Depois que Gustavo foi embora, o silêncio tomou conta do salão por um bom tempo, até que Eduardo riu primeiro: — Em todos esses anos de convivência, essa é a segunda vez que vejo Gustavo perder o controle. E dessa vez foi muito evidente. — Quando foi a primeira? — Rubem perguntou. — No hospital. — Eduardo respondeu calmamente. — Foi quando Maitê foi te visitar e acabou encontrando Gustavo. Ele tentou esconder a expressão, mas Maitê se desestabilizou. Naquele momento, percebi que eles têm uma história. — Então era isso o que você não quis me contar no hospital? — Francisco finalmente entendeu. — Porra, custava ter me falado? Eu fiquei agoniado de curiosidade por dias! Eduardo soltou um riso frio. — Isso é problema seu por ser burro. Mas dessa vez você até que foi esperto, me ajudando a conduzir a conversa. — O que você quer dizer? — Francisco perguntou, confuso. Eduardo suspirou, massageando as têmporas. — Esquece, fui eu quem superestimou sua inteligência. Meu erro.
— Clyde é arrogante demais, desrespeitoso. — Rubem disse com indiferença. — Todo mundo sabe que agora você é a presidente do Grupo Pimentel. Ele romper o contrato com você é o mesmo que me desrespeitar. Um parceiro assim não vale a pena. Ele disse isso de forma fria e racional, mas Mônica sabia que Rubem estava tomando essa decisão por causa do que ela havia enfrentado. Saber disso fez suas bochechas ficarem levemente coradas, e o coração começou a bater mais rápido. — Mas o Emanuel só pensa em lucro. Transformá-lo em acionista do Grupo Pimentel pode ser prejudicial para a empresa. — Mônica argumentou. — Ele só quer ganhar mais dinheiro. Dê o que ele pede. — Rubem respondeu, fazendo uma pausa antes de soltar uma risada baixa. — O que foi? Você acha que eu vou sair perdendo numa negociação com ele? A voz de Rubem parecia próxima, como se o som de sua respiração estivesse soprando direto no ouvido de Mônica, deixando suas orelhas quentes. — Não, claro que não. Eu só estava perg
— Sua mãe é muito rigorosa. — Mônica franziu a testa. — Crianças da sua idade precisam se divertir. Dá tempo de sobra para aprender essas coisas quando ficarem mais velhas.— Minha mãe diz que essa é a melhor idade para aprender, porque a gente memoriza rápido. — Gabriel balançou a cabeça. — Eu não acho cansativo. Só espero ser melhor que meu pai no futuro e poder vê-lo mais vezes.— Seu pai trabalha muito? — Mônica perguntou.— Uhum. Meu pai quase não tem férias. — Gabriel levantou o queixo, animado. — Mas minha mãe disse que ele vai voltar para o Ano Novo. Hoje vamos passar o Natal juntos!— Que bom. — Mônica sorriu e, com carinho, passou a mão na cabeça dele. Ela sabia como era difícil a vida de um militar, com tão poucos dias de folga.Mônica não estava acostumada a lidar com crianças, mas conversar com aquele garotinho era surpreendentemente fácil. Ele era educado, inteligente e sabia de muitas coisas. Enquanto comiam, os dois seguiram conversando.— Com licença. Vou atender uma l
Gabriel respondeu com um simples “uhum” e continuou quieto.O garçom trouxe água com gelo, e Mônica rapidamente empurrou o copo na direção de Gustavo. Ela perguntou, tentando soar tranquila. — Sr. Gustavo, o que o senhor precisa comigo?— Você gosta do Rubem. — Ele disse de forma direta e certeira.As palavras tão objetivas fizeram Mônica congelar por um instante. Quando ela finalmente voltou a si, não conseguiu esconder o desconforto. — Sr. Gustavo, o senhor está enganado. Eu só vejo o Sr. Rubem como meu chefe.— Srta. Mônica, não precisa fingir. O olhar não mente. — Gustavo manteve o tom frio. — Nunca vi uma mulher arriscar a própria vida para proteger um homem que é apenas o chefe dela.Mônica sentiu como se seus segredos mais profundos tivessem sido expostos. O rosto dela esquentou de vergonha, e o coração bateu mais rápido. Será que ela tinha deixado seus sentimentos tão evidentes assim?Gustavo permaneceu com a expressão inalterada. — Srta. Mônica, você sabe que Rubem está noi
— Eu conheço bem o Rubem. — Gustavo disse com indiferença. — Ele não é do tipo que defende alguém sem motivo. Então, é evidente que ele sente alguma coisa por você. Se você realmente quer guardar seus sentimentos só para si, assine isto.Ele tirou a tampa da caneta e a colocou ao lado do documento. — Eu preciso de uma garantia absoluta.Mônica sabia que, por mais desculpas que encontrasse, Gustavo não ouviria nenhuma delas.Rubem tinha algum sentimento por ela? Esse pensamento fez o coração de Mônica disparar. Ela se sentiu maluca por sequer cogitar isso.Gustavo deu duas batidas leves no documento com os dedos, sua voz permanecendo fria. — Srta. Mônica.— Ah? — Mônica levantou a cabeça e encontrou o olhar afiado dele. Era como se ele pudesse enxergar direto seus pensamentos mais profundos. Suas mãos, repousadas nos joelhos, começaram a tremer levemente.Gustavo percebeu até o menor de seus movimentos. — Srta. Mônica, se você assinar o documento, continuará sendo você mesma. Eu não
— Então eu vou indo. Qualquer coisa, me liga no celular. — Mônica disse antes de sair.Ela sabia que ainda tinha pendências na empresa e não pôde ficar mais tempo com Gabriel. Ao sair do restaurante, acabou esbarrando de leve em uma mulher. Se ela tivesse andado um pouco mais devagar e levantado o olhar, teria percebido que a mulher era ninguém menos que Maitê....As ações do Grupo Pimentel continuavam em queda livre. As notícias negativas não paravam de surgir, e o ambiente interno da empresa estava cada vez mais tenso. Muitos funcionários, ao descobrirem por meio de rumores que os acionistas estavam vendendo suas ações, acreditavam que a empresa estava à beira do colapso. Assim que encontravam outra oportunidade, entregavam suas cartas de demissão.O departamento de Recursos Humanos recebia, diariamente, dezenas de pedidos de desligamento. Kelly, a assistente de Mônica, se encarregava de levar as atualizações diretamente a ela.Mônica ouviu tudo com calma, sem demonstrar nenhuma rea
— Que tipo de médico diz uma coisa dessas? — Mônica franziu a testa, pegou o celular rapidamente e abriu o contato de um profissional. Ela virou a tela para Francisco e disse. — Entre em contato com este médico. Ele pode acompanhar as consultas do Sr. Rubem daqui para frente.Francisco deu uma olhada no celular e, em seguida, inclinou o corpo para frente, com um sorriso travesso no rosto. — Srta. Mônica, você parece estar bem preocupada com o Rubem, hein. Por quê?Na verdade, Rubem estava bem na casa dele. Ele realmente havia dispensado alguns empregados, mas apenas porque gostava de silêncio. Francisco, no entanto, estava entediado. Ele sempre teve a sensação de que Rubem tratava Mônica de um jeito diferente, e, por isso, decidiu provocá-la. Para ele, as coisas estavam ficando cada vez mais interessantes.Mônica apertou os lábios e respondeu com calma. — Sr. Francisco, não imagine coisas. O Sr. Rubem é meu chefe. É claro que me preocupo com o bem-estar dele, até porque, se ele estiv
Emma era pequena e delicada, com um jeitinho adorável e um leve perfume de laranja que a envolvia.Francisco respirou fundo, tentando captar aquele aroma cítrico. Era doce e ácido ao mesmo tempo, melhor do que qualquer perfume que ele já tivesse sentido.Quando Emma finalmente conseguiu enxergar melhor o rosto de Francisco, ela soltou um "ah" surpreso e comentou: — Então era você! Está vestido como um galo de briga. Bem diferente daquela vez no hospital. Francisco manteve o sorriso, apesar do comentário. — Não acho que seja para tanto, né? Esta jaqueta aqui custou oitenta mil reais. — Ah, então é bonita. — Emma respondeu, mas sua expressão denunciava o contrário. O olhar dela parecia dizer: "Mesmo custando oitenta mil, você ainda parece um galo de briga." Francisco, percebendo o desconforto, pigarreou e, discretamente, tirou a jaqueta colorida, deixando-a no encosto da cadeira. — Meu nome é Francisco. É um prazer conhecer você. — Eu sou a Emma. — Seu nome é lindo, assim c