Por um momento, o tempo parece suspenso. O nome ecoa em sua mente, trazendo consigo uma enxurrada de lembranças e sentimentos que se misturam em seu peito, apertando-o com uma força quase sufocante. Ela pisca, tentando afastar a onda avassaladora que a invade, mas é inútil. Ainda não sabe como processar tudo aquilo, como separar o passado do presente, como impedir que as memórias roubem a paz que, há tão pouco tempo, começou a encontrar.— Posso permitir que a entrada dele seja liberada? — Silvia pergunta, sua voz carregada de cautela, enquanto observa Vivienne atentamente.— Sim. — Vivienne responde, mas a hesitação em sua voz trai a certeza que tenta demonstrar. Seu olhar vacila por um instante, como se sua própria resposta a surpreendesse.Silvia assente com a cabeça, os dedos ágeis digitando no celular. Em poucas palavras, concede a permissão para a entrada de Grant, sem desviar os olhos da tela.— Por favor, senhora Valens, me deixe sozinha. — Pede, sua voz firme, mas carregada
A visita de Grant deixou um sentimento estranho em Vivienne, uma inquietação silenciosa que ela não sabe exatamente como nomear. Não sentiu dúvidas na sinceridade do pedido de perdão, havia algo real em suas palavras, algo que parecia pesar sobre ele como uma culpa que nunca o abandonou. Mas, ao mesmo tempo, ela sabe que não pode simplesmente abrir as portas da sua vida e deixá-lo entrar.Não sem antes conversar com Dominic. Grant pode ter buscado redenção, mas Dominic também carrega feridas profundas causadas pelo avô. Ele merece ser ouvido, merece ter o direito de decidir se o homem que um dia trouxe tanta dor ainda tem espaço, mesmo que pequeno, em suas vidas.Vivienne respira fundo, tentando afastar os pensamentos, enquanto caminha em direção ao berço dos filhos. A única certeza que tem agora é que seu presente e seu futuro pertencem a eles e a Dominic. Juntos, decidirão o que fazer com o passado.A tarde parece se arrastar, cada minuto passando com lentidão, principalmente para D
Dominic e Noah trocam um olhar, uma conversa silenciosa acontecendo entre eles. O homem que um dia representou poder, influência e controle absoluto agora está prostrado aos pés deles, implorando por algo que eles não sabem se podem conceder.A cena diante deles parece quase irreal. Grant Muller, o homem que por anos ditou regras, manipulou, feriu sem hesitação, agora está ali, suplicando. Então, Dominic deixa escapar uma risada seca, o som carregado de sarcasmo e incredulidade.Sem pressa, ele contorna sua mesa, a postura relaxada, mas os olhos cortantes. Quando se senta em sua cadeira, cruza os dedos sobre a mesa e inclina ligeiramente a cabeça, observando o homem à sua frente como se estivesse analisando um estranho.— O senhor passou a vida inteira exigindo que nos curvássemos diante de você e agora, veja só, é o senhor quem está ajoelhado diante de nós. — Dominic começa, a voz firme, inabalável, sem um traço de compaixão. Ele observa o avô de cima, o olhar carregado de uma frieza
Vivienne continua deslizando os dedos pelos cabelos dele, mas percebe haver algo diferente. A ligação entre eles sempre foi intensa, mesmo nos momentos em que não se entendiam completamente. Agora, porém, parece transcender palavras. Eles simplesmente sentem um ao outro, no silêncio, no toque, no olhar.E naquele instante, ela sabe. Algo o inquieta, algo pesa sobre ele. E, sem precisar perguntar, ela apenas continua ali, oferecendo o conforto de que ele nem sabia que precisava. — Ele foi até você? — Vivienne pergunta, enfim quebrando o silêncio. Sua voz é suave, mas carregada de significado. Dominic ergue a cabeça, os olhos encontrando os dela, absorvendo cada palavra. — Ele esteve aqui também. — Revela, mantendo o olhar fixo no dele.— Por que você o recebeu? — Dominic pergunta, a inquietação evidente em sua voz. A simples ideia de seu avô ter estado ali, perto dela, o incomoda mais do que deveria. Seu olhar se estreita, a tensão se acumulando em seus ombros, enquanto ele se levanta
Dominic absorve cada palavra de Vivienne, deixando que seu significado se assente dentro dele. Mas, ao contrário dela, ele não está pronto. Não naquele momento. O perdão ainda é um território desconhecido, uma porta que ele não consegue abrir. Ele não está pronto para dar esse passo. Não está pronto para permitir que Grant conheça seus filhos.Ele precisa de tempo. E Vivienne, com a compreensão silenciosa que sempre teve, percebe isso. Ela não o pressiona, não o julga. Apenas o apoia, do jeito que sempre fez, com paciência, com amor, com a certeza de que, quando ele estiver pronto, não precisará atravessar essa jornada sozinho.Um mês se passou e eles continuam na cidade de Luxemburgo. Como se algo os prendesse ali, sem razão aparente. A mudança planejada se tornou somente uma promessa adiada, um passo que simplesmente não conseguiram dar.Então, motivados pelas palavras de Vivienne, Margot e até de seu avô paterno, Dominic e Noah encontram finalmente a coragem para seguir em frente. E
O café da manhã transcorreu de forma tranquila e emocionante. Grant finalmente conheceu cada um dos bisnetos e se apaixonou por todos, especialmente pelas meninas, que roubaram seu coração à primeira vista. Em vários momentos, ele murmurava que não merecia aquilo, e, no fundo, todos ali concordavam.Mas, acima de tudo, estavam fazendo isso também por si. Abandonando as mágoas, escolhendo um novo começo, uma vida sem sombras do passado. Querem que seus filhos cresçam cercados somente por amor e pelas boas lembranças que estão construindo agora.A noite envolve a casa em um silêncio tranquilo, quebrado apenas pelo leve farfalhar das cortinas com a brisa suave que entra pela janela. No quarto, a luz do abajur cria uma penumbra acolhedora, tornando o ambiente ainda mais íntimo.Vivienne para na porta, observando Dominic deitado na cama. O peito sobe e desce em um ritmo sereno, os traços antes marcados pela intensidade agora suavizados pelo cansaço e pela paz. É raro vê-lo assim, completame
Dominic retorna ao quarto alguns minutos depois, fechando a porta atrás de si com cuidado. Seu olhar recai sobre Vivienne, deitada confortavelmente na cama, a respiração suave, os cabelos ruivos espalhados pelos travesseiros como um emaranhado de chamas delicadas.Ele sorri, admirando-a em silêncio, como se aquele instante fosse um quadro perfeito que ele jamais se cansaria de contemplar. Para ele, não há mulher mais perfeita. Nenhuma beleza no mundo se compara a ela, não somente pelo que seus olhos enxergam, mas pelo que seu coração sente.— Dormiu? — Vivienne pergunta, a voz suave, mesmo já sabendo a resposta, afinal, estava acompanhando tudo pelo monitor da babá eletrônica.Dominic solta um suspiro e passa a mão pelos cabelos bagunçados antes de se acomodar ao lado dela na cama, puxando-a suavemente para mais perto, como se precisasse sentir seu calor para finalmente relaxar.— Sim, mas só após segurar a mãozinha dele até pegar no sono. — Dominic responde, um sorriso suave brincand
A viagem de volta para Reims transcorre tranquilamente, marcada por trocas de olhares cúmplices e sorrisos cheios de significado entre Dominic e Vivienne. O caminho, antes somente um trajeto, agora representa muito mais, um retorno ao lar.A primeira parada acontece em Metz, para atender às necessidades dos trigêmeos. O destino escolhido não poderia ser outro, o restaurante que, mesmo não pertencendo mais à família de Dominic, ainda carrega lembranças inestimáveis. — Não vejo a hora de provar as delícias que servem aqui. — Vivienne comenta, animada, ajustando a alça da cadeirinha de Diana, enquanto caminha ao lado de Dominic.Dominic sorri de canto, equilibrando com destreza as cadeirinhas de Damon e Dante em cada braço, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Seus movimentos são firmes e seguros, demonstrando o quanto ele já se adaptou à rotina de pai, e Vivienne não consegue evitar um sorriso ao vê-lo assim, forte, protetor e completamente entregue àquela nova fase de suas vid