Ricardo sabia que estava mesmo embriagado.Aquelas palavras que sempre escondeu no fundo do coração, que nem a si próprio ousava admitir... agora, todas romperam as barreiras da razão e transbordaram.Ele não conseguia controlar, tampouco reprimir.Um suspiro escapou, como se cedesse à própria fraqueza.Do outro lado da linha, Catarina permanecia em silêncio.Estava esperando por ele?Usar o telefone de Thiago Ribeiro era, no fundo, uma forma de escapar do próprio orgulho, era baixar a cabeça sem precisar admitir.— Catarina, onde você está? — A voz rouca de Ricardo parecia derramar emoções fora de controle.Ele riu de si mesmo com amargura, e lançou a pergunta com raiva:— Por que você se encontrou com Eduardo Souza hoje? Já trocou de homem de novo?Thiago, ao lado, não esperava por essa.— Ricardo, você...Queria interrompê-lo, mas Ricardo desviou o olhar, desleixado, com o terno e a camisa completamente amassados.Encostado na parede fria, o corpo curvado, já não havia mais nada daq

Ao ouvir aquilo, Ricardo franziu o cenho de imediato.— Eu não perdi o controle. Ontem só bebi demais! A vergonha o deixava impaciente, relutante em admitir o que sentia.Só de lembrar as palavras que dissera no telefone, aquele desabafo patético e vulnerável…Ainda mais quando, no fim, mesmo evitando ouvir a resposta, Catarina não apareceu.Isso o deixava ainda mais irritado, e completamente incapaz de aceitar que aqueles sentimentos fossem reais.— Eduardo provocou de propósito. Sabia da disputa entre as famílias e usou a Catarina pra me desestabilizar. Eu sei que você é amigo dele, mas preciso dizer: ele foi baixo. — Se ele continuar tentando se aproximar dela, o Grupo Albuquerque vai cortar todas as parcerias com os Souza no próximo ano. — Ricardo claramente queria usar o poder da empresa pra descontar o que sentia.A expressão de Pedro Castro foi ficando mais séria....Quando Pedro pediu pra se encontrar com ela, Catarina ficou surpresa.Diferente de Thiago, com quem tinha uma

No dia seguinte.Catarina, como responsável pelo festival de divulgação do patrimônio imaterial, foi convidada para uma reunião no Ministério da Cultura da Cidade J.O prédio governamental era imponente, e como o evento estava sendo tratado com grande importância, até o próprio Ministro da Cultura compareceu.Na sala de reuniões, todos os mestres artesãos envolvidos no festival estavam presentes.Diante da longa mesa onde se sentavam os líderes, todos pareciam tensos e desconfortáveis, ou forçavam sorrisos, ou apenas abaixavam a cabeça para tomar chá.A Doutora Lorena Ferreira também estava presente.Mas, diferente do esperado, ela não deu nenhuma opinião, todas as propostas vieram de Catarina.— Já tenho uma ideia inicial para o tema do festival — Disse Catarina, em pé à frente da mesa. — Penso em dividir o espaço em seis áreas, correspondendo ao formato hexagonal do mapa da Cidade J. Cada área terá uma zona de exposição, uma de explicações e uma interativa com jogos. Teremos também t

Ele de repente sorriu.Claro, Catarina voltaria hoje.Assim que recebeu o dinheiro, Catarina respondeu com um sorriso:— Daqui a uma hora, avisem a secretária Inês para me esperar.Na hora seguinte, o setor de secretariado do Grupo Albuquerque entrou numa tensão nunca antes vista.Quando deu o horário, Ricardo não conseguiu mais se conter e foi até o elevador pessoalmente esperar.Até que Hugo Almeida saiu do elevador carregando uma caixa de papelão.— E a Catarina? Ela veio?— A Srta. Catarina não veio. Esse é um envio local que ela mandou entregar. Disse que era para a secretária Inês ler.Sob olhares curiosos e desconfiados de todos,Hugo abriu a caixa e tirou de lá mais de uma dúzia de livros pesados.Títulos como:"Manual de Treinamento da Secretária""100 Coisas Que Uma Secretária Deve Prestar Atenção""Como Exceder as Expectativas do Seu Chefe"etc... Até mesmo alguns mangás sobre relacionamentos entre chefe e secretária estavam no meio.Ricardo ficou quieto. Todo mundo ficou

Shopping center, loja de roupas femininas de grife.Ricardo estava sentado preguiçosamente no sofá.— Inês, essa é a sua primeira vez me acompanhando em um evento importante. Vista-se da forma mais bonita possível, você representa o meu prestígio. A loja havia sido totalmente reservada para eles, o tratamento mais exclusivo.Inês Rainha trocou-se para experimentar um vestido de grife sob medida, girando em frente ao espelho, admirando-se sem conseguir se conter.Ela não era mais a garota do interior vinda de uma família pobre.Vestida da cabeça aos pés com marcas de luxo, podia esconder suas inseguranças.Seu sonho e objetivo é entrar para a alta sociedade.Quando Inês surgiu diante de Ricardo com um vestido longo em tom lilás vibrante:— Sr. Ricardo, estou bonita?Ricardo ergueu os olhos.Na mente dele, só vinham as lembranças de quando trazia Catarina ali.Aquela mesma peça, se fosse Catarina a usar, certamente ficaria muito mais deslumbrante.— Hm. Vá escolher um conjunto de joias

Mesmo que ela tenha passado por tempestades, ele estaria lá com o guarda-chuva mais caro. E era realmente... muito caro.— Srta. Catarina, está com um novo namorado? Esse vestido ficou realmente lindo em você. — Disse Eduardo, se aproximando com uma taça de vinho na mão, com intenção clara.A insinuação velada era uma forma de assédio disfarçado.Catarina guardou o celular, seu sorriso desapareceu, e ela se virou para encarar:— Com a posição do Sr. Souza, achar que roupas de mulher só podem ser presenteadas por homens... Isso diz muito sobre o ambiente de trabalho feminino na sua empresa. Ainda bem que nunca considerei mudar praço o lado de lá.Eduardo percebeu de imediato o desagrado nas palavras afiadas dela.— A srta. me entendeu mal. — Ele respondeu, tentando manter o tom leve. — De fato, eu pedi um vestido para você, mas você recusou. Agora que a vejo com esse vestido tão belo, fico com um pouco de inveja.A sinceridade fingida era mais uma estratégia de aproximação.— Como amigo

Ricardo, no meio da atenção de todos, parecia o príncipe salvador descido dos céus.Com uma toalha limpa entregue por um garçom, ele se agachou com nobreza e começou a limpar pessoalmente o vestido de Inês.— Não se preocupe, Inês.— Sr. Ricardo... Ricardo...Inês olhava incrédula, como se tivesse voltado do inferno direto ao paraíso.— Este é um presente meu para você. E esta noite, sua beleza será protegida por mim.Seus gestos e palavras estavam repletos de ternura.Todos os que antes olhavam com desdém ficaram surpresos com essa súbita demonstração pública de afeto.— Dizem que ela é a nova secretária do Sr. Albuquerque. Que inveja ser tão mimada assim.— Ele é realmente charmoso. Quem diria que se rebaixaria assim?— Ouvi dizer que a ex-namorada do Sr. Albuquerque também está aqui. O que será que está sentindo vendo isso?O rosto de Catarina também era bastante reconhecido. Não era surpresa que chamasse atenção.Mas agora, ela estava tão serena que era impossível decifrar o que se

Naquele momento, até Eduardo parecia um pouco nervoso. Queria ver com os próprios olhos como Catarina confrontaria Ricardo.Diante da expressão incomodada de Eduardo, o humor de Ricardo melhorou.Ele não queria mais fingir.Bastava Catarina correr para os braços dele, fazer birra, pedir para afastar Inês que ele cederia a tudo.Conforme Catarina se aproximava cada vez mais de onde Ricardo estava, seu sorriso era difícil de conter.Mas seu olhar... não recaía sobre ele.No ponto mais próximo, Catarina simplesmente passou por Ricardo como se ele fosse invisível.Ela havia avistado um dos professores que desejava convidar!Em um segundo, Ricardo caiu do céu direto para o inferno. Ele até havia esboçado um sorriso, levantando o braço para recebê-la.Mas sua mão ficou suspensa no ar.Enquanto Catarina se afastava, o rosto de Ricardo escureceu completamente.Parado como uma estátua, sem virar-se, ele viu do outro lado Eduardo, cuja expressão era puro escárnio. A reação de Ricardo foi tomada

Catarina Vasconcelos saiu da piscina completamente encharcada.Os cabelos molhados grudavam no rosto e no pescoço, num estado claramente desconfortável.Embora a noite não estivesse fria, a água da piscina era gelada.— Ricardo Albuquerque! Você enlouqueceu?!Ela realmente não esperava por aquilo.Não foi Inês Rainha quem a empurrou na piscina, foi Ricardo?Na água, estavam agora duas pessoas, Catarina, de pé, e Inês, ainda se debatendo e gritando por socorro.Eduardo Souza chegou bem a tempo para ver o momento em que Catarina caiu na piscina.— Sr. Albuquerque, o que está fazendo?!Ricardo se agachou lentamente à beira da piscina.Quando Inês achou que seria resgatada, ficou chocada ao ver que a mão estendida era para Catarina.— Catarina, daqui a pouco vão tirar fotos. Quero você ao meu lado.Ao ouvir isso, o rosto de Catarina, refletido na água, ficou ainda mais frio e impenetrável.— Sr. Albuquerque, empurrar a Srta. Catarina só para forçá-la a aceitar seu “resgate”? Isso passou de

Inês se aproximou rapidamente, debatendo na água.Ricardo ainda estava atordoado pela queda.Com sua altura, a água só chegava à altura da cintura, mas mesmo assim ele demorou a entender o que havia acabado de acontecer.Olhou surpreso para Catarina Vasconcelos:— Você... você me escolheu?Escolhê-lo? Que piada.Empurrá-la na piscina só provava o quanto ele era abusivo.— Se está com problemas mentais, procure um médico. — Retrucou Catarina, com frieza.Ela havia revidado na mesma moeda, sem piedade.Não precisou de ajuda de ninguém. Caminhou até a borda da piscina e, com um impulso nos braços, se sentou para sair.Seus cabelos pingavam, e a barra do vestido encharcado pesava, puxando a alça para baixo.Sentada ali, ela controlava a respiração, atenta para não deixar a roupa escorregar mais do que devia.— Catarina, você... Que linda.Ricardo estava hipnotizado por aquele olhar firme. Ainda na água, ele sentia os braços onde ela havia o segurado quase queimarem.Quanto mais ela o reje