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CAPÍTULO 04__EU TE PROTEGEREI

Eu tentei dormir, mas não consegui tirar os últimos acontecimentos dos meus pensamentos , da minha mente não saía a imagem daquela jovem desesperada que estava a correr por entre as árvores e muito menos do Fantasma à se banhar à luz da lua; ou da criatura que estava a se alimentar do sangue daquela outra jovem. Até ontem seres como lobisomens, vampiros, centauros ou outras criaturas como essas, eram apenas frutos da imaginação e dos pesadelos das crianças. Não sei o que se passa em minha mente, mas já sinto que partilho com Berthimor o peso do destino, sinto em meu âmago que devo proteger todos os seres da floresta das criaturas das trevas que desejam lhes fazer mau.

Eu virava de um lado para outro da cama, sem conseguir dormir, foi impossível Berthimor não notar.

_Não está conseguindo dormir minha doce Kira?

_Estou sem sono, por mais que eu tente dormir fecho meus olhos, mas imagens horríveis vem a minha mente, é frustrante descobrir depois de tanto tempo que eu não posso decidir sobre a minha vida, que algo bem maior que eu está movendo os fios do meu destino. Não ser capaz de mudar isso ou fazer algo para lutar contra isso é realmente muito frustrante.

Meus pensamentos estavam polvorosos, estou rodeada por pessoas que não conheço, por criaturas medonhas que estão a espreita na parte mais escura da floresta. Duvido até de quem sou e como vim parar aqui.

 Berthimor virou-se de lado e me olhou, eu também estava de lado na beirada da cama, ele apoiou a cabeça em seu braço e calmamente disse-me:

_Querida Kira, saiba que ao meu lado não precisa temer nada, eu a protegerei até do mais terrível ser, nunca te trairei ou te abandonarei. Só eu conheço a sua dor, seu desespero e sua tristeza, eu digo quantas vezes for necessário “Eu te protegerei com toda a minha alma”. Então, não tema a escuridão, não tema a dor e o desespero.

Eu meu mais profundo ser, senti uma chama se acender, minha alma vibrava e a névoa que teimava a tomar conta da minha mente se dissipou, meu coração que antes parecia está cravado em espinhos, sentiu-se livre.

Fiquei olhando seus olhos intensos e sinceros, ele também estava a me olhar, então, sentou e me pediu:

_Deixe-me deitar ao seu lado, nada farei, desejo apenas está com você e te admirar enquanto dorme.

__Claro, permito que deite ao meu lado Berthimor, em ti sinto que posso confiar, minha alma se alegra quando ouço você falar. Sua presença acalanta meu ser.

Ele levantou-se e subiu na cama deitando-se ao meu lado, eu repousei minha cabeça sobre seu braço e ficou a olhá-lo e ele a mim, não demorei e logo adormeci, seu calor e sua presença afastava a sensação de perigo, sentia que ele é o meu escudo, aquele que irá me proteger de tudo.

Enquanto eu dormiu, tive um sonho, eu estava correndo desesperada, estava sozinha e em pânico, algo me perseguia insistentemente, uma grande e profunda escuridão me envolvia, enquanto eu tentava encontrar um resquício que fosse de luz, mas a escuridão era forte e tomou conta de mim, nessa hora uma angustia imensa dominou meu ser e eu acordei apavorada.

 Eu estava sozinha na cama, ele não estava mais ao meu lado, senti uma movimentação do lado de fora da cabana, me levantei e fui olhar o que era, os homens da aldeia saiam correndo em direção a floresta, me assustei um pouco, pois não sabia o que estava a se passar.

_Eles vão fazer a ronda matinal.

Quem me fala isso é Rania, ela acabara de chegar aonde eu estava.

_Ronda matinal?

_Isso mesmo, todas as manhãs eles vão fazer essa ronda para verificar até onde o perigo chegou durante a noite.

Explicou a mulher que acredito ser a minha rival, pois notavelmente, ela estima muito o Berthimor.

_ Isso é perigoso, não os vi se transformarem em lobos e se as trevas os atacarem, estarão em desvantagem.

_ Não precisa te preocupar com isso, acalma teu coração, eles não podem se transmutar por completo durante o dia, somente a noite sob a luz da lua, mas mesmo assim, eles são fortes e ainda tem todas as habilidades necessárias para lutar contra o mau. Aliás , Berth e os outros são valentes, não a nada a temer.

Via-se que ela sabia de tudo o que acontecia ali, ao contrário de mim ela sempre viveu e conviveu com todos na aldeia e eu sou apenas uma intrusa que de nada sabia. Foi assim que mim senti, uma intrusa, alguém que não faz parte desse mundo, uma anomalia.

_Já conhece a aldeia por completo?

_ Não tive a oportunidade ainda.

_venha, vou lhe mostrar tudo e te apresentar a todos, eu ainda tenho um tempo até ir fazer minhas tarefas.

Ela levou-me para fazer um breve tour na aldeia, de imediato pareceu-me que era um lugar pequeno, mas quando se começa a conhecer, percebe-se que a aldeia é bastante grande, arejada, bonita e alegre, apesar dos moradores saberem do perigo que está por todo o lado, só esperando uma breve oportunidade para ceifar essa alegria. Enquanto caminhávamos, ela me contava um pouco sobre todos que ali moravam.

Mim senti acolhida por todos eles, as crianças sempre bem espontâneas viam até mim e me faziam perguntas, curiosas para saber como era o “mundo de fora”, pois só conheciam ali e a mais nada.

O mundo de fora também é cruel e rodeado de perigos, mas eu me atentei a dizer para elas somente o que eu achava necessário, lá fora eles seriam aberrações, monstros e pesadelos de muitas pessoas.

Essa barreira os protege não só de monstros mitológicos, mas os protegem também, da ignorância e da intolerância de diversos seres humanos, que por vezes, podem ser as criaturas mais cruéis e insensíveis desse universo.

Deixando isso de lado, Rania me apresentou a anciã da aldeia e a curandeira Mérida, são pessoas muitos sábias, elas me deram boas-vindas e pediram proteção da Floresta para mim.

Depois de me mostrar o resto da aldeia, nós retornamos até a cabana de Berthimor, nesse exato momento, os homens voltavam da sua ronda.

Berthimor veio até onde nós duas estávamos e nos acompanhou até a cabana, nós entramos e Rania começou a preparar o café da manhã.

_Como pode perceber, tudo o que nós comemos ou usamos vem da natureza, a floresta nos dá tudo, abrigo, comida e proteção. O que plantamos, colhemos, frutas, legumes, verduras e tudo o que é essencial para nossa alimentação , em troca protegemos e cuidamos do lugar onde vivemos , é assim que nossos ancestrais viviam e é assim que nós continuamos a viver, é um conhecimento que antecede o próprio tempo.

Berthimor me falava isso, enquanto eu escutava atentamente. É magnífica essa convivência mutua entre eles e a floresta, todos se respeitam e respeitam o lugar onde vivem, os humanos podiam aprender com isso e deixar a ganância desenfreada de lado.

Rania colocou nosso café da manhã na mesa e sentou-se conosco, olhando para mim falou :

_Kira nós temos um banheiro, você pode se banhar e fazer suas higienes e necessidades lá.

_Eu e muitos que aqui vivem preferem tomar banho no rio, eu posso te levar lá, se assim desejar._Disse Berthimor, eu queria conhecer o rio e o pedi para que quando pudesse me levasse até lá.

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