O ataque da fera

# Madalena

Quanto tempo levamos para descobrir que amamos alguém? Ou temos a opção de escolher entregar ou não o nosso coração? Não sei a resposta dessas questões que estão me deixando inquieta nos últimos dois dias.

Faz 48 horas que beijei o conde. Dois dias que o encontrei pela ultima vez e 2. 880 minutos que evito qualquer chance de encontrá-lo.

Eu estou com medo.

Não dele, de maneira alguma. Medo do sentimento que está se alastrando como fogo no meu coração. É uma loucura! Ele é um conde e eu...

Bom, eu não sou ninguém.

Uma dor aperta meu coração quando chego à conclusão mais óbvia, não pertencemos ao mesmo mundo. Não estou em um conto de fadas e o melhor é eu acabar com isso antes que cresça o suficiente para me destruir.

Mais um dia se findou e sinto-me desanimada. Chego à cozinha para o jantar e sento do lado do seu André que beberica uma xícara de café. Sinto seu olhar em mim, mas não falo nada enquanto coloco um pouco de café para mim também.

_ Ninguém pode dizer que o amor é fácil, minha menina. _ ele disse baixo, cortando o silêncio e atraindo a minha atenção. _ o menino era o jovem mais bondoso que já conhece, sempre estava disposto a ajudar quem precisava e buscava o amor verdadeiro com todas as forças. A infelicidade foi achar que o encontraria com a víbora da ex-noiva, ela era falsa e traiçoeira e ele pagou um preço alto por isso, menina. _ ele disse e tornou a beber mais um gole de café _ ele é como um bicho acuado pela ferida que sangra, ele acha que o amor machuca e precisa que tenha fé nele, que mostre que ele está errado.

Senti meus olhos arregalarem quando entendi que ele sabia do que houve.

_ Foi um erro, senhor André. _ disse por fim _ um erro.

_ Não, menina. Você está errada. Faz anos que não vejo o conde assim, que não vejo o brilho nos olhos do meu menino. _ ele disse com um sorriso nos lábios finos. _ você é a resposta as nossas preces, menina. Nosso milagre de natal. Eu soube disso no momento que pôs meus olhos em você. Não podemos fugir do destino, filha. Ele sempre nos encontra. _ disse e deixou um beijo carinhoso em minha testa ao se levantar da mesa.

Não podemos fugir do destino.

***

Eu sei que não deveria esta desse lado da mansão. Lembro bem de a senhora Robinson dizer que o conde não suportava nem a ideia de alguém nesse lugar. Mas, dane-se! Eu precisava saber mais sobre ele, sobre o mistério que envolve esse homem.

Esse lado da mansão era mais claro do que eu imaginava. O primeiro lugar que entrei foi à sala de música. Era uma sala ampla, as janelas grandes deixavam o ambiente iluminado, alguns quadros estavam pendurados na parede. Aproximo-me deles! Uma parede repleta de retratos de homens e mulheres da família, e mesmo nas telas, parecia questionar a minha presença ali.

O primeiro era de um senhor vestido em um traje preto tradicional, tinha um semblante fechado e olhos azuis que expressavam poder. No final do quadro está o nome Antônio Rafael Thompson Westphalen, o conde de Westphalen. Seguido dele, estava o quadro de uma bela senhora de cabelos ruivos enrolados em um penteado sofisticado. O vestido de um tom de azul celeste combinava com o tom de seus olhos, o colo branco ostentava um lindo colar com um diamante rosa em formato de coração. Ela exibia riqueza e classe, digno da condessa Mary Cristina de Thompson Westphalen. Por fim, o último quadro trazia a imagem de um jovem nobre de porte atlético e um sorriso gentil no rosto. Os cabelos castanhos combinavam com a barba por fazer. Aquele era sem dúvida um dos homens mais bonitos que já vê o jovem William Frederico Thompson de Westphalen.

O conde era realmente muito bonito.

Continuou minha observação. No fundo da sala encontra-se um lindíssimo piano de calda branco. Aproximo-me bem devagar e observo atentamente a beleza daquele instrumento, logo meus dedos percorrem seu teclado e me pego imaginando o conde a tocá-lo.

Resolvo sair desse lugar o quanto antes. Sigo pelo corredor e empurro a próxima porta, mas ela não abre. O que o conde guardaria aqui? Se Bella estivesse aqui diria que de ter um cadáver ai dentro, não consigo evitar o riso com esse pensamento.

O próximo cômodo parece ser um tipo de biblioteca particular, ou algo do tipo. Tem uma mesa e algumas estantes com livros, algumas pastas e uma antiga máquina de escrever. Certo! Entro e começo a percorrer a estante observando os títulos dos livros, logicamente esse é o lugar de leitura do conde. Acabo vendo um livro um pouco mais a frente dos outros e acabo abrindo-o.

Uma pequena fotografia cai dele. Nela encontra-se o conde e uma mulher loira, alta e de sorriso forçado no rosto. Letícia. Ela é realmente uma dessas mulheres que qualquer homem gostaria de ter ao lado, pelo menos na estética, com destaque para seus olhos azuis, corpo esbelto e elegante.

Porque ele ainda guarda uma foto dela?

Será que ele ainda a ama?

Esse pensamento me fez respirar fundo. Não consigo evitar comparar a diferença entre nós duas. Eu nem de longe me pareço com uma mulher assim...

Não.

Eu estou mais para uma gorda, negra e desengonçada.

Quando estou colocando a foto no lugar, a luz é apagada e a voz do conde corta a escuridão:

_ O que pensa que está fazendo?! _ bradou furioso. _ quem você pensa que é para mexer nas minhas coisas, sua idiota intrometida?! Há não ser que esteja a procura de algo de valor para roubar. _ afirmou sem dó.

Parece que eu ia entender o porquê dizem que ele é cruel.

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