AlejandroEnquanto dirijo pela estrada que leva à casa de Luna, o calor da manhã envolve tudo como um manto sufocante. O sol, inclemente, transforma cada raio em um chamado, como se o céu inteiro conspirasse para aumentar o peso que sinto no peito. Estou perto da aldeia quando meus olhos captam algo à margem da estrada.Uma grande entrada, adornada com frutas coloridas, exibe um letreiro vibrante: "Festa das Frutas". As letras pulsam com uma energia quase viva, e antes que eu perceba, a música, alegre e cheia de promessas, chega aos meus ouvidos.Por um momento, sinto como se o universo estivesse me chamando para longe das minhas preocupações. Cada passo que dou na direção daquela festa é um respiro que afasta o nervosismo crescente. E então, a alegria do lugar me toma. Barracas cheias de frutas, pessoas sorrindo, dançando. A vida aqui pulsa com uma força que me envolve. É uma distração, penso. Uma que não posso resistir.Me aproximo de uma barraca com frutas frescas, e uma ideia me i
Vejo como minhas palavras o atingem. A dor é evidente em seu rosto, uma mistura de orgulho ferido e uma tristeza que parece puxá-lo para baixo. Ele tenta sorrir, forçando uma leveza que já não existe mais entre nós.— Luna, você não entende... — Ele dá um passo hesitante à frente, como se não conseguisse ficar longe, mas também não tivesse coragem de se aproximar muito. — Eu posso te dar tudo o que você sempre quis. Teríamos uma boa vida juntos. E temos uma história, uma amizade que pode se transformar em algo muito mais profundo. Pense no futuro, no que poderíamos construir juntos.Por um momento, abaixo os olhos, buscando forças nas palavras que ainda preciso dizer. Respiro fundo, e quando levanto o rosto, meus olhos encontram os dele com uma firmeza que me surpreende.— Juan, eu te valorizo demais. Nossa amizade é preciosa para mim, e é exatamente por isso que não posso fingir que sinto algo que não sinto. — Toco levemente seu braço, um gesto de afeto, mas também de despedida. — Eu
Ela está sentada no sofá, inclinada para frente com um copo de vinho em mãos, conversando animadamente com meu pai. O cabelo loiro escorre em cachos perfeitos, e o vestido caro a envolve como um segundo pele, cada curva acentuada em uma exibição calculada. Seu sorriso é um reflexo de frieza, uma máscara encantadora que não consegue esconder o vazio que existe por trás.— Alejandro! — Meu pai se levanta, um sorriso radiante nos lábios, estendendo os braços como se essa fosse uma cena de reencontro familiar perfeito. — Que bom que você chegou. Quero que passe algum tempo com Anastácia. Ela vai ficar uns dias aqui conosco.O choque e a irritação se misturam dentro de mim. Uns dias aqui? Minha mandíbula trava, cada músculo do meu corpo se endurecendo, mas me forço a manter a compostura. Anastácia se vira e me observa com aqueles olhos azuis gélidos, como se estivesse prestes a ganhar uma partida em que eu nem sabia que estava jogando.— Alejandro, querido. Quanto tempo — murmura, sua voz
Anastácia pode ter o apoio do meu pai, pode representar tudo o que ele quer para o futuro deste império, mas nada do que ela faça ou diga vai mudar o que já está claro para mim. Ela não desperta nada em mim. Apenas Luna, com seu jeito inesperado, sua teimosia, sua força, consegue fazer isso.Eu passo as mãos pelo rosto, tentando afastar a confusão que me domina. Não deveria ser tão difícil. Anastácia está aqui, disponível, perfeita aos olhos de meu pai e de todos que conhecem nossa família. Ela é a escolha óbvia, o caminho fácil. Mas tudo o que eu sinto por ela é vazio.E Luna... Luna preenche cada espaço, cada pensamento. Ela é a tempestade que arrasta tudo, que derruba as paredes que construí ao redor de mim. Desde o primeiro momento, ela me desafiou de uma forma que nenhuma outra mulher ousou. E agora, vê-la ao lado de Juan Carlos, como se ele fosse digno dela, como se ele fosse capaz de entendê-la, de tocá-la, de... tê-la.Isso me enlouquece.Anastácia pode ser tudo o que minha fa
LunaOs portões da Villa Castillo se fecham atrás de mim, e o som metálico ecoa pelo jardim, como um lembrete do mundo que estou voltando a ocupar. Passei o fim de semana na casa dos meus pais, cercada pelo carinho simples da minha família, mas agora, a imponente Villa me faz sentir novamente uma estranha em território alheio.Caminho pelo corredor que leva à sala, com o sol da manhã iluminando as paredes de pedra da casa. O silêncio aqui é diferente do que experimentei no vilarejo: não é calmante, é tenso, carregado de expectativas. Alejandro... Tentar afastar os pensamentos sobre ele é um desafio, mas desde o nosso último encontro, é impossível ignorar como ele ocupa minha mente, bagunçando minhas certezas.Ao entrar na casa sou pega de surpresa por uma presença desconhecida. Uma mulher que nunca vi antes está de pé no meio da sala. Seus olhos azuis cortam o espaço, pousando em mim como se eu fosse um detalhe indesejado. O contraste entre nós é gritante. Ela veste um vestido caro, q
AlejandroAssim que eu deixo Luna ocupada com os preparativos, fecho a porta da cozinha atrás de mim e me volto para Marta. O olhar dela é afiado, cheio de perguntas não ditas, mas eu não dou espaço para discussões. Eu preciso controlar a situação antes que se espalhe qualquer rumor.— Marta, — começo, minha voz baixa, mas impositiva—Não quero que Luna saiba que fui atrás dela.Ela franze a testa, mas permanece em silêncio, como se esperasse que eu explicasse. Eu dou um passo em sua direção, minha expressão severa o suficiente para deixar claro que não há espaço para mal-entendidos.— E quero que isso fique assim. — reforço, os olhos fixos nos dela.Ela segura meu olhar por alguns segundos, como se pesasse as consequências da situação. Marta sabe mais do que devia, mas sempre soube seu lugar. Eu espero pela resposta, ciente de que ela entende perfeitamente o que estou pedindo.— Entendo, senhor — ela diz, a voz mais suave, mas firme.Eu respiro fundo, mantendo a postura rígida. A últi
A indignação me queima por dentro, mas eu me forço a permanecer calma. Não posso dar a ela a satisfação de me ver abalada.— Eu... — começo a responder, meu tom controlado, mas antes que consiga terminar, Alejandro interrompe.— Anastácia — sua voz é baixa, mas firme, com uma frieza cortante. Ele nem olha para mim, seus olhos cravados nela. — Se está insatisfeita, pode se servir sozinha.A tensão no ar é palpável. O veneno no sorriso de Anastácia desaparece por um momento, substituído por surpresa. Ela tenta disfarçar com uma risada forçada.— Ah, querido, estava apenas brincando. — Mas a rigidez no seu olhar denuncia o desconforto.Meu coração martela no peito. Alejandro não me defendeu diretamente, mas suas palavras foram suficientes para cortar o momento, e vejo o controle que Anastácia tanto se orgulha começar a escapar de suas mãos.Ela respira fundo e diz:— Bem, como eu estava dizendo, acho que essa casa ficará ainda mais grandiosa....— Não faço planos precipitados — Corta Ale
LunaA manhã avança de forma lenta, quase sufocante, enquanto cada movimento meu na Villa Castillo parece ser observado. A tensão entre mim e Alejandro, que havia começado a se solidificar, agora era palpável, como uma corda esticada ao máximo. Estou na sala de estar, ajustando as flores sobre a mesa, um pequeno ritual que me ajuda a manter a cabeça no lugar. O silêncio do ambiente é apenas quebrado pelo som distante de risadas vindas do jardim. Marta e outros funcionários conversam ao longe, mas aqui dentro, a atmosfera é completamente diferente.De repente, sinto uma presença forte, inconfundível. Alejandro. Sem precisar virar, sei que ele está se aproximando, seus passos silenciosos, mas carregados com uma intenção que me arrepia. Tento continuar meu trabalho, ajustando as flores, focando em manter as mãos firmes, mas o nervosismo me consome.Ele para ao meu lado, tão perto que posso sentir o calor de seu corpo. Seu cheiro amadeirado é sutil, mas invade meus sentidos, me desarmando