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Os primeiros sinais de confronto

#Madalena

O dia amanheceu ainda mais frio do que a noite anterior. Pela minha pequena janela consigo ver a neve branca cobrindo o jardim. Particularmente, eu adorei o fato do meu pequeno quarto dar para o enorme jardim da mansão, que nessa época do ano ganha uma beleza espetacular. 

Respiro fundo e ajeito meu casaco. A minha primeira noite aqui foi no mínimo agitada.  Depois do encontro inesperado com o conde, mal consegui pregar os olhos.

Não sei exatamente o que senti.

Uma mistura de medo, afinal eu não sei o quanto de verdade a fama da crueldade dele tem, mas de indignação por sua acusação, porque estou cansada de ser julgada por todos.

Mas, decide não me abater.  Nem poderia me dar a esse luxo, preciso desse emprego.  Com esse pensamento, termino de arrumar meu cabelo. Ele é uma das poucas coisas que não mudaria em mim, eu adoro o quanto ele é volumoso, mesmo quando ele não coopera. 

Ainda é cedo. Sigo pelo corredor em direção a cozinha, logo encontro dona Catarina mexendo nas panelas.

_ Bom dia, menina! _ ela diz ostentando um sorriso que eu não pude evitar corresponder. _ como foi a sua primeira noite? _ ela perguntou realmente interessada na resposta ao me estender uma xícara de chocolate quente. 

Suspirei quando o líquido adocicado chegou ao meu paladar. Ao mesmo tempo, meu cérebro pensava na melhor resposta para sua questão.  Como eu responderia a ela? Diria, ‘tive um encontro as escuras com o conde que me assustou pra caralho e me deixou com raiva por isso’?! Ou melhor, ‘tive vontade de bater no meu chefe no meio da madrugada por ser um idiota’?!

Resolve não arriscar nenhuma das alternativas e responde uma meia verdade.

_ Foi estranha, mas vou me acostumar com o tempo. _ disse por fim e minha resposta pareceu lhe agradar.

_ Eu sei que vai, minha menina. Sinto que as coisas vão mudar para melhor com você aqui! _ ela diz enquanto começa a preparar a mesa do café da manhã. 

_ A senhora trabalha a muito tempo aqui? _ perguntei como quem não quer nada ao ajudar a pôr a mesa.

_ Desde que o conde era um garotinho. Vivemos bons momentos nesse lugar... _ ela suspirou quando terminou de falar como se lembrasse com saudades dessa época. 

Gostaria de saber mais. Tudo nesse lugar é cercado de mistério e isso atiça a minha curiosidade. Estava pronta para continuar perguntando quando a senhora Robinson adentrou a cozinha acompanhada do seu André. 

_ Bom dia meninas! _ disse animada enquanto ocupava um lugar na mesa. _ como se sente, Madalena? _ perguntou analisando-me com aqueles olhos verdes que transbordaram experiência e afeto.

_ Estou bem, pronta para o trabalho.  _ disse tentando transmitir confiança. 

_ Eu disse a minha esposa que você é uma garota forte. _ disse seu André por fim.

Logo depois, Juliene chegou à cozinha e me dirigiu um olhar pouco amistoso.  Gostaria de saber qual é o problema dela comigo, mas isso vai ficar para outra hora.

No meio da conversa, não pude evitar perguntar sobre algo que estava me deixando preocupada. 

_ Bom, o natal está chegando e eu não vê nada que indicasse uma celebração pela mansão... _ eu comentei atraindo a atenção de todos na mesa.

Senti o clima ficar meio tenso. A senhora Robinson foi a primeira a me responder:

_ É porque não comemoramos o natal, querida.  _ ela disse com um tom de voz ressentido. 

Eu acho que meu olhar transmitiu minha decepção.  É a minha época do ano preferida.

_ Mas porquê?  É uma época tão linda. _ disse por fim. 

_ Eu também acho, menina. _ disse Catarina _ antigamente fazíamos o melhor natal de todos, mas depois do acidente do conde tudo mudou...

_ O conde não gosta mais de comemorar qualquer coisa, querida. _ disse a senhora Robinson.  _ então o natal se tornou um dia qualquer por aqui.

Poxa!

_ Isso está errado.  Se ele não acredita mais no sentido do natal, tudo bem, é um direito dele. Mas, não é justo impedir que nós comemoremos.  Deveríamos fazer algo para nós, para celebrar a vida e a esperança.  É um momento em que esquecemos nossas tristezas e celebramos o recomeço, o amor.

As palavras escapuliram da minha boca.  Eu sabia o que era uma vida difícil, de percas e solidão. Mas, em épocas como essas eu não me sentia tão infeliz assim. O natal me lembrava os meus pais e o quanto eles me amavam. Me traz esperança!

A mesa ficou em silêncio.  Talvez, as minhas palavras os tivessem afetado.

_ Eu não sei, querida. _ disse dona Marta por fim. _ mas vou pensar sobre isso.

_ Eu não digo nada muito grande, mas podemos fazer uma ceia, troca alguns presentes e montar uma árvore.  Só termos um momento junto, de celebração. 

Ela sorriu para mim e continuamos o café...

***

A minha primeira tarefa do dia era limpar o salão de festas. Me dirigi para o lado norte da mansão e me deparei com o lugar que ostentava luxo. Olhei ao redor embasbacada com a beleza do ambiente, o piso brilhava tanto que refletia a minha imagem no chão.  As paredes estavam adornadas com papéis de paredes delicados e com belíssimos quadros, que por sinal deveriam valer uma fortuna.

Não era muito difícil imaginar um baile naquele lugar. Não resisti ao impulso e deixei o balde com o pano de chão de lado e me permite rodopiar pelo salão. 

Fechei meus olhos por um momento e imaginei os músicos tocando uma belíssima valsa, enquanto rodopiava nos passos da dança. 

Eu adoro isso. 

Logo, uma música antiga que minha mãe cantarolava quando eu era pequena sai dos meus lábios.  À medida que eu cantava, sentia uma paz invadir meu coração. 

Tinha essa coisa sobre mim: eu amo cantar.

É uma coisa que faço sempre que meu coração pede, meu pai dizia que herdei isso da minha mãe.  Ela era uma atriz de musicais e tinha a voz mais doce que eu conhecia. 

Ela era a pessoa mais doce que eu conhecia.

De repente, sinto uma presença naquele lugar, me fazendo saber que não estou mais sozinha.

Abro meus olhos e busco pelo salão algum sinal do conde, mas não vejo nada. Mas, eu sei que ele está aqui. 

Eu sinto.

Volto para meu balde e começo a limpar o lugar. Era hora de voltar para a realidade. 

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