Feyre não ousou abrir os olhos, a dor na lateral do corpo praticamente não existia mais e isso lhe dava quase a certeza de que havia morrido. Sorion aparecera enquanto Ethan e Taramir se enfrentavam e logo depois tudo escureceu, certo. Havia mesmo morrido e a morte não era nada como as pessoas falavam. Não era fria ou quente, era morna. Não havia nenhuma luz no fim de tudo, só havia escuridão e solidão. O calor morno que sentia ao seu lado pareceu se mover e ela continuou quieta, alguns barulhos se misturavam e ela ainda parecia não ter acordado completamente para a nova vida, ou a morte.
— Mama. – Ela quase riu de si mesma, Boyce estava bem e acreditava que seu amor por Ethan os uniria na morte, se ele não estava com ela ali era porque de alguma forma estava vivo e tudo bem, valia a pena viver
Tiana olhava para o horizonte enquanto o céu se coloria de laranja em tons claros e quentes. O telhado da casa era solitário, mas não era silencioso. Podia escutar Feyre ensinando Boyce a falar algo relacionado a Ethan, o menino insistia em chamá-lo de Loba dandara o que saía mais ou menos como um idioma na voz do bebê e o Collins sempre acabava irritado enquanto Sorion ria, na verdade quem ensinava o pequeno a chamar o pai assim era Vanessa, mas o loiro nem desconfiava. A Santoro suspirou deixando que o ar saísse devagar de seus pulmões. O braço, ou pedaço que sobrara dele, estava completamente cicatrizado mas ainda sentia pontadas doloridas que se espalhavam até os ombros, Soraya falava que era apenas seu cérebro se acostumando com a falta de um membro, Feyre sempre procurava conversar com si e mesmo com seu silêncio a morena ainda
O inverno de Sandara não passava de uma estação marcada no calendário, em nada seu clima mudava. O calor constante castigava os mais pobres pela falta de recursos ou mesmo de água e a cidade fedia. Uma mistura de mijo, suor, fezes, sangue e putrefação. Os corpos resultantes da guerra ainda que fossem jogados em campos fora da cidade ainda deixavam o rastro de fedor que o vento insistia em trazer e com isso as doenças também assolavam o lugar. As crianças tinham barrigas maiores que as cabeças, ainda que não comessem quase nada e os adultos tinham feridas que se espalharam pelo corpo, isso era mais comum nos pedintes das ruas e nos escravos, o saneamento não existia e os excrementos corriam pela cidade em pequenas valas que passavam nos cantos das ruas.— As pessoas estão morrendo. &ndash
Soraya mordia o lábio apreensiva, o baixo ventre doía e ela sabia que não estava longe de ter o bebê em seus braços. Desejava que as contrações fossem leves, sabia que as meninas a ajudariam, mas qualquer complicação ela seria a única capaz de cuidar de si mesma e do bebê e não conseguiria se houvesse alguma complicação em seu parto. Vanessa a havia ajudado com o parto de Boyce e a Soraya explicara da melhor maneira todas as maneiras de retirar o bebê, as possíveis complicações que poderiam ocorrer e mesmo confiando plenamente em Vanessa, Feyre e Tiana, era difícil confiar no próprio corpo quanto a gestação. Era forte de fato, mas sentia a gravidez lhe tirar boa parte das forças.— Logo isso acaba. – Vanessa apareceu ao se
Soraya acordou com a primeira pontada e acordou Vanessa, que dormia próxima si, com o grito de dor quando as contrações começaram. Não sabia quantas horas eram, Sorion havia saído assim que anoiteceu e agora a noite era escura e densa, ela olhava pela janela, não pensou no silêncio que Sandara estava ou na claridade que as lamparinas colocadas por Vanessa, Feyre e Tiana. Durante a gravidez é normal sentir alguns tipos de dores, mesmo não reclamando a Rosada havia sentido muitas dores diferentes, mas tinha o conhecimento necessário para não se alarmar a ponto de colocar tudo em risco, mas aquilo ali não podia ser normal. Os urros vinham rasgando a garganta e não entendia o que as mulheres falavam ao seu redor, via o rosto assustado de Vanessa e sabia que se não fosse aquela sensação de ter o corpo sendo ra
— Onde está Feyre? – Hiatos perguntou novamente e Ethan franziu o cenho.— Está segura. – Respondeu simplesmente e se falasse? O Fortnight a buscaria? Seria melhor pra ela ficar com o pai? Feyre queria ir embora? A simples possibilidade de qualquer uma das respostas ser sim fazia seu interior gelar. – Se ela quiser, ela voltará. – Respondeu sentindo Sorion levantar ao seu lado. – Não sou esse tipo de homem. – Falou baixo.— Que tipo? – Hiatos o encarava.— Que a obrigaria a ficar comigo. – Respondeu sério e encarou o Fortnight, Feyre não gostaria que ele brigasse com seu pai.— Você não conseguiria que ela fic
Feyre suspirou olhando para o céu novamente, sentia o coração apertar de saudade de Ethan. A guerra dilacerava famílias inteiras e ao longe era possível ver sempre mais caravanas de pessoas deixando a cidade, quantas pessoas já morreram? Quantas ainda morreriam pela ambição dos outros?— Mama. – Boyce dizia sorrindo enquanto a olhava e a morena sorria de volta para o filho que era tão parecido com o pai.— Espero que possa conviver com ele. – Falou se abaixando e passando os dedos pelo rosto macio da criança que sorriu.— Dandala. – O pequeno falou ainda sorrindo e a Fortnight o ergueu nos bra&cc
Storm estava calado, havia tanto em jogo e era mais complicado do que nunca não colocar os próprios anseios pessoais acima das necessidades da guerra. Como poderia proteger o exército sem pensar na proteção de Tiana? Ou sem pensar na criança que Vanessa carregava que ele já considerava uma irmã?— Não se preocupe tanto. – Sorion falou baixo e o Storm o encarou. – Vai dar certo.— Se ele desconfiar tudo estará perdido. – Storm respondeu e Ethan se levantou olhando para o amigo.— Ele não é tão inteligente. – Falou sério. – Você é a pessoa mais inteligente que conheço e se isso não for os deuses a nosso
Elion encarava a areia do deserto ao longe, a lua e as estrelas iluminavam o deserto mostrando toda sua imponência e beleza, um mar de areia repleto de tesouros e perigos, o vento frio percorria pela areia fazendo com que os grãos se espalhassem entrelaçando o caminho de todas as pessoas naquela guerra.— O que te incomoda? – A voz de Vanessa era sonolenta e arrastada e o ruivo não a olhou, sentia o frio caminhar por sua pele e todos os seus demônios pareciam atormentá-lo. Seu filho logo nasceria e o que poderia lhe deixar de herança? O corpo de sua mãe e de seu povo? Abaixou a cabeça frustrado passando a mão pela tatuagem em sua testa, o amor não era uma maldição, era uma consequência da vida. Sentiu os dedos finos e macios passarem por seu braço provocando mais