Acordei com o nascer do sol e o Enzo já não estava mais no quarto. O cheiro de café estava ótimo e me carregou direto para a cozinha que me esperava com um desjejum completo. Pelo jeito o presente para o Enzo havia sido apreciado mesmo. Gratidão também é coisa boa de ensinar e aprender.
– Bom dia, marujo. Você está muito elegante com a camiseta do barco e uma calça alinhada – Reparei.
Animado, recebi a notícia que hoje seria o dia de subir o Cutty Sark para a garagem. Minha última noite na cabine antes de subir para terra foi inesquecível. Fiquei aliviado de ter tido a oportunidade de estar com o veleiro na água ao fazer amor com a Marine. Aquele suave balanço do mar teve um significado especial para mim. Não seria o mesmo em outra situação.<
O silêncio costumeiro do Iate Clube foi interrompido pelo ruído irritante de sirenes. O som ficou cada vez mais alto até que pareceu ter parado no estacionamento. Do deck superior do Kamilah, era possível ver as luzes vermelhas e azuis rodando em um carrossel colorido. Contei oito ou nove pessoas saindo das caminhonetes negras. Policiais federais entravam na direção do clube seguidas de um homem baixo e de terno bem cortado. Imaginei que era o delegado da turma. Acordei com a sensação que tinha passado por um pesadelo e depois pelo mais lindo sonho que já tivera. Aos poucos as cenas da prisão começaram a voltar bastante nítidas e a noite de amor com Marine também. Olhei para o lado e vi a cama vazia tal qual meu coração naquele momento. Seria importante acordar com ela ao lado. Em breve isto seria impossível e tudo que restaria seriam estas doces e fortes lembranças de uma paixão improvável e fugaz. Marine já deveria ter ido trabalhar e não qu24
Voltei para o apartamento da Marine ansioso para contar as novidades.– E aí? Como foi a conversa?– Sensacional! O Almirante é formidável como dizem mesmo. Um sujeito especial. Ele me arranjou trabalho e adiantou o dinheiro para poder comprar várias coisas importantes. Os contatos dele vão facilitar a minha vida. Nunca vou poder
Embora não tivesse dormido bem, pulei cedo da cama e fui trabalhar. Nem quis tomar café. Precisava ocupar a mente e o tempo com coisas produtivas para afastar o sentimento de abandono. Terminar com a Marine foi uma decepção que eu não esperava ter. Pelo menos o serviço que tinha pela frente não seria tão nojento quanto do outro dia. A limpeza foi bem feita e agora precisava procurar rachaduras e bolhas na pintura. A osmose é problema comum em casco de fibra que fica muito tempo na água como era o caso do Cutty.
Não havia escolha, tinha que aceitar aquele trabalho. O pagamento era bom para uma noite de serviço apenas. Gerenciar a recepção de um luau na praia seria bem tranquilo. O mais complicado seria suportar a presença dela junto de seus amigos e pretendentes.Ela mesma havia conseguido me colocar nesta empreitada. Infelizmente, nesta posição, não seria um hóspede privilegiado do hotel patrocinador do evento. Seria um funcionário sem direito a poder aproveitar momentos românticos e divertidos junto da mulher que amo.
Passei o dia trabalhando no Cutty sem deixar de me lembrar do constrangimento da noite anterior. Nem mesmo ter sabido que a Marine tinha voltado para casa sozinha foi suficiente para diminuir a minha angústia.Já era noite quando ouvi meu nome aos gritos:– Giulio!... Giulio!!
Enzo ficaria mais alguns dias no hospital sob observação. Ele tinha sido severamente castigado com socos no rosto. Havia sofrido um traumatismo craniano e por pouco não tinha havido consequências mais graves. Quando recuperou a consciência nos contou que estava dando uma merecida surra no Buzano quando os capangas do Athos o agrediram e o levaram para a mansão abandonada. A intenção era amedrontar todos aqueles que defendiam o Almirante, além de dar uma lição no garoto que havia seduzido a Gisele. Todos estavam apr