CAPÍTULO TRÊS

MEGAN 

Ainda estava tentando entender tudo o que havia acontecido. Eu não era idiota, sabia que se aquela maldita fruta não tivesse nos atrapalhado teríamos nos beijado. Meu Deus! Eu quase havia beijado Alex. Isso parecia irreal. 

Terminei de subir as escadas ainda sem acreditar. Nunca imaginei que nós dois chegaríamos a tal ponto. Ele sempre foi algo que eu considerava distante demais do meu alcance. Um obstáculo que nunca pensei atravessar, e agora estava ali: chocada, por termos quase nos beijado. 

Tentei tirar da minha mente o que havia acontecido, já que não queria demonstrar para a minha mãe o quanto estava afetada. Coloquei minha máscara de indiferença e caminhei até a sala. Dona Kristen estava na poltrona cochilando, enquanto a TV ligada passava um programa de fofocas que ela amava. 

Observei-a por algum tempo, até que tomei a coragem de dar uma leve sacolejada em seu braço para que acordasse. Ela abriu seus olhos lentamente e assim que me viu, sorriu. 

— Chegou cedo, querida — constatou assim que olhou para o relógio. 

— Amanhã temos que abrir o café cedo, então… 

— E como foi o jantar com o genro que eu sempre quis ter? 

— Mãe, já disse para a senhora não falar assim. Alex e eu não temos nada, somos somente amigos. 

— Podem ser amigos, mas no fundo tem algum sentimento. Não é mesmo, filha? 

— Não, mãe. 

Eu havia me sentado para retirar minha bota ali na sala mesmo, mas desisti. Levantei-me e comecei a caminhar para o meu quarto. Tudo bem, eu podia até ter uma atração por Alex, mas do jeito que minha mãe fazia parecer eu morria de amores por ele. 

O que era mentira! 

Talvez eu o desejasse demais, já que ele era sexy até dizer chega, mas era só isso. Pura atração, desejo, um tesão enrustido. Nada de amor! 

Entrei em meu quarto, mas logo minha mãe surgiu na porta e comentou:

— Não precisa ficar chateada, querida. — Sorriu gentilmente em minha direção. 

— Mãe, só não quero que a senhora entenda errado. Ele é lindo, charmoso, o cara mais legal que conheci, mas não o amo. 

— Eu sei. Vamos esquecer isso, vou para a cama. Boa noite, querida! 

— Boa noite, mamãe! 

Ela saiu do quarto fechando a porta atrás de si. Eu tinha tanta coisa para me preocupar, para ter que focar em explicar para minha mãe, que Alex e eu nunca seríamos uma combinação perfeita. 

Antes de me deitar mandei uma mensagem para Katherine, que havia ficado aqui em casa até um pouco antes de Alex chegar. E conhecendo bem a amiga que eu tinha, se não falasse nada sobre a noite, ela estaria aqui antes de o sol nascer. 

Megan: Foi tudo legal, Alex é um cara muito bacana. 

Kat: Só isso? E o beijo, sexo e tal? 

Megan: Não teve nada disso. 

Achei melhor não contar sobre o quase beijo, senão ela ficaria como minha mãe: já sonhando com um relacionamento que eu nem pensava em ter com Alex. 

Kat: Acho que tudo o que te indiquei para fazer, você ignorou. Não é possível que saiu com aquele homem e não deu nenhum beijinho. Você me decepciona, Megan. 

Megan: Já disse que ele é só meu amigo. 

Kat: Tem amigos que transam.

Nessa parte tive que rir, pois todas as amizades masculinas de Katherine eram coloridas. Só que nunca fui como ela, talvez fosse por isso que meus relacionamentos eram sempre fracassados, mesmo o último que durou consideravelmente. Talvez ainda sonhasse com o tal do príncipe encantado que estava mais difícil de achar do que nunca. Bom, ao menos era o que eu dizia para não acreditar que Alex fosse o tal príncipe. 

Conversei um pouco mais com Kat, mas acabei caindo no sono com o celular na mão. Os dias estavam exaustivos, então quando eu me deitava, apagava quase que imediatamente. 

Acordei no outro dia com minha mãe batendo na porta. Olhei o celular, e Katherine havia me desejado boa noite, assim que parei de responder suas mensagens. Ela já sabia que se eu sumisse é porque tinha dormido. 

No entanto a mensagem de bom dia de Alex foi o que fez um sorriso imbecil surgir no meu rosto. Pelo jeito eu ia acabar fantasiando coisas que não queria. 

Respondi com da mesma forma, sem emoji, para não tornar íntimo demais, e desci para o café. Os dias de sábado eram sempre mais badalados, o pessoal amava passear pelo bairro Nolita, já que havia muitas lojas e cafés como o meu para alegrá-los. 

Já passava das dez da manhã quando tive tempo de organizar algumas mercadorias que ficavam embaixo do balcão, por isso, me abaixei e comecei organizá-las. No entanto alguns minutos depois um perfume característico chamou a minha atenção. 

Eu o conhecia bem demais para saber quem estava ali. 

Levantei minha cabeça e lá estava aquele maldito homem, maravilhoso, com seu cabelo muito bem penteado para trás e os olhos claros que me encaravam de uma forma que fazia minhas pernas se tornarem gelatinas. A boca; aquela maldita boca que me fascinava estava com um sorriso imenso em minha direção. 

— Que honra recebê-lo aqui em pleno sábado — tentei soar como sempre fomos e esquecer o que quase acontecera na noite passada. 

— Hoje tive uma reunião que não podia ficar para segunda. 

— Entendi — respondi, mas mesmo com o sorriso radiante havia algo errado: — Aconteceu alguma coisa? 

— Problemas familiares. — Preocupei-me imediatamente. 

— Posso te ajudar em alguma coisa? — perguntei, já que ele sempre deixou claro que eu era sua melhor amiga. E... porra! Amigos serviam para esses momentos. 

— Creio que não — comentou, tentando deixar o assunto para lá. 

— Tem certeza? — tentei novamente, mas ele já tinha colocado sua máscara de homem todo poderoso. 

— Sim, infelizmente.

Assenti para não forçá-lo a falar mais nada. Fui até a máquina de expresso e preparei o café que ele amava. 

Entreguei-lhe a bebida, e ele agradeceu com um pequeno movimento de cabeça. Alex tomou um gole do café e olhou ao redor, percebendo a movimentação do dia. 

— Nossa, como quase nunca venho aqui aos sábados nunca tinha percebido como fica cheio. — Sorri com seu comentário e respondi:

— Hoje está vazio, pequeno padawan. Tem sábados que me desespero com medo de não dar conta de atender todo mundo. 

Depois de bebericar mais um gole da bebida que estava fumegante, Alex voltou aqueles olhos, que poderiam abalar as estruturas de qualquer ser humano, para mim. Senti quando engoli em seco só pela forma como me olhou. 

Tentei desviar minha atenção, juro que tentei, mas me vi rendida naquele olhar. Ele parecia desvendar pedaço por pedaço de mim. Daquele jeito ficava difícil não pensar coisas extremamente impróprias com ele. 

— Queria que estivesse menos cheio para poder ter uma conversa com você — sua voz sussurrada quase foi a minha perdição, mas me controlei. 

— Pois é, agora não dá, mas do que se trata? — questionei, no entanto, por seu olhar, eu já imaginava o que seria. 

— Sobre ontem…

Pensei em falar algo, mas por um milagre do destino, ou azar, vai saber, minha amiga abriu a porta do café, e eu consegui desviar minha atenção do homem à minha frente para ela. Kat aproximou-se de onde estávamos com um sorriso radiante no rosto. Alex virou-se para ver quem era e logo abriu outro sorriso. 

Os dois haviam se conhecido aqui no café, em um dia em que minha amiga chorara desesperadamente por ter levado um pé na bunda. Desde então também se tornaram amigos, usando a desculpa de eu ser a parte comum entre os dois. 

Katherine era completamente fora dos padrões que a família de Alex aceitava em seu círculo de amigos; com algumas luzes rosa em seu cabelo loiro, as blusas de banda nunca a largavam, e os coturnos pretos estavam sempre presentes. 

— O homem mais lindo da face da terra está no Delicatto em um dia de sábado — brincou ao se aproximar de Alex. 

— Tinha uma reunião… — Enquanto ele tentava explicar ela já foi soltando uma de suas pérolas que logo me fizeram corar. 

— Com toda certeza foi só por causa da reunião que você veio aqui. — Deu uma piscadinha em sua direção, fazendo com que Alex abrisse um sorriso cínico no rosto. 

— Nem você aparece aqui aos sábados — tentei mudar de assunto, já que eu conhecia a amiga que tinha, e ela ia acabar falando do jantar da noite anterior.

— Mas eu preciso de fatos, e com os dois aqui eu posso ter. 

— Kat — repreendi, e pelo meu olhar acho que ela percebeu que não era mesmo o momento. 

— Tudo bem, esqueçam tudo o que eu disse. — Voltando-se para Alex, ela questionou: — Como você está, tem meses que não te vejo. 

— Estou bem, e você? 

Os dois começaram a trocar amenidades, e eu dei graças a Deus por isso. Mais alguns clientes chegaram, então, fui atendê-los. 

Minha mãe, que estava com algum tempo vago no caixa, se enturmou com Alex e Kat, e logo as loucuras da minha amiga estavam matando os dois de rir. 

De longe eu podia ouvir que era relacionado a homem; sempre isso. Kat arrumava um ficante, se apaixonava em questão de dias e logo estava chorando, mas minha amiga nunca se contentava e voltava a fazer as piores loucuras possíveis. 

Assim que terminei de entregar um café de avelã para uma senhora que aparentava no máximo uns quarenta anos e que parecia turista, pelo sotaque, Alex se aproximou de onde eu estava. 

— Preciso ir, tenho outra reunião — comentou assim que me viu sozinha. 

Sua expressão ainda não era das melhores, mas havia melhorado uns cinquenta por cento.

— Uma pena — murmurei quase para mim mesma, mas ele ouviu. 

— É mesmo. — E voltamos para aquela maldita troca de olhares. 

Só que Alex parecia mesmo com pressa já que cortou a nossa conexão rápido demais para dizer:

— Quero mesmo falar sobre ontem a noite. 

— Eu não estou chateada por nada que aconteceu — informei para não parecer que estava com algum receio do momento. 

— Ainda bem. — Passou a mão pelo cabelo, voltando a falar: — Já que não está chateada, posso te levar para jantar hoje de novo? 

Pensei em recusar; era perigoso começar a me envolver com alguém como Alex, já que eu podia sair muito machucada dessa história. Mas ao olhar de relance para Kat percebi que ela quase gritava para que eu fosse viver minha vida sem me preocupar com as consequências. E foi por isso que respondi: 

— Tudo bem. 

— Passo aqui no mesmo horário de ontem. 

Dizendo isso, ele deu um beijo em meu rosto, se despediu de Kat e de minha mãe e foi embora. Ainda o observei atravessar a rua e voltar para sua joalheria. Minha amiga, que não perdia tempo, veio para perto de mim e comentou:

— Você está deixando o homem de quatro por você. 

— Acho que é só invenção da sua cabeça. 

— Ah, tá! Até a sua mãe percebeu que ele está totalmente caidinho aos seus pés. — Revirou os olhos ao falar. 

— Você sabe que tenho medo de me envolver demais, a família dele não é muito legal. — Todo o meu conhecimento que tinha da sua família fazia com que eu tivesse muito receio até de ser amiga de Alex. 

— Já disse para parar de se preocupar com isso. O homem te quer, então, só dá uma chance. — Kat sorriu, e eu não pude deixar de retribuir. 

Depois disso contei para ela que iria sair com ele de novo, e aí foi motivo de Kat até querer fechar o café mais cedo. Claro que não deixei. Além de Alex, ela também sabia da bomba que eu estava carregando nas mãos, então, não podia perder nenhum cliente. 

Depois de terminar o expediente, aí sim, deixei que fizesse o que quisesse comigo. Arrumou meu cabelo, deixando-o com alguns cachos que me agradavam. Fez com que eu vestisse um vestido vermelho com preto, e saltos que fiquei até com medo de cair, mas tentei não recusar nada, já que sabia se fizesse isso era como se declarasse a terceira guerra mundial. 

Como na outra noite, Katherine terminou de me arrumar alguns minutos antes de Alex chegar, mas, daquela vez, ela iria ficar na minha casa me esperando para que eu contasse os detalhes da noite.

Assim que desci as escadas Alex estava me aguardando como da última vez. Vestido de uma forma mais casual, mas que não o deixava desleixado. Na verdade ele ficava bem em qualquer roupa.

— Está maravilhosa mais uma vez — sussurrou assim que me aproximei. Como sempre Alex não iria poupar os elogios. E como na outra noite pegou minha mão, dando um leve beijo. 

— Obrigada! — agradeci, mas daquela vez não ia me portar como a moça envergonhada, acho que estava na hora de começar agir um pouco. — Você não está diferente, está lindo como sempre. 

Vi quando um sorrisinho surgiu em seus lábios, Alex olhou para mim de forma misteriosa, e eu já não estava mais sabendo decifrar o que seus olhos diziam. 

Abriu a porta do carro para que eu entrasse, e assim que estava acomodada no banco, foi para o lado do motorista e partiu para o restaurante. Daquela vez não fomos conversando muito, meu amigo estava sério como de manhã. Algo o estava incomodando. 

Quando chegamos ao restaurante, percebi que era bem mais elegante que o outro, da noite passada, mas mesmo assim não me senti mal por estar naquele ambiente. Parecia que o homem à minha frente, fazia com que qualquer lugar fosse aceitável. 

Fizemos nossos pedidos quando o garçom se aproximou da nossa mesa. Logo saiu, e eu resolvi romper o silêncio, já que estava ficando constrangedor. 

— Alex, não sei o que aconteceu, mas preciso que você se abra comigo. Estou te estranhando, está tão calado. 

Ele continuou a me olhar, mas, ainda sem dizer uma palavra, pegou minha mão e começou a fazer pequenos carinhos. 

— Não é nada, só alguns problemas. 

— Tudo bem, mas então vamos curtir a nossa noite, você queria tanto conversar sobre o que aconteceu. — Mostrei a ele que estava disposta a falar sobre tudo o que quisesse.

— Você está certa. — Depois de um longo suspiro, ele começou a abalar minhas estruturas. — Mas não quero falar disso no momento, acho que estamos em um lugar um pouco cheio demais para que eu diga o quanto quero te beijar. 

Engoli em seco com sua revelação, mas tentei parecer firme. 

Era só uma realidade, eu queria beijá-lo e ele queria me beijar... o que tinha de mais nisso? O fato de sermos melhores amigos? Talvez!

— E do que vamos falar, então? — questionei, já que não queria passar a imagem de estar necessitada por seu beijo. 

— Que tal da hipoteca? — Fechei meus olhos com o assunto. 

— Não quero falar disso, te falei ontem… 

— Mas precisamos falar. Hoje, conversando com a sua mãe, percebi ainda mais o quanto vocês estão a beira de perder a única coisa que as ajuda financeiramente, sem contar com a casa. 

— Alex, eu não sei como pagar a hipoteca. Juntei uma boa grana, mas ainda falta muito, eu já disse não quero estragar a nossa noite falando disso. — Tentei tirar minha mão da dele, mas Alex segurou-a com mais força enquanto dizia: 

— Eu vou te ajudar. 

— Já disse que não quero o seu dinheiro, sou somente uma amiga que não precisa que você se preocupe… 

— Mas eu me preocupo — cortou-me declarando algo que me chocou: — Não quero que você aceite o dinheiro como minha amiga, se esse é seu problema. Quero que aceite como minha esposa. 

— O quê? — perguntei, já que parecia que Alex estava pirando. 

— Isso mesmo que ouviu, Megan. Você aceita se casar comigo?

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