Estava parecendo um adolescente. Andava de lá para cá ansioso à espera da mulher que havia confundido minha vida nas últimas semanas. As dúvidas e receios ficavam me perturbando. Coisa rara, já que nos meus quase cinquenta anos de vida, havia me acostumado a tomar resoluções e providências de forma rápida e sem hesitações.
O encontro com ela aconteceu através de uma das redes sociais quando uma amiga nos citou em uma conversa, que ambos, por coincidência, acompanhávamos no mesmo instante. Jamais havia esquecido aquela minha colega de escola. Karin sempre foi lindíssima além de ser a melhor aluna da sua classe. Ao ver as fotos recentes dela, fiquei impressionado. Ela havia conseguido se tornar mais bela do que antes. O sorriso fácil e gentil, além de uma elegância no vestir sem igual, completava a figura de uma mulher particularmente charmosa. Havia uma boa porção de fotogenia, mas era inegável que a natureza havia sido bastante generosa com ela.
Ao começarmos a trocar mensagens, fiquei encantado com seu jeito brincalhão, seu bom gosto e a leveza fluente em todas as conversas. Sua disposição em ser agradável, mesmo em momentos de perceptível tensão, fazia dela alguém especial em se ter como amiga.
Compartilhávamos músicas, poesias, textos interessantes e pensamentos que me faziam refletir e sentir emoções que há muito não sentia. A convivência, mesmo virtual, era vívida e ansiosamente esperada.
Frequentemente ela me desejava um bom dia ou boa noite. Em poucas semanas me viciei em trocar mensagens, nem que fosse apenas para receber uma “cutucada”. Conversamos sobre nossas famílias, amores, desamores e as dificuldades que cada um de nós enfrentou. Logo ficou óbvio que tínhamos muitas coisas em comum e só faltava aquele olhar nos olhos para aproveitarmos melhor as boas sensações trazidas pelo reencontro.
Meses se passaram até que, após uma série de contatos e tentativas de aproximação, surgiu uma oportunidade bastante conveniente. Ela deveria cumprir uma série de plantões médicos em uma cidade próxima de onde eu estaria escrevendo meu mais recente romance. Após o fim do período de contrato, ela teria uma semana de férias antes de começar nova série de plantões e atendimentos. Depois de certa insistência minha, ela garantiu que ao fim daquela jornada de trabalho, me encontraria e passaríamos alguns dias juntos.
Depois de toda esta expectativa não podia deixar de pensar em como ela julgaria minha aparência. Após um ligeiro encontro aos vinte e poucos anos, nunca mais nos encontramos pessoalmente. Provavelmente ela estranharia a diferença entre aquele rapaz de setenta quilos com um homem de quase cem. Permanecia alto e forte, mas não alto o suficiente para justificar este peso. A quantidade de cabelo diminuíra, embora a maioria deles continuasse lá, apenas que mais espaçados entre si. A cor escura, mesmo com uma mecha branca mais chamativa na fonte direita, ajudava a não denunciar minha idade.
Não posso negar que estou apreensivo com o julgamento que ela fará de mim. Até hoje isto nunca havia me importado, mas estou ansioso em agradar. Tentando usar a razão, procuro em mim mesmo algo de diferente e que seja especial para ela.
Lembro que uma coisa que sempre me ajudou foi o senso de humor peculiar. Irônico, provocativo e irreverente, sempre arrancava risos inesperados que descontraia a ouvinte. Este atributo ela já conhecia e demonstrava que lhe era atraente.
Também estava inseguro em contar para ela sobre a minha formação acadêmica. Ou melhor, a falta dela. Karin é uma médica pós-graduada e reconhecida na comunidade científica. Já eu tomei um caminho pouco convencional.
Minha personalidade aventureira e curiosa fez de mim um autodidata. Não tive paciência e nem dinheiro para aprender pelos métodos tradicionais. Onde faltava verba e juízo sobrava coragem e cara de pau. Pouca coisa me impediu de frequentar um curso interessante ou aprender um ofício por conta própria. Todo tipo de desafio ainda me atrai. Ser um leitor voraz acrescentou uma cultura que se mostrou fundamental nos desafios da vida.
Outro motivo para a insegurança era o que algumas mulheres que me conheciam bem comentavam sobre o meu jeito. Eu sempre soube que era um romântico levemente indecente. Algumas pessoas diriam que levemente seria uma atenuação da verdade. Jamais grosseiro ou vulgar, mas um pouco exótico e atrevido, para ser indulgente comigo mesmo.
Nem todas compreendem um elogio sincero, principalmente quando se trata de beleza, embora eu reconheça que a sinceridade sem algum polimento, possa ser um pouco desconcertante. Tentarei me controlar ao máximo para não ser inconveniente sem intenção.
Quanto aos assuntos para conversa, eu não tinha preocupação alguma. A quantidade de histórias em meu repertório poderia entretê-la por semanas. Fui marinheiro, paraquedista, piloto, socorrista, músico e mais uma infinidade de atividades que me renderam, no mínimo, emoções fortes, casos divertidos para contar, além de alguns ossos quebrados. Talvez por isso mesmo tenha me tornado escritor. Fonte de inspiração para os livros não será problema. Embora jamais tenha largado a profissão de administrador e consultor de empresas, tenho me dedicado cada vez mais à escrita de romances baseados em fatos reais. Esta semana será o lançamento do meu primeiro livro do gênero e já tenho mais dois sendo escritos neste momento.
Eu costumo escrever na casa de praia de um amigo, pois a ausência de distrações faz o trabalho render mais. A calma do lugar e a chance de sair para navegar são fatores importantes para minha criatividade e produtividade. Para mim, respirar esta maresia é a maneira ideal de encontrar a paz de espírito sempre bem-vinda. Aqui também seria um cenário ideal para um reencontro com alguém especial como a Karin.
A ansiedade da espera não era à toa, a intuição já estava me alertando que estes próximos dias poderiam fazer parte dos grandes momentos da minha vida.
Diário da KarinDia 1 – 12:00hCaramba! Como estou cansada. Ainda bem que está terminando o último plantão. Daqui a pouco vou pegar a estrada para encontrar o Giulio pessoalmente. Acho tudo muito estranho. Faz tantos anos que não o vejo, e ao mesmo tempo parece que nos vimos ontem. Quem disser que não existe realidade no mundo virtual, é por que nunca viveu algo assim. Conversar pela internet com ele está sendo muito divertido. E
2A chegada“O amor pode nos levar ao inferno ou ao paraíso, mas sempre nos leva a algum lugar” Paulo Coelho O lugar é muito bonito e tranquilo. A casa, situada no canto da praia, tem suas paredes externas batidas pelas ondas suaves da baía. A decoração é simples, porém as acomodações são bastante confortáveis e aconchegantes. A continuação da garagem permite acesso ao mar e serve de rampa para pequenas embarcações. Até alguns anos atrás, funcionava como escola e base de mergulho. Na temporada de ver&ati
5Primeira noite“Ainda pior do que a desilusão de um não ou a incerteza de um talvez, é a desilusão de um quase” Sarah Westphal Estirou-se novamente no sofá apoiada em mim. Ela se aconchegou em meu peito e parecia querer se entregar totalmente. Poderia adormecer que seus sonhos seriam os meus. À medida que relaxava também permitia um maior contato. Ela colocou suas mãos no peito e eu as segurei sentindo sua respiraç&at
Diário da KarinDia 1 – 14:30hUfa!! Estou aqui até que enfim! Ainda estou ansiosa por ter me atrasado. Quando cheguei, ele já estava me esperando do lado de fora da casa. O primeiro reencontro é sempre difícil, diversos sentimentos conturbados e confusos, mesmo assim, senti paz. Logo que desci do carro ele veio me receber com um abraço apertado. Desapareci dentro dele. Uau! Ele está maior do que eu lembrava ou eu sou menor que pensava. Tudo foi tão natura
3O passeio“Quantas vezes a gente, em busca da ventura, procede tal e qual o avozinho infeliz: em vão, por toda parte, os óculos procura tendo-os na ponta do nariz! ” Mário Quintana Entusiasmada pelo lugar e ávida por tomar sol, ela foi se trocar imediatamente. Voltou usando um biquíni florido com a parte de cima listada. Seu corpo estava perfeito para uma mulher que já era mãe de dois filhos. Jovens meninas olhavam com inveja a cor de sua pele e a elegância dos seus movimentos. Os homens então, n&atild
Diário da KarinDia 1 -19:00hNossa!!! Foi demais! O melhor dia dos últimos anos. Preciso descrever tudo, não quero esquecer um só minuto. Bom, nem sei se isso seria possível. Mas aprendi que escrevendo a gente pode viver cada sensação novamente. A praia estava vazia e o calor perfeito. Nem muito forte, nem nublado. Consegui ficar um pouco bronzeada sem me queimar, aquele toque dourado na pele, que eu sei que combina com os meus cabelos.
4Banho e dança“O que dá o verdadeiro sentido ao encontro é a busca, e é preciso andar muito para se alcançar o que está perto." José Saramago E a noite chegou por inteiro. Com ela a incerteza das próximas horas, das próximas sensações, das próximas surpresas. Ela saiu do banho, linda e radiante em um justo vestido branco que realçava sua silhueta. Quando nossos caminhos se cruzaram, tentando um c
Diário da KarinDia 1 – 20:00hEle está tomando banho e vou aproveitar para escrever mais um pouco. Preciso desabafar. Saímos da piscina bem ao final do pôr do sol. Estava demais. Ele ajudou a me enxugar e foi muuuuiiito bom. Como é bom se sentir cuidada. Às vezes ele encarava com aquele olhar único. Acho que estou sendo evidente demais do quanto estou gostando disso. Mas o que fazer? Estou com todos os sintomas de paixão fulminante. O coração dispara, frio na barriga, desejo, vergonha, ternura e tudo mais. Porém