Lembranças

Enquanto pequena, chorava todas noites porque não tinha meu pai por perto, hoje choro por não ter os dois por perto...

Eu saí para comprar roupas do trabalho e em nenhum momento parei de pensar na ousadia do Lucas! Como ele pode? Ele me pegou de surpresa me deixando encurralada... Não sei mais o que pensar, se gostei ou não gostei...

Lucas é como um irmão para mim, ele sempre me apoiou em tudo e foi ele quem me ajudou a descobrir o paradeiro do meu pai e eu até posso vê-lo como um homem lindo e perfeito, mas isso não implica que o amo... Na verdade, eu não estou com cabeça para amar!

Minha mãe suicidou-se porque ela não aguentava mais a dor de saber que meu pai nos abandonou e por isso eu me desliguei completamente desse tipo de coisas, "amor" não sei mais o que é sentir isso.

Quando minha mãe perdera a vida, eu pensei que meu pai voltaria para cuidar de mim... Mas ele nunca veio, em nenhum momento da sua vida importou-se comigo, Deus sabe como me machucou viver sem pais naquele tempo...

Eu tinha dezasseis anos quando minha mãe matou-se...

Fiquei assustada e preocupada porque não sabia onde iria. Então fui obrigada a voltar em Amesterdão e deixar todos meus amigos e conhecidos de Londres para viver com a Madre Teresa. Madre Teresa foi quem ajudou muito minha mãe quando estava grávida de mim, ela a acolheu e cuidou dela.

Eu vivi no internato da Madre Teresa até os 18 anos, depois de conseguir uma bolsa para estudar artes em Paris . Lá fiz um curso intensivo de estilistas para aprender sobre moda. E foi nesse curso que conheci Lucas, lembro-me como se fosse ontem...

Paris, 2009.

— Antonella, olha para esse gato — eu estava desenhando um vestido de gala vermelho quando minha colega de carteira Stefy, chama por mim.

— Quem é ele? — pergunto num tom de voz baixo. Era um homem lindo, alto e gostoso. Tinha uma postura impecável e parecia ser o galã da novela das oito. Sinceramente não me interessou muito, mas não podia negar que era atraente.

— Provavelmente um visitante ou o comprador. Disseram que pensam em vender essa escola, acho que ele está interessado em comprar. — minha colega respondo no mesmo tom e fico atenta enquanto observo cada movimento desse homem enquanto conversava com a nossa diretora.

— Espero que seja uma boa pessoa... — encerro a conversa e pego um lápis de cor vermelho para colorir o vestido. Tenho mais coisas para pensar e me preocupar! Meu sonho é terminar o curso e depois me tornar numa modista, em seguida abrir meu pequeno negócio na pequena casa e humilde que sobrou da herança que minha mãe deixou e alguns "centavos" que ela deixou para minha faculdade, vou usar e investir nos materiais. Meu sonho é me tornar grande e muito famosa! Sei que talento já tenho e só preciso de trabalhar! Vou me esforçar muito para no fim das contas não depender de homem nenhum e não sofrer como minha mãezinha sofreu.

— Está ficando muito lindo — minha colega elogia o meu desenho.

— Obrigada — agradeço focada a traçar a curva da cintura da modelo do meu desenho.

— Meninas, peço a vossa máxima e cuidadosa atenção — A madimoiselle pede a nossa atenção e eu paro de colorir o meu desenho.

— Bom, acho que algumas já sabem que será vendida a nossa escola...

Todas meninas começaram a comentar sobre o que a madimoiselle disse e assim, provocando barulho por toda sala.

— Silêncio! — madimoiselle ordena e todas calam-se — eu sinto muito, mas algumas regras não serão mais as mesmas e claro que serão melhores — ela sorri para o galã. — Vou apresentar a vocês o novo dono da escola de moda mais famosa de Paris, Sr. Lucas Thompson.

Todas meninas começam a bater palmas por educação, mas eu apenas observo o sorriso dele... é lindo e perfeito, como seria fazer um retrato dele?

— Todas essas meninas, Sr. Thompson — ela olha para Lucas e depois volta sua atenção para nós —são muito talentosas e inteligentes. Cada uma melhor que a outra.

De repente começo a sentir meu corpo a arder e meu coração a bater muito rápido. Merda!Eu odeio quando isso acontece, rapidamente pego minha pasta para tirar minha bomba de ar. Essa sensação é horrível... nos primeiros dias que perdera minha mãe, eu sempre colocava a bomba de ar longe de mim para poder sofrer caso de repente me faltasse fôlego... na verdade eu queria morrer, mas sem dar o gosto das pessoas comentarem "a mãe e a filha suicidaram-se"

— O que foi Antonella? — minha colega de carteira pergunta.

Eu não respondo. Apenas abaixo minha cabeça para inalar o oxigênio da minha bomba. Eu odeio usar isso em público, por isso me escondo quando passo mal... é horrível quando as pessoas te tratam e olham para ti com pena! Presenciei isso quando minha mãe morreu

— Para com isso Antonella. — minha colega me alerta baixinho — estão todos a olhar para nós.

Só mais um pouco... Depois de ficar mais calma ergo meu rosto e olho para mademoiselle. Seu olhar era de vergonha e desprezo. Na verdade, ela nunca gostou de mim, por um motivo que desconheço, provavelmente porque nunca a bajulei.

— Eu sinto muito.... — pego minhas coisas e começo a arrumar rapidamente.

Saio da sala em passos largos e sem olhar para ninguém. Eu tinha vontade de correr, desaparecer daí... Desaparecer do mundo, quem me dera nunca ter existido! Eu sofro muito por saber que estou sozinha nesse mundo e que se morrer hoje não terá ninguém para dizer que valeu a pena estar viva! Que fui amada e alguém me ama!

— Senhorita! Espere, por favor, Antonella!

Ouço alguém a chamar por mim e quando me viro era nada mais e nada menos que Sr. Lucas Thompson. Eu me viro rapidamente para enchugar minhas lágrimas, respiro fundo e depois volto a olhar para ele. Não gosto de mostrar minhas fraquezas aos outros.

— A senhorita esqueceu isso... — ele aproxima-se de mim e me entrega o desenho que eu estava fazendo na sala — Desculpe a ousadia, mas a senhorita é muito talentosa —Ele não era francês, notava-se pelo sotaque.

— Obrigada... o Sr.é muito gentil!

— Por quê não volta para sala? Só para evitar problemas com a senhora FF.

— O senhor tem razão, eu vou para sala. — por fim falo só para não prolongar o assunto, sei que se negar ele vai insistir!

— Me trate por Lucas e para que conste, eu não sou assim tão velho — ele sorri para mim e eu sorrio de volta.

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