Como se estivesse prevendo o que aconteceria, poucos dias após o churrasco começou a tentativa de invasão ao morro. Nem de longe se compara a uma operação, pois ao contrário do comum, dessa vez o Renan não tem a mínima pretensão de se esconder, me provocando um medo fora do normal. — Eii, escuta, por favor! — Renan interrompe os meus apelos para que ele desista da ideia absurda de enfrentar esses homens. — Eu volto, eu te prometo que vai dar tudo certo! — Não tem como você me prometer isso, Renan, por favor, não vai… — Não torna ainda mais difícil, eu preciso fazer isso ou nunca sairemos daqui. Eu quero que fique aqui, o Tom e mais alguns homens estão fazendo a segurança de vocês, a Jéssica tá aqui, você não estará sozinha. Eu volto, já te disse, loirinha, mas não saia daqui de maneira nenhuma.— Vem, amiga. — Jéssica me abraça, tentando me levar para o subsolo onde o Renan costumava se esconder. — Se acalma, essa tensão toda vai fazer mal pra você e pro bebê. Nanzin é malandro, da
Débora grita e se joga em cima do homem, enquanto grita para que eu corra. Faço o que ela pede, mesmo que a minha vontade seja defendê-la ao ouvir o choro dela ao tomar um tapa dele. Agradeço por não ter ninguém com ele e corro por alguns minutos, até voltar para onde eu não deveria ter saído. — Caralho! — Tom grita assim que me vê chegando no portão. — Você está louca?— Tá querendo se matar? — Jéssica! A Débora! Ele pegou a Débora! — Tento falar entre um soluço e outro, e ela me abraça.— Vem, se acalma. Vem beber água e se acalmar. Após alguns minutos tentando me acalmar, enfim consigo explicar o que aconteceu, e enquanto a Jéssica me dá um sermão pelo que fiz, dois homens vão atrás da Débora. — Eu sou burra, burra! Que merda! — Grito e volto a chorar assim que ouço a voz do Renan pelo radinho. — A Débora pode estar morta por minha causa! — Deu mole, Liv, dessa vez não vou passar pano pra você não. Tu se arriscou demais, imagina se ela não tivesse te visto? Que ideia idiota, p
***Por Renan/Nanzin***Com a notícia da gravidez inesperada da Lívia, me vi num misto de felicidade e medo. Ainda que tenha sido um pouco antes do planejado, esse bebê é um sonho que se realizou, e eu preciso fazer de tudo para mantê-los em segurança até tudo isso acabar. A nossa despedida foi a mais dolorosa que já tive na vida, a incerteza de conseguir cumprir a minha promessa fazia com que a minha atenção ao redor fosse redobrada. — Chegou a hora, Nanzin. DG Interrompe a nossa despedida e mesmo que a minha vontade seja não ir, a obrigação de pôr um fim nisso tudo e garantir a segurança dela fez com que eu a largasse e seguisse o planejado. — Vai dar certo, irmão. Fé em Deus!. — TH diz assim que saímos da casa. — Tem que dar, parceiro, tem que dar. Esses filhos da puta não vão se criar aqui não. — Assim que se fala, Nanzin. Bora mostrar como funciona aqui no morro. Entramos no carro e fomos em direção aos pontos estratégicos, conforme foi planejado, e não demorou para começar
***Por Lívia ***Tranquilidade é uma coisa que está bem longe da minha vida, após chorar até dormir, acordo assim que amanhece e a falta de notícias esmaga o meu peito. DG continua apenas mantendo poucas palavras, entre elas, que o Renan está escondido e bem. Por mais que eu tente acreditar, a todo momento o pensamento de que algo muito ruim aconteceu se faz presente.Tenho alguns segundos de alívio ao receber uma mensagem do número dele, mas logo sinto todo o meu corpo tremer quando abro a foto que recebi. Me deparo com o Renan amarrado com o rosto todo ensanguentado e alguém vestindo uma roupa preta ao lado dele. Sinto as lágrimas descerem incessantemente, mas antes que eu pudesse largar o celular, chega um áudio."Oi, minha querida amiga! Viu como o seu namoradinho está lindo? Tá vendo essa porra? Foi você que causou isso, não se esqueça. Não que esse filho da puta aqui não fosse caçar por conta própria, porque mais cedo ou mais tarde isso aconteceria, mas você atrasou todo o proce
— Filho da puta! — Grito na tentativa frustrada de me soltar. — Você é um covarde, Leandro! — Fica nervosa não, Liv. Ele não sentiu dor, acredito que quando ele se deu conta, já estava dando Oi pra Deus. Te enganar foi tão fácil, Lívia, você teria sido uma ajuda e tanta se não tivesse se deslumbrado com a vida aqui. Os pais de vocês devem se envergonhar ao ver vocês dois nesse momento. Dois idiotas que nem para se vingar servem! Leandro continua contando tudo sobre como planejou tudo para matar o pai do Renan e o meu pai, e a cada palavra é como se eu levasse um soco no estômago. Quando ele se cansa de nos torturar psicologicamente, vai para o quintal e nos deixa sozinhos na sala.— Eu sinto muito ter causado tudo isso na sua vida, Lívia.— Você não causou nada, Renan, eu permaneci aqui porque quis, porque te amo. Fomos vítima desse filho da puta que planejou tudo desde o começo.— Eu te pedi pra não vir, o nosso bebê, Lívia. — Renan encara a minha barriga e chora.— Eu nunca te dei
— Lívia, escuta! — Ulisses grita pela terceira vez e só então olho pra ele. — Quanto mais tempo você ficar pedindo pra ele acordar, menos chances ele terá de sobreviver. Ele tá perdendo muito sangue, Lívia, só me ouve e me ajuda... Eu prometi te ajudar e tô tentando, mas você tem que colaborar. Eu não vou fazer mal a vocês, já tá mais que provado isso, então só faz o que eu te disser e vai dar certo no fim. Apenas pisco e concordo, soltando o Renan mesmo contra a minha vontade. Ulisses pede ajuda a um segundo policial, o coloca na viatura e me ajuda a segurar a camisa do Renan contra o ferimento em seu peito. Os primeiros socorros foram feitos diante dos meus olhos, e foi preciso duas pessoas pra me tirar de perto dele quando o levaram para dentro do hospital.Novamente me vejo no passado, parada na frente do mesmo hospital onde eu recebi a morte do meu pai, e sentindo o medo de receber a mesma notícia a qualquer momento. A cada minuto sem notícias do Renan é desesperador, e embora
Mesmo com a preocupação com o estado de saúde do Renan, após tomar um banho e jantar, senti o meu corpo pesado e resolvi me deitar um pouco antes de voltar ao hospital. Porém o que era para ser apenas alguns minutos se tornaram horas, e eu só acordei quando senti o sol bater no meu rosto. — Caramba, olha a hora. — Digo para a Débora assim que termino de me arrumar. — Dormi além da conta.— Eu preferi que você descansasse, Lívia, eu sei que a situação não é das melhores, mas você precisava relaxar.— Eu descansei bastante. Nossa, nem ouvi a Renata ligar sete vezes. — Falo enquanto olho o celular. — Primeiro toma o seu café, Liv, depois você retorna a ligação. Débora diz e desvia o olhar de mim, voltando a sua atenção para a tela do celular, e então tomo um café com leite e uma fatia de pão, antes de me levantar da mesa para ligar para a Renata. — Come mais um pouco, amiga. — Não, já estou preocupada com esse mistério, aliás, você disfarça muito mal.— Só quis que você comesse. — D
Os meses foram passando e aos poucos fomos voltando a nossa normalidade, retornando ao que éramos antes do Leandro aparecer nas nossas vidas. Como Ulisses disse, o Renan realmente soube cuidar de tudo muito bem e não houve nada que pudesse incriminá-lo, pois a única pessoa que conseguiu pôr as mãos no dono do morro do Vovô em Casa, preferiu manter a sua fidelidade a mim. Como parte final do seu plano, após três anos morando em Seattle, Renan Galvão retornou ao Brasil e retomou a sua carreira como advogado, deixando o Nanzin para trás de vez.Eu não sabia que isso seria possível, mas durante esses meses tenho sido ainda mais feliz do que já fui um dia, e o Renan esteve ao meu lado em todas as etapas da gravidez, me dando ainda mais certeza de que há males que vem para o bem. — Obrigada por me trazer, amiga. Eu não sei onde o Renan estava com a cabeça em vir só pra trazer um documento e esquecer o documento. — Comento com a Débora assim que subimos a serra. — Acontece, amiga, o bebê