Mamãe, você pode se divorciar do Papai?
Mamãe, você pode se divorciar do Papai?
Por: Joaquim Silva
Capítulo 1
— Mamãe, você pode se divorciar do papai?

Eram nove horas da noite, eu estava tentando fazer meu filho dormir, quando, justo quando pensei que ele estava prestes a adormecer, de repente ouvi ele me fazer essa pergunta.

Essa breve frase me deixou atordoada por um longo tempo e os tapinhas em suas costas também pararam.

Inconscientemente, senti uma pontada de dor no meu coração.

Ao longo dos anos, meu relacionamento com o pai da criança sempre foi bastante bom.

Teoricamente, uma criança criada com amor deveria se sentir feliz vivendo em um ambiente como o nosso.

Mas... Como ele poderia ter tal pensamento?

Eu não conseguia entender, mas ainda assim perguntei: — Por que você diz isso?

A voz também foi suavizada o máximo possível. Temi assustá-lo inadvertidamente.

— Mãe, você nunca me deixa comer no KFC, nem me permite comer sorvete...

Ele já estava quase dormindo, sua voz era embargada e tinha aquela ternura típica da idade.

Ao ouvir as palavras quase sonolentas do meu filho, balancei a cabeça com um sorriso, sem saber se ria ou suspirava.

Ele queria que eu me divorciasse do pai dele por causa dessas pequenas coisas sem importância...

O mundo das crianças é realmente simples demais.

Ouvi sua respiração tornar-se gradualmente mais calma, sabendo que ele já havia adormecido, estava prestes a me levantar e sair.

“Ding-dong”

Veio um som da direção da cabeceira de sua cama.

Virei-me. Debaixo de seu travesseiro, a luz brilhava.

Levantei um canto do travesseiro, apenas para ver o tablet escondido embaixo dele.

Suspirei, o filho ainda é pequeno, temo que ele seja míope, por isso dei a ele um limite rígido de tempo para usar aparelhos eletrônicos todos os dias.

Embora ele frequentemente resmungasse em protesto, sempre seguiu minhas instruções. Não esperava que hoje ele tivesse escondido o tablet.

Casualmente, peguei o tablet, pretendendo desligá-lo, mas fui pega de surpresa ao ver a página de um chat em grupo acender na tela.

Nome do grupo: Pequena Casa Feliz^_^

Era claramente do jeito que meu filho falaria, ele adora usar esse emoji.

O ícone do grupo, por outro lado, parecia um retrato de uma família de quatro pessoas.

Ampliei o ícone, na foto, a mulher parecia alegre e aberta, segurando dois filhos nos braços.

Um deles era meu filho, Afonso Guedes, que segurava um enorme sorvete, com um sorriso satisfeito no rosto.

E meu marido, Wesley Guedes, estava de pé atrás da mulher. Ele olhava para a mulher com um olhar suave e amoroso. Assim como ele costumava olhar para mim quando começamos a namorar.

Meu coração se sentiu como se tivesse sido picado, uma dor incontrolável, mas meus olhos involuntariamente se fixaram no nome da mulher...

No grupo, meu filho a tinha marcado como ‘mamãe’.

Eu fiquei atordoada. Com a mão trêmula, cliquei em suas informações pessoais.

E lá estava, seu apelido era: Via-Guedes.

Via... Vitória... A primeira namorada de Wesley, Vitória Silva?!

Por um momento, senti a absurda sensação de estar sonhando.

Meu marido, meu filho, havia formado um grupo familiar com seu primeiro amor e o filho de seu primeiro amor.

Eu era a única que havia ficado para trás.

Eles tinham uma nova família com outra pessoa.

Era como se alguém estivesse apertando meu coração, eu mal conseguia respirar.

As mensagens no grupo eram tantas que meu cérebro quase não conseguia processar, e meus dedos deslizavam entorpecidos pela tela...

Na verdade, nós três também tínhamos um pequeno grupo familiar, mas, exceto por uma mensagem ocasional minha perguntando ao Wesley quando ele viria jantar em casa, o grupo ficou em silêncio como se não existisse.

Naquele momento, a ‘mamãe’ do grupo de repente enviou um vídeo.

Tremendo, cliquei para abrir.

O vídeo era claramente bem editado.

...

Em apenas um minuto, inúmeras cenas passaram.

Frango frito, Coca-Cola, roda gigante, carrossel... O rosto de Afonso estava repleto de um sorriso de pura alegria. Até Wesley, que normalmente era reservado com suas emoções, não conseguia esconder seu dote e adoração...

Os outros dois, eu já não podia mais me preocupar.

Porque a cena foi diminuindo de velocidade e finalmente se fixou no rosto pequeno de Afonso.

Ele estava de olhos fechados, com as mãos firmemente unidas, fazendo um pedido ao bolo de aniversário com toda a concentração e seriedade.

Ouço sua voz infantil, porém reverente.

— Eu desejo que a tia Vitória se torne minha mãe!

— Eu desejo que nós quatro possamos ficar juntos para sempre!

Aplausos soaram. Vitória e seu filho aplaudira juntos, desejando que seu sonho se tornasse realidade.

E Wesley, nesse momento, também tinha um sorriso no rosto.

Pareciam uma família perfeitamente feliz.

E quanto a ......?

E quanto a mim?

Eu estava sentindo tanta dor que mal conseguia respirar.

A ‘mamãe’ do grupo enviou outra voz. Sua voz era alegre e vivaz, como a de uma grande irmã que incondicionalmente apoia Afonso.

— Querido Afonso, você me disse antes que queria que eu fosse sua mãe.

— E disse que não importa quem seja, desde que não seja sua mãe atual.

— Eu estava pensando, por que você detesta tanto sua mãe?

— Depois eu entendi, foi porque sua mãe é muito controladora, não deixa você comer nada, não deixa você brincar.

— Para que você possa crescer feliz, daqui para frente, neste grupo, eu serei sua nova mãe.

— Este grupo é a nossa casa, nós quatro.

É isso mesmo?

Qualquer uma serve.

Contanto que eu não seja a mãe dele, está tudo bem?

Palavra por palavra. Eu ouvi repetidamente, de forma masoquista, mas ainda me recuso a acreditar que o filho que dei à luz, o filho que ensinei cuidadosamente... O filho para o qual eu dediquei toda minha energia, poderia me odiar dessa maneira.

Fechei os olhos, mas as lágrimas continuavam a cair.

Afonso sempre teve um estômago sensível desde pequeno, qualquer coisa um pouco inadequada poderia deixá-lo com dor de barriga.

Quando era bem pequeno, ele já havia sido hospitalizado algumas vezes por gastroenterite. Por isso, sempre controlei sua dieta, preparando cuidadosamente suas refeições todos os dias, esperando apenas que seu corpo pudesse se recuperar...

Mas os esforços que fiz por ele. Para ele, tudo se tornou uma série de... Casos de como eu o decepcionei.

Não é de se admirar que recentemente a gastroenterite de Afonso tenha começado a se manifestar novamente.

Eu estava desesperada, sem encontrar a causa.

E a verdade era essa.

Ouvi atônita as mensagens de voz que Afonso havia enviado anteriormente.

Cada mensagem de voz que me acusava era como uma faca afiada que perfurava meu coração. Quase me fazia sufocar.

Então, Afonso de repente parou de falar. Eu sabia que era porque eu tinha ido ao seu quarto para acalmá-lo e fazê-lo dormir.

Ele não podia me deixar saber que ainda estava secretamente usando o tablet, mesmo querendo continuar conversando com Vitória no grupo, mas tinha que me aturar.

E agora, ele já estava dormindo.

Eu mordi meus lábios, olhando para ele com lágrimas correndo pelo meu rosto.

Um filho com feições tão delicadas, parecendo um bonequinho de porcelana

Ele falava sem malícia, expressando o que sentia.

Mas... Mentiras não ferem, a verdade é que é uma lâmina afiada.

Eu imaginava que, sendo sua mãe, mesmo que eu fosse um pouco rigorosa, ele poderia se sentir incomodado naquele momento, mas quando crescesse, naturalmente entenderia que era para o seu bem.

Mas jamais imaginei que ele pudesse me detestar a este ponto.

Meu coração estava irremediavelmente ferido e enfurecido. Mas não perdi minha sanidade mental básica, eu entendo ......

Afonso ainda é apenas uma criança, como uma folha em branco, sem entender ou saber de nada.

Mas seu desgosto por mim e sua afeição por Vitória...

A única possibilidade só poderia ser por causa do meu marido, Wesley Guedes.
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