Laura saiu da sala de reuniões como se estivesse fugindo de um incêndio. Suas mãos tremiam, o coração parecia um tambor descontrolado, e seu cérebro girava em um turbilhão de pânico. Isla Frost. A celebridade inventada. A brincadeira inocente da noite anterior agora era a pedra no sapato da sua vida. Como poderia explicar para Andrew que a mulher perfeita que ele queria simplesmente... não existia?

Sem pensar duas vezes, ela correu pelos corredores do prédio em direção ao ateliê de figurinos. Rafael, seu melhor amigo e cúmplice na confusão, estava lá, ajustando um vestido longo de lantejoulas para um programa musical. A sala era um caos colorido, com tecidos brilhantes espalhados, manequins por todos os lados e uma música animada de fundo tocando no rádio.

— Rafael! — Laura praticamente gritou ao entrar.

Ele se virou, com a fita métrica pendurada no pescoço e uma expressão de quem sabia que algo ruim estava por vir.

— O que foi agora, minha desajeitada musa? Não me diga que você derrubou café no computador de novo.

— Não — Laura respondeu, fechando a porta atrás de si e respirando fundo. — É muito pior.

— Mais do que quando você confundiu o roteiro do programa ao vivo e colocou o apresentador para cantar uma música que ele odiava?

— Pior que isso, sim! — Ela jogou a bolsa em cima de uma cadeira e começou a andar de um lado para o outro. — Rafael, a Isla Frost... aquela brincadeira idiota que inventamos ontem...

Ele soltou um suspiro e cruzou os braços.

— Ah, sim, a musa finlandesa dos sonhos de Andrew. O que tem ela?

— ELE ESCOLHEU ELA PARA O REALITY! — Laura explodiu, jogando as mãos para o alto. — E agora eu preciso encontrá-la, porque, se eu não conseguir, o programa inteiro vai ser cancelado!

Rafael piscou, incrédulo, antes de começar a rir.

— Ah, claro. E depois disso, vamos descobrir que o Papai Noel também está participando de um talk show, né?

— Não é piada, Rafa! — Ela disse, exasperada. — Ele quer ver o perfil dela nas redes sociais. Ele pediu pra eu resolver isso hoje!

O sorriso de Rafael desapareceu, substituído por uma expressão preocupada. Ele jogou a fita métrica na mesa e esfregou as mãos no rosto.

— Meu Deus, Laura, o que a gente fez?

— A gente não, você! — Ela apontou um dedo para ele. — Foi ideia sua criar essa mulher perfeita pra zoar o Andrew.

— Ei! — Ele ergueu as mãos em defesa. — Não fui eu que disse que ela era uma influenciadora da Finlândia com um "coração de gelo".

— Isso nem faz sentido agora! — Laura resmungou, jogando-se em uma cadeira. — Eu tô ferrada, Rafa. Acabou pra mim.

Rafael ficou em silêncio por alguns segundos, olhando para ela, antes de um sorriso diabólico aparecer em seu rosto.

— E se... — Ele começou.

— Não. Seja lá o que você estiver pensando, não.

— E se você for a Isla Frost?

Laura congelou, encarando-o como se ele tivesse acabado de sugerir que ela se jogasse do telhado.

— Eu? Virar a Isla Frost? Você tá maluco!

— Ou você encontra uma Isla Frost em carne e osso, ou você vira ela. — Ele deu de ombros. — E, convenhamos, você já tem o rosto perfeito para isso. Só precisa de uns retoques aqui e ali.

— Retoques? Você tá falando sério?

— Seríssimo. — Ele começou a andar pela sala, pegando um tablet e pesquisando algo rapidamente. — Mas antes de te transformar, precisamos criar o perfil dessa mulher. Não dá pra existir uma Isla sem redes sociais.

— Mas como a gente vai fazer isso? — Laura perguntou, já sentindo o desespero crescer de novo.

Rafael sorriu, pegando o celular e discando um número.

— Vou chamar reforços.

Laura olhou para ele, desconfiada.

— Quem você tá ligando?

— Meu amigo Carlos. Ele é... digamos, muito bom com computadores.

— Você tá chamando um hacker!?

— Preferia que eu chamasse a NASA? — Rafael rebateu, com sarcasmo, antes de falar com o amigo do outro lado da linha. — Carlos! Preciso de um favor urgente... Sim, é pra criar um perfil falso. Não, não é pra fraude, é pra salvar um emprego. É sério, cara, só confia.

Enquanto Rafael explicava o problema, Laura enterrava o rosto nas mãos. Era isso. Estava prestes a cometer o maior erro da sua vida.

— Pronto — Rafael disse, desligando o telefone. — Carlos vai criar o perfil, mas ele precisa de uma foto sua pra base.

— O QUÊ? — Laura levantou-se num pulo. — Rafael, se alguém descobrir que isso sou eu...

— Relaxa, musa do pânico. — Ele pegou o celular e abriu a câmera. — Com o filtro certo, nem sua mãe vai te reconhecer. Agora, fica quieta e sorri.

— Eu te odeio. — Laura cruzou os braços, mas permitiu que ele tirasse a foto.

Rafael mandou a foto para Carlos, explicando o que precisava: um perfil impecável, com seguidores falsos, posts de viagens internacionais, e, claro, uma bio que destacasse a "influenciadora finlandesa".

— Ele disse que vai precisar de algumas horas — Rafael anunciou, largando o celular. — Agora, vamos ao próximo passo.

— Que passo? — Laura perguntou, desconfiada.

— Te transformar em Isla Frost, querida.

Laura deixou escapar um gemido.

— Isso não vai dar certo...

Rafael sorriu, cheio de confiança.

— Confia em mim. Até o final do dia, você vai ser a mulher mais perfeita que esse canal já viu.

E assim, o pesadelo de Laura continuava, com Rafael liderando o caos com um entusiasmo que só ele poderia ter.

Algumas horas depois, Laura estava sentada no ateliê de Rafael, segurando o celular como se fosse uma bomba prestes a explodir. Rafael estava ao seu lado, mastigando um chiclete de menta e admirando seu trabalho com a expressão de um artista que acabara de criar sua obra-prima.

— Pronto, querida. Isla Frost agora é oficialmente uma influenciadora internacional — anunciou Rafael, com um sorriso satisfeito.

Laura olhou para a tela do celular, o estômago revirando de ansiedade. O perfil era impecável. Carlos, o hacker de confiança de Rafael, havia feito um trabalho inacreditável. A página de Isla Frost parecia autêntica: fotos em paisagens geladas da Finlândia, selfies perfeitas com legendas enigmáticas, e até mesmo comentários de contas aparentemente reais.

— Bio em inglês, claro — disse Rafael, apontando para o texto. — "Travel addict, fashion lover, and ice queen by nature." É tão chique que até eu quero seguir essa mulher.

— Isso é um absurdo. — Laura passou a mão pelo rosto. — Se alguém investigar, estamos fritos.

— Investigação? Amiga, isso aqui é um reality show, não a CIA. Andrew vai olhar duas fotos e aprovar na hora. Ele nem sabe o que é consistência de feed.

Laura suspirou profundamente. Apesar da aparência impecável do perfil, o nervosismo continuava crescendo.

— Eu vou acabar demitida.

— Não se você fizer isso com confiança. — Rafael deu um tapinha no ombro dela. — Agora vai lá, mostra pra ele a perfeição que criamos e arrasa.

Sem escolha, Laura se levantou, respirou fundo e foi em direção à sala de Andrew. Cada passo parecia mais pesado que o anterior. Ela ensaiava mentalmente o que diria, tentando parecer tranquila, mas seu coração parecia prestes a saltar pela boca.

Chegando à porta do escritório, Laura ajeitou o cabelo, respirou fundo novamente e bateu.

— Entre — Andrew disse, do outro lado.

Ao abrir a porta, Laura o encontrou sentado em sua cadeira de couro, analisando papéis com sua expressão usual de autoridade inabalável. Ele levantou os olhos quando a viu entrar.

— Laura. Alguma novidade sobre Isla Frost? — perguntou ele, direto ao ponto, como sempre.

— Sim, senhor Annenberg — respondeu ela, esforçando-se para manter a voz firme. Caminhou até a mesa e colocou o celular à sua frente. — Aqui está o perfil dela.

Andrew pegou o celular e começou a deslizar pelas fotos. Laura prendeu a respiração, esperando sua reação. Ele examinava o perfil com a testa levemente franzida, mas não disse nada por alguns segundos, o que parecia uma eternidade para ela.

— Hm. Estilo minimalista, paisagens exóticas... — Ele assentiu. — Parece exatamente o tipo de mulher que imaginei.

Laura quase desabou de alívio.

— Então... está aprovado?

Andrew pousou o celular na mesa, cruzou os braços e olhou para ela.

— Está mais do que aprovado. Quero que nossa equipe entre em contato com ela imediatamente. Envie uma mensagem pelo I*******m e veja se conseguimos marcar uma reunião para discutir os detalhes do programa.

O sangue de Laura gelou.

— Uma reunião?

— Claro. Não podemos colocar alguém no programa sem conhecê-la pessoalmente.

— Ah, claro... faz sentido — respondeu Laura, tentando esconder o pânico na voz. — Vou... vou cuidar disso.

— Ótimo. E parabéns, Laura. Você fez um excelente trabalho.

Andrew voltou a olhar para seus papéis, encerrando a conversa. Laura saiu da sala sentindo-se como uma marionete com os fios todos emaranhados. Ela tinha conseguido enganar Andrew, mas agora estava presa em uma mentira ainda maior. Isla Frost precisava aparecer pessoalmente. E isso significava que o plano louco de Rafael teria que entrar em ação.

No corredor, Laura encostou-se na parede, tentando controlar a respiração. Em meio ao pânico, pegou o celular e ligou para Rafael.

— Alô? — Ele atendeu, com o tom despreocupado de sempre.

— Ele aprovou o perfil.

— Claro que aprovou. Eu sou um gênio, lembra?

— Mas agora ele quer uma reunião com a Isla Frost. PESSOALMENTE.

Houve uma pausa do outro lado da linha, seguida de uma gargalhada.

— Amiga, chegou a hora de você estrear no papel da sua vida.

— Rafael, eu não consigo fazer isso.

— Claro que consegue. Não é como se você precisasse ser perfeita. Só precisa ser... Isla.

— Rafael, Isla não existe!

— Até agora. Amanhã ela vai ser real.

Laura desligou o telefone antes que Rafael pudesse continuar a motivação absurda. Agora, não tinha mais volta. Isla Frost precisava aparecer, e ela teria que ser a pessoa a dar vida a essa personagem.

Sozinha no corredor, Laura murmurou para si mesma:

— No que eu fui me meter?