O tempo ia passando e a situação de Alexandre era crítica! A desintoxicação do viciado em crack é um processo doloroso e algumas vezes pode ser letal. O dependente de crack praticamente não come e pouco dorme o que acarreta um processo de desnutrição e emagrecimento mais intenso do que o provocado pela cocaína. Um adulto dependente de crack pode perder até dez quilos em um mês, além disso torna-se negligente nos cuidados do próprio corpo. Neurologicamente, o uso do crack provoca dores de cabeça, tonteiras, inflamações dos vasos cerebrais... a alta temperatura da fumaça do crack causa lesões na laringe, traqueia e brônquios o que propicia o aparecimento de pneumonia e tuberculose. Sintomas como tosse, dor no peito e falta de ar são bastante comuns.
O consumo de crack libera uma qua
Era um sábado e após todos os afazeres da chácara, eu e Bela nos sentamos na poltrona da varanda para relaxar do dia estafante. Vinha caindo a tarde e os pássaros se recolhiam nas árvores com extrema garrulice.Desde o episódio com Alexandre eu procurava sempre que podia explicações para o fenômeno que eu presenciara. Muito do meu ceticismo ficara abalado, porém ainda estava longe de ser um crédulo contumaz. Entretanto comecei a admitir que existia algum poder superior que atuava quando a mente era polarizada para determinados acontecimentos. Isso eu não podia negar, pois acontecera na minha frente e eu não me senti nem um pouco vítima de impressões semelhantes a uma alucinação.Como Bela conhecia esses temas melhor do que eu, procurei conduzir a conversa para os tópicos em que eu desejava esclarecimento. E sendo assim sondei:― Bela, voc&
A boa notícia que correu na chácara foi a vitória de Tadeu e Tomaz, suplantando as dificuldades do vestibular da Universidade Federal, em Ciências da Computação e Belas Artes, respectivamente. Tomaz aproveitou suas aptidões e habilidades artísticas com a confecção de artes artesanais que já era seu ‘ganha pão’ e escolheu um curso afim com as ocupações correlatas ao dom que possuía. Tadeu, embora também manipulasse o artesanato com competência era focadíssimo em computadores e escolheu o curso da sua predileção.O fato criou um certo frisson na comunidade e alguns outros hóspedes começaram a desenvolver a ideia de recomeçar os estudos parados por força do desvio imposto pelo famigerado vício.Os dois agraciados foram pedir à Guida a oportunidade de continuar morando na cháca
Todos os dias peripécias desse teor aconteciam na chácara. Agora desenvolvia-se em mim um desejo cada vez maior de aumentar o meu cabedal de conhecimentos. Ainda persistia o desejo de elucidar o fenômeno que eu presenciara, ou seja, a irradiação de Guida sobre Alexandre. Guida me dissera que Julião poderia me elucidar melhor, por isso combinei com Bela visitá-lo no domingo à tarde para não dar trabalho ao anfitrião no preparo do almoço.E assim fizemos: no domingo seguinte à tardinha rumamos para o sítio do mestre a fim de mais uma agradável tertúlia sobre as matérias nas quais eu apresentava dúvidas.Mal sentamos e conversamos as trivialidades de praxe, eu fui direto ao assunto expondo ao nosso sábio interlocutor os tópicos sobre os quais eu pretendia um esclarecimento. Julião escutou com atenção e retorquiu assim:
Cada dia, semana, mês ou ano passado na chácara faziam do meu aprendizado cotidiano um grande curso existencial com mestrado e doutorado em ciências da realidade nua e crua, noção e percepção dos mais variados instantes vividos. Eu já estava completamente adaptado e cada vez sentia maior prazer em participar da comunidade da chácara. Meu namoro/noivado com Bela já tinha chegado aos sete meses e nós estávamos focados em um casamento próximo, até o fim do ano no mais tardar.Em agosto aconteceu o enlace matrimonial de Hélio e Brida. Hélio conseguira um emprego em uma editora para confeccionar as artes, capas e outros desenhos que fossem básicos à empresa e como possuía uma aptidão fantástica para criar ilustrações e gravuras, auferia um salário razoável e mais os serviços prestados a terceiro
O diálogo entre mim e Bela era bem lapidado e sempre nos entrosávamos com pensamentos lúcidos. Bela, sem favor nenhum, era uma moça portadora de um juízo equilibrado.Numa oportunidade em que o trabalho nos concedeu uma folga, eu e ela sentamo-nos na varanda para colocar as coisas em dia. Com vinda de Selma e Jonas foram três os que necessitavam de cuidados especiais, pois o estado de Alexandre ainda exigia cautela e vigilância redobrada. Maricá conseguira ultrapassar a fase aguda e estava em franca recuperação tendo engordado uns quilinhos, o que lhe auferia melhor aparência. Com isso o trabalho aumentou bastante e, depois do jantar assistíamos um pouco a TV já cochilando e pedindo uma caminha para descansar o corpo exausto. Por isso meu encontro com Bela foi indispensável para comentarmos nossos assuntos pessoais.Depois que eu “ficara rico” era a primeira vez q
Alexandre se foi...Pela regra da chácara outra pessoa deveria ocupar o lugar dele e a romaria em busca de pessoas adequadas à natureza da vaga, acrescentou novas peripécias aos capítulos anteriores.Guida e eu percorríamos as “cracolândias” numa peregrinação obscura para “pescar” novas almas concordantes com o tratamento. Trabalho inglório, perigoso, estafante...Já ouvi centenas de vezes muitas pessoas de ‘juízo’ dizer que no universo não existe acaso... acaso é o nome de uma Lei ainda desconhecida e não enunciada. Pela famosa Lei da Atração que, tanto Guida quanto Julião, citavam com constância em suas considerações e justificativas, remetendo ao Cósmico a realização de certos eventos, em uma de nossas buscas, sem qualquer razão aparente, Bela resolveu particip
Na semana seguinte, na sexta-feira levantei-me e fui para a mesa do café... não vi ninguém! Silêncio, nenhum movimento.... na cozinha encontrei Rute:― Onde se escondeu o povo da casa? ― perguntei divertido.Ela falou com a sua voz calma e o sotaque arrastado das baianas:― Tem expediente hoje não, seu Antônio! Dona Atília desencarnou! Dona Guida foi pra lá onde ela mora ajudar com a preparação do enterro!Fiquei atônito com a notícia! A morte é assim! Apesar de estarmos preparados para o desenlace ela sempre nos pega desprevenidos.Encontrei Bela na secretaria... Ela estava com o semblante triste.― Já soube de dona Atília? ― perguntou Bela.― Sim! A que horas será o sepultamento?― Provavelmente às dezesseis... ela faleceu entre três e quatro horas. Avisaram Tia Guida e ela foi para lá de madrugada.
Aos poucos dona Marisa foi voltando à vida, mas não à realidade! Os exames feitos mostraram uma insuficiência mental decorrente da alienação progressiva causada pela droga. Com o choque devido ao reencontro com Bela agravou-se o quadro e o seu nível de consciência ficou prejudicado em relação ao reconhecimento da filha, o que até certo ponto foi salutar para o seu processo de recuperação da saúde bastante debilitada pela dependência catastrófica.À conselho médico, Bela não fez força para que a memória de sua mãe se restabelecesse imediatamente; por enquanto era melhor deixar que o processo de amnésia fosse seguindo o curso natural imposto pelo próprio organismo e, por conta disso, dona Marisa agia como, se ao invés de mãe, fosse uma filha obediente de Bela, respeitando-a e cumprindo aquilo que