Capítulo 1

ACORDEI COM O DESPERTADOR TOCANDO estridentemente, olhei no relógio e vi que já estava atrasada. Como a noite passou rápido! Sem muita escolha, eu me levantei rapidamente, me troquei, escovei meus dentes, lavei o rosto, enfim... Fiz tudo de forma mais rápida e higiênica possível. Fui para a cozinha pegar uma maçã e, ainda comendo, me encaminhei para o carro. Infelizmente não dava tempo nem mesmo de tomar um café decente, pois eu tenho uma audiência agora cedo.  Liguei a chave da ignição e segui o meu destino. Pelo menos essa era a minha intenção. Precisei pegar caminhos alternativos, visto que eu estava atrasada, e o trânsito; caótico àquela hora da manhã. 

Consegui chegar em cima da hora, entrei e fui direto para sala da audiência, onde todos estavam me esperando. Um tanto encabulada, eu pedi desculpas e me sentei em meu lugar.  Correu tudo maravilhosamente bem, e, mais uma vez, ganhei a causa. Nunca perdi nenhuma, diga-se de passagem.  Aliviada, saí da sala ainda ouvindo todos me dando parabéns. Sem perder tempo, corri para o meu escritório, a fim de adiantar algumas coisas, já que à tarde, eu almejava sair para comprar algumas roupas, pois Nadya, minha melhor amiga, vai dar um jantar de aniversário hoje à noite, e sei muito bem como são estes jantares que ela sempre dá; chiques e cheio das coisas!

Alta e esbelta, minha amiga Nadya é muito bonita, tem um corpo bem definido, cabelos pretos, longos e lisos, pele clara e olhos verdes. Por onde ela passa chama atenção, diferente de mim que não sou muito alta, mas tenho um corpo bem definido também, já que me cuido muito!  Meus cabelos são cacheados e loiros para baixo do ombro, olhos azuis e pele clara.  A tenho como uma irmã.

Adiantei alguns documentos e avisei à Ester, minha secretaria, que eu não voltava mais hoje, que era só para ela pegar recados e quando desse o horário dela, que trancasse tudo, antes de ir embora. Como já tinha organizado tudo, resolvi ir logo almoçar e aproveitar o restante do dia para fazer compras e me preparar para o jantar.  

Minha sócia aproveitou para tirar o dia de folga e preparar o jantar de hoje à noite. Jantares são eventos muito importantes para Nadya, especialmente o de seus aniversários, algo que realmente eu nunca conseguia entender, já que nunca a vi preparando algo simples como coquetel, festa e familiares. Acho que ela não gosta desses tipos de festas.

Assim que pisei no La Farina - o restaurante Italiano localizado em meu bairro já me senti em casa. Além de ser apaixonada pela comida italiana, lá eu poderia fazer meu próprio prato e, mesmo que não fosse de comer muito, isso para mim era uma vantagem. Mas o que de fato fazia tudo ser aconchegante era o fato de conhecer todos que trabalhavam ali. 

Cumprimentei algumas pessoas enquanto entrei, fiz meu prato e segui para uma mesa. E logo vieram trazer o meu vinho Cabernet Sauvignon que sempre tomava na hora do almoço.

Depois do almoço, parti animada para a Ara Macau, minha loja de roupas preferida. Todos os funcionários são muito simpáticos, o que faz com que eu me sinta muito à vontade. Logo que cheguei fui procurar por Leon, que sempre me falava a verdade se tinha gostado ou não de uma roupa, mesmo que isso significasse que eu não levaria a peça. Quando Leon me viu, veio correndo me abraçar.

— Oi querida! Quando tempo que não te vejo! O que te traz aqui minha linda? — Leon é homossexual. Será por isso que ele é tão sincero? Não importa, pois, independentemente de qualquer coisa, eu gosto muito do jeito dele.

— Leon, eu tenho um jantar de aniversário para ir! Da minha amiga Nadya! Você já está acostumado, já que toda vez que ela faz aniversário, eu te procuro, então sabe o meu gosto, não é?

— Claro que sei bobinha! — exclamou Leon, fazendo graça com uma das mãos; enormes! — Vamos para a sessão de festa, Sarita! — Então ele me levou onde só tinha roupa de festa.  Acessórios e peças mais caras, por sinal, mas eu queria estar linda esta noite. E ele foi me mostrando vários vestidos, mas o que me chamou atenção foi um de tubinho preto de um ombro só, com um risco largo branco nas laterais. Bem diferente. E a outra era do mesmo modelo, mas vermelha, frente única e comprida.  Peguei os dois e levei no provador. Provei primeiro o vermelho e quando Leon viu, bateu palmas, dizendo que adorou.  Voltei para o trocador e provei o preto, quando me olhei no espelho, eu adorei o que vi, pois marcou bem meu corpo, deixando-me sexy sem ser vulgar.  Sentindo-me linda, saí radiante, mostrando para Leon como ficou, e ele simplesmente colocou a mão no rosto completamente admirado.

— Sarah você ficou linda com esse vestido! Ficou perfeita em seu corpo! — ele disse, e eu não consegui esconder o sorriso de satisfação.  Em seguida, voltei ao provador e troquei de roupa. 

— Vou levar os dois, Leon, já que cada um tem sua beleza! — ele apenas concordou com a cabeça.

— Sarah você não quer levar uma sandália de salto alto prata que amarra na perna até um pouco para baixo do joelho? Vai combinar com os dois vestidos, que tal? — sugeriu, piscando um olho azul, mas antes que eu abrisse a boca, ele continuou: — Minutinho querida, vou pegar dois modelos para você provar, seu número é 35!  — Confirmou, indo buscar a sandália. Não demorou muito, ele as trouxe, então calcei ambas e dei alguns passos dentro da loja para ver se servia bem e se era confortável. Ficou tão perfeita quanto os vestidos. E eu tinha adorado. 

— Leon? Eu vou levar! — ele me levou até o caixa para pagar, agradeci a ele e dei tchau. Paguei e peguei a sacola com a compra e fui para o meu carro, coloquei as compras no banco e quando estava ligando o carro, meu celular tocou, desliguei na hora para atender, mas antes olhei no visor para ver quem era. Só que não conheci o número, então atendi, já que podia ser cliente me ligando. Ouvi uma voz que não conhecia.

— Alô! Gostaria de falar com Sarah Valentin Martinelli, por favor! — Nossa quem seria para saber o meu nome completo? Deve ser alguém conhecido, pois nem uso Valentim no meu nome mais! Pensei.

— Alô! — Disse a voz de novo.

— Alô! — respondi. — É ela quem está falando!

— Boa tarde senhorita Sarah, meu nome é Francisco, sou advogado do Seu Nicolas Valentim. Estou ligando para avisar que seu avô acaba de falecer. — Meu Deus! Meus olhos encheram-se de lágrimas. Vovô Nic era o único parente que eu tinha! Meu avozinho querido! Tinha tanto carinho por ele.

— Alô, dona Sarah, a senhorita está aí?

— Desculpa seu Francisco, fiquei muito abalada com a notícia, pois adorava o meu avô.

— Sinto muito senhorita Sarah, ele vai ser velado no velório municipal, e o enterro será às seis e trinta da tarde. Aguado a senhorita lá, já que temos muito que conversar! Tentei falar mais cedo com você, mas seu celular só dava caixa postal. Só consegui falar agora.

— Muito agradecida seu Francisco. Quanto ao celular, essas operadoras vivem deixando a gente na mão. Mas logo estarei lá.

— Então até mais — e o moço desligou! Fiquei arrasada e muito triste. Ainda mais por lembrar que meu avô Nicolas estava morando em um chalé para idoso, pois não tinha com quem morar. Eu até convidei meu avô para morar comigo, só que ele não quis, preferindo ir para um chalé, já que sempre dizia que lá se sentia em casa. Confesso que quando conheci o local, me encantei! A natureza nos arredores de Belo Horizonte é fantástica!  Apesar de não poder visitá-lo com mais frequência, todas as vezes que eu passava o dia com ele, percebia que ele estava sendo bem cuidado. E tudo isso deixava meu vovozinho mais feliz.  Depois que minha mãe morreu, ele teve depressão, já que ela era sua única filha.  Foi bem difícil sua aceitação da perda de sua querida filha, mas com o auxílio da equipe de médicos, demais internados e o ar puro do conjunto de chalés, ele foi melhorando a cada dia.

Liguei o carro, depois de pensar um pouco e segui meu destino, fui direto para o meu apartamento me trocar, pois não podia ir para o velório com roupa de trabalho.  Coloquei um vestido preto básico e saí direto para o velório. Eu me sentia estranha... Confesso que nem chorar, eu conseguia!  Até sentia vontade, mas as lágrimas não desciam, apesar de estar com os olhos cheios delas.  Desde a morte dos meus pais, nunca mais chorei.

Cheguei ao velório e percebi que tinha muita gente, já que meu avô era muito querido, só que não conhecia ninguém, pois sempre fomos muitos reservados tendo apenas a companhia um do outro desde o dia em que meus pais morreram. Creio que essas pessoas deviam ser seus novos amigos do chalé! Fiquei até o fim do enterro do meu avô, e quando estava indo embora, um senhor de mais ou menos cinquenta anos me chamou pelo nome.

— Oi! O senhor me chamou!

— Oi senhorita Sarah, sou eu, seu Francisco, o advogado do seu Nicolas. A gente poderia conversar em um café que tem aqui perto?

— Sim podemos! Conheço um muito bom na esquina da rua principal; "Café do Sol" Te encontro lá.

Entrei no meu carro pensando sobre o assunto que o tal Francisco queria conversar comigo. Liguei meu carro e segui meu destino, parando em frente a tal cafeteria. Após vasculhar a área, eu notei que o homem ainda não tinha chegado lá, então me sentei em uma mesinha que tinha na calçada. Logo o garçom veio me trazer o cardápio.  Apesar da dor da perda, senti o estômago vazio, então pedi logo um café e dois pães de queijo, pois só tinha almoçado.  Não demorou muito, seu Francisco chegou, e com ele, o garçom, trazendo meu café e o pão de queijo.  Ele sentou na minha mesa e pediu um café para o garçom que estava ali perto.

— Sarah, você está sabendo que seu avô Nicolas deixou um testamento para você? Pois você é a única herdeira viva que ele tinha! Ele falava muito em você — exclamou o advogado, com ar sério. Quase engasguei. E sem esperar pela minha resposta, ele continuou: — Você sabia que para morar naquele chalé, ele teve que vender quase tudo que tinha? Isso para ter todo conforto e cuidado que uma pessoa idosa merecia! Eu conheço seu avô desde o dia em que ele me procurou para vender alguns bens que tinha para ir morar no chalé, já faz mais ou menos uns dois anos, foi logo após a morte de seus pais. 

— Eu não sabia que ele tinha bens! Pensei que pagava com a aposentadoria dele! — respondi entre um gole e outro de café. Estava admirada, pois realmente não sabia.

— O fato Sarah, era que a aposentadoria dele não dava para pagar todo conforto e cuidado que ele tinha lá.

— Entendi seu Francisco, mas o que tem no testamento?

— Seu avô te deixou o seu bem mais precioso; só ele dava para pagar o chalé onde viveu e ainda sobrava muito dinheiro, só que esse ele quis guardar para você de herança.

— Seu Francisco, eu não fazia ideia de nada disso, afinal o que é?

           — Seu avô deixou para você uma casa, quer dizer uma mansão em Salvador e junto com a mesma, uma quantia em dinheiro bem generosa.  Essa mansão foi construída em 1949 pelo seu pai, quando o pai de seu avô Nicolas morreu, dividiu a herança que tinha com os dois filhos, e seu avô herdou essa mansão, mas por ficar muito longe, seu avô não ia muito para lá, já que ele não gostava de viajar. A mansão fica em uma Ilha isolada e paradisíaca: "Ilha Boipeba", a casa se encontra um pouca afastada da vila Moreré. Antes de seu avô vender seus bens, ele mandou alguém avaliar, e pasme; vale uma fortuna, por isso deixou para você!

— Meu Deus!! Por essa eu não esperava! Quando meus pais morreram me deixaram dois apartamentos no meu nome, um eu moro nele, o outro aluguei. Além do escritório, tenho o dinheiro do aluguel, graças a Deus posso dizer que nunca me faltou nada. Apesar de tudo preferia ter meus pais aqui comigo! E agora ainda vou receber mais essas heranças! — comentei surpresa. — Nossa Seu Francisco! Confesso que fiquei feliz pela surpresa.  Realmente não imaginava que ganharia uma herança do meu avô, afinal ele sempre foi tão simples que nunca imaginei que ele tivesse bens. E o local é realmente muito longe. 

— Sarah, o documento da casa já está em seu nome, só que você vai precisar ir até lá para buscá-lo.  Ele foi feito por lá, e se você não quiser ficar com o imóvel, você pode vendê-lo. E não seria difícil, pois já tem muitos compradores. De qualquer jeito, a senhorita vai ter que ir para lá para dar andamento na papelada de venda, se realmente for vender, e isso demora um pouco, sabe como são essas coisas.

— Verdade seu Francisco! Disso eu entendo bem, sei que demora.

— Só mais uma coisa, Sarah. Todas as papeladas para você assinar estão na casa, agora preciso ir. Qualquer coisa você me liga, já tem meu número — aconselhou o bom homem, tomando seu último gole de café. Em seguida, ele e se despediu e foi embora. Quando eu terminei meu café, já eram sete horas da noite, eu tinha uma hora e meia para me arrumar para o aniversário de Nadya, então fui embora para casa o mais a rápido que eu pude, já que eu não queria me atrasar.

Cheguei ao meu apartamento e fui direto tomar banho, pensando em tudo o que me aconteceu hoje. Estava muito triste para ir em festas, mas como era aniversário da minha melhor amiga, não podia deixar de ir e tenho também que resolver o que vou fazer com a casa que herdei. Resolvi deixar isso para amanhã, pois hoje não dá tempo para mais nada.

Terminei meu banho e fui me arrumar. Coloquei meu vestido preto de um ombro só que comprei hoje, arrumei meu cabelo, secando com o secador, em seguida passei a chapinha e depois fiz uma trança solta de lado, a qual ficou perfeita. Fiz minha maquiagem, destacando bem meu olho com delineador preto e um assombreado na cor prata.   Nos lábios escolhi um batom não muito vermelho, pois não gosto dessa cor tão forte.  Ainda bem que não preciso de base e nem de pó, graças Deus, pois tenho a pele perfeita. Terminei a maquiagem, coloquei a sandália prata que comprei, e que realmente me deixou mais chique, em seguida passei meu perfume Angel e, depois de pronta, me olhei no espelho e gostei muito do que vi, já que eu parecia um mulherão, pois estava bem alta e bem sexy e me senti muito bem.

Olhei no relógio e vi que já eram quase oito e quinze; o aniversario começaria às oito e meia. Peguei a chave do carro e saí. Ainda bem que ela mora no mesmo bairro que eu, então não ia me atrasar muito. Sentindo-me um pouco melhor, segui em direção à casa de Nadya.

Quando cheguei lá, percebi que já tinham muitos carros no estacionamento, mas achei um cantinho para mim, então parei o carro ali e desci.

A casa de Nadya era uma verdadeira mansão; a gente até se perdia lá dentro!  Assim que coloquei os pés no último degrau da longa escadaria, ela apareceu radiante num longo vestido amarelo. Após um abraço eu entreguei a ela o presente que mandei fazer...  Um colar com a primeira letra do seu nome em ouro branco. Um dia eu estava passando com ela em frente a uma joalheria, e ela viu um colar com a letra do seu nome. Encantada, ela entrou para perguntar se tinha em ouro branco, mas a vendedora falou que só por encomenda. Ela ficou triste, pois queria na hora, então fomos embora, mas voltei lá e encomendei para o aniversário dela.

Quando ela abriu o presente ficou muito feliz e surpresa, me abraçou novamente, me agradecendo pelo presente.

— Fica à vontade, Sarah! Você já conhece a casa! Logo o jantar vai ser servido, só que estou percebendo que você está um pouco triste, aconteceu alguma coisa?

— Aconteceu sim, amiga!  Mas hoje é seu aniversário e eu prefiro não falar nisso, ok?! Deixa para amanhã.

—Tudo bem Sarah! Amanhã conversamos então! — Ela continuou a receber os convidados, e eu fui para o salão de festa que tinha na casa de Nadya. Tinha um DJ animando a festa, e estava tocando uma música que gosto muito: "ThatSong in my head".  Havia muita gente dançando, só que eu estava muito triste para isso, então fiquei ali, só observando. Logo o jantar foi anunciado, e todos foram para o salão onde serviriam o jantar. Eu me sentei em uma mesa, e o garçom começou a nos servir. Eram pratos prontos servidos e acompanhados por vinhos finos. Começou com a entrada, depois o prato principal e por último a sobremesa. Estava tudo muito gostoso e perfeito, mas eu estava muito triste para ficar ali me divertindo, então fui procurar Nadya para me despedir e ir para casa. Sei que era cedo ainda, nem tinha cantado parabéns, só que eu não estava bem para ficar. 

Achei Nadya conversando com alguns amigos, os quais eu também conhecia, então eu me aproximei, cumprimentando todos, e chamei Nadya para conversar.

— Nadya me desculpe! Não estou bem! Então vou embora, amanhã conversamos.

— O que está acontecendo? Sei que tem algo errado com você.

— Nadya eu já te falei, amanhã conversamos, hoje é seu aniversário, e não quero estragar seu dia com os meus problemas. Relaxa amiga, porque hoje é o seu dia. Divirta-se. 

—Tudo bem Sarah, amanhã quero saber tudinho do que está acontecendo com você, ok?

— Então Nadya, até amanhã e boa noite — Abracei-a e fui embora direto para minha casa.

Cheguei ao meu apartamento e fui direto para meu quarto.  Entrei no banheiro, escovei meu dente, lavei meu rosto e retirei toda a minha maquiagem, depois troquei de roupa, coloquei uma camisola branca confortável e fui deitar.

  A hora de dormir era sempre a pior para mim, pois minha cabeça ficava lotada de pensamentos confusos, sem falar dos pesadelos com o acidente, o qual matou meus pais.  Apesar de ter ficado em coma por um mês, sobrevivi.  Então eu não gostava de ficar sonhando com isso quase toda noite, já que me deixava triste.  Sempre acordava com lágrimas nos olhos.  Como estou cansada disso tudo! E hoje não seria diferente; não tenho escolha, logo fechei os olhos e apaguei. 

Acordei com meu celular tocando, quando olhei no visor, vi o nome de Nadya piscando no visor. Já imaginava o motivo dela estar me ligando tão cedo, então atendi com voz de sono.

— Alô!

— Bom dia, Sarah, hora de acordar!

— Bom dia, Nadya! Mas ainda é cedo!

— Vamos acordar dorminhoca! To passando aí para tomar café com você, inclusive levando o pão de batata que a senhorita adora! Aproveitamos para conversar, antes de eu ir trabalhar.

— Ok, amiga. Você venceu! Vou levantar e te espero aqui, até mais.

— Até Sarah — Levantei meio sonolenta e fui para o banheiro lavar meu rosto, depois troquei de roupa e fui para a cozinha preparar o café. Olhei no relógio e vi que eram sete horas da manhã, eu costumo ir trabalhar às nove horas, então dava tempo de a gente tomar café juntas e conversar. Preparei a mesa com tudo o que temos direito, como leite, manteiga de amendoim, sucos, cookies e frutas e esperei ela chegar. Não demorou muito ela chegou, abri a porta para ela e, como sempre, minha amiga estava toda sorridente, então ela me olhou e me deu um abraço gostoso.

— Como esta minha dorminhoca hoje? Pois ontem não estava nada bem.

— Estou bem, Nadya! Só um pouquinho triste, vamos para cozinha, o café já está na mesa. — Então nos sentamos ao redor da mesa redonda de vidro, ela colocou o pão na mesa e partimos com tudo para tomar café.

— O que aconteceu ontem, para você estar tão triste?! — perguntou Nadya, curiosa, tomando um gole do seu café.

— Lembra-se do meu avô Nicolas? Você me levou lá uma vez, quando meu carro estava na oficina?

— Sim, eu me lembro, claro! Mas o que aconteceu? Ele está doente? Nossa, eu gostei tanto dele, ele é um amor de pessoa!

— Nadya, ele não está doente! Ele faleceu ontem às duas horas da tarde e foi enterrado ontem às seis e meia. É por isso que eu estou tão para baixo! Ele era o único parente que eu tinha por parte da minha mãe — suspirando, Nadya se aproximou de mim e me abraçou.

— Nossa amiga, eu não sabia! Por que não me ligou? Eu iria com você no velório. Agora entendo o porquê de estar tão triste!

— Não queria te atrapalhar, pois sabia que estava ocupada com a festa do seu aniversário, por isso não liguei, amiga! Te peço desculpas.

—Tudo bem Sarah, não precisa se desculpar! Mas podia ter me ligado.

— Deveria né? Foi mal, mas tudo bem, já foi... Hoje é outro dia, e eu estou com outros problemas para resolver!

— Que problemas Sarah? Eu posso te ajudar em algo?

— Meu avô me deixou uma herança, e pelo que eu pesquisei na net, fica mais ou menos dezesseis horas de carro daqui até Salvador, e de avião uma hora e vinte minutos mais ou menos, só que você sabe que depois do acidente nunca mais viajei.

— É sério isso Sarah? Que você vai receber uma herança? Mas por que precisa ir tão longe e que herança é essa?

— Sim Nadya! Também fiquei surpresa. Meu avô me deixou uma mansão que fica numa ilha paradisíaca lá em Salvador, e vou ter que ir lá buscar o documento desta casa, a qual já está em meu nome.  E se eu quiser vendê-la, pois pelo que sei vale uma fortuna, vou ter que ir para lá fazer a papelada de venda. E você sabe que isso demora de um a dois meses, então acho que vou ter que viajar o mais rápido possível e enfrentar meu medo, quanto mais rápido eu for, mais rápido eu resolvo isso.

— Oh amiga! Confesso que eu não sei nem o que falar, mas também acho que deveria ir o mais rápido possível para resolver isso! Aproveita e já vai hoje, já que desde o dia em que abrimos o escritório de advocacia você nunca tirou férias, ao contrário de mim.  Mas você nunca, e como estamos tranquilos, você pode ir.  Afinal os casos do escritório podem aguardar, visto que a papelada para audiência vai demorar uns três meses. Você sabe como são essas coisas, então aproveita agora, e deixa tudo comigo, você não tem nada a perder.

— Uau Nadya! Mas que ideia boa! Vou aproveitar mesmo e vou enfrentar meu medo, então avisa a Ester que vou ficar longe por um tempo e pede para ela passar todos os meus recados para você, ok?   Vou te passar o endereço de lá, caso preciso de você por lá — Passei o endereço para ela e falei também para me ligar, caso precisasse de mim. Ela concordou.  

Terminamos o café, e ela foi trabalhar. Sem pensar em mais nada, foquei em arrumar minha mala o mais rápido que pude. Uma hora depois, eu já estava a caminho do aeroporto.  Comprei minha passagem fácil e o voo para Salvador sairia às dez e meia, e já eram nove e quarenta da manhã, então liguei para Nadya, para avisar. Ela me desejou boa sorte e falou para eu ligar a qualquer hora que eu precisasse, me despedi e desliguei. Ansiosa, fiquei ali esperando a hora do meu voo.

Estava distraída quando ouvi falando do meu voo, então segurei a onda e o coração, e me encaminhei para o portão de embarque. Entrei no avião e me sentei do lado de um senhor que tinha mais ou menos uns sessenta anos, ainda bem que ele estava na janela! Quando todos os passageiros já tinham entrando e estavam devidamente sentados, a aeromoça mandou colocar o cinto, pois o avião já ia decolar. Eu estava com tanto medo! A fim de não querer ver nada e nem ouvir, coloquei fone no ouvido e fechei os olhos, até que finalmente acabei dormindo.


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