CAPÍTULO QUATRO

ALEX

Um filme estava sendo transmitido em minha mente em um looping que eu não conseguia evitar. Haviam se passado ao menos uns dez minutos que eu jogara a pergunta para Megan. Ela me olhava com os olhos arregalados e a cada segundo que se passava, e ela percebia que eu estava realmente falando sério, a mulher engolia em seco. 

Eu não queria ter ido tão direto ao ponto, mas estava um pouco ansioso demais, então, quando vi a oportunidade surgir simplesmente falei. Sabia que Megan precisava de dinheiro e eu precisava me casar. Já que toda a minha tarde fora permeada por uma pressão psicológica da minha mãe, onde dizia: Ou você arruma uma mulher rápido ou perderemos todo o nosso legado; no fundo eu a entendia, mas era complicado. 

E foi aí que a realidade bateu, eu tinha uma pessoa, uma em quem eu confiava demais, admirava demais, desejava demais, era a mulher por quem eu já nutria sentimentos há bastante tempo. 

Era o arranjo perfeito: um casamento desesperado, às pressas, quase arranjado, mas com a mulher que mexia com meu coração. E com meu corpo, é claro.

Por isso, quando retornei do seu café para a empresa e minha mãe voltou a me perturbar com o falatório do casamento, tomei minha decisão. E agora estava ali, olhando para Megan e morrendo de medo de ter estragado a única coisa boa que me aconteceu naqueles últimos anos: minha amizade com a mulher mais maravilhosa que conheci. 

— E aí, o que me diz? — indaguei, já que o silêncio sepulcral estava me matando. 

Megan conseguiu dispersar dos pensamentos que provavelmente estavam gritando em sua mente, sussurrando em seguida:

— Acho que você está maluco, Alex. Não posso me casar com você, assim do nada… 

— Megan... — Segurei sua mão por cima da mesa ao falar. — E se fizéssemos um acordo, você ficaria casada comigo por um tempo, e eu te ajudaria na hipoteca da sua casa? 

— Eu não quero o seu dinheiro, será que não ficou claro isso? — exaltou-se. Algumas pessoas que estavam próximas à nossa mesa até olharam em nossa direção. 

— Megan, eu sei, não quero te ofender com isso. Quero somente te ajudar e essa é a única forma que vi de… 

— Alex, quero ir embora — mal terminou de falar e se levantou da cadeira, indo em direção a saída. 

Droga! Mil vezes droga!

Chamei o garçom rapidamente para fechar a conta e assim que consegui sair Megan já estava acenando para um táxi. Aproximei-me dela, e segurei seu braço suavemente. 

— Megan, por favor, me deixa explicar. Eu não queria te ofender, tenho um motivo... 

— Mas acabou ofendendo, Alex. — Ela virou-se em minha direção, com os olhos lacrimejados, e aquilo foi o meu fim. — Você fez parecer como se eu fosse uma interesseira. Uma qualquer que aceita tudo por causa de dinheiro. 

— Eu não queria... — tentei terminar de falar, mas o táxi que ela havia chamado estacionou do nosso lado. Megan soltou seu braço da minha mão e entrou no carro sem nem se despedir. 

Fiquei olhando o veículo partir, e sentindo que tinha estragado tudo. A imagem dela com os olhos rasos de água não saiu da minha mente pelo resto da noite. 

E eu até tentei m****r uma mensagem perguntando se havia chegado bem, mas ela ignorou perfeitamente. Depois do meu surto provavelmente eu não tinha mais uma amiga. Como pude magoar a única pessoa que me entendia?

Estava deitado em minha cama, olhando para o teto, ainda me lembrando da minha noite fracassada, quando escutei meu celular vibrar. Olhei na direção do aparelho e não queria pegá-lo, mas a pessoa continuou insistindo. 

Assim que vi quem era, pelo visor, eu quis morrer. Kat não ia deixar aquilo barato, tinha certeza de que ela arrancaria meu coro muito antes de eu pensar em falar alô. 

Assim que atendi, parecia que realmente a terceira guerra mundial havia começado: 

— Você pirou? Ficou maluco? Usou algum tipo de droga? Como do nada resolve tratar a Megan como uma qualquer, Alex? — esbravejou do outro lado. 

— Não foi minha intenção passar essa imagem para ela, Kat. 

— Como não? Vocês nunca nem se beijaram para você fazer uma proposta dessas para ela. 

E foi aí que eu perdi o fio de paciência que me restava naquele dia. 

— Katherine, você sabe muito bem que eu posso até nunca ter beijado a sua amiga, mas que sinto algo por ela há muito tempo. Acho que já está cansada de ouvir minhas lamúrias a respeito do assunto. Eu tentei fazer algo bom, já que ela vem recusando a minha ajuda financeira há algum tempo. Eu quero ajudá-la a não perder o café e a casa, mas Megan não aceita nada. Ela é cabeça dura, então, eu pensei que, talvez, nos casando fosse uma forma de ela aceitar na boa a minha ajuda. Porra! Eu só pensei nela. 

No fundo havia um pingo de mentira. Não estava pensando somente nela, também pensava na minha empresa. Só que a parte sobre eu ter sentimentos por aquela mulher era verdade. Eu a desejava demais, admirava demais para ser só amizade. E talvez a palavra apaixonado não fosse tão invenção da minha mente. 

Katherine ficou calada por um momento, e com um sussurro disse: 

— Desculpa, me exaltei. Vou conversar com ela e ver como podemos resolver essa situação. 

— Obrigado — foi a única coisa que respondi, antes de ela se despedir e desligar o telefone. 

Voltei para a posição em que estava minutos atrás até que caí no sono. Eu esperava que Kat pudesse convencer Megan a me dar mais uma chance como amigo. Ela nem precisava pensar no meu pedido, já havia desistido de salvar a minha empresa. 

Só não queria perder a minha amizade com Megan. Esperava que ela me perdoasse. 

***

MEGAN

Ainda estava possessa com o que aconteceu. Como ele tinha coragem de me fazer um pedido daqueles? Quem Alex achava que era para me tratar como uma qualquer? 

Quando cheguei em casa, evitando que minha mãe percebesse a merda toda que tinha acontecido, fui para o meu quarto. E Kat quis saber os detalhes – o sorriso que estava em seu rosto foi morrendo aos poucos assim que contei tudo que foi me dito. 

Logo ela ligou para ele e ainda colocou no viva-voz, mas esse foi o problema. Alex abriu literalmente seu coração e deixou bem claro que ele e Katherine falavam de mim há muito tempo, mesmo que eu não soubesse dessa informação. 

Fiquei observando minha amiga, enquanto a via ficar pálida. Acho que ela não esperava que essa informação vazasse de tal forma. Assim que encerrou a ligação me encarou, parecendo arrependida de ter colocado no viva-voz. 

Sentou-se na cama à minha frente, e antes que eu começasse a gritar para que desembuchasse o que tinha para dizer, ela falou:

— Sim, eu sou uma péssima amiga por nunca ter comentado com você sobre o que ele me falava, mas Alex confiou em mim. Então eu fiquei em uma encruzilhada. Não me mata, por favor. 

Eu até queria brigar com ela, no entanto, a curiosidade foi muito maior. 

— Quero te matar, sim, mas antes me conta o que ele te falava. 

Ela abriu um sorriso tão grande que por um momento pensei que rasgaria sua boca, só que logo começou a dizer:

— Ele é completamente louco por você amiga, desde quando era noivo ele já falava que não conseguia ficar mais com a Cameron, porque só pensava em você. Tenho quase certeza de que isso foi um dos motivos que fez com que ele decidisse para dar um fim naquele relacionamento de merda que ele tinha. 

— Assim me sinto culpada… 

— Para com isso, você não teve culpa de nada. Isso foi uma decisão do Alex. — Katherine segurou minha mão e, olhando em meus olhos, declarou: — Amiga, agora que passou um pouco da minha ira, acho que entendi o motivo do Alex te fazer o pedido. Acho que ele quer te ajudar, e talvez só não tenha sabido se expressar bem. 

— Um casamento não me ajuda — sussurrei. 

— Por que você só não tenta conversar com ele mais calma? — sugeriu, e eu até queria escutá-la, porque já estava achando a minha atitude com Alex muito exagerada. 

— Vou pensar. Agora quero dormir. 

E foi isso que fizemos. No outro dia eu já estava mil vezes mais calma do que na noite passada. Assim que Kat foi embora, fazendo com que eu prometesse para ela que ia conversar com Alex, mandei uma mensagem para ele. 

Megan: Ainda estou um pouco chateada por ontem, mas acho que podemos conversar com mais calma hoje. O que acha? 

Eu tinha acabado de apertado o botão enviar quando Alex respondeu. Até parecia que ele estava esperando com o celular na mão. 

Alex: Acho ótimo. 

Megan: Me pega às três da tarde. 

Como era domingo, era muito mais fácil sair na parte da tarde. Assim que deixei meu quarto, após ler a mensagem de confirmação de Alex, vi minha mãe sentada no sofá bebericando uma xícara de café. 

— Tudo bem, mãe? — indaguei ao me sentar ao seu lado. 

— Sim, querida. Katherine já foi embora? — questionou, já que minha mãe havia acordado bem depois que minha amiga havia partido. 

— Sim, ela ia sair com um cara que conheceu esses dias. 

— Doidinha demais. 

— Ela é. 

— Você sabe que não sou boba, não é mesmo? 

Eu sabia do que ela estava falando. Lógico que eu não tinha conseguido esconder a minha ira da noite passada. Abaixei minha cabeça e encarei minhas mãos. Não queria tocar no assunto com minha mãe, porque se eu tocasse ia ter que revelar o motivo de Alex querer que eu me casasse com ele, então resolvi por bem ficar calada. 

— Querida, o Alex pode até não perceber, mas eu sei que você gosta dele, e nem adianta falar o contrário para mim. Então, se você não quiser contarsobre o que aconteceu ontem, eu vou te entender. Mas só te peço que me escute uma única vez em relação a esse homem. 

Desviei minha atenção para ela, e assenti. Eu ia permitir que falasse o que quisesse. Sem pestanejar ou tentar fazê-la mudar de assunto.

— Querida, aquele homem te olha como se você fosse algo valioso para ele, só por isso eu já o admiro de uma maneira inacreditável. Mães costumam ter sexto sentido para certos sentimentos, e o que Alex sente por você não é só amizade. Pelo que sabemos a família dele não é lá tão boa, mas aquele garoto é. Então se algum dia você tiver dúvidas sobre se eu apoiaria algum envolvimento entre vocês dois, pode ter certeza que a minha resposta sempre seria: vá em frente, fique com esse garoto. Eu adoro o Alex, e não podia ser diferente minha resposta para você. 

Senti quando meus olhos lacrimejaram e deixei até que algumas lágrimas escorressem. Depois sussurrei. 

— Mas e se ele fizesse uma oferta meio maluca? 

— Tenho certeza de que seria uma oferta que te beneficiaria, já que eu também sei que você e ele estão cheios de segredinhos. E morro de medo de que algum deles nos envolva diretamente. Algo que você não quer me contar.

Como minha mãe sabia tanto assim das coisas? Minha expressão devia ter quase gritado a minha pergunta, já que logo ela comentou:

— Filha, você não é de chorar, e vi isso acontecendo demais nos últimos tempos. Você até tenta disfarçar, mas sempre está pelos cantos com lágrimas nos olhos, e em um desses momentos vi que Alex estava te consolando, então, eu não sou idiota. Mas vou esperar que me conte para eu saber como agir. 

Decidi, por fim, me manter calada, pois tinha certeza de que se contasse realmente o motivo, minha mãe poderia ficar extremamente decepcionada, e eu morria de medo de quais poderiam ser as consequências da minha revelação para ela. 

Depois disso ficamos caladas, e logo ela foi fazer o que fazia todo domingo: ir para um pátio que ficava no bairro vizinho dançar. Mamãe e suas amigas amavam danças de salão e todos os domingos recebiam essas aulas gratuitas oferecidas pelo estado para a comunidade. 

Eu, por outro lado, comi um sanduíche no almoço e esperei que se aproximasse do horário marcado para me arrumar. O dia estava mais quente, então, era dia de usar uma bermudinha florida com uma regata branca. 

Assim que a mensagem de Alex chegou, avisando que já havia estacionado na porta, peguei minha bolsa e desci. Ele estava com uma calça cargo cinza e uma camisa gola polo. Seu rosto estava abaixado, os ombros caídos, e por um momento fiquei com pena dele. Acho que eu também o havia decepcionado na noite passada. 

— Oi, Alex — cumprimentei ao me aproximar dele. 

Ele direcionou aqueles olhos azuis para mim, e o arrependimento gritava sob eles. 

— Oi, Megan — sussurrou, mas logo emendou. — Me perdoa, por favor. Eu não queria fazer com que você se sentisse mal. Sou um idiota, não podia ter falado daquela forma com você… — Coloquei meu dedo indicador nos seus lábios, o que fez com que se calasse. 

— Vamos conversar, Alex. Mas já adianto, não tenho que te perdoar, você não fez nada por maldade, já sei disso. Vamos tentar resolver essa questão. 

Ele assentiu e abriu a porta do carro para mim. Esperava mesmo que resolvêssemos, pois não estava pronta para perder a amizade de Alex.

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