÃO SOU VELHO CARALHO,  SOLTA ESSA BOLSA AGORA. — Gritei irritado.

O anão arqueou uma sobrancelha e soltou a bolsa me olhando de cima a baixo. Jogou os cabelos loiros para o lado e fez uma cara feia.

— Eu não precisava disso mesmo, minha mãe tem três empregos. — empinou o nariz.

Duvido.

— Ótimo, cai fora daqui e nunca mais assalte moças indefesas. 

— Olha aqui pra você velhote. — ergueu o dedo do meio e saiu pulando para trás começando a dançar. — OPPAN GANGNAM STYLE, OP, OP, OP, OP, OPPAN GANGNAM STYLE...

Começou a cantar ``oppan gangnam style'' e Amélia  o acompanhou. 

Fala sério. 

Logo depois sumiu pela rua escura pulando feito canguru. Feioso, não sabe nem dançar.

— Obrigada Senhor Lawrence . — Amélia  suspirou aliviada colocando a bolsa no ombro.

— Dá pra aceitar a carona agora? ou vai querer ser assaltada de novo? — apontei para o carro e Alana acenou.

Amélia  sorriu fraco e assentiu me seguindo até o carro.

" Sou uma idiota "

— Não, você não é. — disse abrindo a porta para ela que entrou me olhando surpresa.

Sorri contornando o carro e entrei no mesmo o ligando. Alana acenou para ela e Amélia  sorriu a cumprimentando.

— Seu cabelo é bem bonito. — Alana elogiou.

— O seu também é muito lindo.

— Não acho, vou pintar de azul.

— Nem pensar. — retruquei.

Menina levada. 

— Meu pai é um chato. — resmungou e Amélia  riu.

— Ele só quer o melhor para você. — a Smith  murmurou e Alana pareceu ficar pensativa.

Alguém me entende nessa bagaça.

" Dante deve ser um ótimo pai "

A olhei pelo retrovisor, ela não tirava o sorriso do rosto. Como ela podia ser tão...tão sei lá, gente boa. Depois de tudo que ouviu daquela maluca da April ainda estava me tratando bem. 

Isso era bom. Era confuso mas era bom.

— O que será que esta passando no rádio? — Alana ligou o som.

Acreditei que era pra valer...A lua me traiu.

Caralho.

— Essa música é boa....EM UMA NOITE ENCANTADA...

Alana e Amélia  começaram a gritar.

Alguém tenha misericórdia dessa pobre alma enlouquecida.

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