Ao abrir a caixa, o choque e a dor tomou conta dela. Amélia não conseguia conter as lágrimas, pressionando os lábios para silenciar qualquer som. Dentro do embrulho havia um bolo, com o formato de uma cabeça de porca. A voz de Fernando ecoou dentro da cabeça dela. “Você sempre será uma porquinha. Meu bichinho de estimação!” “Onde você pensa que vai, porquinha?!” “Ande de quatro, como a porca que você é!” Não se lembrava de como chegou a sua sala naquele dia. Levou um tempo para que conseguisse parar de chorar. Para piorar, naquela tarde houve uma reunião emergencial com o departamento de criação. Algumas mudanças foram solicitadas para o projeto Bahamas e a equipe estava em um beco sem saída com essas novas exigências dos sócios. Alberto coordenava a equipe. Furioso com a incapacidade de encontrarem uma solução, ele lançou olhares glaciais na direção de todos. Amélia não escapou ilesa. Houve críticas ferozes à demanda crescente da aprovação orçamentária que passava por s
Amélia mirou seu reflexo desgrenhado no vidro do elevador. Tentou se arrumar mais, para evitar ser alvo dos ataques daquelas mulheres pelo menos hoje. Mas aparentemente, era incapaz de manter uma aparência apresentável. Tudo foi estragado depois de sair do carro com o guarda-chuva pequeno, que não a protegeu em nada das gotas grossas de chuva. Estava ansiosa para acabar logo com aquela reunião e voltar para sua sala, longe dos olhares discriminatórios, mas agora estava horrível, certamente seria um alvo novamente. Queria se enfiar em um buraco e se esconder dos olhares desaprovadores e não ter que lidar com ninguém hoje. As portas do elevador estavam se fechando, uma mão enorme a segurou. - Eu pego o próximo, obrigada. – imaginava que fosse um dos diretores, não queria ficar perto de ninguém nesse estado. Queria tempo para ficar apresentável, no banheiro da sua sala. No entanto, a pessoa não retirou a mão. Não era nenhum membro do conselho. Alberto Darius direcionou uma ol
Já passavam das três da tarde, quando consultou o relógio. Perdeu completamente a noção do tempo enquanto se aprofundava no trabalho sobre sua mesa. Mas estava muito satisfeita com a evolução e suas novas ideias, pensava em descer para comer algo quando Ticiano bateu levemente na porta e colocou a cabeça para dentro com um sorriso amistoso. - Percebi que não saiu da sua sala hoje, queria saber como está e se já almoçou. - Confesso que perdi a noção do tempo, meu amigo – deu um risinho amarelo, imaginava que ele avaliava seu rosto desfeito com a maquiagem mal feita. – Eu ainda não almocei, pensava em ir agora. Me acompanha? Ele entrou com seu terno perfeitamente alinhado carregando uma sacola e se sentou de frente a mesa sorrindo. - Acho que vai gostar disso. – ele começou a dispor potes descartáveis de comida sobre a mesa, que exalavam um cheiro maravilhoso. – Como não a vi sair, imaginei que estava sem comer. Quando fui buscar meu almoço, pensei na gente comer juntos. - Es
Alberto - Que irritante! Como Ícaro pode manter um funcionário tão insubordinado? – Camila comentou, caminhando elegantemente ao seu lado, até que chegaram à ampla sala dele. Decorada com padrões abstratos em tons terrosos e sóbrios, aquele ambiente refletia muito do que era a personalidade de Alberto Darius. - Não faça comentários tão críticos. – se sentou no sofá de couro caramelo. Logo ela se aproximou, se acomodando na frente dele, na mesa de madeira escura. Camila observou seu rosto com um sorriso malicioso, jogando seus cachos para trás. - Sabe, por um instante, fiquei animada. – o bico de seu Louboutin começou a subir pela perna dele, até que Alberto agarrou seu tornozelo. O salto dela pressionou a coxa dele. Ele apertou a mão que a segurava, a força empregada fez os músculos e nervos estalarem. Camila passou a língua pelos lábios pintados de um tom de nude clássico. Ela se deliciava com a dor que estava sentindo. - Já disse para não fazer isso. - O que posso
Amélia Seu celular vibrava insistentemente, deu uma olhada na tela; era Ícaro quem estava ligando. Resolveu chegar em casa primeiro para conversar tranquilamente. O telefone parou depois da quinta chamada não atendida e o percurso passou a ser completamente silencioso. Não conseguia tirar da cabeça aquela visita inesperada de Alberto Darius e daquela mulher. O jeito como ela falou o nome de Ícaro foi tão íntimo e pessoal. A inquietação permaneceu depois que eles saíram. A imaginação formava imagens de Ícaro e Camila Camargo juntos. Tinha certeza que os dois eram próximos de alguma forma. Mas o quanto essa verdade e quanto era só especulação? Eles ficariam belíssimos juntos, pensou enquanto estacionava na rua da faculdade. Pegou suas coisas no carro pensando na forma como aquela mulher poderia encantar qualquer homem. O par perfeito para ele com certeza era uma mulher como Camila, ela podia ser um fetiche, mas de alguma forma atrapalhava o envolvimento dos dois. Talvez,
A próxima vez que voltou a conversar profundamente com seu pai, foi quando ficou noiva de Fernando. Aurélio não gostava dele, e foi contra o relacionamento. Admitia que o filho mais velho da família Vidal era talentoso como jurista, mas achava Fernando inescrupuloso. Melissa pensou que o julgamento de seu pai estava equivocado, afinal, ele não conhecia nem mesmo a própria filha. Como poderia saber sobre outras pessoas? Com o tempo, Leonora o convenceu a aceitar a relação. Fernando passou a ser o filho dos Rockfeller. Melissa era só uma peça decorativa na sala. Amélia esfregou o rosto com as mãos, secando suas lágrimas. O porteiro liberou sua entrada no condomínio. Ele sempre achou engraçado uma mulher como ela dirigindo um fusquinha, morar ali. Tudo estava tão calmo e tranquilo, seu estômago revirava de náusea. Chegou até a garagem do tríplex sem nem olhar direito. Seus pensamentos estavam caóticos, de volta ao passado. Melissa descobriu tarde demais o acordo sórdido en
Ícaro O voo foi rápido, e a viagem do aeroporto para casa também. O retorno estava planejado para dois dois depois, mas ele fez todos se desdobrarem para acabar as negociações antes. As passagens foram reservadas para amanhã. No entanto, Ícaro pegou um jatinho para voltar esta noite para casa. A conversa com Alberto tirou seu sossego. Seu instinto dizia que se não retornasse o mais rápido possível, algo ruim poderia acontecer. Amélia estava sofrendo calada a perseguição de vários colegas de trabalho, segundo Alberto. Ela não se queixou com ninguém, nem mesmo para Ticiano, que era seu amigo. Possivelmente ela não disse nada para que não houvesse maiores especulações sobre o relacionamento deles. Mas, essa porra não ia ficar assim. Todos que ousaram mexer com sua mulher, pagariam caro. O comportamento dela era muito diferente do habitual antes dele viajar. Por isso não quis pressionar para que o acompanhasse na visita ao Texas. Se soubesse o que estava acontecendo, teria
Há cerca de cinco anos.... Rio de Janeiro. Melissa Rockfeller O espelho mostrava uma imagem patética, suas mãos abraçaram a cintura mais fina do que nunca. Havia usado a “armadura” por tanto tempo que até perdeu as contas. Foi o tempo mais longo que foi obrigada a usar aquilo. A armadura era basicamente o que seu nome dizia. Uma estrutura de metal de duas peças com uma dobradiça de um lado e a fechadura do outro. Ela foi uma das criações de Fernando, inspirado nos objetos de tortur@ medievais. Projetada para diminuir sua cintura e modelar seu corpo, a armadura era dois manequins a menos que o dela. Quando começou a usar, ela não conseguia respirar direito, seus pulmões eram esmagados cada vez que puxava o fôlego. Vários dias se passaram até que conseguisse se mover. Fazia um ano que ele trouxe a peça para o quarto dela. Melissa tocou suas costelas comprimidas, e a barriga murcha, com a pele amarela. Seu aspecto ainda era doentio. Levou uma surra do marido usando