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A ESCOLHA IMPERFEITA
A ESCOLHA IMPERFEITA
Por: Evilyn Sá
Capítulo 1: Um nome no espelho

Parte 1: Entre o Amor e a Mentira

O mundo de Andrew Annenberg parecia um palco infinito. Um lugar obscuro, repleto de estranhos que acreditavam conhecê-lo intimamente, baseando-se apenas em matérias de revistas, entrevistas e aparições no seu canal de televisão. Para eles, a imagem pública que ele projetava era suficiente para definirem quem ele era. 

O segredo de seu sucesso, ele bem sabia, residia na ilusão de proximidade. O público acreditava que, ao consumir entretenimento, estava conhecendo verdadeiramente outro ser humano. Quantas vezes ele havia notado como as mulheres se apaixonavam por personagens de séries e filmes? Para Andrew, tudo girava em torno disso: fazer o público acreditar na autenticidade do espetáculo. E, para o seu público, ele era o homem perfeito. 

Na penumbra de seu luxuoso quarto, Andrew encarava o próprio reflexo com a confiança de quem controlava todos ao seu redor. Seu sorriso largo e atraente, os olhos em tom de amêndoa, levemente puxados e sempre vigilantes, transmitiam uma sedutora autoconfiança. Os fios negros de cabelo, alinhados para trás com perfeição, revelavam uma pinta charmosa abaixo do olho direito — um detalhe que ele sabia ser irresistível para quem o admirava. 

Andrew não acreditava em compromissos sérios. Sua regra era simples: três encontros, e nada mais. Foi assim que ganhou o apelido de "Fabricante de Corações Partidos". Nunca se envolvia a ponto de deixar brechas, pois sua verdadeira paixão era sua carreira. Como o CEO mais influente da indústria do entretenimento da América Latina, seu coração pertencia à empresa. 

Depois de ajeitar o paletó no espelho, ele saiu de casa e entrou no interior sofisticado de seu BMW. O ronco suave do motor preenchia o silêncio enquanto ele dirigia pelo trânsito caótico de São Paulo. Poderia contratar um motorista, claro, mas Andrew apreciava a sensação de controle que o volante lhe proporcionava. Não era apenas sobre o luxo; dirigir o mantinha centrado em meio ao turbilhão de sua rotina. 

Chegando ao prédio da emissora Wewatch, ele estacionou na vaga reservada e seguiu em direção à entrada principal. O edifício era moderno, com paredes de vidro que refletiam a cidade frenética ao redor. Assim que passou pelas portas automáticas, uma equipe de assessores veio em sua direção, e à frente deles estava Estela Lemes, sua secretária pessoal. 

— Bom dia, senhor Annenberg — cumprimentou Estela, entregando-lhe um café ainda fumegante. Ela era eficiente, sempre a postos, acompanhando seu ritmo como uma sombra silenciosa. 

— Bom dia a todos — respondeu ele, com um aceno. — Em dez minutos, nos encontramos na sala de reuniões principal. Quero os relatórios completos dos últimos programas. 

Enquanto os assessores dispersavam, Andrew dirigiu-se ao seu escritório. Era um espaço elegante, com uma imensa mesa de mogno, estantes repletas de prêmios, e uma parede de vidro que oferecia uma vista privilegiada dos setores da emissora. Ali, ele se sentia um general supervisionando seu império. 

Pouco depois, Estela reapareceu para avisar que todos o aguardavam na reunião. Andrew levantou-se e caminhou até a sala principal. Ao entrar, mais de quarenta pessoas estavam à sua espera, todas em silêncio, observando-o com apreensão. Ele ocupou a cadeira central da imensa mesa oval, sua postura imponente deixando claro que ali, ele era a autoridade máxima. 

— Bom dia — começou ele, com um olhar penetrante. — A razão dessa reunião de emergência é a repercussão negativa da nossa nova série. 

Ele fez uma breve pausa, analisando as expressões tensas à sua volta. 

— O terceiro episódio teve uma audiência muito abaixo do esperado. Precisamos agir rápido, ou perderemos credibilidade. Quero soluções. 

O silêncio que se seguiu foi perturbador. Andrew tamborilou os dedos na mesa, a irritação crescendo. 

— Meu Deus, quarenta pessoas e ninguém tem uma ideia sequer? — disparou ele, arqueando a sobrancelha. 

Os olhares se desviaram, e ele reprimiu um suspiro frustrado. 

— Muito bem. Vamos mudar o horário de exibição e encontrar um espaço diferente na grade. — Mal terminou a frase, um dos diretores levantou a mão. 

— Senhor, e o que colocaremos no lugar dela? — questionou, hesitante. 

— Não temos espaço disponível — acrescentou uma assistente, de forma cautelosa. 

Andrew estreitou os olhos, irritado. 

— Vocês tiveram duas semanas para se preparar e não trouxeram nada? — Ele se levantou, impondo sua presença sobre a mesa. — Vocês têm mais uma semana para apresentar soluções. Estão dispensados. 

Deixou a sala sem dar chance para réplicas, passos firmes ecoando pelo corredor. Seus pensamentos fervilhavam. Era ele quem sempre mantinha o canal de pé, enquanto a equipe esperava que tudo caísse em seu colo. 

De volta ao escritório, afundou-se na poltrona voltada para a parede de vidro. A paisagem lá fora parecia distante, refletindo a complexidade de sua mente. Não era fácil sustentar uma emissora. A queda de audiência significava perda de patrocínios, e isso poderia levar o canal ao colapso rapidamente. 

Foi interrompido por uma batida leve na porta. Estela entrou, seguida por uma mulher. 

— Senhor Annenberg, esta é Laura Valença, assistente do senhor Mendes. Ela tem uma ideia para o nosso problema. 

Laura entrou com passos hesitantes. Tinha um ar exausto: os cabelos presos em um rabo de cavalo frouxo, manchas de cansaço ao redor dos olhos e óculos grandes que pareciam não combinar com seu rosto. 

— Senhor Annenberg, é um prazer conhecê-lo — disse Laura, com um leve tremor na voz. — A nossa proposta é um reality show ao vivo chamado Love Behind the Screen — em português, Amor por Trás da Tela. A ideia é juntar um famoso com pretendentes influentes e bem vistas pelo público. 

Andrew leu a proposta com interesse crescente. Era uma aposta ousada, mas promissora. 

— Parece interessante. E quem será o participante principal? 

— O senhor — respondeu Laura, com simplicidade. 

Ele ergueu as sobrancelhas, surpreso. 

— Eu? Por quê? 

Laura enumerou as razões com calma. 

— Primeiro, o senhor é extremamente conhecido. Isso atrairá pretendentes de toda a América Latina. Segundo, sua influência garantirá patrocínios fortes. E terceiro... o senhor é bonito. 

Andrew reprimiu um sorriso, ciente de que ela tinha razão. A ideia era vantajosa, e ele adorava estar no centro das atenções. 

— Está bem — concordou ele, devolvendo a pasta. — Preparem tudo. Não preciso participar da seleção das candidatas, confio em vocês. 

Quando Laura se virou para sair, tropeçou em um degrau e quase caiu, mas segurou-se na parede a tempo. Andrew conteve uma risada, observando-a desaparecer pelo corredor. 

Sozinho novamente, ele sorriu para si mesmo. Em breve, ele seria o protagonista de um novo espetáculo. E, como sempre, ele seria perfeito no papel.

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