Capítulo 7
Ele olhava para Wesley com a cabeça erguida, os olhos brilhando com lágrimas, exibindo a inocência e a confusão típicas de uma criança. Era uma imagem tanto de pena quanto de afeição.

Wesley se agachou.

Afonso não precisou mais levantar a cabeça e olhou para Wesley com um estremecimento: — Papai, você promete pra mim?

— Você ainda é pequeno. — Wesley era naturalmente carinhoso com o filho, levantou a mão e esfregou o cabelo de Afonso: — Afonso, agindo assim com a mamãe, você vai se arrepender no futuro.

Afonso balançou a cabeça: — Não vou!

Como se estivesse preocupado que Wesley não acreditasse, ele estendeu a mão para enxugar as lágrimas e, ao fazer isso, também disse a Wesley: — Papai, eu quero viver com a tia Vitória, longe da mamãe. Sonho em ter a tia Vitória como minha mamãe!

Ele disse cada palavra com muita convicção.

Wesley não respondeu, apenas deu um tapinha no ombro de Afonso antes de se levantar.

Eu me forcei a virar a cabeça para olhar para Afonso.

Eu sempre pensei que seu desejo de ter Vitória como parte da família fosse apenas um capricho momentâneo...

Mas... Essas explosões de temperamento, uma após a outra, seu comportamento não parecia brincadeira!

Ele deseja que Vitória seja sua mãe do fundo do coração.

E eu? O que sobre mim, a mãe que daria tudo por ele incondicionalmente?

Eu mereço ser abandonada por ele?

Uma dor densa veio do meu coração.

Como se inúmeras formigas estivessem devorando um coração sangrento.

— Amor. — Wesley veio me abraçar, suas grandes mãos batendo suavemente nas minhas costas, me consolando gentilmente: — Não fique triste, Afonso é só uma criança, ele não entende o significado das palavras que diz.

Eu já havia me aconselhado muitas vezes que, independentemente do que Afonso dissesse, eu não deveria levar isso a sério.

Ele é apenas uma criança, eu deveria ser indulgente...

No entanto, as palavras simples e diretas de Afonso sempre conseguiam me ferir facilmente.

Com dificuldade, fiz um som afirmativo em seus braços, esperando até que meus sentimentos se estabilizassem antes de me afastar de seu abraço: — Vamos comer.

Wesley me soltou. Eu me virei e fui para a cozinha, colocando os pratos cozidos na mesa.

Wesley, preocupado em me ver queimar, se ofereceu para assumir a tarefa de servir a caçarola.

Afonso estava obviamente muito desapontado por não ter conseguido seu objetivo: — Papai!

— Hora da refeição! — Wesley falou sem recusar: — Não me faça repetir.

Afonso então se sentou obedientemente, segurando a tigela pequena e tomando pequenos goles.

Havia muitos cacos de vidro pelo chão de casa, e eu estava preocupada que eles pudessem se machucar, então comecei a limpar enquanto comiam.

Enquanto comia, Afonso balançava suas pernas pequenas e murmurava: — Eu odeio a mamãe, eu detesto a mamãe!

Eu parei de varrer por um momento.

Antes que meu coração pudesse se machucar, eu disse a mim mesma ... Não era isso que eu já esperava?

Proibir Afonso de ver Vitória por um tempo, com certeza, faria com que ele reagisse fortemente... E as coisas que ele diria certamente se tornariam cada vez mais severas.

Mas, eu só precisava aguentar.

Quando terminei de varrer a sujeira de vidro do chão, os dois já tinham terminado o café da manhã.

Wesley, levando o filho à porta, ainda lembrou Afonso: — Diga adeus para a mamãe.

— Eu não quero! — Afonso resmungou, virando a cabeça para o lado, sem olhar para mim.

Fiquei parada na sala, olhando para os dois. A dor violenta em meu coração parecia ter finalmente se acalmado ......

— Amor.— Wesley segurou minha mão e se aproximou de mim, dando um beijo em meus lábios: — Não leve tão a sério, vai passar.

— Sim.

...

A creche de Afonso funciona em período integral.

Deve ser levado antes das oito da manhã e buscado às seis da tarde.

Normalmente, Wesley dizia que não queria me incomodar, então ele mesmo buscava Afonso no caminho de volta do trabalho... Mas, a partir de hoje, decidi retomar a tarefa de buscar o filho.

Eu só queria poder passar mais tempo com o Afonso e, dessa forma, fortalecer o vínculo da criança comigo.

Mas hoje eu não avisei o Wesley com antecedência, achando que a família poderia ir para casa junta.

Para conseguir chegar a tempo de buscar o Afonso, terminei rapidamente minhas tarefas e até saí de casa uma hora mais cedo para chegar à porta da creche.

Depois de esperar por vários minutos, finalmente a creche encerrou as atividades.

O portão eletrônico se abriu, e os professores, segurando as crianças, só as liberavam após confirmar o nome dos pais que vieram buscá-las.

— Afonso Guedes! — A professora chamou alto: — Os pais do Afonso Guedes estão aqui?

— Estou aqui!

Levantei minha mão e apressei o passo até ela. No mesmo instante, outra pessoa correu até o meu lado.

Subconscientemente, virei minha cabeça.

E vi Vitória, vestida com um longo vestido vermelho e cabelos longos ondulados derramados sobre os ombros.

Ela estava com uma maquiagem impecável e um sorriso caloroso e aberto: — Professora, bom dia, eu sou a mãe do Afonso Guedes.

Eu quase congelei no lugar. Por que Vitória viria até a porta da creche, se apresentaria como a mãe do Afonso para buscá-lo?

Será que ...... Wesley me enganou?

Ele disse que buscaria por estar a caminho do trabalho, mas na verdade... Ele pediu para Vitória vir em seu lugar?

Para dar à Vitória tempo suficiente para criar laços com meu filho?

Tal especulação me fez congelar no local, com o coração doendo como uma dormência.

— Mãe do Afonso. — A professora falou com Vitória, enquanto me olhava com cautela: — Quando eu chamei pelos pais do Afonso, ela também respondeu. Você a conhece?

O quê?

A professora realmente disse que a Vitória era a mãe do Afonso?

Meu cérebro estava uma bagunça!

Lentamente, comecei a perceber algo...

Ninguém nesta creche sabia que eu era a mãe biológica do Afonso. Em vez disso, todos presumiam que Vitória era a mãe dele?

Em outras palavras, ...... Sem eu saber, Vitória já tinha vindo aqui buscar o Afonso várias vezes?

Então ...... Quem a trouxe aqui para buscar a criança? Fazendo com que os professores presumissem que ela era a mãe da criança?

A verdade que gritava para mim era como uma faca afiada e pontiaguda que perfurava meu coração.

Foi Wesley?

Vitória, que nunca tinha me visto, também pareceu surpresa ao me ver. Ela estendeu a mão para o Afonso: — Querido, venha ver se você conhece essa tia?

Eu? Tia?

Achei ridículo. Afonso, que eu carreguei por dez meses e dei à luz, e eles estavam me chamando de tia?

Não seja engraçada.

Eu estava prestes a retrucar quando vi Afonso caminhar obedientemente até Vitória, segurando a mão dela e me observando de longe.

Após um longo momento, ele balançou a cabeça: — Mamãe, eu não a conheço!

O sorriso desapareceu do meu rosto e meus ouvidos zumbiram com um barulho tão alto que eu mal conseguia ouvir nada.

Afonso... Meu próprio filho, na minha frente, chamando Vitória de mãe! E dizendo que não me conhece?

Sua escolha cruel despedaçou meu coração sem piedade.

Minhas lágrimas começaram a cair incontrolavelmente.

Vitória manteve seu sorriso adequado: — Talvez esta senhora tenha se confundido.

— Eu não me enganei. — Eu disse, limpando as lágrimas apressadamente: — Afonso, venha aqui!

— Não vou! — Afonso se escondeu atrás de Vitória, revelando um par de olhos fixos em mim: — Você não acha que só de chamar meu nome, eu vou ir com você, né?

Vitória e a professora trocaram olhares.

A professora perguntou, hesitante: — Ela não será uma sequestradora, será?

Vitória balançou a cabeça: — Eu também não sei.

A professora tomou a iniciativa e decidiu chamar a polícia para manter seu filho em segurança.

Mas eu já não tinha tempo para me preocupar com isso, e me aproximei de Afonso: — Afonso, eu sou sua mãe!

— Você não é! — Afonso se esquivou para trás de Vitória: — Minha mãe é ela!
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